Resumos
INTRODUÇÃO: O sexo feminino representa um preditor independente para ocorrência de complicações vasculares em pacientes submetidos a procedimentos coronários invasivos. Ao reduzir o risco de sangramento relacionado ao sítio de punção, a utilização do acesso radial em mulheres seria particularmente benéfica na redução de eventos adversos. MÉTODO: Pacientes consecutivas do sexo feminino submetidas a procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos pela via radial foram incluídas em um registro prospectivo. Foram avaliados o sucesso da técnica, a duração do procedimento e da fluoroscopia, as complicações vasculares e os eventos cardiovasculares adversos graves periprocedimento. Realizou-se adicionalmente uma análise comparativa entre mulheres com < 65 anos e com > 65 anos de idade, a fim de determinar a aplicabilidade da técnica entre as idosas. RESULTADOS: Entre maio de 2008 e setembro de 2009, 988 mulheres submeteram-se a procedimentos coronários invasivos pelo acesso radial. A média de idade foi de 62,5 anos, sendo 32,4% portadoras de diabetes melito. A taxa de sucesso foi de 97,1%. Houve baixa incidência de complicações, incluindo 2,8% de oclusão assintomática da artéria radial, 2,4% de hematomas e 0,2% de sangramento grave. Exceto por maior duração da fluoroscopia durante a realização de angioplastias, as mulheres do grupo com > 65 anos exibiram similares taxas de sucesso e complicações quando comparadas àquelas do grupo com < 65 anos. CONCLUSÕES: O uso do acesso radial na realização de procedimentos coronários em mulheres exibiu elevada taxa de sucesso, reduzido número de eventos cardiovasculares adversos e ocorrência virtualmente nula de sangramento grave relacionado ao sítio de punção.
Doenças vasculares; Cateterismo cardíaco; Artéria radial; Angioplastia transluminal percutânea coronária; Síndrome coronariana aguda; Fatores sexuais; Mulheres
BACKGROUND: Female gender is an independent predictor of vascular complications after invasive coronary procedures. While reducing the risk of bleeding related to the puncture site, radial access in women might be particularly beneficial in reducing adverse events. METHOD: Consecutive female patients undergoing diagnostic and therapeutic coronary procedures using radial access were enrolled in a prospective registry. The success of the technique, the procedure and fluoroscopy times, vascular complications and severe periprocedural cardiovascular adverse events were analyzed. In addition, a comparative analysis between women < 65 and > 65 years old was carried out to determine the applicability of the technique among elderly patients. RESULTS: Between May 2008 and September 2009, 988 women underwent invasive coronary procedures using the radial access. Mean age was 62.5 years, and 32.4% were diabetics. The success rate was 97.1%. There was a low incidence of complications, including asymptomatic occlusion of the radial artery (2.8%), hematomas (2.4%), and severe bleeding (0.2%). Except for a longer duration of fluoroscopy while performing angioplasties, women > 65 years showed similar success rates compared to those < 65 years. CONCLUSIONS: ts, and virtually no severe bleeding related the puncture site.
Vascular diseases; Heart catheterization; Radial artery; Angioplasty, transluminal percutaneous coronary; Acute coronary syndrome; Sex factors
ARTIGO ORIGINAL
Segurança e eficácia do acesso radial na realização de procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos em mulheres
Safety and efficacy of the transradial approach in diagnostic and therapeutic coronary procedures in women
Pedro Beraldo de AndradeI,II; Marden André TebetI,II; Mônica Vieira Athanazio de AndradeI; Luiz Alberto MattosI,III; André LabrunieI,II
IIrmandade da Santa Casa de Misericórdia de Marília - Marília, SP, Brasil
IIHospital do Coração de Londrina - Londrina, PR, Brasil
IIIInstituto Dante Pazzanese de Cardiologia - São Paulo, SP, Brasil
Correspondência Correspondência: Pedro Beraldo de Andrade Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Marília Avenida Vicente Ferreira, 828 Marília, SP, Brasil - CEP 17515-900 E-mail: pedroberaldo@gmail.com
RESUMO
INTRODUÇÃO: O sexo feminino representa um preditor independente para ocorrência de complicações vasculares em pacientes submetidos a procedimentos coronários invasivos. Ao reduzir o risco de sangramento relacionado ao sítio de punção, a utilização do acesso radial em mulheres seria particularmente benéfica na redução de eventos adversos.
MÉTODO: Pacientes consecutivas do sexo feminino submetidas a procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos pela via radial foram incluídas em um registro prospectivo. Foram avaliados o sucesso da técnica, a duração do procedimento e da fluoroscopia, as complicações vasculares e os eventos cardiovasculares adversos graves periprocedimento. Realizou-se adicionalmente uma análise comparativa entre mulheres com < 65 anos e com > 65 anos de idade, a fim de determinar a aplicabilidade da técnica entre as idosas.
RESULTADOS: Entre maio de 2008 e setembro de 2009, 988 mulheres submeteram-se a procedimentos coronários invasivos pelo acesso radial. A média de idade foi de 62,5 anos, sendo 32,4% portadoras de diabetes melito. A taxa de sucesso foi de 97,1%. Houve baixa incidência de complicações, incluindo 2,8% de oclusão assintomática da artéria radial, 2,4% de hematomas e 0,2% de sangramento grave. Exceto por maior duração da fluoroscopia durante a realização de angioplastias, as mulheres do grupo com > 65 anos exibiram similares taxas de sucesso e complicações quando comparadas àquelas do grupo com < 65 anos.
CONCLUSÕES: O uso do acesso radial na realização de procedimentos coronários em mulheres exibiu elevada taxa de sucesso, reduzido número de eventos cardiovasculares adversos e ocorrência virtualmente nula de sangramento grave relacionado ao sítio de punção.
Descritores: Doenças vasculares/complicações. Cateterismo cardíaco. Artéria radial. Angioplastia transluminal percutânea coronária. Síndrome coronariana aguda. Fatores sexuais. Mulheres.
ABSTRACT
BACKGROUND: Female gender is an independent predictor of vascular complications after invasive coronary procedures. While reducing the risk of bleeding related to the puncture site, radial access in women might be particularly beneficial in reducing adverse events.
METHOD: Consecutive female patients undergoing diagnostic and therapeutic coronary procedures using radial access were enrolled in a prospective registry. The success of the technique, the procedure and fluoroscopy times, vascular complications and severe periprocedural cardiovascular adverse events were analyzed. In addition, a comparative analysis between women < 65 and > 65 years old was carried out to determine the applicability of the technique among elderly patients.
RESULTS: Between May 2008 and September 2009, 988 women underwent invasive coronary procedures using the radial access. Mean age was 62.5 years, and 32.4% were diabetics. The success rate was 97.1%. There was a low incidence of complications, including asymptomatic occlusion of the radial artery (2.8%), hematomas (2.4%), and severe bleeding (0.2%). Except for a longer duration of fluoroscopy while performing angioplasties, women > 65 years showed similar success rates compared to those < 65 years.
CONCLUSIONS: ts, and virtually no severe bleeding related the puncture site.
Descriptors: Vascular diseases/complications. Heart catheterization. Radial artery. Angioplasty, transluminal percutaneous coronary, Acute coronary syndrome, Sex factors.
Women.
Importantes avanços na farmacoterapia antitrombótica adjunta e no desenvolvimento de novos dispositivos possibilitaram a redução de complicações relacionadas a procedimentos coronários invasivos na última década1,2. No entanto, o risco de complicações vasculares, notadamente de sangramento, entre as mulheres permanece elevado quando comparado aos homens, tornando o sexo feminino um dos principais preditores para a ocorrência desse desfecho adverso3,4. Com o acúmulo de publicações, encontra-se hoje estabelecida a forte associação entre sangramento grave e mortalidade em pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea e com diagnóstico de síndrome coronária aguda5.
Nesse contexto, a utilização do acesso radial em mulheres torna-se particularmente vantajosa. Comparado ao acesso femoral em meta-análise de ensaios randômicos, associou-se a redução de complicações relacionadas ao sítio de punção, menor tempo de hospitalização e custo hospitalar, com taxa similar de eventos cardiovasculares adversos graves6. Em nova e recente revisão sistemática, envolvendo maior número de pacientes, o acesso radial promoveu redução significativa da taxa de sangramento grave, com tendência a menor ocorrência de morte, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico7.
No entanto, exibindo menor área de superfície corpórea e menor diâmetro da artéria radial8, pacientes do sexo feminino frequentemente são preteridas quanto à escolha dessa via, dado o receio de falha na tentativa de punção ou ocorrência de espasmo. O presente estudo tem por objetivo avaliar a segurança e a eficácia do acesso radial na realização de procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos em mulheres, na prática contemporânea, representativa do mundo real, em centro em que a utilização dessa via é priorizada.
MÉTODO
Pacientes consecutivas do sexo feminino submetidas a procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos pelo acesso radial foram incluídas em um registro prospectivo de eficácia e segurança. A eficácia da técnica radial foi avaliada por meio da taxa de sucesso do procedimento, definido como realização de cinecoronariografia com adequada opacificação coronária e intervenção coronária percutânea obtendose lesão residual inferior a 30%, sem necessidade de mudança da via de acesso (crossover). Os tempos de procedimento e fluoroscopia foram obtidos a partir do início da punção arterial até a retirada do introdutor. A segurança foi avaliada por meio da ocorrência de complicações vasculares relacionadas ao sítio de punção e eventos cardiovasculares adversos graves periprocedimento. Por fim, realizou-se uma análise comparativa entre pacientes com < 65 anos e com > 65 anos, a fim de determinar a aplicabilidade da técnica radial em mulheres idosas.
Classificou-se como evento cardiovascular adverso grave a ocorrência de morte, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, cirurgia de revascularização miocárdica de emergência ou sangramento grave. Este foi definido como hemorragia intracraniana, intraocular, retroperitoneal, queda de hemoglobina superior a 3 g/dl ou necessidade de transfusão sanguínea. Os hematomas foram graduados de acordo com a classificação do estudo Early Discharge after Transradial Stenting of Coronary Arteries (EASY)9: tipo I, < 5 cm de diâmetro; tipo II, < 10 cm de diâmetro; tipo III, > 10 cm, sem atingir o cotovelo; tipo IV, hematoma estendendo-se além do cotovelo; e tipo V, qualquer hematoma com injúria isquêmica à mão. Complicações relacionadas ao sítio de punção além de hematomas incluíram fístula arteriovenosa, pseudoaneurisma, oclusão arterial assintomática, necessidade de reparo vascular cirúrgico e infecção local.
Por meio de hiperextensão do punho e infiltração de 1-2 ml de xilocaína a 2%, puncionava-se a artéria radial 1 cm proximal ao processo estiloide do rádio, utilizando-se agulha com cateter de polietileno tipo JelcoTM calibre 20 e técnica de Seldinger. Após a punção, introduzia-se um fio-guia de 0,021 polegada, seguido de pequena incisão cutânea com lâmina de bisturi nº 11 e inserção de introdutor curto (< 11 cm) 5-7 F. Administrava-se uma solução contendo 5.000 UI de sulfato de heparina e 10 mg de mononitrato de isossorbida através da extensão do introdutor. Ao término do procedimento, removia-se imediatamente o introdutor e obtinha-se hemostasia com curativo compressivo por meio de bandagem elástica adesiva porosa (TensoplastTM). Procedia-se a exame clínico do sítio de punção e avaliação do pulso radial no momento da alta, cerca de duas a três horas após a realização de procedimentos diagnósticos e na manhã seguinte à realização de procedimentos terapêuticos.
As variáveis categóricas foram expressas em frequência e porcentagem, comparadas com o teste de qui-quadrado. As variáveis contínuas foram expressas em média e desvio padrão, comparadas com o teste t de Student ou teste exato de Fisher. Foram considerados estatisticamente significantes os resultados com valor de P < 0,05. Utilizou-se o programa SPSS, versão 12.0 (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos).
RESULTADOS
No período de maio de 2008 a setembro de 2009, 2.652 pacientes, dos quais 1.085 (40,9%) pertencentes ao sexo feminino, submeteram-se a procedimentos coronários invasivos diagnósticos e terapêuticos. Destes, 988 (91%) foram realizados através do acesso radial, compondo a amostra avaliada no registro, sendo os demais através dos acessos femoral (6%) ou ulnar (3%). As características demográficas basais dos pacientes estão expressas na Tabela 1. A média de idade foi de 62,5 anos, sendo 32,4% portadores de diabetes melito, com índice de massa corpórea médio de 22,8 kg/m2 e quadro de angina estável ou isquemia silenciosa como apresentação clínica preponderante (54,8%).
O acesso radial direito foi utilizado em 95% dos casos. Coronariografia correspondeu a 828 (83,8%) procedimentos, intervenção coronária percutânea eletiva a 84 (8,5%), e intervenção coronária percutânea imediatamente após a coronariografia (ad hoc) a 76 (7,7%). Sedação constituída por benzodiazepínico (diazepam/ midazolam) endovenoso isolado ou em associação com opioide (fentanil) foi empregada em 16% dos pacientes. As características dos procedimentos estão expressas na Tabela 2. A taxa de sucesso foi de 97,1%, sendo as causas mais frequentes de necessidade de mudança da via de acesso a presença de oclusão arterial prévia (braquial, tronco braquiocefálico ou radial), variações anatômicas da artéria radial (looping rádioulnar, hipoplasia radial), ocorrência de vasoespasmo e apoio inadequado para realização de intervenção coronária percutânea. O acesso radial esquerdo foi a via alternativa escolhida em 61% dos casos de crossover.
Dentre as complicações observadas com a utilização do acesso radial, a mais comum foi a oclusão arterial assintomática, sem repercussão isquêmica da mão, em 2,8% dos casos (Tabela 3). Espasmo grave ocorreu em 0,8% dos procedimentos e hematomas ocorreram em 2,4%, sendo mais de 90% restritos ao tecido subcutâneo e inferiores a 5 cm de extensão. Duas pacientes (0,2%) apresentaram sangramento grave (uma hemorragia digestiva alta e uma queda de hemoglobina de 5 g/dl) com necessidade de transfusão sanguínea, nenhum deles relacionado à via de acesso. Houve um (0,1%) episódio de acidente isquêmico transitório, com paresia de III par craniano, sem alteração radiológica à tomografia computadorizada de crânio e com resolução completa dos sintomas, um (0,1%) infarto agudo do miocárdio periprocedimento, um (0,1%) tamponamento cardíaco seguido de drenagem de Marfan em decorrência de perfuração de artéria circunflexa distal pelo fio-guia de 0,014 polegada, e um (0,1%) episódio de dissecção de tronco de coronária esquerda durante coronariografia, com necessidade de cirurgia cardíaca de emergência e evoluindo a óbito.
Analisando-se pacientes do sexo feminino com < 65 anos e com > 65 anos (Tabela 4), observou-se elevada taxa de sucesso do procedimento em ambos os grupos (98,1% vs. 95,8%; P = 0,65) e baixa ocorrência de eventos cardiovasculares adversos graves (0,4% vs. 0,2%; P > 0,99). Na estratificação de acordo com o procedimento realizado, notou-se tendência a maior duração de fluoroscopia (11,3 ± 0,4 minutos vs. 9,1 ± 6,2 minutos; P = 0,06), mas sem diferença em relação ao número de cateteres utilizados ou à duração total do procedimento, nas pacientes idosas submetidas a intervenção coronária percutânea. Quanto às demais pacientes, submetidas a procedimentos diagnósticos ou intervenções coronárias percutâneas ad hoc, não foram encontradas diferenças na comparação de quaisquer das características do procedimento ou dos eventos clínicos adversos entre os grupos com < 65 anos e com > 65 anos.
DISCUSSÃO
Os achados do registro, envolvendo pacientes do sexo feminino, consecutivas, sem critérios de seleção, representativas da prática do mundo real, demonstraram que a utilização do acesso radial na realização de procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos, em um grupo sabidamente exposto a maior risco de complicações, é segura e eficaz. A obtenção da via de acesso e a conclusão do procedimento com sucesso, a despeito de aproximadamente 45% das pacientes apresentarem idade superior a 65 anos, foram elevadas (97,1%), sem incrementos na duração total do procedimento ou de fluoroscopia, este último um fiel marcador de dificuldade e complexidade técnica. Também se atestou a segurança do acesso radial na redução de complicações vasculares relacionadas ao sítio de punção e de sangramentos graves, com taxa inferior a 0,5%, apesar de 45% da amostra avaliada constituir-se de pacientes com diagnóstico de síndrome coronária aguda, sob regime antitrombótico agressivo10. Pristipino et al., em coorte prospectiva semelhante, envolvendo 838 mulheres submetidas a 900 procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos, dos quais 299 (33%) foram realizados pelo acesso radial, demonstraram taxa de sucesso de 92% e ausência de episódios de sangramento grave, contra 25 casos entre aquelas que utilizaram o acesso femoral (P = 0,0008)11.
Estudos observacionais recentes envolvendo grandes casuísticas identificaram preditores de eventos adversos entre pacientes submetidos a procedimentos coronários invasivos. No registro multinacional Registry on IntraVenous anticoagulation In the Elective and primary Real world of Angioplasty (RIVIERA), que incluiu 7.962 pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea, o sexo feminino mostrou-se preditor independente de sangramento. O acesso radial, por sua vez, além de associar-se a menor risco de morte e infarto agudo do miocárdio, foi a única variável a promover menor índice de sangramento12. O estudo italiano Prevention of VTE after Acute Ischemic Stroke with LMWH Enoxaparin (PREVAIL), com 1.052 pacientes, demonstrou que o sexo feminino foi preditor independente para a ocorrência de desfechos combinados tanto primários (sangramento, acidente vascular encefálico e complicação vascular na via de acesso) quanto secundários (mortalidade hospitalar e infarto agudo do miocárdio). Nesse registro, a utilização do acesso radial associou-se de forma independente e significativa à redução de desfechos adversos, à custa de maior taxa de crossover quando comparado ao acesso femoral (6,5% vs. 0,7%; P < 0,0001). Entretanto, operadores habituados ao uso da técnica radial (> 50% dos procedimentos) apresentaram baixo índice de insucesso (4,6% vs. 24,5%; P < 0,0001), achado similar ao de nossa casuística13.
Sabe-se que a ocorrência de fenômenos hemorrágicos promove maior risco de morbidade e mortalidade, sendo atualmente recomendada sua inclusão na avaliação de desfechos adversos após realização de intervenção coronária percutânea14. O registro retrospectivo canadense Mortality benefit Of Reduced Transfusion after percutaneous coronary intervention via the Arm or Leg (M.O.R.T.A.L), abrangendo 32.822 pacientes, demonstrou que, ao reduzir a taxa de sangramento e a necessidade de transfusão sanguínea, o acesso radial, de forma adicional, reduziu a mortalidade aos 30 dias [odds ratio (OR): 0,71; intervalo de confiança de 95% (IC 95%): 0,61-0,82; P < 0,001) e aos 12 meses de seguimento (OR: 0,83; IC 95%: 0,71-0,98; P < 0,001)15. Resultados semelhantes foram reportados no estudo ComPaRison of Early Invasive and Conservative Treatment in Patients With Non-ST-ElevatiOn Acute Coronary Syndromes (PRESTO-ACS) envolvendo 2.142 pacientes com diagnóstico de síndrome coronária aguda sem supradesnível de ST submetidos a intervenção coronária percutânea16. A redução da taxa de sangramento proporcionada pelo aces-so radial, quando comparado ao femoral (0,7% vs. 2,4%; P = 0,05), associou-se a melhor prognóstico e sobrevida livre de morte e infarto agudo do miocárdio em um ano (95,1% vs. 91,7%; P = 0,05).
Com base nesses dados, o emprego da técnica radial em mulheres torna-se recomendável. Apesar de exibirem menor incidência de doença aterosclerótica e de se submeterem a menor número de intervenções coronárias percutâneas, paradoxalmente as mulheres apresentam elevadas taxas de sangramento intra-hospitalar quando comparadas aos homens. Assim, a utilização da técnica radial ofereceria a perspectiva de equalização das taxas de complicações vasculares relacionadas à via de acesso. Em análise post-hoc do estudo EASY, em que 298 mulheres e 1.050 homens foram submetidos a intervenção coronária percutânea trans-radial em uso concomitante de ácido acetilsalicílico, clopidogrel e abciximab, embora as mulheres apresentassem maior prevalência de comorbidades, não houve diferença quanto à ocorrência de sangramento grave aos 30 dias entre os grupos (2,4% vs. 1,1%; P = 0,16)17. Nunes et al., em estudo envolvendo 2.492 pacientes, sendo 942 do sexo feminino, submetidos a coronariografia ou intervenção coronária percutânea pela via radial, observaram maior incidência de hematomas locais de pequeno porte no grupo das mulheres (1,3% vs. 0,4%; P = NS), não sendo constatada, porém, diferença significativa entre os grupos quanto à ocorrência de hematomas de grande porte (0,1% vs. 0,07%; P = NS)18.
Em se tratando de um registro observacional, o presente estudo possui como limitações sua natureza não-randômica, ser conduzido em um centro único e a ausência de seguimento clínico tardio.
CONCLUSÃO
O uso do acesso radial por operadores habituados à técnica na realização de procedimentos coronários diagnósticos e terapêuticos em mulheres, representativas da prática do mundo real, exibiu elevada taxa de sucesso, reduzido número de eventos cardiovasculares adversos e ocorrência virtualmente nula de sangramento grave relacionado ao sítio de punção.
CONFLITO DE INTERESSES
Os autores declararam inexistência de conflito de interesses.
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Recebido em: 27/9/2009
Aceito em: 31/10/2009
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- [Apresentado no 57º Congresso Brasileiro de Cardiologia. 2002. São Paulo, 21-24 setembro]
Correspondência:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Ago 2012 -
Data do Fascículo
2009
Histórico
-
Recebido
27 Set 2009 -
Aceito
31 Out 2009