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Novas ferramentas para o tratamento percutâneo de defeitos congênitos

New tools for the percutaneous treatment of congenital defects

EDITORIAL

Novas ferramentas para o tratamento percutâneo de defeitos congênitos

New tools for the percutaneous treatment of congenital defects

Carlos Zabal

Instituto Nacional de Cardiologia Ignacio Chávez - México, D.F., México

Correspondência Correspondência: Carlos Zabal Juan Badiano 1 - Col. Sección XVI - Tlalpan Mexico, D.F., Mexico - 14080 E-mail: zabal@cardiologia.org.mx

A oclusão da comunicação interatrial transcateter foi descrita pela primeira vez por King e Mills, em 1976.1 Alguns casos iniciais tiveram êxito, porém o alto perfil do sistema limitava seu uso exclusivamente a pacientes idosos. Em 1983, Rashkind2 descreveu o uso de um dispositivo com disco único, que foi o precursor de dispositivos posteriores com sistema de duplo disco, dando início à corrida tecnológica para o desenvolvimento de dispositivos de oclusão. Nos últimos vinte anos, essa corrida tecnológica revelou diferentes dispositivos, embora nenhum deles seja o ideal para todos os tipos, formas e tamanhos de defeitos. Até o momento, o dispositivo mais próximo de ser considerado ideal é o oclusor septal Amplatzer (Amplatzer Septal Occluder; AGA Medical Corporation, Golden Valley, Estados Unidos), que apresenta as seguintes vantagens: sistema de colocação e liberação muito fácil e simples, que permite recolocação, reposicionamento ou até mesmo extração sem que o dispositivo sofra danos, além de poder ocluir grandes defeitos, em alguns casos selecionados com até mais de 40 mm. Recentemente, foi disponibilizado no mercado o dispositivo Figulla (Occlutech), tema do artigo de Pedra et al.3 publicado nesta edição da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva. Segundo esses autores, o dispositivo é muito semelhante à prótese Amplatzer, de forma que as equipes com ampla experiência no uso desse dispositivo não terão dificuldade para utilizar a prótese Figulla.

Ainda segundo Pedra et al.,3 a versatilidade dessas próteses ampliou o espectro de indicação para oclusão percutânea dos defeitos septais. Pode-se dizer que, na atualidade, 90% das comunicações interatriais tipo ostium secundum e cerca de 80% de todos os defeitos do septo atrial podem ser tratados por via percutânea.4 Acredita-se, portanto, que o tratamento percutâneo de adultos com mais de 40 anos de idade com comunicação interatrial é muito útil, já que esse tipo de abordagem apresenta menos complicações que o tratamento cirúrgico nesse grupo de pacientes.5

Obviamente, ainda existem problemas, como relatam Pedra et al.3 em seu artigo. Alguns casos requerem técnicas de colocação especiais, principalmente os defeitos grandes com remanescentes septais pequenos ou deficientes. A preocupação atual com esse tipo de dispositivo tem sido nos raros casos descritos de erosão da raiz aórtica com fístulas atriais ou do teto dos átrios com consequente tamponamento cardíaco e possível morte.6 Esse fato está relacionado ao uso de dispositivos com diâmetro muito maior que o tamanho do defeito, razão pela qual se recomenda não sobredimensionar os dispositivos de forma excessiva. É provável que o dispositivo Figulla tenha um comportamento diferente nesse sentido, pela sua maior maleabilidade, porém apenas o tempo poderá confirmar essa hipótese. Em nossa experiência com mais de 600 casos tratados com a prótese Amplatzer, ainda não tivemos casos com essa grave complicação.

Concluindo, graças à atual corrida tecnológica, já temos disponíveis no mercado vários tipos de prótese para o tratamento transcateter dos defeitos do septo atrial, o que nos ajudou a revolucionar e a massificar o tratamento percutâneo dos defeitos congênitos.

CONFLITO DE INTERESSES

O autor é proctor e consultor da AGA Medical Corporation.

Recebido em: 12/3/2010

Aceito em: 13/3/2010

  • 1. King TD, Thompson SL, Steiner C, Mills NL. Secundum atrial septal defect: nonoperative closure during cardiac catheterization. JAMA. 1976;235(23):2506-9.
  • 2. Rashkind WJ. Transcatheter treatment of congenital heart diseases. Circulation. 1983;67(4):711-6.
  • 3. Pedra CAC, Pedra SRF, Costa RN, Braga SLN, Esteves CA, Fontes VF. Experiência inicial no fechamento percutâneo da comunicação interatrial tipo ostium secundum com a prótese Figulla. Rev Bras Cardiol Invasiva. 2010;18(1):81-8.
  • 4. Butera G, Romagnoli E, Carminati M, Chessa M, Piazza L, Negura D, et al. Treatment of isolated secundum atrial septal defects: impact of age and defect morphology in 1,013 consecutive patients. Am Heart J. 2008;156(4):706-12.
  • 5. Rosas M, Zabal C, García-Montes J, Buendía A, Webb G, Attie F. Transcatheter versus surgical closure of secundum atrial septal defect in adults: impact of age at intervention. A concurrent matched comparative study. Congenital Heart Dis. 2007;2(3):148-55.
  • 6. Amin Z, Hijazi ZM, Bass JL, Cheatham JP, Hellebrand WE, Kleinman CS. Erosion of Amplatzer septal occluder device after closure of secundum atrial septal defects: review of registry of complications and recommendations to minimize future risk. Catheter Cardiovasc Interv. 2004;63(4):496-502.
  • Correspondência:

    Carlos Zabal
    Juan Badiano 1 - Col. Sección XVI - Tlalpan
    Mexico, D.F., Mexico - 14080
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      2010
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