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Modelagem metalogenética para prospecção de urânio nas rochas do núcleo da Anticlinal Abaíra-Jussiape, Chapada Diamantina, Bahia

Metallogenetic modeling for uranium exploration in rocks of the Abaíra-Jussiape Anticlinal nucleus, Chapada Diamantina, Bahia

Resumo:

A Anticlinal Abaíra-Jussiape, com orientação NNW-SSE, é uma culminação antiformal do Cinturão de Dobramentos e Cavalgamentos da Chapada Diamantina Ocidental, no Corredor do Paramirim. Em seu núcleo ocorrem tonalitos-granodioritos, álcali-feldspato granito, sienitos a quartzo-sienitos da Suíte Caraguataí, além de granitos da Suíte Jussiape, de idade paleoproterozoica, todos milonitizados. O arcabouço estrutural é marcado por famílias de estruturas compressionais e distensionais. As estruturas compressionais são relativas a duas fases deformacionais distintas, denominadas de D1 e D2. A principal fase deformacional compressional é a D1, dúctil, que está relacionada com a nucleação de zonas de cisalhamento destrais a destral-reversas. A atuação de processos defomacionais e de recristalização sin-D1 envolvendo o plagioclásio e o K-feldspato sugerem condições de temperatura de deformação superiores aos 550ºC. A fase seguinte, D2, é de natureza dúctil rúptil e levou à geração de zonas de cisalhamento reversas. A família distensional é marcada por estruturas da fase D3 e é representada por zonas de cisalhamentos com movimentos normais. O estudo petrográfico levou à identificação de processos de alteração hidrotermal pré-D1, relacionadas com albitização e potassificação das unidades cartografadas, oxidação sin-D1, além de hidratação e saussuritização relacionadas com as fases D2 e D3. A integração de dados litológicos, petrográficos, estruturais e geofísicos através da aplicação de método de análise espacial incluindo a lógica Fuzzy à luz dos controles estruturais e litológicos de depósitos de urânio já conhecidos do Corredor do Paramirim, levou à identificação de duas áreas promissoras para a pesquisa desse elemento radiativo no núcleo da Anticlinal Abaíra-Jussiape.

Palavras-chave:
Anticlinal; zona de cisalhamento; modelagem metalogenética, urânio

Abstract:

The NNW-SSE-trending Abaíra-Jussiape Anticlinal is an antiformal culmination of folding and shearing in the Paramirim Corridor of the Western Chapada Diamantina. In its core Paleoproterozoic, mylonitized Caraguataí Suite, tonalites-granodiorites, alkali-feldspar granites, syenites to quartz-syenites and Jussiape Suite granites crop out. Compressional and distensional stresses mark the structural geology of the area. The compressional structures are related to two distinct deformation phases, named D1a and D1b. The main compressional phase is ductile D1a, which is related to the nucleation of dextral to dextral-reverse shearing zones. Deformation and syn-D1a recrystallization involving plagioclase and the K-feldspar suggest deformation temperature conditions above 550ºC. The following phase D2 is of ductilebrittle nature and culminates in reverse shearing zones. The distensional structures correspond to the D3 phase and are represented by frontal shear zones with normal movement. The petrographic study helped identify a pre-D1a hydrothermal alteration process related to albitization and potassification, syn-D1 oxidation process, and hydration and saussuritization related to phases D2 and D3. The integration of lithological, petrographic, structural and geophysical data by means of the logic Fuzzy, plus the existing information regarding structural and lithologic controls of the known uranium mineralization in the Paramirim Corridor, led us to identify two promising areas for radioactive element exploration in the nucleus of Abaíra-Jussiape Anticlinal.

Keywords:
Anticline; shear zone; metallogenetic modeling; uranium

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Agradecimentos

Os autores querem expressar seus agradecimentos ao CNPq pela bolsa de Pós-Doutorado Júnior de Simone C.P. Cruz (Processo 150127/2005-7), assim como pelos recursos disponibilizados através do Edital Universal (Processo 475092/2004-0). Os autores agradecem também às Indústrias Nucleares do Brasil-INB, na pessoa do Dr. Evando Carele Matos, pela disponibilização do Cintilômetro. Por fim, agradecem à Companhia Baiana de Pesquisa Mineral-CBPM pelo apoio nas campanhas de campo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2011

Histórico

  • Recebido
    24 Ago 2009
  • Aceito
    13 Dez 2010
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