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Pandemia de COVID-19 no Brasil: análise do cotidiano e desdobramentos de uma intervenção grupal

Resumo

A pandemia de COVID-19 alterou bruscamente o cotidiano da população, sobretudo o das pessoas em isolamento social. Dessa forma, através da metodologia qualitativa, buscou-se analisar as mudanças nos cotidianos de brasileiros em distanciamento físico e as possíveis contribuições da terapia ocupacional em teleatendimento grupal. A pesquisa foi realizada no formato virtual. Utilizou-se a técnica de grupos focais para a coleta das narrativas. Os encontros, com duração aproximada de 1 hora e 30 minutos, aconteceram no segundo semestre de 2020. Esses encontros foram transcritos, analisados e categorizados por meio do método fenomenológico interpretativo. Quatro categorias foram encontradas: alterações dos estados emocionais; cotidianos; atravessamentos políticos e pandemia; do agrupamento à grupalidade virtual. Foi possível perceber as rupturas nos cotidianos e a formação de um grupo de ajuda mútua. A atuação da terapia ocupacional em teleatendimento contribuiu para o cuidado em emergências de saúde, pois se aproximou e refletiu sobre o cotidiano dos participantes.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Atividades Cotidianas; Coronavírus; Saúde Mental; Grupos de Apoio

Abstract

The COVID-19 pandemic has abruptly changed the everyday life of the population, especially of people in social distancing. Thus, using a qualitative methodology, we sought to analyze the changes in the everyday lives of Brazilians in social distancing and the possible contributions of occupational therapy in telehealth groups. The research was carried out in a virtual format using the technique of focus groups to collect the narratives. The meetings, which lasted approximately 90 min, occurred in the second half of 2020. The meetings were transcribed, analyzed, and categorized by the interpretive phenomenological method. Four categories were found, namely, changes in emotional states, changes in everyday life, political crossings and the pandemic, and from grouping to virtual grouping. Disruptions in everyday life were noticed, as well as the formation of a mutual help group. Remote assistance in occupational therapy contributed to health care emergencies as it allowed moments of reflection in the participants’ everyday lives.

Keywords:
Occupational Therapy; Activities of Daily Living; Coronavirus; Mental Health; Support Groups

Introdução

A pandemia de COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), trouxe inicialmente uma necessidade de isolamento social que colaborou para o aumento dos índices de quadros de depressão e ansiedade (Qiu et al., 2020Qiu, J., Shen, B., Zhao, M., Wang, Z., Xie, B., & Xu, Y. (2020). A nationwide survey of psychological distress among Chinese people in the COVID-19 epidemic: implications and policy recommendations. General Psychiatry, 33(2), e100213. http://dx.doi.org/10.1136/gpsych-2020-100213.
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; Xiang et al., 2020Xiang, Y. T., Yang, Y., Li, W., Zhang, L., Zhang, Q., Cheung, T., & Ng, C. H. (2020). Timely mental health care for the 2019 novel coronavirus outbreak is urgently needed. The Lancet. Psychiatry, 7(3), 228-229. http://dx.doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30046-8.
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), medo da contaminação (Zhou et al., 2020Zhou, X., Snoswell, C. L., Harding, L. E., Bambling, M., Edirippulige, S., Bai, X., & Smith, A. C. (2020). The role of telehealth in reducing the mental health burden from COVID-19. Telemedicine Journal and e-Health, 26(4), 377-379.) e de sentimentos como confusão, raiva e sintomas de estresse pós-traumático (Brooks et al., 2020Brooks, S. K., Webster, R. K., Smith, L. E., Woodland, L., Wessely, S., Greenberg, N., & Rubin, G. J. (2020). The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, 395(10227), 912-920.). Dentre aqueles que poderiam estar em isolamento, o medo de contrair a COVID-19, principalmente as pessoas que possuem agravos de saúde e o medo da contaminação de seus familiares, apresentou-se enquanto fator primário de sofrimento psíquico (Wang et al., 2020Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., Ho, C. S., & Ho, R. C. (2020). Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(5), 1729. http://dx.doi.org/10.3390/ijerph17051729.
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).

A presença de sintomas de ansiedade, estresse e depressão demonstram o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental das pessoas. Variáveis como ser estudante, ser do sexo feminino e apresentar sintomas de COVID-19 estão associadas a maiores índices desses sintomas (Duarte et al., 2020Duarte, M. Q., Santo, M. A. S., Lima, C. P., Giordani, J. P., & Trentini, C. M. (2020). COVID-19 e os impactos na saúde mental: uma amostra do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciencia & Saude Coletiva, 25(9), 3401-3411. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232020259.16472020.
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; Losada-Baltar et al., 2020Losada-Baltar, A., Márquez-González, M., Jiménez-Gonzalo, L., Pedroso-Chaparro, M. S., Gallego-Alberto, L., & Fernandes-Pires, J. (2020). Diferencias en función de la edad y la autopercepción del envejecimiento en ansiedad, tristeza, soledad y sintomatología comórbida ansioso-depresiva durante el confinamiento por la COVID-19. Revista Española de Geriatría y Gerontología, 55(5), 272-278. http://dx.doi.org/10.1016/j.regg.2020.05.005.
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; Lu et al., 2020Lu, P., Li, X., Lu, L., & Zhang, Y. (2020). The psychological states of people after Wuhan eased the lockdown. PLoS One, 15(11), e0241173. http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0241173.
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; Sherman et al., 2020Sherman, A. C., Williams, M. L., Amick, B. C., Hudson, T. J., & Messias, E. L. (2020). Mental health outcomes associated with the COVID-19 pandemic: prevalence and risk factors in a southern US state. Psychiatry Research, 293, 113476. http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2020.113476.
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). Imprevisibilidade, incerteza, desinformação, isolamento social e gravidade da doença foram outros fatores associados ao aumento do estresse e de alterações nos estados emocionais (Fogaça et al., 2021Fogaça, P. C., Arossi, G. A., & Hirdes, A. (2021). Impact of social isolation caused by the COVID-19 pandemic on the mental health of the general population: an integrative review. Research. Social Development, 10(4), 1-14.).

O estudo de Barros et al. (2020)Barros, M. B. A., Lima, M. G., Malta, D. C., Szwarcwald, C. L., Azevedo, R. C. S., Romero, D., Souza Júnior, P. R. B., Azevedo, L. O., Machado, I. E., Damacena, G. N., Gomes, C. S., Werneck, A. O., Silva, D. R. P., Pina, M. F., & Gracie, R. (2020). Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde: Revista do Sistema Unico de Saúde do Brasil, 29(4), e2020427. http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742020000400018.
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, que contou com uma amostra de 45.161 brasileiros de todas as regiões do país, teve como objetivo analisar a frequência de nervosismo, tristeza e alterações no sono durante a pandemia de COVID- 19. Os participantes eram 53,6% do sexo feminino, 24,6% possuíam entre 18 e 29 anos, 20,3% tinham 60 anos ou mais e 14,9% já tinham diagnóstico prévio de depressão. A sensação de ansiedade e nervosismo foi reportada por mais de 50% dos brasileiros que responderam a essa pesquisa. O sentimento de tristeza e depressão se tornou ainda mais recorrente, atingindo 40% dos adultos, e mais de 40% da população entrevistada desenvolveu problemas de sono. Além disso, esse estudo revelou que os adultos jovens, mulheres e pessoas já diagnosticadas com depressão foram os mais afetados, destacando a vulnerabilidade dessa população e a necessidade da ampla divulgação de práticas de preservação de saúde mental, bem como dos serviços online destinados ao cuidado da saúde mental.

Para responder às necessidades do cuidado à saúde mental, diante das especificidades que a pandemia apresenta, múltiplos autores defendem o teleatendimento e o uso de ferramentas de comunicação online (Duan & Zhu, 2020Duan, L., & Zhu, G. (2020). Psychological interventions for people affected by the COVID-19 epidemic. The Lancet. Psychiatry, 7(4), 300-302. ; Inchausti et al., 2020Inchausti, F., MacBeth, A., Hasson-Ohayon, I., & Dimaggio, G. (2020). Psychological intervention and COVID-19: what we know so far and what we can do. Journal of Contemporary Psychotherapy, 50(4), 243-250. http://dx.doi.org/10.1007/s10879-020-09460-w.
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; Liu et al., 2020Liu, S., Yang, L., Zhang, C., Xiang, Y. T., Liu, Z., Hu, S., & Zhang, B. (2020). Online mental health services in China during the COVID-19 outbreak. The Lancet. Psychiatry, 7(4), e17-e18. http://dx.doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30077-8.
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; Wind et al., 2020Wind, T. R., Rijkeboer, M., Andersson, G., & Riper, H. (2020). The COVID-19 pandemic: the ‘black swan’ for mental health care and a turning point for e-health. Internet Interventions: The Application of Information Technology in Mental and Behavioural Health, 20, 100317. http://dx.doi.org/10.1016/j.invent.2020.100317.
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; Xiang et al., 2020Xiang, Y. T., Yang, Y., Li, W., Zhang, L., Zhang, Q., Cheung, T., & Ng, C. H. (2020). Timely mental health care for the 2019 novel coronavirus outbreak is urgently needed. The Lancet. Psychiatry, 7(3), 228-229. http://dx.doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30046-8.
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; Zhou et al., 2020). O Comitê Permanente Interagências (Inter-Agency Standing Committee - IASC) chama atenção para a urgência do desenvolvimento de estratégias compatíveis com as demandas e recursos locais, estimulando fortemente o uso das redes sociais e do telefone em períodos em que o confinamento se faz necessário para mitigar os impactos cotidianos da pandemia (Inter-Agency Standing Committee, 2020Inter-Agency Standing Committee - IASC. (2020). Guia preliminar: como lidar com os aspectos psicossociais e de saúde mental referentes ao surto de COVID-19. New York: IASC. Recuperado em 14 de abril de 2020, de https://interagencystandingcommittee.org/system/files/2020-03/IASC%20Interim%20Briefing%20Note%20on%20COVID-19%20Outbreak%20Readiness%20and%20Response%20Operations%20-%20MHPSS%20%28Portuguese%29.pdf
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).

Nesse sentido, a terapia ocupacional se destaca no contexto pandêmico por constituir-se como uma ciência e profissão que cuida dos cotidianos e estuda a vida ocupacional dos sujeitos com o objetivo de torná-los mais independentes, autônomos e emancipados. A atuação da terapia ocupacional compromete-se com a renovação do conceito de saúde, percebendo-o não apenas como reparação de danos, mas como produção de vida (Bartalotti & de Carlo, 2001Bartalotti, C. C., & de Carlo, M. M. R. P. (2001). Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus Editora.).

Cotidiano é um conceito adotado pela terapia ocupacional como unidade de análise. No momento que o profissional assume a possibilidade de trabalhar com o cotidiano, ele se insere na construção de novos significados atribuídos às experiências do sujeito. Refletir sobre a vida cotidiana e lançar um olhar estrangeiro para a rotina que parecia estática e inalterável antes da pandemia colaboram para os movimentos de ressignificação, autodeterminação do sujeito e reorganização do coletivo (Galheigo, 2003Galheigo, S. M. (2003). O cotidiano na terapia ocupacional: cultura, subjetividade e contexto histórico-social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(3), 104-109. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i3p104-109.
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).

A Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais (World Federation of Occupational Therapists, 2014World Federation of Occupational Therapists - WFOT. (2014). Telehealth. Recuperado em 1 de março de 2023, de https://wfot.org/resources/occupational-therapy-and-telehealth
https://wfot.org/resources/occupational-...
, 2020World Federation of Occupational Therapists - WFOT. (2020). Occupational Therapy response to the COVID-19 pandemic. Recuperado em 1 de março de 2023, de https://wfot.org/resources/occupational-therapy-response-to-the-covid-19-pandemic
https://wfot.org/resources/occupational-...
) afirma que os terapeutas ocupacionais possibilitam o envolvimento em ocupações significativas que podem ser suspensas por pandemias e catástrofes, sendo que os profissionais precisam estar envolvidos na gestão de catástrofes aos níveis nacional e local, podendo utilizar a telessaúde. Contudo, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Brasil, 2020Brasil. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - COFFITO. (2020, 12 de junho). Resolução nº 516, de 20 de março de 2020. Teleconsulta, Telemonitoramento e Teleconsultoria. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília. Recuperado em 3 de outubro de 2021, de https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=15825
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) só autorizou a atuação dos profissionais nas modalidades de teleconsulta, telemonitoramento e teleconsultoria durante a pandemia de COVID-19.

Diante do cenário pandêmico, nossos pressupostos foram entender como estariam os cotidianos dos brasileiros, seus estados emocionais e por meio de quais dispositivos as terapeutas ocupacionais poderiam colaborar para a saúde mental da população. Sendo assim, o objetivo da presente pesquisa foi analisar as mudanças nos cotidianos de brasileiros em isolamento ou distanciamento social/físico e as possíveis contribuições da terapia ocupacional por meio de teleatendimento grupal.

Método

A pesquisa expõe os dados qualitativos de uma amostra da população brasileira coletados através dos grupos focais da pesquisa matriz “Pandemia de COVID-19 no Brasil: avaliação de estados emocionais, cotidianos e dispositivos virtuais de ajuda e suporte mútuo à população”, realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Refere-se a uma pesquisa amparada no paradigma construtivista e interpretativo, de caráter avaliativo, guiado pelo referencial da hermenêutica crítica (Harper & Thompson, 2012Harper, D., & Thompson, A. R. (2012). Qualitative research methods in mental health and psychotherapy: a guide for students and practitioners. Oxford: John Wiley & Sons.; Minayo et al., 2014Minayo, M. C. S., Assis, S. G., & Souza, E. R. (2014). Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Fiocruz.).

Buscou-se uma abrangência nacional através de convites em diversas redes sociais, atingindo a população com acesso à Internet e a mídias digitais. A pesquisa foi aprovada pelos comitês de ética das duas instituições sob os CAAE nos 30825320.0.0000.5317 e 30825320.0.3001.5346, respectivamente.

Como um todo, este estudo inclui uma etapa quantitativa, na qual 1.700 pessoas responderam a um formulário online composto pelo questionário sociodemográfico para a descrição da amostra, pela Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) e pelo convite para participação nos grupos focais. Os artigos referentes à etapa quantitativa desta pesquisa encontram-se em trâmite de submissão, não sendo ainda possível citar os dados dessa etapa. Nessa etapa, os critérios de inclusão foram: ser brasileiro, ter mais de 18 anos, residir em território nacional e aceitar participar da pesquisa. A divulgação foi feita através de redes sociais, em páginas para discutir temas relacionados à pandemia, via lista de correio eletrônico de universidades que aceitaram fazer a divulgação e através de disparos de divulgação para contatos de WhatsApp® da equipe da pesquisa. Ao final do formulário da primeira etapa, havia um convite para os participantes prosseguirem na nova fase da pesquisa, agora qualitativa, através de encontros virtuais que geraram os dados aqui focalizados e analisados.

Dentre os respondentes, 125 aceitaram participar da fase qualitativa da pesquisa, composta por seis encontros virtuais, que aconteceram entre os dias 04/08/2020 e 08/09/2020. A fim de constituir um grupo heterogêneo, 40 participantes foram selecionados com base nas variáveis sexo, idade, gênero e localidade e, posteriormente, contatados via correio eletrônico e WhatsApp® pessoais. Ainda que houvesse um esforço para a heterogeneidade do grupo, isso não foi possível na variável localidade porque grande parte da amostra era residente das regiões Sul e Sudeste.

Dentre os 40 selecionados, 30 participantes não puderam comparecer no dia e horário estipulados para os grupos ou não retornaram os contatos feitos pelas pesquisadoras, enquanto 10 pessoas participaram ativamente dos grupos focais, mantendo a heterogeneidade prevista. Após o início dos encontros, para manter a coerência metodológica e análise das narrativas, não foram mais convidados outros interessados. Os 85 participantes que não puderam ser incluídos na pesquisa em razão do número reduzido de pesquisadoras receberam um correio eletrônico que sinalizava a impossibilidade de abranger todas as pessoas.

A inclusão de grupos de interesse viventes da experiência (stakeholders) como recurso metodológico surge na tentativa de conseguir uma compreensão mais complexa da realidade e da defesa por um exercício dialógico que considere os atores envolvidos, conhecedores por excelência dos fenômenos estudados (Dimov & Ricci, 2016Dimov, T., & Ricci, E. C. (2016). A pesquisa acadêmica como atividade humana: participação de usuários da saúde mental e as contribuições da Terapia Ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(3), 651-658. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoEN0674.
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).

Entendemos que a técnica de grupos focais em métodos qualitativos é uma opção acertada para o desenvolvimento de avaliações participativas, já que parte de uma concepção construtivista da realidade e da inevitável e necessária interação entre pesquisador, objeto e contexto (Furtado et al., 2013Furtado, J. P., Onocko-Campos, R. T., Moreira, M. I., & Trapé, T. L. (2013). A elaboração participativa de indicadores para a avaliação em saúde mental. Cadernos de Saude Publica, 29(1), 102-110. ; Onocko-Campos & Furtado, 2006Onocko-Campos, R. T., & Furtado, J. P. (2006). Entre a saúde coletiva e a saúde mental: um instrumental metodológico para avaliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saude Publica, 22(5), 1053-1062. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006000500018.
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).

O grupo focal é uma técnica de coleta de dados obtidos por meio da interação grupal, que permite observar como experiências, definição de problemas, opiniões, sentimentos e representações do grupo se associam a determinado fenômeno. Possibilita também a compreensão das experiências dos participantes do seu próprio ponto de vista, evidenciando consensos e dissensos (Miranda et al., 2008Miranda, L., Ferre, A. L., Figueiredo, M. D., & Onocko-Campos, R. T. (2008). Dos grupos focais aos grupos focais narrativos: uma descoberta no caminho da pesquisa. In R. T. Onocko-Campos, J. P. Furtado, E. Passos & R. Benevides (Eds.), Pesquisa avaliativa em saúde mental: desenho participativo e efeitos de narratividade (pp. 249-277). São Paulo: Hucitec.).

Os encontros foram realizados semanalmente, com duração média de 1 h e 30’, com média de sete pessoas por encontro. Todos os encontros foram conduzidos por terapeutas ocupacionais integrantes do grupo condutor da pesquisa. No início de cada encontro, foram utilizadas frases disparadoras para começar a discussão dos participantes, por exemplo: “Como foi sua semana?”; “Descreva as sensações.”; “‘Quais atividades realizaram e quais potências, dificuldades e diferenças encontrou ao realizá-las?”. A partir das questões disparadoras, buscou-se não apenas a coleta dos dados, mas o acolhimento e manejo do grupo, haja vista que um dos objetivos da presente pesquisa foi avaliar as possíveis contribuições da terapia ocupacional em teleatendimento grupal; e, para tanto, os encontros foram manejados como teleatendimento grupal, sempre que essa necessidade surgia.

Ao final dos encontros virtuais, transcreveu-se os seis grupos na íntegra para a análise dos dados, que se deu a partir da construção de narrativas (Onocko-Campos et al., 2013Onocko-Campos, R. T., Palombini, A. L., Leal, E., Serpa Junior, O. D., Baccari, I. O. P., Ferrer, A. L., Diaz, A. G., & Xavier, M. A. Z. (2013). Narrativas no estudo das práticas em saúde mental: contribuições das perspectivas de Paul Ricoeur, Walter Benjamin e da antropologia médica. Ciencia & Saude Coletiva, 18(10), 2847-2857. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001000009.
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; Ricoeur, 1994Ricoeur, P. (1994). Tempo e narrativa. Campinas: Papirus Editora.).

A narrativa é uma abordagem construtiva que busca, além de compreender, propor alternativas, transformar e buscar soluções. Dessa forma, é um recurso interpretativo importante para analisar o material produzido em pesquisas (Onocko-Campos & Furtado, 2008Onocko-Campos, R. T., & Furtado, J. P. (2008). Narrativas: utilização na pesquisa qualitativa em saúde. Revista de Saúde Pública, 42(6), 1090-1096. ). A análise se dá pelo movimento da fragmentação, no qual os fenômenos e as informações são esmiuçados para que se possa compreendê-los. Já a construção é necessária para delinear os fragmentos e sistematizar o material para elaborar caminhos que possam fornecer saídas para os entraves encontrados (Onocko-Campos & Furtado, 2006Onocko-Campos, R. T., & Furtado, J. P. (2006). Entre a saúde coletiva e a saúde mental: um instrumental metodológico para avaliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saude Publica, 22(5), 1053-1062. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006000500018.
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).

As narrativas foram analisadas por meio da fenomenologia interpretativa (hermenêutica), que visa potencializar a área pesquisada e incluir descobertas. Ela tem como objetivo entender a experiência vivida e seus significados, considerando que essa experiência está conectada à relação do sujeito com seus pares, sociedade e cultura (Alves, 2006Alves, P. C. (2006). A fenomenologia e as abordagens sistêmicas nos estudos sócio-antropológicos da doença: breve revisão crítica. Cadernos de Saude Publica, 22(8), 1547-1554. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2006000800003.
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; Lindseth & Norberg, 2004Lindseth, A., & Norberg, A. (2004). A phenomenological hermeneutical method for researching lived experience. Scandinavian Journal of Caring Sciences, 18(2), 145-153. http://dx.doi.org/10.1111/j.1471-6712.2004.00258.x.
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). Ao utilizar os passos do método fenomenológico interpretativos conta-se com a leitura ingênua (naive), descrição dos dados pautada na redução fenomenológica (époqué), o agrupamento e delimitação das unidades de significado e, por fim, com a construção de categorias analíticas a partir das unidades de significado (Lindseth & Norberg, 2004Lindseth, A., & Norberg, A. (2004). A phenomenological hermeneutical method for researching lived experience. Scandinavian Journal of Caring Sciences, 18(2), 145-153. http://dx.doi.org/10.1111/j.1471-6712.2004.00258.x.
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; Andrade & Holanda, 2010Andrade, C. C., & Holanda, A. F. (2010). Apontamentos sobre pesquisa qualitativa e pesquisa empírico-fenomenológica. Estudos de Psicologia, 27(2), 259-268. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000200013.
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). A análise dos dados foi realizada entre abril e julho de 2021, sendo o primeiro passo a leitura naive, seguido pelo agrupamento das unidades de significado e construção de categorias analíticas. As categorias analíticas encontradas foram: a) Alterações dos estados emocionais; b) Cotidianos; c) Atravessamentos políticos e pandemia; e d) Do agrupamento à grupalidade virtual. A transcrição das narrativas seguirá o modelo Px para identificar o participante e Gx para identificar o grupo focal.

Resultados e Análise dos Dados

Resultados descritivos dos participantes e análise dos grupos focais

O presente estudo se dedica à parte qualitativa da pesquisa, com destaque para os 10 participantes dos grupos focais. A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes - a título de descrição e melhor apresentação dos dados.

Tabela 1
Características sociodemográficas dos participantes dos grupos focais (GFs), Brasil 2020.

Os dados sociodemográficos mostraram prevalência de pessoas brancas (70%), mulheres (60%), predominantemente das regiões Sul e Sudeste, com idade média de 43, com companheiros (70%), que possuíam ensino superior (100%), com renda que entre 3 e 5 salários mínimos - dentro da heterogeneidade observada na amostra dos participantes da pesquisa matriz.

Alterações dos estados emocionais

Medidas de distanciamento social adotadas para a contenção de vírus são comumente associadas a experiências desagradáveis. A alteração abrupta na rotina de trabalho, estudos e convívio social pode provocar insegurança e sofrimento, principalmente pelo fato de se lidar com um futuro imprevisível, sem a previsão de retorno à “vida normal” (Schmidt et al., 2020Schmidt, B., Melo, B. D., Lima, C. C., & Pereira, D. R. (2020). Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: a quarentena na COVID-19 - orientações e estratégias de cuidado. Rio de Janeiro: Fiocruz/CEPEDES.). A ansiedade e a fadiga provocadas pelo distanciamento que se prolonga foram dois sentimentos comuns nas narrativas dos participantes dos grupos focais.

[...] bastante angustiante é a questão do tempo em si e essa questão de você não ter perspectiva de o que que vai acontecer depois e você não saber se vai ser amanhã se vai ser daqui a um ano [...] e o tempo está não sei se ele tá parado se ele tá suspenso é [...] não faz bem pra gente [...] (P7, GF 3).

[...] isso que se chama de normal é angustiante, o tempo tá começando a consumir a gente, tá começando a gerar uma uma ansiedade, uma determinada fadiga, [...] você acaba se olha para esquerda é impotente, se olha para direita é impotente [...] (P3, GP 4).

Tem dia que eu to como se tivesse pegado muito peso, exausto mesmo, e começo a ficar aborrecido de estar dentro de casa, a fadiga de ficar dentro de casa [...] (P3, GP 2).

Embora o isolamento social seja fundamental para conter a propagação de vírus, ele pode despertar preocupação com si mesmo e com entes queridos e ansiedade pela incerteza do período de duração, e acarretam diversas repercussões psicológicas nas pessoas inseridas nesse contexto (Faro et al., 2021Faro, A., Bahiano, M. A., Nakano, T. C., Reis, C., Silva, B. F. P., & Vitti, L. S. (2021). COVID-19 e saúde mental: a emergência do cuidado. Estudos de Psicologia, 37, 1-14.).

É evidente que a pandemia impôs alterações importantes no estado emocional da população; porém, os maiores índices de ansiedade, depressão e problemas com o sono estão associados às mulheres, jovens adultos e pessoas que já possuíam diagnóstico prévio de depressão. Outro fator destacado é que as mulheres observam mais seus sinais e sintomas, além de se preocuparem mais com a saúde (Barros et al., 2020Barros, M. B. A., Lima, M. G., Malta, D. C., Szwarcwald, C. L., Azevedo, R. C. S., Romero, D., Souza Júnior, P. R. B., Azevedo, L. O., Machado, I. E., Damacena, G. N., Gomes, C. S., Werneck, A. O., Silva, D. R. P., Pina, M. F., & Gracie, R. (2020). Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde: Revista do Sistema Unico de Saúde do Brasil, 29(4), e2020427. http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742020000400018.
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).

Ainda que os participantes da pesquisa, de ambos os gêneros, demonstraram impactos em seus estados emocionais, as mulheres trouxeram em suas narrativas um olhar mais atento sobre si, relatando sentimentos de tristeza, apatia e ansiedade, enquanto os homens mencionaram maiores preocupações com o país, a política, a economia e o trabalho.

[...] eu percebi que eu tava enlouquecendo e entrando numa... Numa tristeza, numa depressão, num luto junto, sabe? É muita coisa junto pra gente absorver, né? (P6, GF 3).

Eu vivi assim pela primeira vez esse período assim uns três ou quatro dias de tristeza e apatia, eu fiquei bem triste (P10, GF3).

[...] Quando a gente pensa em economia, quando a gente vê os casos aumentando e nada parando, dá um sentimento de que a gente só tá empurrando problema pra frente eu acho. Não que seja ruim as pessoas quererem trabalhar, a gente entende que é um país que não tem capacidade como uma Itália, como a Espanha teve, que a Inglaterra teve de parar dois meses e ficar totalmente lockdown (P4, GF2).

Vale ressaltar a sobrecarga da mulher, com o acúmulo de tarefas e aumento das atividades exercidas em suas rotinas diárias, como o cuidado integral de idosos e crianças, organização do espaço doméstico e preparo dos alimentos (Marques et al., 2020Marques, E. S., Moraes, C. L., Hasselmann, M. H., Deslandes, S. F., & Reichenheim, M. E. (2020). A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cadernos de Saude Publica, 36(4), e00074420. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00074420.
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). Frequentemente, essas tarefas recaem sobre as mesmas, sobretudo com o fechamento das escolas e redução da rede de apoio por conta do distanciamento social estabelecido, sobrecarregando-as emocionalmente e fisicamente.

[...] A minha filha tá sem aula, então ela tá 24 horas comigo e meu filho, a minha mãe me ajudava a cuidar, também agora diminuiu esse tempo de ajuda (P8, GF3).

As mulheres enfrentam, simultaneamente, o medo do vírus e o aumento do trabalho remoto e doméstico. É uma dificuldade para as famílias assegurar que o desenvolvimento infantil aconteça, com alimentação, saúde, segurança e cuidado diante de uma crise econômica, ansiedade, medo, exposição excessiva à mídia, falta de espaço e de contato com amigos e a natureza (Movimento dos Atingidos por Barragens, 2020Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB. (2020). A pandemia e o impacto sobre a vida das mulheres: o papel social, doméstico e o cuidado integral com as crianças. Recuperado em 24 de abril de 2020, de http://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/48723
http://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/...
).

Por último, outro sentimento bastante presente entre os participantes era a dicotomia de ora estar esperançoso e ora desesperançoso, tanto em se tratando de um futuro melhor, quanto no ser humano. Freire (1996)Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. afirma que, para a experiência histórica, a esperança é imprescindível e que pertence à natureza humana. Ela faz com que exista história e problematização do futuro, criando espaço para que o futuro seja construído e não pré-determinado.

Eu acho que essa consciência de que teremos um mundo melhor, acho que ela é uma coisa que a gente quer se agarrar e acreditar que algo de bom vai sair disso porque é tão ruim o que tá acontecendo que a gente precisa acreditar que algo de bom vai acontecer depois disso [...] (P6, GF 2).

[...] E não percamos as esperanças, eu não perco a esperança no ser humano, eu sou por demais otimista quanto a questão do ser humano [...] (P3, GF 2).

A mudança do mundo começa por mim, eu faço a minha, você faz a sua, a gente vai começar nessa luta grande, é como se a gente fosse espalhando e semeando flores e vamos em frente (P3, GF 2).

A fala do participante 3 evidencia que a esperança não é esperar passivamente, mas sim agir na esperança enquanto se luta (Freire, 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.). A esperança é o modo que os sujeitos avistam a possibilidade de transformação (Galli, 2015Galli, E. F. (2015). O diálogo em Paulo Freire: uma análise a partir da Pedagogia do Oprimido e da Pedagogia da Esperança (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.).

Cotidianos

O espaço doméstico na pandemia assume o papel não somente de convivência familiar, como também de trabalho (home office), ensino a distância, práticas de lazer e religiosas. Com as mudanças sofridas nesse ambiente, manifesta-se a necessidade de entender o tempo nesse contexto.

Para a terapia ocupacional (Mângia & Ricci, 2011Mângia, E. F., & Ricci, E. C. (2011). Pensando o Habitar” Trajetórias de usuários de Serviços Residenciais Terapêuticos. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 22(2), 182-190. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v22i2p182-190.
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), morar em uma casa contempla um cotidiano complexo de relações entre si e com os outros que na pandemia foi abruptamente alterado. O morar, que estaria ligado às condições materiais, de acolhida, de apropriação da moradia e do ambiente doméstico, para muitos brasileiros é uma situação de muita vulnerabilidade. Saraceno (2001)Saraceno, B. (2001). Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania. Belo Horizonte: TeCorá. diferencia o morar em dois aspectos: o estar e o habitar. Assim, o estar significaria ocupar um espaço sem que haja sua apropriação, quer seja material, simbólica ou emocional. Já o habitar significaria a possibilidade de ocupar o espaço onde se vive com crescente grau de apropriação simbólica, material e emocional.

As narrativas dos participantes mostram a alteração na dimensão do tempo, do morar e a necessidade de se reorganizar perante as mudanças, principalmente na rotina de trabalho em casa, impostas pela pandemia, sendo assim, novas formas de habitar a casa surgiram:

[...] A nossa orientação é que a gente tenha essa disponibilidade para as famílias, as famílias não tem horário para mandar as atividades dos alunos, é 20 horas, 22 horas, é sábado, domingo... Então a gente não tem mais um dia de semana, hoje eu não sei se é segunda ou terça, todos os dias viraram segundas-feiras aqui. O trabalho aumentou muito, a demanda de trabalho [...] (P8, GF 1).

[...] O trabalho passou a ser uma coisa que realmente tá me demandando muito, todo o esforço, de toda a minha capacidade, a atividade tá muito concentrada agora em trabalho [...] (P7, GF 3).

Para os participantes da pesquisa, a demanda de trabalho aumentou no período da pandemia, já que a maior parte deles possuía emprego estável e adaptável para o formato remoto. O trabalho passou a morar e estar na casa dos participantes de forma abrupta e desarticulada das dimensões da rotina e processos cotidianos de todos que ali habitavam. Os rituais de autocuidado, alimentação, tempo para descanso e dias de folga (finais de semana) foram invadidos pela demanda do teletrabalho e de se fazer presente, mesmo na ausência dos corpos em outros ambientes sociais, transformando o morar.

Características da vida cotidiana como espontaneidade e heterogeneidade, as maneiras de falar, comer, de higiene pessoal e as relações de confiança com familiares foram alteradas com a chegada do teletrabalho, teleducação e telessaúde. Tudo passou a acontecer no mesmo ambiente (casa) com todos os moradores, exigindo adaptações, mudanças de padrão de comportamento e horários das atividades.

Entretanto, apesar da realidade dos nossos participantes ser do teletrabalho, essa não é a realidade da maioria dos brasileiros, pois, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil apresentou uma taxa de desocupação de 14,6% no trimestre encerrado em maio de 2021, equivalente a 14,8 milhões de pessoas em busca de trabalho (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2021Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. (2021). Desemprego fica em 14,6% no trimestre até maio e atinge 14,8 milhões de pessoas. Recuperado em 29 de agosto de 2021, de https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/notic ias/31255-desemprego-fica-em-14-6-no-trimestre-ate-maio-e-atinge-14-8-milhoes-de -pessoas
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).

[...] eu gosto muito do que eu faço e nessa situação de estresse físico e mental, o trabalho é um grande tonificante na vida da gente, então a atividade, não ter ficado parado e tal é uma coisa que também ajudou muito nesse período, né? (P7, GF 2).

Assumindo que o trabalho está no centro da sociedade ocidental e capitalista, entende-se sua influência na qualidade de vida e nas formas de ser e estar no mundo. Intimamente ligado à trama social e histórica, aos modos de vida e aos cotidianos, as alterações em suas relações afetam fortemente a capacidade de produzir vida e possibilidades de existência (Albuquerque et al., 2021Albuquerque, G. M. P., Cardinalli, I., & Bianchi, P. C. (2021). Terapia ocupacional e a expressão “produção de vida”: o que dizem as produções brasileiras? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2133. http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoar2133.
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). A narrativa da participante 7 evidencia que o trabalho foi um fator protetivo para seu estado emocional, mesmo com os desafios adaptativos do teletrabalho habitando a casa.

Segundo Harvey (2020), aHarvey, D. (2020). Política anticapitalista em tempos de Covid-19. In M. Davis, D. Harvey, A. Bihr, R. Zibechi, A. Badiou & S. Zizek (Eds.), Coronavírus e a luta de classes (pp. 13-24). Brasil: Terra Sem Amos. pandemia de COVID-19 possui particularidades de uma sindemia, ou seja, uma pandemia de classe, raça e gênero, uma vez que, para grande parte da classe trabalhadora, manter-se e trabalhar em casa não é uma possibilidade, além daqueles trabalhadores que exercem funções consideradas essenciais para a população. Destaca-se, assim, a divisão social do trabalho e o fato do isolamento social não ser possível para todos.

Outro fator a ser destacado sobre a nova relação com o espaço doméstico foi que, em resposta à COVID-19, diversos terapeutas ocupacionais falaram da importância de estabelecer rotinas e oferecem dicas de atividades que poderiam ser feitas no tempo livre, além de sugerir e orientar formas de realizar atividades na comunidade e em casa (Silva et al., 2020Silva, T. R., Mariotti, M. C., & Bridi, A. (2020). Aprendendo a lidar com as mudanças de rotina devido ao Covid-19: orientações práticas para rotinas saudáveis. RevibratO, 4(3), 519-528.). A Associação Australiana de Terapeutas Ocupacionais divulgou um documento intitulado “Normal life has been disrupted: managing the disruption caused by COVID-19”, que posteriormente foi traduzido para o português pela Associação Cultural dos Terapeutas Ocupacionais do Paraná (ACTOEP) como “Orientações práticas para vidas saudáveis: aprendendo a lidar com as mudanças de rotina devido à COVID-19”. O documento reúne dicas e orientações práticas para adaptação da vida diária, a respeito de trabalho, estudo, produtividade, autocuidado e apoio à saúde física e mental (Occupational Therapy Australia, 2020Occupational Therapy Australia - OTA. (2020). Normal life has been disrupted: managing the disruption caused by COVID-19. Recuperado em 24 de abril de 2020, de https://otaus.com.au/publicassets/af469002-6f6a-ea11-9404-005056be13b5/OT%20Guide%20COVID-19%20March%202020.pdf
https://otaus.com.au/publicassets/af4690...
; Silva et al., 2020Silva, T. R., Mariotti, M. C., & Bridi, A. (2020). Aprendendo a lidar com as mudanças de rotina devido ao Covid-19: orientações práticas para rotinas saudáveis. RevibratO, 4(3), 519-528.).

Podemos destacar na fala da participante que tarefas apenas de reorganização da casa e da rotina não respondem às necessidades das pessoas a médio e longo prazo, e que não englobam processos mais subjetivos como a diversidade cultural, social e econômica na qual os sujeitos estão inseridos.

[...] 5 meses, então chega um momento que você não tem mais o que inventar né, eu já reorganizei toda a minha estante de livros, ordenei por tamanho como eu sempre quis, chega uma hora que você não tem muito mais o que fazer [...] (P6, GF 3).

Com um período mais prolongado de sindemia no Brasil, houve a necessidade de uma outra organização e praticidade do morar, novas significações ou limitações das ações na cotidianidade do lar. O pragmatismo, que outrora funcionava de forma pré-reflexiva, organizando as rotinas da casa, no momento de ruptura mais prolongada exige funções reflexivas que pedem mais tempo para serem elaboradas com novas emoções envolvidas e, assim, podem gerar estresse e ansiedades agudas. O pragmatismo pertence a uma das características do cotidiano descrita por Heller (1994)Heller, A. (1994). Sociologia de la vida cotidiana. Barcelona: Península. que pode ser influenciada diretamente pela perda da evidência natural ou atitude natural. Organizar a rotina, livros e objetos pessoais pode servir para um período mais curto de distanciamento, utilizando-se de uma atitude natural do pragmatismo, mas não parece ser suficiente para longos processos de emergências sanitárias.

A terapia ocupacional no Brasil se constituiu nos cotidianos singulares das atividades humanas, mas também na luta pelos direitos humanos e acesso universal a serviços de saúde, sobretudo aqueles voltados para a saúde mental (Ricci et al., 2020Ricci, E., Dimov, T., Cassais, T. S., & Dellbrügger, A. P. (2020). University experiences of occupational therapy in Brazil during the Covid-19 pandemic: contributions and support in mental health for the population. World Federation of Occupational Therapists Bulletin, 76(2), 75-77. http://dx.doi.org/10.1080/14473828.2020.1818048.
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). A vida cotidiana se retroalimenta na vida social. Pode-se não ter os mesmos gestos, ações e formas de realizar as atividades, mas isso deve ser entendido não como excludente de possibilidades e potências, mas sim como fenômenos singulares. A terapia ocupacional, como um núcleo de saber voltado/centrado na ação cotidiana das pessoas que acompanha, tem como compromisso desenvolver o cotidiano a partir da experiência vivida, buscando assim colaborar para a construção de relações terapêuticas dialéticas dos processos saúde/doença/cuidado durante as emergências sanitárias (Ricci et al., 2020Ricci, E., Dimov, T., Cassais, T. S., & Dellbrügger, A. P. (2020). University experiences of occupational therapy in Brazil during the Covid-19 pandemic: contributions and support in mental health for the population. World Federation of Occupational Therapists Bulletin, 76(2), 75-77. http://dx.doi.org/10.1080/14473828.2020.1818048.
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).

No decorrer da vida, as atividades apresentam papéis dominantes, para serem posteriormente desprezadas ou alteradas, no momento em que se atinge um limite do tempo individual, transformação sócio-histórica ou progresso coletivo. A cotidianidade muda a depender do contexto, influenciada pela idade, laços culturais, gênero e classe social, acompanhando os ritmos de cada tempo histórico (Carvalho, 2000Carvalho, M. C. (2000). O conhecimento da vida cotidiana: base necessária à prática social. In M. C. Carvalho & J. P. Netto (Eds.), Cotidiano: consciência e crítica (pp. 17-63). São Paulo: Cortez.).

Reitera-se pela narrativa do participante 6 os limites em focar apenas em atividades de vida diária, conceito a-histórico que vem sendo utilizado de maneira indiscriminada e que não engloba a diversidade social e cultural (Galheigo, 2003Galheigo, S. M. (2003). O cotidiano na terapia ocupacional: cultura, subjetividade e contexto histórico-social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(3), 104-109. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i3p104-109.
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). Sendo assim, não responde, a médio e longo prazo, às necessidades dos sujeitos e à complexidade do contexto, sobretudo na realidade brasileira. O núcleo da terapia ocupacional brasileira compromete-se com atividades humanas na sua complexidade de forma construtivista, dialógica, para junto das pessoas pensar possibilidades de como ser/estar/fazer no mundo, potencializando e reconhecendo os significados dados durante o processo terapêutico, sempre mediado pelas atividades, construindo território existenciais para os sujeitos, ou como Quarentei (2007, pQuarentei, M. S. (2007). Do ocupar a criação de territórios existenciais. In Anais do 10º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional: Contextos, Territórios e Diversidade. Goiânia: ABRATO-GO.. 10) nos alerta:

Há que se operar na TO um delicado e intenso processo de apreciação dos fazeres... saber do gosto, do sabor, atribuir valor. Saber o que ilumina o olhar ou o apaga. Podemos afirmar a TERAPIA OCUPACIONAL como re-cria-ação da vida não do lugar da onipotência, mas do lugar da simplicidade, da alegria de acolher esse continuum de re-fazer-se e traduzir-se em atividades!

Atravessamentos políticos e pandemia

A COVID-19 causou muitas transformações no cotidiano dos sujeitos, não se restringindo à reorganização temporária ou permanente dos modos de vida e das ocupações, como também na estrutura macro coletiva e política do cotidiano (Silva & Nascimento, 2020Silva, J. J. B., & Nascimento, A. C. B. (2020). Terapia ocupacional e telessaúde em tempos de Covid-19. RevibratO, 4(6), 1013-1022.).

Observou-se, a partir das narrativas, como a política, a economia, notícias e outros fatores macroestruturais influenciam no bem-estar, no fazer e nas formas de se relacionar.

[...] como não existem políticas públicas de protocolo para que a gente pudesse saber o que que podemos fazer ou não, como que a gente deveria proceder ou não, então isso é muito muito tenebroso né. Eu gostaria muito, por exemplo, de poder caminhar na rua e tal, mas eu fico realmente sem saber o que eu posso fazer o que eu não posso fazer (P7, GF 3).

[...] Eu sempre digo aqui, é como se tivesse uma metralhadora em uma guerra ali fora atirando e você não sabe de onde vem a bala e sem proteção nenhuma saísse na rua, tem uma probabilidade muito grande de pegar em você e você morrer na rua mesmo, então é o covid (P3, GF 2).

Para Heller (2004)Heller, A. (2004). O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra., “[...] a vida cotidiana não está fora da história, mas no centro do acontecer histórico; ela é a vida do indivíduo. O indivíduo é sempre, simultaneamente, ser particular e ser genérico” (Heller, 2004, pHeller, A. (2004). O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra.. 20). Dessa forma, a vida cotidiana é heterogênea em diversos aspectos (aptidões, tipos de percepção de afeto, habilidades); no entanto, não representa obrigatoriamente autonomia, já que a cotidianidade cobra um sentido socialmente produzido, inserido num processo histórico da sociedade (Heller, 1994Heller, A. (1994). Sociologia de la vida cotidiana. Barcelona: Península.).

A pandemia no Brasil, até o momento, vem sendo liderada de maneira irresponsável e incompetente, com ausência de plano de enfrentamento eficaz, incentivo a aglomerações e desacreditando das medidas sanitárias. Assim, o país acumula uma série de erros na gestão da pandemia (Almeida-Filho, 2021Almeida-Filho, N. (2021). Pandemia de COVID-19 no Brasil: equívocos estratégicos induzidos por retórica negacionista. In Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS (ed.), Principais elementos (Coleção COVID-19, vol. 1, pp. 214-225). Brasília: OPAS/CONASS. Recuperado em 3 de fevereiro de 2022, de https://www.rets.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/biblioteca/covid-19-volume1.pdf.
https://www.rets.epsjv.fiocruz.br/sites/...
). Ainda que todas as orientações sanitárias recomendassem o isolamento e o distanciamento social, o propósito do Presidente da República era descobrir uma forma de defender a volta à normalidade (Amarante, 2021Amarante, E. (2021). A desinformação como estratégia política: uma análise dos discursos presidenciais durante a pandemia da Covid-19. Aurora: Revista de Arte, Mídia e Política, 14(40), 48-67.).

[...] Aí vem a questão da liderança nacional, os países que tinham uma liderança nacional de cabeça intelectual de pensamento, que o líder conduziu seu povo para o rumo certo, combateram melhor a pandemia, já saíram e as economias deles vão se levantar. Do contrário o Brasil, infelizmente colocou um camarada que só a glória de Deus pra cuidar desse país, porque o país mergulhou no abismo [...] (P3, GF 2).

A má gestão da pandemia foi um debate bastante presente durante os encontros, a fala dos integrantes evidenciava a preocupação com o futuro do país e com o número de mortes, em constante crescente.

[...] quando aconteceram os casos na Itália eu não imaginava que o Brasil pudesse ultrapassar os cem mil mortos. É algo meio inacreditável, deixar chegar a esse ponto (P2, GF 2).

[...] tem um uma coisa das autoridades estarem lidando com isso como se estivesse ficando tudo bem, né? Tem um discurso aqui em São Paulo, entre as autoridades de que estamos finalmente, baixando, descendo uma curva descendente, o número de mortos diminuiu, tá diminuindo, cada semana tem menos pessoas morrendo por semana então, como se fosse pouco, né? [...] (P6, GF 4).

No momento da fala da participante 2, agosto de 2020, o Brasil havia ultrapassado as cem mil mortes (Agência Senado, 2020Agência Senado. (2020). Pesquisas apontam que milhares de mortes por covid poderiam ter sido evitadas no Brasil. Recuperado em 9 de julho de 2022, de https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/24/pesquisas-apontam-que-milhares-de-mortes-por-covid-poderiam-ter-sido-evitadas-no-brasil
https://www12.senado.leg.br/noticias/mat...
). Em julho de 2022, o país atingiu a marca de 673.339 mortos pela doença (Brasil, 2021Brasil. (2021). Painel Coronavírus. Brasília. Recuperado em 9 de julho de 2022, de https://covid.saude.gov.br/
https://covid.saude.gov.br/...
).

[...] As notícias que a gente vê a cada momento são muito tristes né, e aí a gente tem cem mil e parece que isso não quer dizer nada né, a gente tem... Eu insisto nessa ideia de que a liberdade, a democracia, essa coisa tão cara que, quer dizer, a minha geração, por exemplo, pagou caro por isso, pra ter esses valores. Lutamos muito por isso [...] (P7, GF3).

O Brasil tem o pior resultado de mortes de COVID-19 por milhões de habitantes comparado com os países que compõem o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Comparando com a América do Sul, o país é o segundo em mortalidade por milhão de pessoas, atrás apenas do Peru (Agência Senado, 2020Agência Senado. (2020). Pesquisas apontam que milhares de mortes por covid poderiam ter sido evitadas no Brasil. Recuperado em 9 de julho de 2022, de https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/24/pesquisas-apontam-que-milhares-de-mortes-por-covid-poderiam-ter-sido-evitadas-no-brasil
https://www12.senado.leg.br/noticias/mat...
). Sendo assim, a pandemia deixa ainda mais evidente as profundas desigualdades do país, expõe a gestão presidencial ineficaz e colabora para que milhares de brasileiros enfrentem maior risco social e sanitário (Ricci et al., 2020Ricci, E., Dimov, T., Cassais, T. S., & Dellbrügger, A. P. (2020). University experiences of occupational therapy in Brazil during the Covid-19 pandemic: contributions and support in mental health for the population. World Federation of Occupational Therapists Bulletin, 76(2), 75-77. http://dx.doi.org/10.1080/14473828.2020.1818048.
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).

O Governo Federal, em todas as iniciativas, priorizou a economia e os investimentos capitalistas, e não a vida e a saúde da população (Santos Neto & Fernandes, 2020Santos Neto, A. B., & Fernandes, E. N. S. (2020). Coronavírus e Crise do Capital: impactos aos trabalhadores e à natureza. Goiânia: Phillos Academy.). A crise político-econômica que o país atravessa, se agrava à medida que o governo não contém o avanço do vírus e produz ameaças significativas à constituição de 1988 e à democracia (Silva, 2020Silva, I. M. (2020). O governo Bolsonaro, a crise política e as narrativas sobre a pandemia. Revista Brasileira de Pesquisa Auto(biográfica), 5(16), 1478-1488.).

[...] Os cenários da sociedade, eu acho que parece que tudo vai piorar, o fato da gente não poder se reunir presencialmente com os nossos pares, eu por exemplo sempre participei muito das manifestações e não poder fazer isso é uma coisa que está enfraquecendo muito a gente, as coisas estão sendo aprovadas a rodo, os grandes acordos estão acontecendo, aproveitando esse momento de pandemia, né? Então a impressão que eu tenho é que é muito pior do que parece, porque acho que quando a gente voltar a nossa vida ativa de sair, de fazer as coisas, alguns algumas coisas que talvez sejam irrecuperáveis e é mais uma coisa que me aflige muito, principalmente no cenário político que a gente vive assim... É uma coisa que eu fico em desespero cada vez que eu leio uma notícia sobre a reforma administrativa ou sabe os cortes importantes saúde, educação, cultura.. enfim [...] (P6, GF 4).

As medidas de distanciamento social impediram ou dificultaram a articulação coletiva para a reivindicação dos direitos, tão duramente conquistados pela população brasileira, e que estão sob forte ameaça. A fala da participante 6 enfatiza a preocupação com a impossibilidade de reunião com os pares para a defesa de direitos básicos, como saúde, educação e cultura.

Historicamente, a terapia ocupacional se dedica ao acesso aos direitos humanos e à saúde universal, pois entende como se articula a relação sujeito-cotidiano-história-sociedade compreendendo o sujeito como resultado de inúmeras determinações (Galheigo, 2003Galheigo, S. M. (2003). O cotidiano na terapia ocupacional: cultura, subjetividade e contexto histórico-social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(3), 104-109. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i3p104-109.
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). Sendo assim, acolhe as preocupações das participantes, compreendendo o processo sócio-histórico e buscando transformá-lo ativamente por meio do empoderamento crítico dos coletivos.

Do agrupamento à grupalidade virtual

A última categoria encontrada foi do agrupamento à grupalidade virtual, na qual os grupos se constituíram como grupo de ajuda e suporte mútuo. Os grupos foram formados por pares, ou seja, que estavam vivendo processos semelhantes durante a pandemia, nesse caso, população geral em isolamento e/ou distanciamento social/físico. Esses grupos são organizados por meio de encontros nos quais os participantes compartilham experiências de vida, estratégias de enfrentamento dos problemas comuns ou para discussão de algum tema previamente acordado (Vasconcelos & Weck, 2020Vasconcelos, E. M., & Weck, V. (2020). Desafios e recomendações para a realização de atividades de ajuda mútua on-line no campo da saúde mental. In E. M. Vasconcelos (Ed.), Novos horizontes em saúde mental: análise de conjuntura, direitos humanos e protagonismo de usuários(as) e familiares (pp. 292-309). São Paulo: Hucitec.).

Vale ressaltar a diferença entre de ajuda mútua e grupo de suporte mútuo, o primeiro propõe a troca de experiência, acolhida e apoio emocional entre pessoas que estejam enfrentando sofrimentos e dificuldades semelhantes, enquanto o segundo propõe a realização de trabalhos em conjunto, a ampliação de oportunidades culturais, de lazer, cuidado e sociabilidade, podendo chegar a organização formal dos participantes, com projetos mais complexos de renda, moradia, acesso à cultura e outros (Brasil, 2013Brasil. Ministério da saúde. Fundo Nacional de Saúde. (2013). Manual [de] ajuda e suporte mútuos em saúde mental: para facilitadores, trabalhadores e profissionais de saúde e saúde mental. Rio de Janeiro: Escola do Serviço Social da UFRJ; Brasília: Ministério da Saúde.).

A construção de grupos de ajuda e suporte mútuo no ambiente virtual pode trazer meios para lidar com os estresses oriundos da repetição das tarefas domésticas, pânico de contágio, bem como com a tendência à depressão, sentimentos de solidão e estresse decorrente do isolamento prolongado. Nesse espaço, os participantes podem encontrar estratégias para o enfrentamento de problemas em comum e compartilhar suas experiências de vida (Vasconcelos & Weck, 2020Vasconcelos, E. M., & Weck, V. (2020). Desafios e recomendações para a realização de atividades de ajuda mútua on-line no campo da saúde mental. In E. M. Vasconcelos (Ed.), Novos horizontes em saúde mental: análise de conjuntura, direitos humanos e protagonismo de usuários(as) e familiares (pp. 292-309). São Paulo: Hucitec.).

Nas narrativas, notou-se a importância de se ter um local seguro e acolhedor para dividir as angústias e os anseios decorrentes da vida cotidiana e das adversidades causadas pela pandemia, também foi possível observar falas de melhora nos estados emocionais dos participantes.

[...] não to gostando do tom de despedida, mas o grupo, foi praticamente uma terapia da pandemia, sabe? Ver essas terças-feiras, eu acho que não é sempre que a gente deve ter âncoras assim, mas às vezes a gente precisa, né? e o grupo assim foi uma âncora assim sabe, um porto seguro (P6, GF6).

[... ] não sei como é que vai ser a minha quarentena daqui para frente, porque realmente essa terça-feira, essa horinha aqui, é uma horinha e meia que eu não pego no celular, eu não fico perdendo tempo ali, me desconcentrando com outras coisas [...] Tornou a quarentena um momento não insuportável, tornou a quarentena uma coisa mais suportável porque foi assim grupo de apoio assim mesmo, sabe? Foi uma Âncora mesmo [...] (P6, GF6).

[...] trouxe momentos para mim da gente poder conversar e falar e sentir tudo que a gente tá vivendo, e até descobrir coisas que a gente no falar a gente descobre, que tava na gente e até muitas vezes a gente nem percebe [...] (P4, GF6).

As narrativas dos participantes 4 e 6 ilustram como foi importante passar pelo período de distanciamento social junto ao grupo, promovendo um espaço de reflexão, apoio e um momento para olhar seus sentimentos e emoções.

Vasconcelos & Weck (2020)Vasconcelos, E. M., & Weck, V. (2020). Desafios e recomendações para a realização de atividades de ajuda mútua on-line no campo da saúde mental. In E. M. Vasconcelos (Ed.), Novos horizontes em saúde mental: análise de conjuntura, direitos humanos e protagonismo de usuários(as) e familiares (pp. 292-309). São Paulo: Hucitec. sugerem o estabelecimento de um dia e horário fixo para os encontros, e esse fator foi fundamental para a aderência do grupo, bem como para a criação de vínculo entre os participantes e para o agrupamento tornar-se uma grupalidade virtual, com ajuda e suporte mútuo.

[...] as coisas que a gente conversa aqui, ou que eu coloco aqui, talvez por ser uma pesquisa, eu não preciso ficar.. pelo menos de mim eu sinto isso, eu não preciso ficar vestindo um personagem, pra essa pessoa eu sou assim, nao que a gente seja duas caras, mas a gente acaba se colocando assim uns limites de até onde vai, dependendo de com quem você está se relacionando, ainda mais a distância e nesse grupo parece que nao tem esse limite, pelo menos eu não tenho vergonha de falar que eu to quase sendo irresponsável, de expor essas coisas, porque é a proposta de realmente mostrar o que a gente tá sentindo, o que a gente tá vivendo, o que a gente tá pensando, eu pelo menos não vejo esse espaço em outros lugares e com outras pessoas, eu adoraria continuar o grupo dentro dessa proposta de poder falar abertamente as coisas, sem julgamentos e um se ajudando e apoiando o outro (P6, GF 5).

[...] é incrível que a gente foi reunido assim, feito a laço, num grande espaço e deu de formar um grupo, que realmente parece que já se conhecia e trocou ideias, como se tivesse continuando uma conversa antiga e pra mim tem sido muito gratificante isso, essa possibilidade da gente refletir sobre o que tá acontecendo, sobre a gente mesmo, sobre outras pessoas, né? porque o grande risco do isolamento é a gente, realmente não ouvir mais e é muito importante isso, de escutar outras pessoas, com experiências tão diversas e que somadas dá uma coisa.. tem sido muito útil pra vida da gente (P7, GF 5).

Em geral, os grupos de ajuda e de suporte mútuo não possuem muitas regras, mas o direito à confidencialidade, privacidade e proteção das informações pessoais, além do respeito aos valores do outro, sem críticas ou julgamentos, são elementos fundamentais para a continuidade do grupo e para que possam produzir seus efeitos psíquicos (Brasil, 2013Brasil. Ministério da saúde. Fundo Nacional de Saúde. (2013). Manual [de] ajuda e suporte mútuos em saúde mental: para facilitadores, trabalhadores e profissionais de saúde e saúde mental. Rio de Janeiro: Escola do Serviço Social da UFRJ; Brasília: Ministério da Saúde.).

Na fala da participante 6, é possível notar a importância do cumprimento dessas regras, para que haja segurança ao compartilhar suas experiências, receios, pensamentos e para a possibilidade do grupo se manter sem a mediação das pesquisadoras e se consolidar como um grupo de ajuda e suporte mútuo, ultrapassando os limites da pesquisa.

[...] Eu sou astróloga amadora, então eu oficialmente estou fazendo aniversário, astrologicamente.. e eu escolhi estar com vocês [...] E foi bom ter decidido estar com vocês, pessoas que eu não conheço, não sei se a gente vai voltar a se ver, se encontrar, mas acho que isso também não importa.. Essa experiência humana que a gente está foi importante e eu fico feliz de começar as celebrações desse ano com vocês [...] (P10, GF 4).

Engraçado é que seis encontros parecia muito pouco.. ‘’ah, seis encontros, beleza, se eu não gostar são só seis encontros” e parece que foi mais, pelo vínculo, mas ao mesmo tempo parece que passou muito rápido, porque a gente começou dia desses e a impressão que dá é que foram mais encontros, parece que quase do começo da pandemia, não parece que foi agora, tem um mês e meio, parece que foi lá no começo da pandemia, a gente falou de como foi desde o começo, então a gente vivenciou o começo aqui no grupo, né? [...] (P6, GF 6).

Com o decorrer dos encontros, foi possível notar que os participantes se referenciavam uns aos outros e lembravam do grupo durante a semana, constituindo um processo de tornar-se grupo. O sentimento de pertencimento pode gerar a sensação de “estar vivo” e compor um coletivo, ao passo que é coletivo e distingue-se dele. Com a sensação de pertença estabelecida e o grupo consolidado, os participantes começam a compartilhar temas dolorosos e muitas vezes difíceis de serem abordados (Lima, 2015Lima, E. M. F. A. (2015). Um grupo de Terapia Ocupacional: tecendo vínculos, criando mundos. In V. Maximino & F. Liberman (Orgs.), Grupos e Terapia Ocupacional: formação, pesquisa e ações (pp. 166-187). São Paulo: Summos.).

Destaca-se, na fala da participante 10, o investimento afetivo que os integrantes faziam no grupo, situações em que escolhiam estar juntos ou optar por estar no grupo.

A terapia ocupacional, nas últimas duas décadas, dedicou-se a estudar e construir métodos e técnicas para a condução de grupos, por entender as potências desse dispositivo para as relações humanas, fortalecendo cotidianos e laços sociais (Ballarin, 2001Ballarin, M. L. G. S. (2001). Grupos de atividades: uma discussão teórico-clínica sobre o papel da terapeuta ocupacional (Tese de doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Campinas.; Brunello, 2002Brunello, M. I. B. (2002). Terapia ocupacional e grupos: uma análise da dinâmica de papéis em um grupo de atividade. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(1), 9-14. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i1p9-14.
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; Maximino & Liberman, 2015Maximino, V., & Liberman, F. (2015). Grupos e terapia ocupacional: formação, pesquisa e ações. São Paulo: Summus.).

Estudos como Ricci et al. (2020)Ricci, E., Dimov, T., Cassais, T. S., & Dellbrügger, A. P. (2020). University experiences of occupational therapy in Brazil during the Covid-19 pandemic: contributions and support in mental health for the population. World Federation of Occupational Therapists Bulletin, 76(2), 75-77. http://dx.doi.org/10.1080/14473828.2020.1818048.
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, Macêdo et al. (2020)Macêdo, F. O. A., Lopes, K. A. P., Lopes, L. A. M. R., & Cruz, R. F. (2020). Ações e experiências de terapeutas ocupacionais no contexto de pandemia da COVID-19. RevisbratO, 4(3), 318-333. e Costa et al. (2020)Costa, C., Fabiani, I., Ferrari, J., Fripp, J. C., Silva, L. D. A., & Roque Filho, A. (2020). Os desdobramentos dos grupos de ajuda e suporte mútuo on-line em tempos de crise sanitária mundial. Revista Saúde em Redes, 6(2), 7-22. apontam as potências dos grupos de ajuda e suporte mútuo em emergências comunitárias, como no caso da COVID-19, bem como as contribuições da terapia ocupacional para o cuidado da população e seus cotidianos, especialmente o cuidado em saúde mental.

Por último, avaliou-se que o grupo se constituiu como um grupo de ajuda mútua apoiado por terapeutas ocupacionais no qual os envolvidos compartilharam suas experiências cotidianas, suas dores e ofereceram suporte emocional uns aos outros, atingindo alguns dos pressupostos de grupo de suporte mútuo, como a ampliação das redes de sociabilidade e de cuidado. Uma suposição seria que a quantidade de encontros (apenas seis), as limitações do remoto (instabilidade da Internet) e a dificuldade de realização de tarefas em conjunto poderiam ter dificultado a evolução do grupo nesse sentido, mas não foi o caso, pois a maioria dos participantes relataram a importância dele para seu cuidado e diminuição de seu sofrimento.

Considerações Finais

Nosso objetivo inicial foi analisar as mudanças nos cotidianos de brasileiros em isolamento ou distanciamento social/físico e as possíveis contribuições da terapia ocupacional em teleatendimento grupal durante a pandemia de COVID-19. As narrativas mostraram algumas mudanças nos estados emocionais, bem como as abruptas rupturas nos cotidianos logo no início da pandemia. Ao longo do processo, pode-se observar melhora nos estados emocionais e reflexão sobre os cotidianos, bem como a formação de um grupo de ajuda mútua.

A atuação da terapia ocupacional, apesar de recente em teleatendimento no Brasil, contribuiu para o cuidado em emergências de saúde, pois se aproximou e refletiu sobre o cotidiano dos participantes. A princípio, nossa pesquisa era apenas avaliativa sobre os cotidianos, mas o método, a técnica e, principalmente, as perguntas norteadoras construídas por terapeutas ocupacionais durante os grupos focais parecem ter facilitado a formação de grupos de ajuda mútua.

Como recurso potente para o cuidado em saúde mental durante a pandemia e suas singularidades, destaca-se então o grupo de ajuda e suporte mútuo online organizado por terapeutas ocupacionais, que possibilitou um espaço virtual seguro e acolhedor para o compartilhamento de angústias, ansiedade, desafios cotidianos, esperança e empatia. Esse recurso tem baixo custo relativo e comunga com o distanciamento social, que por consequência, auxilia a contenção da disseminação do vírus.

Ainda que a telessaúde e grupos de ajuda virtual sejam dispositivos eficazes para prevenir adoecimentos psíquicos mais profundos e construir cotidianos mais saudáveis, podendo ser utilizados por terapeutas ocupacionais, não são acessíveis para parte da população brasileira que ainda não possui acesso à Internet e equipamentos adequados para a realização dos encontros virtuais.

Assim, identifica-se como uma limitação da presente pesquisa atingir apenas parte da população, mas destaca-se a importância do acesso à Internet ser considerado um direito para toda a população brasileira, com financiamento para aquisição de equipamentos como celulares e computadores acessíveis. Reforça-se, também, que é urgente a previsão desses equipamentos e Internet rápida e de boa qualidade nos serviços públicos, sendo garantidos pelas políticas públicas, sobretudo num período de emergência comunitária, para prevenir adoecimentos psíquicos considerados leves e acompanhar o cotidiano das pessoas que sofreram mais rupturas durante emergências sanitárias.

  • Como citar: Elesbão, K. F., Dimov, T., Barros, W. S., Erazo-Chavez, L. J., & Ricci, E. C. (2023). Pandemia de COVID-19 no Brasil: análise do cotidiano e desdobramentos de uma intervenção grupal. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3262. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO249332621

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Isabela Aparecida de Oliveira Lussi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2022
  • Revisado
    19 Fev 2022
  • Revisado
    14 Jun 2022
  • Aceito
    19 Dez 2022
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