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Heterogeneidade do diabetes melito tipo 1

Heterogeneity of type 1 diabetes mellitus

Resumos

O diabetes melito tipo 1 (DM1) caracteriza-se pela deficiência de insulina por causa da destruição das células-beta pancreáticas. O DM1 atualmente é classificado em dois subtipos: um auto-imune (DM1A) e outro não auto-imune (DM1B). O DM1A poligênico (isolado ou associado a outras doenças auto-imunes) é a forma mais prevalente. O DM1A pode fazer parte de síndromes raras em virtude de alterações monogênicas [gene regulador da auto-imunidade (AIRE)] e mutações no gene FOX-p3. O DM1B corresponde de 4% a 7% do DM1 e pode incluir formas não clássicas, como o diabetes fulminante e o DATC. Jovens com DM1A e sinais de resistência à insulina associados têm sido denominados de diabetes duplo (DD), tipo 1 e tipo 2. Nessa revisão são discutidas as patofisiologias e as características clínicas das formas raras de DM1A, o DM1B, as formas atípicas de DM1 não auto-imune e as inter-relações entre a inflamação subclínica da obesidade e o processo auto-imune do DM1A no DD. Em resumo, apresentamos o conceito de heterogeneidade do DM1.

Diabetes melito do tipo 1; Heterogeneidade


Type 1 diabetes (T1D) comprises all forms of autoimmune-mediated and idiopathic beta-cell destruction leading to absolute insulin deficiency. The etiological heterogeneity of T1D has been recognized for the last decades, but it has been divided into only two subtypes so far: autoimmune (T1D)A and non-autoimmune (T1D)B mediated. Polygenic T1DA (isolated or associated to other autoimmune diseases) is the most prevalent type of T1D. T1DA might be part of rare monogenic syndromes related to mutations in the autoimmune regulator gene (AIRE) and FOXp3. Non-autoimmune forms of T1D correspond to approximately 4 to 7% of newly diagnosed T1D and include T1DB, as well as other types of atypical diabetes, for example fulminant type 1 diabetes and adult ketosis-prone diabetes. A new expression of diabetes in young with insulin resistance and obesity, along with the presence of pancreatic autoimmunity markers, namely auto-antibodies to islet cell antigens, is called double diabetes (DD), T1DA plus type 2 diabetes. Evidence has been collected concerning the potential effect of obesity-linked cytokines in amplifying the autoimmune response in DD. Therefore all these issues are presented and discussed in this review as the concept of heterogeneity of Type 1 Diabetes.

Type 1 diabetes mellitus; Heterogeneity


PERSPECTIVA

Heterogeneidade do diabetes melito tipo 1

Heterogeneity of type 1 diabetes mellitus

Sergio Atala Dib

Disciplina de Endocrinologia e Centro de Diabetes do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sergio Atala Dib Unifesp – Disciplina de Endocrinologia Rua Botucatu, 740 04023-900 – Vila Clementino, São Paulo, SP E-mail: sergio.dib@unifes

RESUMO

O diabetes melito tipo 1 (DM1) caracteriza-se pela deficiência de insulina por causa da destruição das células-beta pancreáticas. O DM1 atualmente é classificado em dois subtipos: um auto-imune (DM1A) e outro não auto-imune (DM1B). O DM1A poligênico (isolado ou associado a outras doenças auto-imunes) é a forma mais prevalente. O DM1A pode fazer parte de síndromes raras em virtude de alterações monogênicas [gene regulador da auto-imunidade (AIRE)] e mutações no gene FOX-p3. O DM1B corresponde de 4% a 7% do DM1 e pode incluir formas não clássicas, como o diabetes fulminante e o DATC. Jovens com DM1A e sinais de resistência à insulina associados têm sido denominados de diabetes duplo (DD), tipo 1 e tipo 2. Nessa revisão são discutidas as patofisiologias e as características clínicas das formas raras de DM1A, o DM1B, as formas atípicas de DM1 não auto-imune e as inter-relações entre a inflamação subclínica da obesidade e o processo auto-imune do DM1A no DD. Em resumo, apresentamos o conceito de heterogeneidade do DM1.

Descritores: Diabetes melito do tipo 1; Heterogeneidade

ABSTRACT

Type 1 diabetes (T1D) comprises all forms of autoimmune-mediated and idiopathic beta-cell destruction leading to absolute insulin deficiency. The etiological heterogeneity of T1D has been recognized for the last decades, but it has been divided into only two subtypes so far: autoimmune (T1D)A and non-autoimmune (T1D)B mediated. Polygenic T1DA (isolated or associated to other autoimmune diseases) is the most prevalent type of T1D. T1DA might be part of rare monogenic syndromes related to mutations in the autoimmune regulator gene (AIRE) and FOXp3. Non-autoimmune forms of T1D correspond to approximately 4 to 7% of newly diagnosed T1D and include T1DB, as well as other types of atypical diabetes, for example fulminant type 1 diabetes and adult ketosis-prone diabetes. A new expression of diabetes in young with insulin resistance and obesity, along with the presence of pancreatic autoimmunity markers, namely auto-antibodies to islet cell antigens, is called double diabetes (DD), T1DA plus type 2 diabetes. Evidence has been collected concerning the potential effect of obesity-linked cytokines in amplifying the autoimmune response in DD. Therefore all these issues are presented and discussed in this review as the concept of heterogeneity of Type 1 Diabetes.

Keywords: Type 1 diabetes mellitus; Heterogeneity

INTRODUÇÃO

O DIABETES MELITO TIPO 1 (DM1) inclui todas as formas de diabetes em que ocorre primariamente a destruição das células-beta pancreáticas produtoras de insulina.

Na maioria dos casos, esta destruição é auto-imune e constitui o subgrupo de diabetes denominado de tipo 1A (DM1A). Este subgrupo é composto de uma forma poligênica clássica (o tipo mais freqüente de DM1) (1), que pode apresentar-se isolado ou associado a outras endocrinopatias auto-imunes – síndromes poliglandulares auto-imunes 2 e 3 (2), do diabetes auto-imune latente do adulto (LADA) (3) e dos dois presentes em síndromes relacionadas a alterações monogênicas: um que pertence a síndrome poliglandular auto-imune do tipo 1 (SPAI-1) (4) e o associado à poliendocrinopatia e à enteropatia ligada ao X (IPEX) (5).

O subgrupo denominado tipo 1 idiopático é caracterizado por baixos níveis plasmáticos de insulina e de peptídeo-C, semelhantes ao do DM1A, embora não apresente evidência de auto-imunidade anticélulas-beta pancreáticas. A maioria desses pacientes, descritos até o momento, é de origem africana ou asiática. Estes podem apresentar episódios de cetoacidose diabética (CAD), mas a patogênese da sua insulinopenia permanece desconhecida. Este subgrupo é composto de pelo menos três subtipos: o diabetes melito tipo 1B (DM1B) (6), o diabetes do adulto com tendência à cetose (DATC) (7) e o diabetes fulminante (8).

Uma publicação recente (8a) refere que entre as crianças e jovens com DM1B pode-se encontrar alguns indivíduos com mutações no gene da insulina. Estas alterações poderiam ser pesquisadas em casos selecionados desse grupo de diabetes.

O aumento da prevalência da obesidade na infância e na adolescência (9) e o diagnóstico mais precoce do DM1A (10) têm levado ao aparecimento de jovens com características de diabetes tipo 2 juntamente com a presença de auto-imunidade antipancreática. Estes pacientes têm sido denominados por alguns autores de diabetes duplo (DD) (11).

O DM1A poligênico clássico e o LADA estão sendo abordados em outros artigos desta edição da revista.

Aqui discutiremos os tipos monogênicos do DM1A, o DM1B, o diabetes fulminante, o DATC e o DD.

SÍNDROME POLIGLANDULAR AUTO-IMUNE TIPO 1

A SPAI-1, também conhecida como autoimmune polyendocrinopathy candidiasis ectodermal dystrophy (Apeced), é uma poliendocrinopatia rara em razão de mutações no gene regulador da auto-imunidade (AIRE). A freqüência dessas mutações varia em populações diferentes. A análise do gene AIRE para as mutações comuns é útil na identificação de indivíduos com SPAI-1, entretanto, como mutações múltiplas têm sido descritas, a ausência das mutações mais comuns podem não excluir o diagnóstico da SPAI-1.

A doença é transmitida por um modo de herança autossômico recessivo. O gene AIRE está localizado no cromossomo 21q22.3 (12) e é importante para começar a transcrição de antígenos periféricos (normalmente expressos em tecidos fora do sistema imunológico) no interior de células epiteliais da região medular do timo (13). A expressão desses antígenos é importante durante a maturação tímica das células T e na seleção negativa das células desse tipo, que reagem com auto-antígenos.

A SPAI-1 é definida pela presença de dois ou três dos seguintes componentes: candidíase mucocutânea, insuficiência adrenal e/ou hipoparatiroidismo. Os indivíduos afetados geralmente desenvolvem candidíase mucocutânea persistente ou recorrente desde os primeiros anos de vida. Esta síndrome tem 25% de risco de recorrência para parentes de primeiro grau de indivíduos afetados (estes podem ser considerados afetados com apenas um dos componentes citados) e apresenta alta prevalência na Sardinia, na Finlândia e em famílias de judeus iranianos.

A candidíase mucocutânea e os anticorpos antiinterferon (14) estão presentes em 100% desses casos.

O DM1 está presente em 23% desses pacientes, isto é, em porcentagem bem menor do que a de outros componentes da SPAI-1, como a candidíase mucocutânea (100%), hipoparatiroidismo (86%) e insuficiência adrenal (79%). Os auto-anticorpos anti-GAD 65 e anti-IA2 apresentam sensibilidade, especificidade e valor preditivo diferentes para o diabetes da SPAI-1, quando comparados ao DM1A clássico (15). Os auto-anticorpos anti-IA2 parecem ser os de melhor valor preditivo para o diabetes na SPAI-1 com nenhum ou pequeno valor adicional do anti-GAD65 (16). Isso pode sugerir que mecanismos fisiopatológicos diferentes estejam operando na destruição das células-beta e também na existência de outro auto-antígeno da célula-beta, até o momento desconhecido, na SPAI-1.

Além das doenças citadas anteriormente, outras características clínicas (com as respectivas prevalências entre parênteses) da SPAI-1 são: a falência ovariana (72%), a displasia ectodérmica (50% a 75%), a anemia perniciosa (31%), o hipogonadismo masculino (26%), a obstipação intestinal (21%), o hipotiroidismo (18%), a diarréia (18%), a hepatite (18%) e a atrofia esplênica (15%). Estes estigmas devem ser seguidos nesses pacientes.

SÍNDROME DA IMUNODISREGULAÇÃO POLIENDOCRINOPATIA ENTEROPATIA LIGADA AO X

Esta síndrome, descrita pela primeira vez em 1982, é uma doença rara, recessiva, ligada ao X e que se caracteriza por disregulação imunológica que resulta doenças auto-imunes múltiplas e óbito prematuro.

O DM1 precoce está entre as características clínicas dessa síndrome que inclui também uma enteropatia grave, a qual compromete o crescimento e o desenvolvimento. O eczema ou atopia, a trombocitopenia, a anemia hemolítica, o hipotiroidismo e a linfadenopatia também fazem parte dessa síndrome (17).

Estudos em modelos experimentais (18) da doença sugerem que células T reguladoras estejam envolvidas na sua patogênese.

O defeito genético que causa a IPEX foi identificado recentemente em famílias com a doença, e corresponde a mutações dentro do gene FOX-p3 (19). O gene FOX-p3 codifica a produção de uma proteína denominada scurfin e pertence a classe dos fatores de transcrição. O FOX-p3 está expresso nas células T reguladoras CD4+/CD25+ (20). Estas células T podem suprimir a ativação de outras células T. De modo que mutações no FOX-p3 podem resultar a incapacidade de gerar células T reguladoras e o desenvolvimento da IPEX com a auto-imunidade contra vários órgãos. O tratamento tem como objetivo as abordagens das diferentes patologias que compõem a síndrome. Como um todo, o transplante de medula óssea tem sido tentado com sucesso variável (21). O uso de terapêutica imunossupressora com sirolimo apresentou efeitos satisfatórios em três pacientes com IPEX (22).

Diabetes melito tipo 1B

Uma parcela de pacientes com DM1 não apresenta evidência de auto-imunidade humoral contra as ilhotas pancreáticas ao diagnóstico clínico, pelo menos com os testes diagnósticos atuais mais comuns. Muitos destes pacientes podem apresentar forma clínica atípica da doença. Este subgrupo de pacientes com auto-anticorpos negativos são classificados como tipo 1B.

Aproximadamente 4% a 7% (23,24) dos pacientes com DM1 recentemente diagnosticados são auto-anticorpos negativos.

Em um estudo americano recente (25), 859 crianças e jovens (idade de 0 a 18 anos) foram analisados, dentro das primeiras duas semanas de diagnóstico do diabetes, em relação aos auto-anticorpos antiilhotas, genótipos do HLA e HbA1c. Neste estudo aproximadamente 20% dos pacientes foram negativos para todos os quatro anticorpos pesquisados (antiinsulina, anti-GAD, ICA512 (incluindo vários subtipos) e antiilhota clássico (ICA). A prevalência de indivíduos com ausência dos anticorpos antiilhota apresentou relação positiva com a idade, em todos os três grupos étnicos estudados (caucasianos, hispânicos e negros), sendo mais acentuada nestes dois últimos e com o índice de massa corpórea (IMC). A ocorrência dos auto-anticorpos (AAc) estava relacionada à presença do genótipo HLA de altíssimo risco (DR3-DQ2 e DR4-DQ8) para DM1A nessa população. Apenas 9% (9/105) das crianças portadoras deste genótipo HLA eram AAc– contra 20% (66/336), entre outros genótipos HLA de classe II (p = 0,007). Por outro lado, 63% das crianças com alelo protetor (DQB1*0602) eram AAc– (p < 0,0001) contra apenas 1,6% das crianças auto-AAc+.

A média do IMC entre as crianças com diabetes que eram anticorpos negativos foi significantemente maior do que o entre as crianças que eram anticorpos positivos (23,3 versus 18,9 kg/m2; p < 0,001). Em relação aos valores de HbA1c, não houve diferença entre os pacientes com auto-anticorpos positivos e negativos (11,2 versus 11,3%; p = 0,259).

Em resumo, este estudo conclui que uma porcentagem significante de maneiras não-auto-imunes de DM1 pode estar presente em crianças de todos as faixas etárias com grande aumento após os 10 anos de idade, sugerindo heterogeneidade etiológica.

É importante ressaltar que nessas crianças e jovens com AAc – deve-se fazer o diagnóstico diferencial com o diabetes do tipo 2 do jovem, com maturity-onset diabetes of the young (MODY), mutações no DNA mitocondrial, síndrome de Wolfram, mutações do Kir6.2, como também de maneiras secundárias e endócrinas e algumas síndromes raras.

Entretanto, esta área de estudo do DM1B está em constante evolução. Um estudo recente (26) mostrou que anticorpos contra um novo antígeno das ilhotas (ZnTA) foram encontrados em 26% dos DM1 classificados inicialmente AAc – com base nos marcadores existentes (GADA, IA2, IAA e ICA).

A combinação dos anticorpos anti-ZnT8A, GADA, IA2 e IAA é capaz de aumentar a detecção de auto-imunidade para 8% no início do DM1.

Diabetes fulminante

Entre as formas de diabetes com deficiência primária de insulina não-mediada pela auto-imunidade faz parte o denominado diabetes fulminante. Esta denominação foi proposta em 2000 por Imagawa e col. para um grupo de pacientes japoneses que apresentaram CAD associada a valores baixos de HbA1c (27). Casos semelhantes ao DM1 fulminante já haviam sido descritos anteriormente por outro grupo japonês, em 1987 (28). O DM1 fulminante apresenta características clínicas distintas do DM1A e é constituído por (29): 1. Desenvolvimento e evolução rápidos para CAD; 2. Tempo de duração dos sintomas de diabetes muito curto; 3. Predominância do sexo masculino; 4. Início preponderante na vida adulta; 5. Precedência freqüente de sintomas gripais; 6. Dependência permanente da insulina exógena; 7. Auto-anticorpos antiilhotas pancreáticas negativos; 8. Valores elevados de enzima pancreática sérica; 9. Infiltração linfocítica no pâncreas exócrino; e 10. Destruição das células-alfa e beta das ilhotas pancreáticas (30). Nas mulheres, a gestação também é fator de risco para o DM1 fulminante.

Um estudo multicêntrico nacional sobre a coordenação da Sociedade Japonesa de Diabetes sugere que este subtipo de diabetes pode concorrer com aproximadamente 20% dos casos de DM1 que se apresentam com cetose ou CAD (31) naquele país. Os critérios diagnósticos para o DM1 fulminante propostos pelo Comitê de Estudo do Diabetes Tipo 1 Fulminante no Japão estão apresentados na Tabela 1.

A patogênese desse tipo de diabetes é praticamente desconhecida. Em relação aos fatores genéticos, os estudos mostram que apenas uma parte (DRB1*1501-DQB1*0401) dos antígenos de classe II do sistema HLA (DRB1*1501-DQB1*0401 e DRB1*0901-DQB1*0303), que são de risco para o DM1 em caucasianos, contribuem para o desenvolvimento do DM1 fulminante. Do mesmo modo, dois (DRB1*1502-DQB1*0601 ou DRB1*1501-DQB1*0602) dos maiores fatores do sistema HLA protetores para o DM1 em japoneses não são protetores para o DM1 fulminante. Em relação à parte imunológica, estudos recentes têm mostrado que entre linfócitos periféricos de pacientes com DM1 fulminante foram identificadas células Th1 reativas ao GAD ou a fração B9-23 da cadeia de insulina (33), bem como insulite foi demonstrada em autópsia de um caso fatal de DM1 fulminante (34). Assim, esses achados sugerem que a etiologia do DM1 fulminante possa ser heterogênea e, em uma parcela, ser auto-imune. Alguns achados sugerem que a recorrência de infecções enterovirais pode ser um dos fatores desencadeantes para o desenvolvimento do DM1 fulminante, como a alta freqüência de sintomas gripais antes do seu início, a descrição de dois casos de DM1 fulminante que se desenvolveram após a reativação do vírus-6 herpes humano ou a infecção com o vírus herpes simples (35,36) e a elevação de anticorpos IgA contra enterovírus em pacientes com DM1 fulminante (37). Um fato que chama a atenção é que quase a totalidade descrita dos casos de DM1 fulminante, até o momento, é em população japonesa ou no máximo em países asiáticos. De modo que a publicação de casos de DM1 fulminante em outras populações deve colaborar para a compreensão desse subtipo de DM1 que se apresenta com alterações metabólicas agudas e graves.

DIABETES TIPO 1 ADULTO ATÍPICO OU COM TENDÊNCIA À CETOSE (DATC)

Há aproximadamente 15 anos, uma forma de DATC, inicialmente observada em negros americanos jovens (38) foi sugerida como uma nova entidade clínica. Esta condição se caracteriza pelo diagnóstico inicial em CAD, um período inicial de necessidade de insulina, ausência dos marcadores imunológicos do DM1A, anos de independência de insulina exógena, como observado no DM2, e episódios de CAD associados a situações de estresse (38). Este tipo de diabetes é mais freqüentemente observado em adultos obesos afro-americanos (39,40), africanos do Subsaara (41), asiáticos (42,43), hispânicos (44) e recentemente foi relatado no Brasil (45).

A ausência de mecanismos patofisiológicos bem definidos para essa condição tem levado a Associação Americana de Diabetes (ADA) (46) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) (47) a colocá-la no grupo do DM1 idiopático ou DM1B. Entretanto, a maioria dos investigadores que estudam esta forma de diabetes permanece atribuindo-lhe nomes diferentes, como diabetes tipo 1 de início adulto atípico, diabetes flatbush, diabetes com fase de dependência à insulina, diabetes idiopático e mais recentemente DATC (42,43,48). Isso reflete certa insatisfação com a classificação atual.

Esta insatisfação pode ser reforçada por um estudo (44) que avaliou um grupo de adultos caucasianos de origem mediterrânea com diabetes tipo 1 atípico (ausência de auto-anticorpos e insulinopenia flutuante) em relação a características clínicas, função da célula-beta, tipagem do sistema HLA e presença de mutações nos genes do MODY e os comparou ao DM1A e ao DM2 clássicos. Neste estudo, os autores mostraram que esses pacientes diferiam dos DM1A, no que diz respeito à ausência de auto-imunidade contra as células-beta, à persistência de células-beta funcionantes, aos episódios de necessidade de insulina exógena e de tendência à cetose, bem como às características clínicas do DM2. Apenas um subgrupo destes poderia ser estritamente (ausência anticorpos e de haplotipos do sistema HLA relacionados ao DM1A) classificado DM1B.

O que se observa nesses pacientes é que, após a CAD inicial, a normalização da glicemia é seguida por longos períodos de euglicemia sem necessidade do tratamento insulínico. Entretanto, episódios de recidiva da CAD e de dependência à insulina, após curtos períodos de hiperglicemia, podem ser observados. Esta evolução nesses pacientes parece estar relacionada à propensão única a glicotoxicidade e a um padrão específico de comprometimento intermitente na secreção e na ação da insulina (41). A base genética para esta predisposição à glicotoxicidade não é bem conhecida.

No que diz respeito a predisposição à cetose nesses pacientes, existe um estudo que sugeriu que ela poderia estar relacionada a mutações no gene da enzima glicose-6-fosfato dehidrogenase (G6PD). A deficiência na ação desta enzima, que catalisa o primeiro passo na via da pentose fosfato, levaria à diminuição na produção da NADPH (nicotinamida adenina dinucleotídeo) reduzida, que é o principal redutor celular. Embora existam outras vias metabólicas que produzam NADPH a G6PD, ela é a fonte predominante para a defesa celular contra o estresse oxidativo. A hipótese dos autores é de que alterações genéticas em um ou em múltiplos genes envolvidos, tanto na regulação da secreção de insulina como na expressão da G6PD pelas células-beta, poderiam predispor os indivíduos à cetose. Estas mutações poderiam levar à deficiência de insulina e à diminuição da defesa antioxidante mediada pela G6PD, contribuindo para um fenótipo específico de disfunção intermitente das células-beta. Esta hipótese ainda era mais atrativa pelo fato de a deficiência de G6PD ser uma desordem genética ligada ao X e afetar predominantemente o sexo masculino e ter alta prevalência em africanos (49). Entretanto, nesses pacientes com tendência à cetose, este estudo encontrou aumento na prevalência de deficiência de G6PD, mas sem mutações no gene dessa enzima. A falta do encontro de mutações no gene da G6PD nessa população com DATC sugere que a deficiência dessa enzima isoladamente não predispõe a esse tipo de diabetes. Por outro lado, esse estudo mostrou que nesses pacientes, mas não no DM2, o grau de deficiência na atividade da G6PD estava correlacionado com o grau de deficiência na secreção de insulina. Isso pode sugerir que a atividade da G6PD esteja relacionada à resposta da célula-beta aos estímulos, o que está de acordo com um estudo nacional (50) que mostrou bloqueio da resposta aguda da insulina à glicose em indivíduos não-diabéticos portadores de deficiência de G6PD.

A deficiência de G6PD poderia exacerbar a lesão oxidativa nas células-beta predispondo-as à disfunção. Os genes que controlam tanto a secreção de insulina como as defesas antioxidantes, mediadas pela G6PD, poderiam contribuir para o desenvolvimento do DATC em africanos.

No entanto, tem-se constatado que o denominado DATC seja um grupo heterogêneo. Um esquema para a classificação é importante com o objetivo de orientar tanto o tratamento, a curto e médio prazos, como também o prognóstico e os estudos para determinar a epidemiologia, a etiologia e a patogênese. Por último, esses dados seriam utilizados para elaborar intervenções efetivas na sua prevenção.

Os esquemas atuais nesse sentido têm como base os critérios imunológicos, a função da célula-beta, a necessidade de insulina e o IMC. Um estudo recente (51) foi realizado para comparar a acurácia e o valor preditivo de quatro desses critérios para determinar o fenótipo clínico e a dependência da insulina, em longo prazo, em um grupo multirracial de pacientes adultos que se apresentaram em CAD a um hospital geral. Este estudo avaliou 294 pacientes consecutivos em CAD (138 ao diagnóstico) e seguidos durante o período de um a cinco anos.

O critério que apresentou a melhor sensibilidade (99,4%), especificidade (95,9%), valor preditivo positivo (97,1%) e valor preditivo negativo (99,7%) para determinação do fenótipo e dependência da insulina em longo prazo foi o que avaliou a presença de auto-anticorpos contra as células-beta (GAD65, GAD67 e IA2) e a função da célula-beta (medida pela secreção de peptídeo-C após o estímulo com glucagon) dentro de duas semanas após a CAD inicial. A função da célula-beta foi definida preservada se o peptídeo-C de jejum era superior a 1 ng/ml ou 1,5 ng/ml, após estímulo com glucagon. Com base nesse critério, os pacientes foram classificados em quatro grupos: A+b–, A–b–, A+b+, A–b+ se apresentavam auto-anticorpos contra ilhotas positivos (A+) ou negativos (A–) e função das células-beta positiva (b+) ou negativa (b–).

Ao analisar estes quatro grupos de DATC, de acordo com as classificações mais utilizadas para o diabetes atualmente, ou seja, a da ADA (46) e a da OMS (47), verifica-se que:

DATC A+b–

O grupo DATC A+b– seria o tipo DM1A, ou seja, que apresenta falência das células-beta permanente e completa com a presença dos marcadores sorológicos de auto-imunidade contra essas células. Estes indivíduos necessitam de terapêutica com insulina exógena para sobrevivência.

DATC A–b–

O grupo DATC A–b– seria o tipo DM1B, que também apresenta falência das células-beta permanente e completa, mas não possui os marcadores de auto-imunidade contra essas células. Este grupo, à semelhança do grupo anterior, também necessita de terapêutica com insulina exógena pelo resto da vida.

DATC A+b+

O grupo DATC A+b+ é constituído por indivíduos que possuem uma parcela da função das células-beta preservadas no momento do diagnóstico, mas que apresentam os marcadores sorológicos de auto-imunidade contra estas células. Este grupo poderia ser dividido em dois subgrupos: um com uma forma de disfunção da célula-beta reversível e caracterizado por período prolongado de preservação dessas células e capacidade de descontinuar a terapêutica com insulina exógena e outro com falência progressiva das células-beta e necessitando da terapêutica permanente com insulina exógena. O primeiro subgrupo é uma forma menos agressiva do grupo A+b+ e apresenta processo auto-imune contra as células-beta lento com valores baixos de anticorpos anti-GAD. A etiologia da CAD neste grupo pode ser secundária à exposição aguda à hiperglicemia, levando à dissensibilização das ilhotas diferente da glicotoxicidade que acompanha a grande destruição das células-beta no DM1A (52). Enquanto a primeira condição pode ser reversível com o estabelecimento da euglicemia, a última condição é irreversível (53). O segundo subgrupo corresponde ao que se denomina LADA e que está sendo discutido em outro artigo dessa edição. É interessante comentar que quando se compara o perfil de auto-anticorpos e a gravidade da CAD desse subgrupo de pacientes (A+b+) com as do grupo A+b– (DM1A), verifica-se que este último apresenta maior freqüência de anticorpos anti-IA2 e gravidade maior da CAD do que a desse subgrupo de (A+b+), o que reforça o conceito de que a positividade para os anti-IA2 está associada com a agressividade maior de destruição das células-beta no diabetes auto-imune (54).

DATC A–b+

Por último, o grupo DATC A–b+ é constituído de pacientes que apresentam função das células-beta preservada e ausência dos marcadores de auto-imunidade com estas células. A maioria (especialmente os de início recente) pode descontinuar a terapêutica com insulina exógena. Este grupo é composto muito provavelmente de portadores de DM2 com vários graus de resistência à insulina e de capacidade de secreção da célula-beta. Entretanto, no momento do aparecimento da CAD eles apresentam um peptídeo-C relativamente menor e hormônios contra-reguladores mais elevados quando comparados aos pacientes com hiperglicemia sem cetose (55). Deve fazer parte desse grupo o subtipo de DM2, denominado por alguns de atípico, que se desenvolve em pacientes com alta sensibilidade à glico ou lipotoxicidade ou com disregulação na secreção de glucagon.

Em resumo, o grupo de diabetes denominado DATC é um grupo heterogêneo, visto que o de maior discussão é o denominado atípico. A identificação de novos mecanismos moleculares e patofisiológicos é necessária para melhor compreensão dos defeitos parcialmente reversivos ou intermitentes desse tipo de diabetes. O que poderá levá-lo a ser reconhecido como "tipo 3" ou como "outros tipos específicos" (56).

DIABETES DUPLO

Como já foi comentado na introdução, tem surgido um número crescente de crianças e adolescentes com uma mistura dos dois tipos principais de diabetes, isto é, indivíduos obesos e/ou com sinais de resistência à insulina associada à presença de marcadores de auto-imunidade contra às células-beta. Para caracterizar essa nova forma de diabetes foi introduzido, há mais de uma década, o termo DD por autores alemães (57) e reforçado recentemente por pesquisadoras americanas (58). O DD também é chamado "diabetes híbrido", "diabetes tipo 1,5" ou "diabetes auto-imune latente do jovem" (LADY).

A presença de anticorpos antidescarboxilase do ácido glutâmico (GADA), antitirosina fosfatase (IA2) e antiinsulina (IAA) em jovens com DM2 define o DD. Estudos em crianças e adolescentes americanas (59) e alemãs (60) diagnosticadas como DM2 têm demonstrado que 35% destes apresentam pelo menos um dos auto-anticorpos contra a célula-beta. O estudo europeu também mostrou que as crianças com DM2 e ICA+ não diferiam das com DM2 sem ICA, em relação a idade, sexo, peso corpóreo, perfil lipídico, pressão arterial, valor do peptídeo-C, glicemia e HbA1c ao diagnóstico. De modo que não existe dúvida que existe grande sobreposição entre os fenótipos do DD e do DM2 no jovem. Diferente do que ocorre na população adulta em relação ao LADA e ao DM2. O LADA pode corresponder a aproximadamente 10% dos casos de DM2, mas a resistência à insulina e a obesidade não estão entre as principais características dos indivíduos com LADA (61) como ocorre no DD.

A comparação do perfil de anticorpos contra as células-beta no DM1A como do DD tem mostrado que neste último o número de tipos de auto-anticorpos é menor (62), o que pode estar relacionado à evolução mais lenta do processo de destruição auto-imune pancreática. Em relação à imunidade mediada pelas células T, que possui o papel principal no processo destrutivo das células-beta (63), tem sido relatado que uma porcentagem de crianças com DD e DM2 apresentam células T reativas a proteínas pancreáticas (37% e 32%, respectivamente, quando comparadas com 89% dos indivíduos com DM1A) (62). Entretanto, não é esclarecida se a intensidade da resposta das células T aos antígenos das células-beta nos indivíduos com DD segue o mesmo padrão observado no DM1A, especialmente no que se refere à velocidade de progressão para destruição total das células-beta.

O estudo do papel do componente genético para o desenvolvimento do DD tem sido discutido e é de muito interesse. Especula-se que no DD a freqüência dos maiores componentes genéticos de susceptibilidade (genes do sistema HLA) para o DM1A estaria reduzida, enquanto poderia existir associação do DD com genes de risco para o DM2.

Os genes potencialmente mais interessantes em relação ao DD são os que, em vista da sua função, poderiam influenciar nos processos patogênicos que operam tanto no DM1A como no DM2. Entre tais genes temos o do substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1) que parece ter um papel importante na resistência à insulina que caracteriza o DM2, mas também ligado à apoptose associada ao DM1A (64). A variante mais comum do IRS-1, Arg972, está associada com o DM1A (odds ratio 2,5). Os portadores dessa substituição (Arg972) do IRS-1 apresentam valores de insulina e peptídeo-C de jejum menores do que os não portadores desta variante IRS-1, sugerindo que este defeito possa ter também um papel na capacidade secretora das células-beta (64,65).

Outro gene potencialmente interessante no DD poderia ser o fator de transcrição nuclear, o peroxisome proliferator-activated receptor-g (PPARg). Este possui um papel importante na diferenciação do adipócito e na sensibilidade à insulina. Variantes no gene PPARg estão associadas com IMC menor, concentrações plasmáticas de insulina mais baixas e sensibilidade à insulina melhor em várias populações (66).

O gene da região do fator de transcrição-7 semelhante ao 2 (TCF7L2) no cromossomo 10q25.2 tem demonstrado contribuir substancialmente para o risco de DM2 (67). Em estudo recente (68), dois SNP (single nucleotide polymorphism), rs12255372 e rs7903146 do TCF7L2, foram analisados em 6.199 DM1 com idade ao diagnóstico maior que 17 anos do Reino Unido e 7.596 controles da mesma região, e não foram encontradas evidências de associação entre esses polimorfismos do TCF7L2 e o DM1. De modo que, nesse estudo, os autores comentam que uma variante que aumenta o risco para o DM2 e pode alterar a secreção de insulina não altera a susceptibilidade para a destruição auto-imune mediada das células-beta no DM1 nessa população estudada.

A região do gene associado à massa gorda e à obesidade (FTO) no cromossomo 16q12 foi recentemente demonstrada por contribuir para o risco de obesidade (69). O SNP rs 9939609 (T > A) deste gene está associado com aumento no IMC de aproximadamente 0,2 kg/m2 por alelo em crianças com 7 anos de idade (p = 3x10-5) e de 0,4 kg/m2 em crianças com 11 anos. O efeito da variante do gene FTO na obesidade, em particular na obesidade infantil, tornou-o um bom candidato para testar se a predisposição genética para ganho de peso pode alterar a susceptibilidade para o DM1A. Nesse sentido, foi analisado um grupo de 14.803 DM1 britânicos e controles em relação ao SNP res993609 do gene FTO e não se encontrou associação entre o FTO e o DM1 (70). Este estudo encontrou que o polimorfismo rs9939609, que aumenta o risco para obesidade infantil e DM2, não altera a susceptibilidade para o DM1 e nem para a idade na qual o DM1 se iniciou em qualquer extensão dessa população britânica.

Estes dados reforçam a hipótese de que fatores ambientais que influenciam no desenvolvimento, tanto do DM1A como do DM2, podem também ter um papel importante no DD. Entretanto, enquanto está evidente a influência da atual epidemia mundial da obesidade no desenvolvimento do DM2, o mesmo não está claro, como esta ou outros fatores associados com a obesidade afetam ou modulam o processo que leva à destruição das células-beta.

Várias hipóteses têm sido propostas para estabelecer uma ligação entre o DM1A e o DM2. As principais hipóteses sugerem que, após o seu desencadeamento, a auto-imunidade pode ser acelerada por fatores que aumentam a demanda para a produção de insulina, como crescimento acelerado, infecções, estresse psicológico e alterações climáticas (71). Recentemente, Wilkin acrescentou a esses fatores a obesidade e a resistência à insulina na chamada hipótese aceleradora (72). Esta hipótese identifica três fatores aceleradores que determinam a velocidade na qual ocorre a diminuição da massa de células-beta pancreáticas durante a vida, quais sejam: 1. Fatores constitucionais (genes e gestação); 2. Resistência à insulina (lipo e glicotoxicidades); e 3. Genes relacionados à resposta imunológica (sistema HLA) (72). De acordo com essa hipótese, as células-beta estressadas pela sobrecarga imposta pela resistência à insulina tornam-se mais expostas ao sistema imunológico. Esta superposição de dois fatores lesivos à célula-beta explicaria uma evolução mais rápida para o diabetes.

Esta teoria, entretanto, ainda é discutida. Um dos pontos a ser esclarecido é em que fase da história natural do DM1A a obesidade aceleraria a manifestação da doença (em uma fase precoce ou tardia), quando já houvesse uma destruição substancial das células-beta (73), pois não existem evidências de que a insensibilidade à insulina acelere a apoptose das células-beta em indivíduos normoglicêmicos, em risco para o DM2, embora possa ter importantes efeitos secundários quando a função dessas células começa a diminuir. Estudos em parentes de DM1A têm mostrado que a resistência à insulina, avaliada pelo HOMA-R, está significantemente relacionada à progressão para o DM apenas naqueles indivíduos com perda da primeira fase de secreção de insulina (PFSI) (74). Esta controvérsia é particularmente relevante no DD, porque estes indivíduos são persistentemente obesos e resistentes à insulina, enquanto a presença dos marcadores imunológicos do DM1A representa um fator adicional coexistente, isto é, a presença das características do DM1A e do DM2 no DD sugere mais uma sobreposição parcial (dupla) do que total (única) entre os dois tipos principais de diabetes (75).

É de conhecimento geral que as adipocitoquinas e outros marcadores inflamatórios ligados à obesidade e à resistência à insulina possuem efeitos imunomodulatórios (76). Estes efeitos podem desencadear uma resposta imunológica pela mudança do equilíbrio na resposta Th1/Th2 linfocitária ou pelo comprometimento da função dos linfócitos T reguladores, isto é, das células CD4+ CD25+. Um dos principais papéis nesse sentido pode ser atribuído à leptina, que regula a ingestão alimentar e o IMC. Os valores plasmáticos de leptina possuem relação direta com a gordura corpórea total. A leptina controla a resposta da imunidade celular e tem sido relacionada a várias doenças auto-imunes (77). Estudos em modelos experimentais de DM1A (NOD– camundongo não-obeso diabético) têm demonstrado que a administração de leptina a esses animais promove um infiltrado inflamatório precoce das ilhotas pancreáticas, aumenta a produção de interferon-g (IFN-g) pelas células T e antecipa o aparecimento do DM (78). A obesidade que é uma situação de hiperleptinemia é caracterizada pela infiltração macrofágica do tecido adiposo (79).

Outro mecanismo que pode estar envolvido, nesta relação entre obesidade e interleucinas e auto-imunidade, é o aumento da expressão de auto-antígenos das células-beta (principalmente GAD) associada com a IL-1, IFN-g e TNF-a liberado pelas ilhotas, o que favorece a vulnerabilidade dessas células à destruição auto-imune (80). Nesse sentido, um estudo recente mostrou que títulos elevados de GADA estavam relacionados positivamente com o aumento no IMC (81).

Em resumo, existem evidências crescentes de que a leptina e outras citoquinas ligadas à obesidade possuem papel importante no controle da auto-imunidade, sugerindo que sinais hormonais inflamatórios associados à resistência à insulina podem amplificar a resposta imune no DD. Na Figura 1, de modo esquemático, a inter-relação entre a dieta hipercalórica, a obesidade e a auto-imunidade no desenvolvimento do DD [adaptação de Donath & Halban (82)].


A suspeita do DD surge quando a hiperglicemia se inicia em crianças ou adolescentes obesos. Inicialmente, o que chama a atenção nesses jovens são as características clínicas do DM2, como hipertensão arterial, dislipidemia e IMC elevado, o que já lhes confere aumento no risco cardiovascular, quando comparados com crianças portadoras do DM1A clássico. No sexo feminino pode-se encontrar também a presença da síndrome dos ovários policísticos. O antecedente familiar para DM1A e DM2 podem estar presentes, bem como um quadro menos exuberante de emagrecimento, poliúria e polidpsia e de CAD. A presença dos anticorpos antiilhotas, embora em número e títulos menores do que do DM1A e provavelmente dos HLA de risco para o DM1A clássico. Os jovens com DD são caracterizados por um fenótipo obeso e a coexistência de auto-imunidade contra as células-beta. Na Figura 2, o exemplo de um jovem classificado como DD no Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp).


Considerando que o DD apresenta uma função residual de células-beta significativa no momento do diagnóstico e que a queda na sua função pode ser mais lenta do que no DM1A clássico, as intervenções capazes de interferir com os mecanismos envolvidos no processo da doença são potencialmente interessantes, bem como as medidas relacionadas ao tratamento clássico do DM2, como dieta, exercício para redução do peso e intervenções farmacológicas com drogas e insulina.

A redução do peso e/ou exercício reduzem acentuadamente os níveis de marcadores inflamatórios circulantes, como a proteína-C reativa (PCR) e a IL-6, como a insulinoterapia tem impacto nos valores de PCR, IL-1, IL-6, TNF-a, e PAI-1 e a metformina na PCR. Outras drogas, como as glitazonas e as incretinas, também possuem potencial nesse sentido. Estas ações poderão repercutir também na infiltração inflamatória do tecido adiposo (83). Do mesmo modo se pode sugerir que estas alterações tenham influência favorável no processo da doença reduzindo a destruição auto-imune progressiva das células-beta (limitando o aumento dos títulos dos auto-anticorpos e na porcentagem de células T que se desviam para o padrão de resposta Th1) nos indivíduos que emagrecem, resultando uma preservação maior da massa de células-beta pancreáticas.

Estes jovens com DD devem ser abordados, em paralelo, em relação a outras comorbidades que possam estar associadas, como hipertensão arterial e dislipidemia, pois existem evidências de que a prevenção primária das doenças cardiovasculares deve ser iniciada na infância e na juventude (84), e os pacientes com DD apresentam grande risco de desenvolvê-las precocemente.

Nesse sentido, encontra-se também na literatura a denominação de "DD" (85) para aqueles pacientes com DM1A clássico no início, mas que, com a evolução da doença adquirem características da síndrome metabólica (SM) e aumento no risco de desenvolvimento das doenças cardiovasculares.

No nosso meio, analisou-se um grupo de 521 pacientes com DM1, mediana de idade igual a 18 anos (3 a 55 anos) e tempo médio de diagnóstico do diabetes de 6 anos (0,17 a 40 anos). Nesse estudo, verificou-se que a prevalência de SM variou de 12% a 19%, dependendo do critério utilizado (86). Os fatores que se relacionaram diretamente com a sua presença foram a idade cronológica, o sexo feminino, o tempo de diagnóstico clínico da doença, o valor da HbA1c e a presença de microalbuminúria (87).

O estudo citado anteriormente (85), que sugeriu também a denominação de "DD", foi realizado com os pacientes do conhecido estudo do Diabetes Control and Complications Trial (DCCT). Este estudo mostrou que os pacientes com os valores mais elevados de resistência à insulina, avaliados pelo estimated glucose disposal rate (eGDR), na sua avaliação inicial, foram os que apresentaram o risco maior de desenvolvimento das doenças micro e macrovasculares, independentemente do tratamento instituído (intensivo ou convencional).

Estes estudos reforçam o conceito atual de que a abordagem do DM1 deve passar de glicocêntrica para multifatorial e precoce em relação ao sedentarismo, excesso de peso, dislipidemia, hipertensão arterial e microalbuminúria.

Do ponto de vista clínico e de saúde pública, a identificação de pacientes com DM1 e características da SM é útil para selecionar candidatos a tratamentos específicos (dislipidemia, hipertensão arterial, obesidade visceral) que poderiam não estar sendo aplicados naquele momento, mas que são de importância comprovada para o prognóstico e na qualidade de vida dos indivíduos com DM.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os avanços na área da genética, das biologias molecular e celular, da imunologia e da bioquímica têm mostrado que o DM1 é um grupo de etiologia heterogênea.

Dentro dessa heterogeneidade têm-se desde formas mais raras de DM1 auto-imune até quadros mistos e em todas as faixas etárias.

Na caracterização dos processos não-auto-imunes que provocam a destruição da célula-beta, com exceção dos agentes infecciosos, metabólicos, álcool e metais pesados que não foram discutidos neste artigo, é importante avaliar o grupo racial, alterações em mecanismos importantes para a secreção de insulina e sobrevida das células-beta, o comprometimento da parte exócrina pancreática, a ausência dos marcadores imunológicos da doença, o modo de início do DM e o fenótipo do indivíduo.

As mudanças no perfil antropométrico (aumento da prevalência de obesidade) e no estilo de vida (aumento do sedentarismo) e o diagnóstico precoce da presença da auto-imunidade contra as células-beta têm possibilitado o aparecimento de uma sobreposição entre os dois tipos mais freqüentes do DM (DM1A e DM2) no mesmo indivíduo, caracterizando o DD. A influência das adipoquinas, relacionadas à obesidade, na velocidade da evolução do processo auto-imune tem sido discutida.

O conhecimento desta heterogeneidade pode fazer diferença nas decisões de como, quando e quem deveria participar dos estudos de prevenção de modo mais freqüente do DM1, isto é, a auto-imune, e na abordagem das formas atípicas ou híbridas da doença.

Entretanto, até que meios mais práticos e abrangentes para a classificação dos tipos de diabetes estejam disponíveis, é importante para o clínico tratar individualmente o seu paciente com base no seu quadro clínico, fenótipo e características bioquímicas.

Recebido em 28/01/2008

Aceito em 01/02/2008

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  • Endereço para correspondência:
    Sergio Atala Dib
    Unifesp – Disciplina de Endocrinologia
    Rua Botucatu, 740
    04023-900 – Vila Clementino, São Paulo, SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Abr 2008
    • Data do Fascículo
      Mar 2008

    Histórico

    • Aceito
      01 Fev 2008
    • Recebido
      28 Jan 2008
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