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Nidificação colonial de Butorides striata (Linnaeus, 1758) (Ciconiiformes: Ardeidae) em área alagável no município de Porto Esperidião, Mato Grosso

Resumos

Nos trópicos a estação reprodutiva de Butorides striata é relatada na estação chuvosa. Nidifica solitário ou em pequenos grupos, e excepcionalmente formam colônias de 300 a 500 casais. O objetivo deste estudo foi relatar os seguintes aspectos da biologia da nidificação de B.striata: sítio de nidificação, tipo de ninho, características de ovos, período de incubação, período de ninhegos, perda de ninhadas, sucesso reprodutivo e época de nidificação, no município de Porto Esperidião, Mato Grosso. A procura por ninhos ocorreu entre julho de 2009 e maio de 2010. O monitoramento dos ninhos ocorreu em intervalos regulares de três dias. Foram encontrados 115 ninhos ativos. O primeiro ninho ativo foi encontrado no dia 04/01/2010 e o último ninho permaneceu em atividade até o dia 21/04/2010. O ninho é uma plataforma de fragmentos vegetais secos (gravetos), pouco espessos, com cerca de 20-30cm de comprimento. O período de incubação durou em média 24,88 dias (máx=27; mín=24; DP=1,07; n=102). O período de ninhegos foi em média 20,83 dias (máx=23, mín=20, DP=1,16, n=17). O tamanho da ninhada em 60% (n=102) dos ninhos foi de três ovos. O sucesso reprodutivo pelo cálculo de Mayfield foi de 16.43%. Noventa e sete ninhos (84.34%, n=115) foram predados.

Socozinho; Lagoa; Sucesso reprodutivo


Butorides striata (Striated Heron) breeds during the rainy season in the Neotropics. This species generally breeds solitary or in small groups and, exceptionally, in colonies of 300 to 500 pairs. Here we report nesting site, nest type, egg characteristics, incubation period, nestling period, nest failures, reproductive success and nesting period recorded in Porto Esperidião county, Mato Grosso State, Brazil. Search for the nests started on July 2009 and ended on May 2010 and one hundred and fifteen active nests were found. The first active nest was found in early January 2010 and the last remained active until late April 2010. The nest is a platform of dry and thin twigs measuring around 20-30cm each. The incubation time was of 24.88 days (max=27, min=24, SD=1.07, n=102), and the fledgling time was of 20.83 days (max=23, min=20, SD=1.16, n=17). Three eggs were found in 60% of nests found (n=102). According to the Mayfield protocol the breeding success was 16.43%.

Striated Heron; Pond; Reproductive success


Nidificação colonial de Butorides striata (Linnaeus, 1758) (Ciconiiformes: Ardeidae) em área alagável no município de Porto Esperidião, Mato Grosso

Sara Miranda AlmeidaI; Mahal Massavi EvangelistaII; Evandson José dos Anjos SilvaIII

IPrograma de Pós-graduação em Ecologia e Conservação. Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). E-mail: sara.mirandaalmeida67@gmail.com

IIPrograma de Manejo da Fauna - SBCY-CDT/UnB. Departamento de Biologia, Universidade de Cuiabá (UNIC)

IIIDepartamento de Ciências Biológicas e Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação (UNEMAT)

RESUMO

Nos trópicos a estação reprodutiva de Butorides striata é relatada na estação chuvosa. Nidifica solitário ou em pequenos grupos, e excepcionalmente formam colônias de 300 a 500 casais. O objetivo deste estudo foi relatar os seguintes aspectos da biologia da nidificação de B.striata: sítio de nidificação, tipo de ninho, características de ovos, período de incubação, período de ninhegos, perda de ninhadas, sucesso reprodutivo e época de nidificação, no município de Porto Esperidião, Mato Grosso. A procura por ninhos ocorreu entre julho de 2009 e maio de 2010. O monitoramento dos ninhos ocorreu em intervalos regulares de três dias. Foram encontrados 115 ninhos ativos. O primeiro ninho ativo foi encontrado no dia 04/01/2010 e o último ninho permaneceu em atividade até o dia 21/04/2010. O ninho é uma plataforma de fragmentos vegetais secos (gravetos), pouco espessos, com cerca de 20-30cm de comprimento. O período de incubação durou em média 24,88 dias (máx=27; mín=24; DP=1,07; n=102). O período de ninhegos foi em média 20,83 dias (máx=23, mín=20, DP=1,16, n=17). O tamanho da ninhada em 60% (n=102) dos ninhos foi de três ovos. O sucesso reprodutivo pelo cálculo de Mayfield foi de 16.43%. Noventa e sete ninhos (84.34%, n=115) foram predados.

Palavras-chave: Socozinho; Lagoa; Sucesso reprodutivo.

ABSTRACT

Butorides striata (Striated Heron) breeds during the rainy season in the Neotropics. This species generally breeds solitary or in small groups and, exceptionally, in colonies of 300 to 500 pairs. Here we report nesting site, nest type, egg characteristics, incubation period, nestling period, nest failures, reproductive success and nesting period recorded in Porto Esperidião county, Mato Grosso State, Brazil. Search for the nests started on July 2009 and ended on May 2010 and one hundred and fifteen active nests were found. The first active nest was found in early January 2010 and the last remained active until late April 2010. The nest is a platform of dry and thin twigs measuring around 20-30cm each. The incubation time was of 24.88 days (max=27, min=24, SD=1.07, n=102), and the fledgling time was of 20.83 days (max=23, min=20, SD=1.16, n=17). Three eggs were found in 60% of nests found (n=102). According to the Mayfield protocol the breeding success was 16.43%.

Key-words: Striated Heron; Pond; Reproductive success.

INTRODUÇÃO

O socozinho (Butorides striata L., 1758) é uma espécie de Ardeidae com distribuição em grande parte do planeta, ocorrendo nas Américas (do Sul, Central e do Norte), bem como na África, Ásia, Austrália, ilhas do oeste do Pacífico e no sul do Velho Mundo (Kushlan, 2007). Habita locais úmidos em bosques ou vegetação densa nas margens de rios, lagos e estuários; às vezes em áreas abertas tais como recifes de corais expostos, pântanos, pastagens, arrozais e outros tipos de plantações (Martínez-Vilalta & Motis, 1992). É comum em todo o território brasileiro, vivendo inclusive em lagos de áreas urbanas (Erize etal., 2006; van Perlo, 2009).

B.striata geralmente nidifica solitário ou em pequenos grupos, raramente forma grandes colônias (de 300 a 500 casais) para a nidificação (Martínez-Vilalta & Motis, 1992). Apesar da ampla ocorrência, são escassos os registros que contemplem os atributos detalhados da biologia reprodutiva desta espécie no Brasil. Das informações sobre sua biologia reprodutiva, destaca-se o estudo de Beltzer etal. (1995) realizado na Argentina, os quais monitoraram 60 ninhos e observaram o tamanho da ninhada, o sucesso reprodutivo, o sítio de nidificação e a reutilização de ninhos. No Brasil, Euler (1900) fez uma breve descrição da coloração dos ovos com a observação de um ninho. No Equador foi realizada a descrição da coloração e tamanho dos ovos de dois ninhos desta espécie (Greeney & Merino, 2006). É também importante ressaltar o trabalho de Erwin & Spendelow (1991), que descreveram o tamanho da ninhada, o período de incubação e o período de ninhegos de B.striata em um lago nos Estados Unidos.

Aspectos da biologia reprodutiva, tais como o tipo de ninho, o período de incubação, o período de ninhegos e o sucesso reprodutivo, constituem atributos fundamentais da história de vida das espécies de aves (Mason, 1985) e contribuem para o conhecimento de sua dinâmica populacional (Bartholomew, 1986; Martin, 1995).

Neste contexto o presente estudo teve como objetivos investigar os seguintes atributos da biologia da nidificação de B.striata: sítio de nidificação, descrição do ninho e dos ovos, períodos de incubação e de ninhegos, sucesso reprodutivo, predação de ninhos e estação reprodutiva.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado em Porto Esperidião, situado na mesorregião sudoeste do estado de Mato Grosso, sob as coordenadas 15º21'15"S e 58º27'51"W. Esta região tem seu relevo caracterizado pela depressão do rio Paraguai, calha do rio Jauru, Serra de Santa Bárbara, Salinas e pelo Planalto Residual do Alto Guaporé. Sobre este relevo predomina a vegetação de contato das florestas subcaducifólias e savanas do sudoeste (Ferreira, 2001).

Porto Esperidião é pertencente a bacia hidrográfica do Prata na qual o rio Jauru contribui recebendo os rios Branco, Corixa Grande e Aguapeí. Seu clima é tropical quente subúmido, com quatro meses de seca (junho a setembro) e precipitação anual de 1.500mm com intensidade máxima em dezembro, janeiro e fevereiro. Possui uma vegetação muito variada, apresentando desde paisagens de matas até campos (Ferreira, 2001).

A coleta de dados foi realizada em um fragmento de cerrado de 12,9 hectares no perímetro urbano de Porto Esperidião. O fragmento está circundado por uma estrada de terra, por um trecho da BR-174 e por duas propriedades rurais. A vegetação do fragmento é dominada pela espécie arbóreo-arbustiva Laetia americana L. (Flacourtiaceae). No mesmo existe uma lagoa sazonalmente inundável (15º51'18"S e 58º28'36"W) que ocupa uma área de 1,6 hectares. Esta lagoa permaneceu alagada no período de dezembro/2009 a junho/2010. No interior da mesma foram encontrados e monitorados os ninhos de B.striata.

A procura por ninhos ocorreu entre julho de 2009 e maio de 2010. Consideraram-se ninhos ativos os que apresentaram ovos ou filhotes. Assim que ficaram inativos suas características morfométricas (comprimento, largura, altura externa e profundidade) foram mensuradas com auxílio de régua metálica de 30cm. Foi realizada a descrição do sítio de nidificação, considerando-se a espécie vegetal escolhida para a construção do ninho, a altura do ninho em relação ao solo e altura do ninho em relação à água, as quais foram mensuradas com trena de 10m.

O monitoramento dos ninhos ocorreu em intervalos regulares de três dias. Os ovos foram descritos quanto ao seu formato e coloração, seguindo o modelo proposto por De La Peña (1987) e mensurados com paquímetro de 0,05mm de precisão. A descrição do ninho seguiu o método de Simon & Pacheco (2005).

O sucesso reprodutivo foi obtido através do cálculo da porcentagem simples de ninhos bem sucedidos e pelo Protocolo de Mayfield (1961, 1975) que calcula o sucesso reprodutivo considerando a estimativa da taxa de perda de ninhos por dia de exposição, permitindo uma análise mais detalhada da sobrevivência do conteúdo dos ninhos nos períodos de ovos e ninhegos, apresentando a taxa de sobrevivência diária dos ninhos (TSD). As taxas de sobrevivência de cada período (TSP) (ovos e ninhegos) foram obtidas elevando-se as TSDs a uma potência igual ao número de dias necessários para se completar a incubação (período de ovos) e o número de dias necessários para os ninhegos deixarem o ninho (período de ninhegos). O cálculo da TSP do ninho durante todos os períodos é obtido através da multiplicação das TSPs de ovos e ninhegos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados e monitorados 115 ninhos de Butorides striata durante a estação reprodutiva de 2010, em Porto Esperidião, Mato Grosso.

Sítio de nidificação

O primeiro ninho foi encontrado no dia 04/01/2010 na área alagada com profundidade média de 1,27m (máx=2,28m; mín=0,19m; DP=42,05; n=26). A altura média do ninho em relação à água foi 0,85m (máx=1,99m; mín=0,16m; DP=43,31, n=26).

A espécie arbóreo-arbustiva Laetia americana foi utilizada como planta suporte para a construção de todos os ninhos de B.striata. As copas de L.americana estavam cobertas externamente por ramificações de lianas, o que provocou o adensamento da sombra e a conexão com outras plantas. Os ninhos de B.striata foram construídos no interior destas copas, ficando mais ocultados.

Foram utilizados no total 13 indivíduos de L.americana para a construção dos ninhos (n=115) de B.striata. A média foi de 8,85±6,27 ninhos por planta (máx=27; mín=1). Todas as plantas apresentaram conexão com a vegetação do entorno.

Quanto as características da vegetação, o sítio de nidificação de B.striata difere do estudo realizado por Beltzer etal. (1995) que observaram os ninhos desta espécie construídos em árvores de grande porte e com maior cobertura vegetal (e.g., Chorisiasp. e Phytolaca dioica); semelhantemente os ninhos de Eudocimus ruber (Ciconiiformes, Treskiornithidae) encontrados a cerca de 8 a 12 metros de altura em plantas de Avicenniasp. (Rodrigues, 1995). No Equador, o ninho de B.striata estava a uma altura de 1,6m acima da água, ocultado por um amontoado de epífitas em uma planta de Macrolobiumsp. (Leguminaceae), espécie também arbórea (Greeney & Merino, 2006). Similarmente aos ninhos de B.striata aqui observados, os ninhos de B.virescens também foram encontrados a baixa altura, com média de 1,15±0,47m (Hernández-Vázquez & Fernández-Aceves, 1999).

Descrição do ninho

O ninho observado era aberto, pouco organizado e do tipo plataforma simples de gravetos secos que mediram cerca de 20 a 30cm de comprimento; concordando com outras descrições realizadas para a espécie (Martínez-Vilalta & Motis, 1992; Beltzer etal., 1995; Greeney & Merino, 2006; Branco, 2009). No estudo de Beltzer etal. (1995) foi observado que a duração da construção dos ninhos ocorreu de um a dois dias, onde os parentais continuaram adicionando material (ramos de Olea europea) nos dias seguintes.

As medidas dos ninhos encontram-se na Tabela1. Apenas 22,60% (n=25) dos ninhos monitorados foram mensurados para a minimização da interferência dos pesquisadores no local de nidificação.

O tamanho do ninho de B.striata foi menor que o descrito para o socoí-zigue-zague Zebrilus undulatus, espécie com comprimento total inferior ao do socozinho (Evangelista etal., 2010). Outros estudos (Erwin & Spendelow 1991; Beltzer etal., 1995; Greeney & Merino, 2006; Branco, 2009) realizados com a reprodução de B.striata não descrevem as medidas do ninho.

Ovos

Os ovos são de coloração azulada, opaca e uniforme, e o formato é ovóide (seguindo-se a classificação de De La Peña, 1987). Dos 115 ninhos, 102 foram encontrados com ovos, enquanto que 13 ninhos já estavam no período de ninhegos. A coloração dos ovos é semelhante ao observado em um estudo realizado no Equador (Greeney & Merino, 2006) e em observações no Pantanal de Poconé, região do Pirizal, Mato Grosso (M.M. Evangelista, pers.com.). Euler (1900) também descreve a coloração dos ovos como sendo verde clara.

Registrou-se no total a postura de 251 ovos; destes, 147 tiveram suas medidas biométricas mensuradas, as quais estão apresentadas na Tabela 2. Tamanhos semelhantes de ovos descrito neste estudo (36,72×28,45mm, em média) foram observados por Greeney & Merino (2006), os quais encontraram medidas de 35,9×28,0 e 36,2×28,0mm. Também no Pirizal, os ovos descritos para Z.undulatus apresentaram medidas semelhantes ao de B.striata (Evangelista etal., 2010).

O tamanho médio da ninhada foi de 2,46 (n=102) ovos por ninho, sendo que a ninhada mais freqüente (60%) foi a composta por três ovos, seguida pela de dois ovos (31,43%) e de um ovo (8,57%). Este tamanho de ninhada é semelhante ao de outras espécies de ardeídeos, sendo normalmente de dois a cinco ovos (Martínez-Vilalta & Motis, 1992; Cupul-Magaña, 2003; Branco & Fracasso, 2005). No México, B.virescens apresentou tamanho médio da ninhada de 2,41±0,08 ovos (Hernández-Vázquez & Fernández-Aceves, 1999). Beltzer etal. (1995) observaram o tamanho da ninhada de B.striata sempre composta por três ovos. No entanto, foi verificado neste estudo que a ninhada de B.striata pode variar de um a três ovos.

Incubação

Dos ninhos encontrados com ovos (n=102), verificou-se que a incubação durou em média 24,88±1,07 dias (máx=27; mín=24). A eclosão dos ovos ocorreu simultaneamente em 17 ninhos, evidenciando que a incubação dos ovos de B.striata só começa a partir da postura do último ovo. Em três ninhos onde um dos ovos foi predado, observou-se durante o intervalo de monitoramento, que outro ovo foi posto no respectivo ninho restabelecendo a ninhada original.

Erwin & Spendelow (1991) observaram menor período de incubação (20 dias) para B.striata. Já Branco (2009) registrou duração desse período de 21 a 23 dias. Foram monitorados 56 ninhos nesta mesma área de estudo em Porto Esperidião e registrou-se período de incubação de 26,5 dias para o socozinho (Evangelista etal., 2004). Seu congênere B.virescens possui período de incubação de 19,4 dias em média (Hernández-Vázquez & Fernández-Aceves, 1999). O período de incubação observado para B.striata coincide com o já descrito para a família Ardeidae, em que este período ocorre de 19 a 25 dias (Martínez-Vilalta & Motis, 1992; Sick, 2001).

Ninhegos

Apenas 17 (14,78%, n=102) dos ninhos encontrados com ovos atingiram a fase de eclosão, os demais foram predados antes de a alcançarem. Os ninhegos nasceram com os olhos abertos, pele clara e com penugem natal cinza. A cor da íris é verde esbranquiçada. A ponta do bico é preta, contrastando com a coloração clara do restante do bico. A pele ao redor dos olhos é de cor amarela bem destacada. A face, o pescoço e o ventre são desprovidos de penas. Seis dias após a eclosão dos ovos, os ninhegos já caminhavam pelos galhos da planta suporte.

O período de ninhegos pode ser determinado em oito ninhos, os quais foram acompanhados desde a eclosão dos ovos até o abandono do ninho pelos juvenis. Este período durou em média 20,83±1,11 dias (máx=23, mín=20).

O tempo de permanência dos ninhegos observado foi menor que o registrado em Santa Catarina, onde este período teve duração de 25 a 30 dias (Branco, 2009). Erwin & Spendelow (1991) afirmam que esse período se estende por 23 dias nesta espécie. O período de ninhegos observado para B.striata é mais longo do que de outras espécies de Ardeidae, como Egretta thula (8-14 dias), Bubulcus ibis (8-16 dias) e Cochlearius cochlearius (12-14 dias) (Cupul-Magaña, 2004).

Sucesso reprodutivo e perda de ninhadas

Entre os 115 ninhos encontrados verificou-se o sucesso de 18 ninhos. Pelo cálculo da porcentagem simples o sucesso reprodutivo destes ninhos foi de 15,65%. Pelo Protocolo de Mayfield (1961, 1975) (Tabela 3) o sucesso resultou em 16,43%. Estes resultados corroboram os estudos de Ricklefs (1969), o qual afirma que o sucesso reprodutivo das aves de regiões tropicais é inferior a 30%, diferindo das aves de regiões temperadas onde o sucesso reprodutivo varia de 50% a 80%. Outras espécies de Ardeidae apresentaram maiores valores de sucesso reprodutivo, por exemplo, o sucesso reprodutivo de Nyctanassa violacea foi de 76,9% (n=17) (Cupul-Magaña, 2003). Em E.thula, B.ibis e C.cochlearius o sucesso foi de 95% (n=19), 94,44% (n=17) e de 100% (n=5), respectivamente (Cupul-Magaña, 2004).

Foram predados 84,34% (n=115) dos ninhos de B.striata. No registro dos ninhos perdidos (n=97), 76,29% se encontravam no período de ovos e 23,71% no período de ninhegos. Esta perda de ninhada maior na fase de ovos concorda com o estudo realizado por Robinson etal. (2000) na região neotropical. Beltzer etal. (1995) encontrou menor valor de perda de ninhada para B.striata, sendo que a taxa específica de mortalidade na fase de ovos foi de 48,09% (n=60).

Três ninhos foram encontrados com cascas de ovos perfuradas, os quais provavelmente foram predados por Passeriformes. Há o registro de que Troglodytes musculus predou toda uma ninhada de Turdus leucomelas (Rodrigues, 2005). Também é relatada a ocorrência de depredações em colônias de Ardeidae por Cathartidae, Falconidae e Accipitridae, os quais pousam nas imediações quando os parentais se afastam dos ninhos, predando ovos e filhotes (Sick, 2001; Branco & Fracasso, 2005).

A reutilização ocorreu em 22 ninhos (19,13%, n=115). Em dois ninhos (9,09%) a reutilização aconteceu por três vezes, após a prole anterior ser predada. Nestes ninhos foi observada a adição de novos gravetos, aumentando a altura dos ninhos.

A taxa de reutilização de ninhos foi maior do que a registrada por Beltzer etal. (1995), os quais observaram que 16,66% dos ninhos (n=60) desta espécie foram reutilizados para uma segunda postura. Para B.virescens foi observada taxa de reutilização de 13,6% (n=22) dos ninhos (Hernández-Vázquez & Fernández-Aceves, 1999). A reutilização de ninhos está, aparentemente, relacionada com as economias de tempo e de energia requeridas na construção de um novo ninho; e com a abundância de sítios de nidificação adequados (Redmond etal., 2007)

Época de nidificação

Nos meses de julho a novembro de 2009 foram realizadas vistorias sistemáticas na área de estudo e não foi observado qualquer indicativo de atividade reprodutiva de B.striata. Os quatro primeiros ninhos ativos de B.striata foram encontrados no dia 04/01/2010 e já continham ovos. Isso indica que a atividade reprodutiva teve início no mês de dezembro quando a área de estudo estava parcialmente alagada.

Nos meses de janeiro e fevereiro foram monitorados, respectivamente, 15 e 40 ninhos. Durante o mês de março registrou-se 89 ninhos ativos, sendo este o mês com maior número de ninhos registrados. O último ninho permaneceu ativo até o dia 21 de abril de 2010. A Fig.1 apresenta a quantidade de ninhos ativos nos períodos de ovos e de ninhegos.


O período de maior atividade reprodutiva é coincidente com o pico da cheia na região, concordando com Martínez-Vilalta & Motis (1992), os quais afirmam que nos trópicos a época reprodutiva de B.striata é relatada na estação chuvosa.

Em N.violacea a sincronização da postura de ovos e criação dos ninhegos com a estação chuvosa está, aparentemente, relacionada com a disponibilidade de alimento (Cupul-Magaña, 2003). No Equador, o pico de postura de ovos de B.striata ocorreu no período de abril a junho; o pico de filhotes, por sua vez, de maio a meados de julho; e a maioria dos indivíduos partiu das colônias reprodutivas de setembro a meados de outubro (Erwin & Spendelow, 1991). A época de nidificação de B.virescens foi observada com duração de três meses (maio a julho), período mais curto que o observado aqui para B.striata (Hernández-Vázquez & Fernández-Aceves, 1999).

Recebido em: 25.04.2011

Aceito em: 11.01.2012

Impresso em: 30.03.2012

Publicado com o apoio financeiro do Programa de Apoio às Publicações Ciêntíficas Periódicas da USP

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    2012

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2011
  • Aceito
    11 Jan 2012
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