Eugenia!: in hoc signo vinces - um aspecto do discurso sanitário da enfermagem, 1932 a 1938

Garcia, Telma Ribeiro

doi:10.1590/S0034-71671993000300002

Resumos

Discute-se a vinculação do movimento eugenista às políticas e práticas de saúde desenvolvidas no Brasil, nas primeiras décadas do século XX; e as concepções das enfermeiras acerca do eugenismo e do seu papel social no "aperfeiçoamento da raça", veiculadas através dos Anais de Enfermagem editados no período de 1932 a 1938. Observou-se haver uma estreita vinculação entre os discursos das enfermeiras e o dos "intelectuais do movimento eugênico", presente na concepção de que a ciência eugênica desempenhava um papel fundamental para o progresso do Brasil, condenado ao atraso se os "males sociais" não fossem higienizados; na adjetivação preconceituosa e carregada de moralismo, utilizada pelos dois grupos ao se referirem aos "causadores da degenerescência da raça", enfim no entendimento de classe pobre como classe perigosa.

The author discusses the linkage between eugenist movement and health politics and practices carried out in Brazil, on the first decades of the 20th century; and nurses conceptions about eugenics and their social role to "race improvement", propagated through Anais de Enfermagem edited from 1932 to 1938.

ARTIGOS

Eugenia! in hoc signo vinces - um aspecto do discurso sanitário da enfermagem, 1932 a 1938^* * Trabalho apresentado no 45º Congresso Brasileiro de Enfennagem, Recife-PE, 28 de novembro a 3 de dezembro de 1993

Telma Ribeiro Garcia

Doutoranda do Programa Interunidades - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública e Psiquiatria - CCS/UFPB

RESUMO

Discute-se a vinculação do movimento eugenista às políticas e práticas de saúde desenvolvidas no Brasil, nas primeiras décadas do século XX; e as concepções das enfermeiras acerca do eugenismo e do seu papel social no "aperfeiçoamento da raça", veiculadas através dos Anais de Enfermagem editados no período de 1932 a 1938. Observou-se haver uma estreita vinculação entre os discursos das enfermeiras e o dos "intelectuais do movimento eugênico", presente na concepção de que a ciência eugênica desempenhava um papel fundamental para o progresso do Brasil, condenado ao atraso se os "males sociais" não fossem higienizados; na adjetivação preconceituosa e carregada de moralismo, utilizada pelos dois grupos ao se referirem aos "causadores da degenerescência da raça", enfim no entendimento de classe pobre como classe perigosa.

ABSTRACT

The author discusses the linkage between eugenist movement and health politics and practices carried out in Brazil, on the first decades of the 20^th century; and nurses conceptions about eugenics and their social role to "race improvement", propagated through Anais de Enfermagem edited from 1932 to 1938.

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Recebido para publicação em 28.11.1993

1. ALCÂNTARA, Glete de. A enfermagem moderna como categoria profissional: obstéculos à sua expansão na sociedade brasileira. Ribeirão Preto, 1966. 117p. Tese (Cátedra) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP.
2. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. O bello sexo: imprensa e identidade feminina no Rio de Janeiro em fins do século XIX e início do século XX. In: COSTA, Albertina de Oliveira; BRUSCHINI, Cristina (org.) Rebeldia e submissão: estudos sobre condição feminina. São Paulo: Vértice/Fundação Carlos Chagas, 1989. p. 79-99.
3. CANESQUI, Ana Maria. Trajetória da educação popular nas instituições de sáude. In: PAIVA, Vanilda (org.)Perspectivas e dilemas da educação popular. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 315-324.
4. CHALHOUB, Sidney. A guerra contra os cortiços: cidade do Rio, 1880-1906. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1990. 48p. (Primeira Versão, n. 19)
5. COSTA, Nilson do Rosário. Estado, educação e saúde: a higiene da vida cotidiana. In: Cadernos do CEDES: Educação e Saúde. (3. reimpressão). São Paulo: Cortez/CEDES, 1987, n. 4, p. 5-27.
6. FONTENELLE, J.P. Higiene da raça. In: ______ Compêndio de higiene, 3. ed., Rio de Janeiro: Canton & Beyer, 1930. p. 759-771.
7. GERMANO, Raimunda Medeiros. Educação e ideologia de enfermagem no Brasil. São Paulo: Cortez, 1983, 118p.
⁸
GRANDE Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Rio de Janeiro/Lisboa: Editorial Enciclopédia Ltda, s.d.p., v. 10, p. 630-631.
9. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCITEC/ABRASCO, 1992. 269p.
10. ______ A situação social brasileira e os desafios para os profissionais de saúde década 80-90. Congresso Brasileiro de Enfermagem, 41, Florianópolis, 1989. Anais... p. 86-91.
11. PEIXOTO, Afrânio. Higiene da espécie: herança mórbida e eugenia; profilaxia social. In: Higiene. 6. ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1938. p. 20-25 (v. 2, Medicina Preventiva).
¹²
UMA SAÚDE deplorável. O Norte. João Pessoa, 31 de maio, 1992. Caderno 3, p. 8.

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Trabalho apresentado no 45º Congresso Brasileiro de Enfennagem, Recife-PE, 28 de novembro a 3 de dezembro de 1993

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
26 Fev 2015
Data do Fascículo
Dez 1993

Histórico

Recebido
28 Nov 1993

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[1] 1. ALCÂNTARA, Glete de. A enfermagem moderna como categoria profissional: obstéculos à sua expansão na sociedade brasileira. Ribeirão Preto, 1966. 117p. Tese (Cátedra) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP.

[2] 2. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. O bello sexo: imprensa e identidade feminina no Rio de Janeiro em fins do século XIX e início do século XX. In: COSTA, Albertina de Oliveira; BRUSCHINI, Cristina (org.) Rebeldia e submissão: estudos sobre condição feminina. São Paulo: Vértice/Fundação Carlos Chagas, 1989. p. 79-99.

[3] 3. CANESQUI, Ana Maria. Trajetória da educação popular nas instituições de sáude. In: PAIVA, Vanilda (org.)Perspectivas e dilemas da educação popular. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 315-324.

[4] 4. CHALHOUB, Sidney. A guerra contra os cortiços: cidade do Rio, 1880-1906. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1990. 48p. (Primeira Versão, n. 19)

[5] 5. COSTA, Nilson do Rosário. Estado, educação e saúde: a higiene da vida cotidiana. In: Cadernos do CEDES: Educação e Saúde. (3. reimpressão). São Paulo: Cortez/CEDES, 1987, n. 4, p. 5-27.

[6] 6. FONTENELLE, J.P. Higiene da raça. In: ______ Compêndio de higiene, 3. ed., Rio de Janeiro: Canton & Beyer, 1930. p. 759-771.

[7] 7. GERMANO, Raimunda Medeiros. Educação e ideologia de enfermagem no Brasil. São Paulo: Cortez, 1983, 118p.

[8] ⁸
GRANDE Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Rio de Janeiro/Lisboa: Editorial Enciclopédia Ltda, s.d.p., v. 10, p. 630-631.

[9] 9. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCITEC/ABRASCO, 1992. 269p.

[10] 10. ______ A situação social brasileira e os desafios para os profissionais de saúde década 80-90. Congresso Brasileiro de Enfermagem, 41, Florianópolis, 1989. Anais... p. 86-91.

[11] 11. PEIXOTO, Afrânio. Higiene da espécie: herança mórbida e eugenia; profilaxia social. In: Higiene. 6. ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1938. p. 20-25 (v. 2, Medicina Preventiva).

[12] ¹²
UMA SAÚDE deplorável. O Norte. João Pessoa, 31 de maio, 1992. Caderno 3, p. 8.