Acessibilidade / Reportar erro

Jeitinho brasileiro, controle social e competição

Resumos

O formalismo (a diferença entre o que a lei versa e a conduta concreta, sem que tal diferença implique punição para o infrator da lei) existe em diferentes graus nas mais diversas sociedades do mundo. Tal fato é considerado a principal causa do jeitinho. Entretanto, características socioculturais brasileiras por nós levantadas corroboram com o formalismo para a existência do jeitinho em nosso país. O jeitinho é o típico processo por meio do qual alguém atinge um dado objetivo a despeito de determinações contrárias (leis, ordens, regras etc.). Ele é usado para "driblar"� determinações que, se fossem levadas em conta, impossibilitariam a realização da ação pretendida pela pessoa que o solicita, valorizando, assim, o pessoal em detrimento do universal. Ele pode ser considerado uma característica cultural brasileira. A cultura é vista como um mecanismo de controle social (Geertz, 1989). Assim, neste artigo, discutiremos como o jeitinho pode ser encarado como controle social pela competição econômica (sucesso) e pelo amor.

Cultura; jeitinho brasileiro; controle social; competição


The formalism (the difference between the law and what people really do, even if this difference does not cause punishment) exists in different degrees in various parts of the world. It is considered the main cause of the "jeitinho"�; however, the characteristics of Brazilian society also take part in this cause. The Brazilian "jeitinho"� is the typical process for someone to reach something desired in spite of contrary determinations (laws, orders, rules etc.). The "jeitinho"� is used to deceive determinations that would make impossible the aims of the person that asks for the "jeitinho"�. It makes personal thoughts more important than universal ones. It can also be considered as a Brazilian cultural characteristic. The culture is a social control mechanism (Geertz, 1989). Therefore, we argue that the "jeitinho"� can be faced as a social controller through economic competition (success) and through love.

Culture; Brazilian "jeitinho"�; social control; competition


ORGANIZAÇÃO, RECURSOS HUMANOS E PLANEJAMENTO

Jeitinho brasileiro, controle social e competição

Fernando C. Prestes MottaI; Rafael AlcadipaniII

IProfessor-Titular do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGV

IIGraduando em Administração na ESPM e em Filosofia na USP e Bolsista do Programa de Iniciação Científica da ESPM

RESUMO

O formalismo (a diferença entre o que a lei versa e a conduta concreta, sem que tal diferença implique punição para o infrator da lei) existe em diferentes graus nas mais diversas sociedades do mundo. Tal fato é considerado a principal causa do jeitinho. Entretanto, características socioculturais brasileiras por nós levantadas corroboram com o formalismo para a existência do jeitinho em nosso país. O jeitinho é o típico processo por meio do qual alguém atinge um dado objetivo a despeito de determinações contrárias (leis, ordens, regras etc.). Ele é usado para "driblar" determinações que, se fossem levadas em conta, impossibilitariam a realização da ação pretendida pela pessoa que o solicita, valorizando, assim, o pessoal em detrimento do universal. Ele pode ser considerado uma característica cultural brasileira. A cultura é vista como um mecanismo de controle social (Geertz, 1989). Assim, neste artigo, discutiremos como o jeitinho pode ser encarado como controle social pela competição econômica (sucesso) e pelo amor.

Palavras-chave: Cultura, jeitinho brasileiro, controle social, competição.

ABSTRACT

The formalism (the difference between the law and what people really do, even if this difference does not cause punishment) exists in different degrees in various parts of the world. It is considered the main cause of the "jeitinho"; however, the characteristics of Brazilian society also take part in this cause. The Brazilian "jeitinho" is the typical process for someone to reach something desired in spite of contrary determinations (laws, orders, rules etc.). The "jeitinho" is used to deceive determinations that would make impossible the aims of the person that asks for the "jeitinho". It makes personal thoughts more important than universal ones. It can also be considered as a Brazilian cultural characteristic. The culture is a social control mechanism (Geertz, 1989). Therefore, we argue that the "jeitinho" can be faced as a social controller through economic competition (success) and through love.

Key words: Culture, Brazilian "jeitinho", social control, competition.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

BIBLIOGRAFIA

  • ABREU, C. et al. Jeitinho brasileiro como recurso de poder. Revista de Administração Pública Rio de Janeiro: FGV, v.16, abr./jun. 1982.
  • ALCADIPANI, R. Formalismo e jeitinho brasileiro à luz da administração de microempresas (Iniciação Científica) São Paulo: Nupp/ESPM, 1997 (Mimeogr.
  • BARBOSA, L. O jeitinho brasileiro Rio de Janeiro: Campus, 1992.
  • BRESLER, R. Organização e programas de integração: um estudo sobre os ritos de passagem. São Paulo, 1993. Dissertação (Mestrado) - EAESP, FGV.
  • BRESLER, R. A roupa surrada e o pai: etnografia em uma marcenaria. In: PRESTES MOTTA, F. C., CALDAS, M. Cultura organizacional e cultura brasileira São Paulo: Atlas, 1997.
  • CALLIGARIS, C. Hello Brasil!: notas de um psicanalista europeu viajando ao Brasil. São Paulo: Escuta, 1993.
  • COLBARI, A. Imagens familiares na cultura das organizações. In: DAVEL, E., VASCONCELOS, J. (Org.). "Recursos" humanos e subjetividade Petrópolis: Vozes, 1995.
  • DaMATTA, R. Carnaval, malandros e heróis 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1983.
  • DaMATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? 5.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
  • ENRIQUEZ, E. Da horda ao estado: psicanálise do vínculo social. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
  • FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3.ed. Porto Alegre: Globo, 1976. 2v.
  • FREUD, Sigmund. Psychologie des foules et analyse du moi. In: Essais de psychanalise Nouvelle edition. Paris: Petite Bibliothèque Payot, 1981.
  • FREYRE, G. Casa-grande & senzala 12.ed. Brasília: UnB, 1963.
  • GEERTZ, C. Interpretação da cultura Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
  • HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1973.
  • PRADO JR., C. Formação do Brasil contemporâneo 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1948.
  • PRESTES MOTTA, F. Cultura nacional e cultura organizacional. Revista da ESPM, v.2, n.2, ago. 1995.
  • PRESTES MOTTA, F. Cultura e organizações no Brasil São Paulo: EAESP/FGV, 1996. (Relatório de Pesquisa NPP, 15).
  • RAMOS, A. Administração e contexto brasileiro Rio de Janeiro: FGV, 1983.
  • RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
  • RIGGS, F. W. A ecologia da administração pública Rio de Janeiro: FGV, 1964.
  • VALENTE, J. A certidão de nascimento do Brasil: a carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Edição do Fundo de Pesquisas do Museu da USP, 1975.
  • VASCONCELLOS, J. O coronelismo nas organizações: a gênese da gestão autoritária. In: DAVEL, E., VASCONCELOS, J. (Org.). "Recursos" humanos e subjetividade Petrópolis: Vozes, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Mar 1999
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br