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Ressecção do intestino grosso e anastomose íleo-retal em suínos

Resection of the large intestine and ileo-rectal anastomosis in swine

Resumos

A anastomose íleo-retal término-terminal, após ressecção do intestino grosso, foi realizada em 13 suínos Large White x Landrace, com média de 15kg de peso e em torno de 67 dias de idade, sob anestesia pelo halotano, em circuito semifechado. A laparotomia constou de incisão na região paramediana esquerda, no sentido da bainha prepucial, seguida de incisão na linha branca. O intestino grosso foi liberado das suas relações com o intestino delgado e do mesentério até a sua posição relativa aos ligamentos laterais da bexiga. O íleo e o reto foram seccionados tão próximo quanto possível da válvula íleocecal e a 10 e 12cm do esfíncter anal, respectivamente, e as ligaduras dos vasos mesentéricos foram feitas em massa, a intervalos de 2-3cm. O intestino grosso foi removido, procedendo-se a anastomose íleo-retal, mediante sutura seromucosa, por pontos simples separados tipo Swift, com fio de seda preto n° 0, a 2-3mm das bordas, com os nós posicionados para o lume do órgão. Em suínos jovens, a anastomose íleo-retal após ressecção do intestino grosso é tecnicamente exeqüível e permite a sobrevivência dos animais por período adequado até sua utilização em pesquisas sobre digestibilidade. O material e o tipo de sutura utilizados permitiram adequada justaposição das bordas intestinais da anastomose, compensando pequenas diferenças entre os diâmetros do íleo e do reto. A remoção do intestino grosso conduziu a adaptações morfofuncionais marcantes, e a dilatação do segmento distal do intestino delgado constituiu a alteração macroscópica mais significativa. Observou-se redução no desenvolvimento e no peso corporal dos animais adaptados à nova condição fisiológica.

Suíno; intestino grosso; intestino delgado; anastomose íleo-retal; sistema digestivo


The end-to-end ileo-rectal anastomosis technique, after complete resection of the large intestine, was accomplished in 13 Large White x Landrace crossbred pigs, weighing about 15kg and 67 days of age, under halothane anesthesia in a semi-closed circuit. The laparotomy consisted of left paramedian incision, along with and close to the prepucial sheath, followed by a midline incision. The large intestine was released from its conections with the small intestine and mesentery up to the lateral ligaments of the bladder. The ileum and rectum were sectioned as close as possible to the ileocecal valve and at 10-12cm of the anal sphincter, respectively. The ligatures of the mesenteric vessels were done in mass, at 2-3 cm intervals. After removing the large intestine, the ileo-rectal anastomosis was accomplished by Swift-like suture using silk thread n° 0, at 2-3mm from the borders with the knots positioned into the lumen of the organ. The ileo-rectal anastomosis following resection of the large intestine in young swines is technically feasible, allowing the animals survival, during the entire period required for digestibility studies. The suture material and the type of stitches permitted adequate union of the intestinal borders of the anastomosis and they were helpful to compensate for small differences between the diameters of the ileum and rectum. The resection of the large intestine induced remarkable morphological and functional intestinal adaptations and the dilatation of the distal segment of the small intestine was the most significant macroscopic finding. The animals showed underdevelopment as well as reduced body weight, despite the fact they were totally adapted to the new physiologic conditions.

Swine; large intestine; small intestine; ileo-retal anastomosis; digestive system


Ressecção do intestino grosso e anastomose íleo-retal em suínos

[Resection of the large intestine and ileo-rectal anastomosis in swine]

H.P. Oliveira1*, W.O. Bernis2, G.E.S. Alves1, C.M.F. Rezende1

1Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais

Caixa Postal 567

30123-970 – Belo Horizonte, MG.

2Faculdade de Medicina Veterinária da UNIFENAS

Recebido para publicação em 24 de novembro de 2000

Recebido para publicação, após modificações, em 12 de setembro de 2001

*Autor para correspondência

E-mail: humberto@vet.ufmg.br

RESUMO

A anastomose íleo-retal término-terminal, após ressecção do intestino grosso, foi realizada em 13 suínos Large White x Landrace, com média de 15kg de peso e em torno de 67 dias de idade, sob anestesia pelo halotano, em circuito semifechado. A laparotomia constou de incisão na região paramediana esquerda, no sentido da bainha prepucial, seguida de incisão na linha branca. O intestino grosso foi liberado das suas relações com o intestino delgado e do mesentério até a sua posição relativa aos ligamentos laterais da bexiga. O íleo e o reto foram seccionados tão próximo quanto possível da válvula íleocecal e a 10 e 12cm do esfíncter anal, respectivamente, e as ligaduras dos vasos mesentéricos foram feitas em massa, a intervalos de 2-3cm. O intestino grosso foi removido, procedendo-se a anastomose íleo-retal, mediante sutura seromucosa, por pontos simples separados tipo Swift, com fio de seda preto n° 0, a 2-3mm das bordas, com os nós posicionados para o lume do órgão. Em suínos jovens, a anastomose íleo-retal após ressecção do intestino grosso é tecnicamente exeqüível e permite a sobrevivência dos animais por período adequado até sua utilização em pesquisas sobre digestibilidade. O material e o tipo de sutura utilizados permitiram adequada justaposição das bordas intestinais da anastomose, compensando pequenas diferenças entre os diâmetros do íleo e do reto. A remoção do intestino grosso conduziu a adaptações morfofuncionais marcantes, e a dilatação do segmento distal do intestino delgado constituiu a alteração macroscópica mais significativa. Observou-se redução no desenvolvimento e no peso corporal dos animais adaptados à nova condição fisiológica.

Palavras-chave: Suíno, intestino grosso, intestino delgado, anastomose íleo-retal, sistema digestivo

ABSTRACT

The end-to-end ileo-rectal anastomosis technique, after complete resection of the large intestine, was accomplished in 13 Large White x Landrace crossbred pigs, weighing about 15kg and 67 days of age, under halothane anesthesia in a semi-closed circuit. The laparotomy consisted of left paramedian incision, along with and close to the prepucial sheath, followed by a midline incision. The large intestine was released from its conections with the small intestine and mesentery up to the lateral ligaments of the bladder. The ileum and rectum were sectioned as close as possible to the ileocecal valve and at 10-12cm of the anal sphincter, respectively. The ligatures of the mesenteric vessels were done in mass, at 2-3 cm intervals. After removing the large intestine, the ileo-rectal anastomosis was accomplished by Swift-like suture using silk thread n° 0, at 2-3mm from the borders with the knots positioned into the lumen of the organ. The ileo-rectal anastomosis following resection of the large intestine in young swines is technically feasible, allowing the animals survival, during the entire period required for digestibility studies. The suture material and the type of stitches permitted adequate union of the intestinal borders of the anastomosis and they were helpful to compensate for small differences between the diameters of the ileum and rectum. The resection of the large intestine induced remarkable morphological and functional intestinal adaptations and the dilatation of the distal segment of the small intestine was the most significant macroscopic finding. The animals showed underdevelopment as well as reduced body weight, despite the fact they were totally adapted to the new physiologic conditions.

Keywords: Swine, large intestine, small intestine, ileo-retal anastomosis, digestive system.

INTRODUÇÃO

Pesquisas sobre digestibilidade do íleo em suínos fistulados no íleo ou com anastomose íleo-retal, de maneira geral, não apresentam detalhes importantes sobre a execução da intervenção cirúrgica e o pós-operatório. Os modelos convencionalmente adotados, segundo a literatura disponível, não incluem a ressecção do intestino grosso e a subseqüente anastomose íleo-retal.

Modificações cirúrgicas do trato digestivo de suínos, que resultaram em anastomose íleo-retal, segundo Souffrant et al. (1985), demonstraram ser um método adequado de avaliação dos processos de absorção de nutrientes até o íleo terminal. Os autores utilizaram fêmeas com peso entre 22 e 34kg para a anastomose íleo-retal término-lateral, mantendo o intestino in situ.

A anastomose íleo-retal término-lateral em suínos Landrace x Large White, com peso vivo entre 20 e 25kg, foi utilizada por Green et al. (1987), mediante incisão paramediana. O íleo e o reto foram seccionados a 10cm da válvula íleocecal e a cerca de 12cm do ânus, respectivamente. O segmento cranial do reto foi canulado no flanco esquerdo. A metodologia foi também utilizada por Green (1988), os quais preservaram ou não a válvula íleocecal.

A anastomose íleo-retal término-terminal seguida de cecocolostomia, mediante incisão de 10cm no flanco esquerdo, foi utilizada por Leão et al. (1988) e por Serrano et al. (1989, 1990) em suínos castrados, com média de peso de 19kg. Na técnica término-terminal realizada por Laplace et al. (1989) em suínos com média de peso de 55kg, o íleo foi seccionado a cinco centímetros da válvula íleocecal, e o reto, próximo do púbis, cujo segmento proximal foi canulado no flanco direito.

A anastomose íleo-retal término-lateral em suínos Yorkshire x Landrace, com média de peso de 30kg, foi realizada por Köhler et al. (1992), mediante incisão mediana, na qual o íleo, juntamente com a válvula íleocecal, foi suturado lateralmente no reto, a cerca de 10cm do esfíncter anal, sem retirar o intestino grosso. Os suínos com anastomose tinham 60% do peso de suínos normais. Costa et al. (1994) submeteram suínos de 35kg à anastomose íleo-retal término-lateral, mantendo o intestino grosso in situ. Os suínos apresentavam irritação perineal e fezes aquosas devido ao isolamento do intestino grosso, as quais aumentaram progressivamente de consistência.

A morfometria do intestino delgado de suínos de 30kg, normais e submetidos à anastomoses íleo-retal término-terminal (TT) e término-lateral (TL), ambas preservando o intestino grosso, foi objeto de estudo de Redlich et al. (1997). Aos 147 dias, na maioria dos animais submetidos à cirurgia a altura das vilosidades do duodeno, do jejuno e do íleo apresentava-se significativamente reduzida em relação à dos animais normais, e a profundidade das criptas do duodeno e do íleo não se alterou nos suínos TT, mas estava significativamente reduzida nos suínos TL. Os dados obtidos sugeriram que a anastomose íleo-retal término-terminal era mais adequada para a manutenção da integridade estrutural do intestino delgado.

As compensações morfológicas após ressecções parciais e transecções simples do jejuno e do íleo em suínos Large White foram estudadas por Laplace (1975). Em experimentos de curta duração a maior hipertrofia intestinal ocorreu no segmento distal do íleo. Em suínos submetidos a jejunectomia parcial, Laplace (1980) pesquisou a sensibilidade visceral conduzida pelo nervo vago ao SNC e concluiu que a supressão do vago aferente evidenciava que os aferentes sensoriais do trato digestivo ao SNC eram necessários para elucidarem a hipertrofia compensatória. A hipertrofia compensatória deve ser mediada pelo feedback neuro-hormonal cuja via aferente poderia ser a sensorial vagal e que a via eferente poderia ser uma via hormonal monitorada pelo eixo hipotalâmico-hipofisário.

O presente trabalho teve por objetivo descrever a técnica cirúrgica e avaliar suínos submetidos à ressecção do intestino grosso e subseqüente anastomose íleo-retal término-terminal, com vistas ao seu aproveitamento em experimentos sobre digestibilidade ileal.

MATERIAL E MÉTODOS

A ressecção do intestino grosso seguida da anastomose íleo-retal foi realizada em 13 suínos Large White x Landrace, orquiectomizados, com média de 15kg de peso e em torno de 67 dias de idade, previamente vacinados e livres de parasitoses intestinais.

No período pré-operatório os animais foram mantidos dois a dois em boxes cimentados, com paredes de alvenaria e acesso frontal com grade metálica, onde receberam alimentação concentrada ad libitum e água, respectivamente até 24 horas e 12 horas do início da cirurgia. Foram pesados imediatamente antes da intervenção cirúrgica e premedicados com sulfato de atropina (Sulfato de Atropina – Lab. Hipofarma Ltda, RJ.), na dose de 0,04mg/kg, e acepromazina (Acepran a 1% - Univet S.A. Ind. Veterinária, SP.), na dose de 0,2mg/kg, ambas pela via intramuscular. Cerca de 30 minutos após, a anestesia geral foi induzida pelo tiopental sódico (Thiopental – Cristália Prod. Quim. Farm Ltda. São Paulo, SP.) a 2,5%, pela via intravenosa, seguida de intubação orotraqueal (Sonda Orotraqueal Nº 5,5.) e mantida pelo halotano (Halothane Hoechst – Hoechst Marion Roussel S.A. São Paulo, SP.), em circuito semifechado.

No trans-operatório, nos suínos contidos em decúbito dorsal foi feita uma incisão de 15 a 17cm de extensão na região paramediana esquerda, cerca de 2cm da linha média, no sentido da bainha prepucial, iniciada cranialmente ao óstio prepucial. Ao se visualizar a fáscia do músculo reto do abdome, a bainha prepucial foi afastada lateralmente para a adequada exposição da cavidade abdominal, mediante incisão na linha branca.

Os intestinos delgado e grosso foram parcialmente exteriorizados para manipulação e identificação cirúrgica dos locais das transecções ileal e retal. A prega mesentérica íleocecal foi seccionada ao meio, ao longo de sua conexão com o corpo do ceco, na direção da junção íleocecal. A extremidade distal do íleo foi individualizada no trajeto do segmento que se justapõe ao ceco pela serosa, precedida da ligadura dos vasos mesentéricos envolvidos. O cólon terminal e a bexiga foram tracionados, respectivamente, nos sentidos cranial e caudal, de modo a fazer progredir cranialmente parte do segmento retal (Fig. 1).


A partir do cólon ascendente, o intestino grosso foi gradativamente liberado de suas relações com o intestino delgado e liberado do mesentério até a sua posição relativa aos ligamentos laterais da bexiga. As ligaduras em massa dos vasos mesentéricos a intervalos de 2-3cm e dos ramos cólicos da artéria ileocecocólica (NAV: artéria ileocólica; Getty, 1975), das artérias cólica direita e mesentérica caudal foram feitas com fio categute cromado no 0 ou 2-0, tão próximas quanto possível da parede do órgão. No segmento retal foram interpostas duas pinças intestinais de Doyen distantes 2cm uma da outra. Seguiu-se a secção intestinal no sentido transversal e a cerca de 10-12cm do esfíncter anal entre as pinças de Doyen. O íleo terminal foi seccionado transversalmente entre as pinças de Doyen próximo à válvula ileocecal. Precedendo as transecções dos segmentos a serem anastomosados, foram mensuradas as circunferências externas do íleo e do reto, para posterior comparação entre esses e outros animais não submetidos à cirurgia, por ocasião da necropsia. As medidas foram feitas no intestino completamente livre de seu conteúdo.

O intestino grosso assim isolado foi removido totalmente (Fig. 2). As extremidades terminal do íleo e cranial do reto remanescente foram justapostas pela aproximação das pinças intestinais (Fig. 3), procedendo-se a anastomose íleo-retal término-terminal, mediante sutura de profundidade seromucosa com pressão suficiente para o fio penetrar na mucosa. Nesse procedimento, utilizou-se fio de seda (Seda preta trançada - Brasmédica S.A. Indústrias Farmacêuticas. São Paulo, SP.) preto n° 0, com agulha atraumática e pontos simples separados cerca de 2-3mm das bordas. Foram aplicados 14 a 16 pontos de sutura, igualmente distribuídos, cujos nós ficaram vertidos para o lume do órgão, a exemplo da sutura de Swift (Fig. 4). Na sutura contínua entre a prega íleocecal que foi seccionada ao meio e o mesentério do segmento retal remanescente foi empregado o categute cromado 2-0 ou 3-0 agulhado (Categute cromado – Brasmédica S.A. Ind. Farmacêuticas, São Paulo, SP) A eversão da mucosa intestinal entre os pontos de sutura foi corrigida por meio de pressão digital ao longo da anastomose, evitando sua interposição nas bordas justapostas. Durante a intervenção cirúrgica as alças intestinais expostas foram irrigadas a intervalos regulares e os suínos mantidos sob hidratação intravenosa com soro fisiológico (Solução Isotônica de Cloreto de Sódio - Lab. Sanobiol Ltda. São Paulo, SP.) Após a laparorrafia com categute cromado no 0 e fio de algodão no 1 em pontos simples separados, respectivamente na linha branca e na pele, os animais foram mantidos nos boxes, sob fonte de calor, até a completa recuperação anestésica, sob hidratação intravenosa com solução glicofisiológica (Solução de Glicose a 5% em Solução Isotônica de Cloreto de Sódio - Lab. Sanobiol Ltda. São Paulo, SP.).




Nos cinco dias iniciais do pós-operatório os suínos receberam diariamente 5,0mg/kg de peso de enrofloxacina (Baytril a 10% – Bayer do Brasil. São Paulo, SP.), via intramuscular e 30ml de solução hidroeletrolítica (Stimovit – Ind. Quim. Farm. Schering-Plough -Schering- Plough Veterinária. São Paulo, SP.) (vit. B, glicose, sódio, potássio, cálcio e magnésio), via intravenosa, ou 60ml via oral. Nas primeiras 24 horas foi aplicado flunixin meglumine (Banamine – Ind. Quim. Farm. Schering-Plough - Schering-Plough Veterinária. São Paulo, SP.) pela via intramuscular, na dose de 2,2mg/kg nas 48-72 horas seguintes e 1,1mg/kg a cada 24 horas. Os animais foram pesados 12 horas após a cirurgia, ainda em jejum, semanalmente até a quarta semana e aos 45, 60, 75 e 160 dias.

A ração concentrada foi oferecida 18 horas após a cirurgia, duas vezes ao dia, em torno de 50-100g/animal, até o terceiro dia. A ração foi aumentada gradativamente até a saciedade dos animais.

Nas áreas de dermatite foi usada pomada a base de vitamina A, ácido bórico, óxido de zinco, hidrocortisona e silicatos de alumínio e de magnésio (Hipoglós c/ Hidrocortisona – Biolab Indústrias Farmacêuticas, S.A. –São Paulo, SP.). A avaliação clínica seguiu-se em paralelo e independente do estudo sobre a digestibilidade e os animais foram necropsiados em torno de 228 dias de idade.

Em duas granjas comerciais foram abatidos 10 suínos jovens em crescimento e igual número de suínos adultos, de idêntico cruzamento e com dieta alimentar padrão. Os suínos em crescimento tinham idade e peso similares aos submetidos à anastomose íleo-retal. Durante as necropsias dos animais normais e dos operados foram mensuradas as circunferências externas do duodeno, a 5cm do piloro, do íleo, tão próximo quanto possível da válvula ileocecal, do jejuno e do reto, este último no ponto médio entre as bordas craniais dos ligamentos laterais da bexiga e o esfíncter anal, em todos os casos sem o conteúdo intestinal. Foram colhidos fragmentos dos diferentes segmentos do intestino delgado e do reto, a fim de orientar a avaliação histológica intestinal dos animais operados.

No exame macroscópico das vísceras da cavidade abdominal foram inspecionados o local da anastomose e o intestino remanescente. Em três suínos foram colhidos segmentos fechados do intestino delgado, no início, meio e final das dilatações intestinais para identificação bacteriológica.

O material colhido para exame histológico no local da anastomose e nos segmentos do intestino delgado foi fixado em formol tamponado a 10% e processado pelas técnicas rotineiras de inclusão em parafina e coloração por hematoxilina-eosina.

Para a avaliação estatística, os dados foram agrupados para o cálculo da média, desvio-padrão e coeficiente de variação. As medidas de circunferências externas do íleo e do reto após o abate de suínos jovens e de adultos normais e dos submetidos à anastomose íleo-retal por ocasião da cirurgia, e as dilatações em três locais distintos do intestino delgado, durante a necropsia, foram submetidas ao cálculo da DMS pelo teste t de Student, ao nível de 5%. As avaliações, nesses casos, foram feitas para o mesmo segmento intestinal dos suínos operados e não operados

RESULTADOS

A manutenção da anestesia pelo halotano entre 1 e 2% foi considerada satisfatória para a execução cirúrgica e os animais apresentaram relaxamento muscular e analgesia suficientes para a manipulação dos órgãos abdominais. A intubação orotraqueal requereu a administração de 17 a 20mg/kg de tiopental sódico, em doses necessárias para a completa abolição dos reflexos laringo-traqueais, dispensando o uso de laringoscópio.

A recuperação anestésica e a deambulação ocorreram em torno de duas horas. Os suínos apresentaram mioclonia e foram mantidos sob fonte de calor em boxe de alvenaria, medindo 1,0 x 1,0m com abertura frontal.

As incisões paramediana e mediana não dificultaram a exposição e manipulação das alças intestinais. Em todos os animais ocorreu cicatrização por primeira intenção da ferida cutânea. Por ocasião da remoção da sutura da pele, a bainha e o óstio prepuciais evidenciavam edema gravitativo discreto, que desapareceu gradativamente ao longo da semana seguinte, sem comprometer a cicatrização.

A amplitude do mesentério permitiu exteriorizar o intestino grosso e grande parte do intestino delgado, sem tração excessiva da raiz mesentérica, facilitando a liberação do intestino grosso. Na transposição do íleo terminal para o segmento do reto não foi seccionado o mesentério do intestino delgado e a mobilização da alça não determinava tração da raiz mesentérica que comprometesse a anastomose.

Um animal foi substituído no transcurso da cirurgia devido à ligadura e secção inadvertidas do ramo principal da artéria mesentérica cranial, acima da derivação para a artéria ileocecocólica. O intestino delgado, principalmente em sua porção terminal, apresentou cianose intensa nos minutos seguintes, comprometendo a viabilidade do órgão.

Em todos os animais o diâmetro do reto foi maior do que o do íleo nas anastomoses. A sutura entre a prega ileocecal remanescente e o mesentério do segmento retal fazia-se necessária para a continuidade mesentérica, sustentação e manutenção da anastomose.

As avaliações estatísticas da mensuração das circunferências externas do íleo e do reto ficaram restritas a 10 suínos. Ocorreram dois óbitos, um deles aos 22 dias após a cirurgia, conseqüente a peritonite crônica, e outro aos 67 dias, por septicemia aguda não esclarecida. Um terceiro animal foi descartado após 24 dias, no momento da pré-seleção para o experimento de digestibilidade. O acompanhamento clínico-cirúrgico culminou com o abate dos 10 animais sobreviventes, em média aos 161 dias da cirurgia e 228 dias de idade.

Os dados referentes ao peso e idade dos suínos à época da anastomose íleo-retal término-terminal, idade à necropsia, e intervalos entre as cirurgias e as necropsias são apresentados na Tab. 1.

O peso dos suínos nas 12 horas seguintes à cirurgia apresentou redução média de 2,3kg e se manteve estável na primeira semana. Foi adicionada água na ração de crescimento nas primeiras 72 horas para torná-la pastosa.

Aos 14 dias da cirurgia, o peso dos animais alcançou os valores iniciais. Aos 28 dias, pesavam 19,5kg, em média; aos 45, 60 e 75 dias alcançaram, respectivamente, as médias de 25,7; 32,1 e 37,4kg. Aos 160 dias pesavam 71,3kg, em média, correspondente à fase de terminação.

Os animais apresentaram apetite normal, exceção feita a um suíno. A administração intravenosa de soluto composto de glicose, vitaminas e sais minerais no pós-operatório imediato foi sempre laboriosa e estressante para os suínos, demandando contê-los em calhas em “V” (goteira de Claude Bernard). A partir da terceira semana da cirurgia, essa técnica foi substituída pela administração oral ou pela adição do soluto composto à primeira ração diária, nos cinco primeiros dias do pós-operatório.

A exclusão de três suínos não prejudicou as médias de peso e de idade constantes na Tab. 1. Os dados relativos às medidas de circunferências externas do íleo e do reto dos animais submetidos à anastomose íleo-retal são apresentados na Tab. 2.

Nas três semanas seguintes ao pós-operatório os suínos eliminaram fezes muito liquefeitas, cuja consistência aumentou gradativamente. Ao longo do período experimental as fezes apresentavam-se pastosas, mais firmes e sem definição normal do bolo fecal.

As regiões perianal e perineal e a face medial dos membros pélvicos evidenciaram pele irritada, de cor rósea intensa e edema discreto, restrito às áreas de contato com as fezes fluidas. A dermatite determinou o uso de medicação tópica após limpeza diária da área, durante 15 a 20 dias. Quatro suínos requereram administração única de 1,0g de dexametazona, por via intramuscular, após remoção da sutura de pele, o que ocorreu em torno do 10º dia do pós-operatório.

O desempenho dos suínos foi considerado apropriado para a experimentação sobre a digestibilidade de aminoácidos essenciais, que teve duração de 90 dias, com colheitas de amostras, sem apresentar transtornos gastrintestinais apreciáveis.

À abertura da cavidade abdominal os órgãos apresentavam-se livres de aderências e de sinais de peritonite. O intestino delgado evidenciou repleção com dilatação distinta e de comprimento variável no segmento distal, além de circunvoluções distribuídas e limitadas pelo comprimento da raiz mesentérica.

A parte cranial da dilatação terminava quase abruptamente pela presença do estomago e limitações impostas pela prega mesentérica, fazendo o intestino migrar no sentido oposto. A consistência das fezes era pastosa, cujo aspecto era possível ser visualizado no segmento dilatado através da parede da alça. O segmento do íleo dilatado expandia o espaço entre os ligamentos laterais da bexiga, sem aderências. Os limites das anastomoses íleo-retais eram bastante precisos. A extensão do segmento dilatado distinguia-se do restante do intestino delgado.

Outros achados são referidos a seguir: paraqueratose inicial (suínos nos 1550, 1552, 1567, 1568, 1569 e 1571); erosão e início de ulceração estomacal (suínos nos 1561, 1570, 1577), ambas na região da cárdia; hidronefrose moderada do rim esquerdo (nº 1552); formação cística de 1,0cm de diâmetro (nº 1561) e cicatriz fibrosa de 0,5cm de diâmetro com retração (nº 1577), ambas no parênquima renal; numerosos e minúsculos cálculos vesicais (nº 1554); estrutura saciforme com cerca de 15cm de extensão, distinta da porção final do íleo (nº 1552).

As paredes dos três segmentos (duodeno, jejuno e íleo) apresentavam redução de espessura em decorrência da hipotrofia das glândulas intestinais e das vilosidades. As células caliciformes evidenciavam tendência à hiperplasia, notadamente no jejuno e no íleo. Na lâmina própria existia adensamento moderado do tecido linfóide não encapsulado, principalmente de células plasmáticas, bem como de agregados linfóides no jejuno e íleo. A lâmina muscularis mucosae e as camadas musculares interna e externa apresentavam diminuição de espessura devido ao estiramento, mormente nos segmentos submetidos à distensão luminal.

A mucosa do reto mostrava redução discreta de espessura em função de hipotrofia, também discreta, das criptas. Observou-se presença de algumas áreas focais de fibrose na parede, principalmente nos locais de sutura.

Os dados relativos às medidas de extensão da dilatação e da circunferência externa, em três locais distintos do intestino delgado, craniais à anastomose íleo-retal, por ocasião da necropsia e após a remoção do conteúdo intestinal, são apresentados na Tab. 3.

Os exames bacteriológicos do conteúdo intestinal colhido durante a necropsia, respectivamente no início, no meio e no final das dilatações, revelaram a presença de Sarcina sp (nº 1577) na dilatação inicial, de Clostridium sp, Escherichia coli, Staphylococcus sp e enterococos (nos 1554, 1570 e 1577), de Citrobacter cloacae, (nº 1554), de Citrobacter amalonaticus (nos 1570 e 1577) e de Enterobacter aglomerans (nº 1577) nos três locais da colheita do material.

DISCUSSÃO

O domínio da técnica de anastomose íleo-retal e a avaliação das transformações anatômicas e funcionais do intestino delgado são fatores que contribuem decisivamente para o sucesso e aceitação do uso de animais nas pesquisas sobre digestibilidade no intestino delgado. A anestesia geral por anestésicos voláteis sugere ser o método adequado para a intervenção cirúrgica, por contribuir para a rápida recuperação dos pacientes. A duração do efeito da acepromazina e o uso de tiopental possivelmente conduziram à recuperação anestésica mais demorada, à perda de calor e hipotensão, requerendo a utilização de uma fonte de calor inclusive para suprimir a mioclonia.

A técnica de anastomose íleo-retal término-lateral (Souffrant et al., 1985; Green et al., 1987, 1988; Köhler et al., 1992; Costa et al., 1994; Redlich et al., 1997) em suínos basicamente consta de transposição do segmento distal do íleo para a parede retal e a oclusão cirúrgica do ceco no local da transecção do íleo, mantendo o intestino grosso in situ. Esse procedimento tem sido adotado também na técnica de anastomose íleo-retal término-terminal, (Leão et al., 1988; Laplace et al., 1989; Serrano et al., 1989, 1990; Redlich et al., 1997) há quase três décadas. A presente pesquisa difere da técnica referida na literatura consultada pelo fato de a anastomose íleo-retal término-terminal ser praticada após a exérese do intestino grosso, até cerca de 10-12cm do esfíncter anal. Disponibilizou, por conseqüência, maior espaço abdominal para o intestino delgado, mas envolveu maior manipulação visceral, pela extensão da divulsão dos tecidos ao longo da sustentação mesentérica e nos pontos em que o intestino grosso se relaciona com o intestino delgado, a exemplo da porção descendente do duodeno e do segmento terminal do íleo. Além disso, requereu atenção para a perfeita identificação dos ramos da artéria mesentérica cranial, como o ramo ileocecocólico, mormente a artéria ileocólica.

A exposição do local para a secção do reto foi facilitada pela tração do cólon e apresentou a vantagem de seccionar o reto cerca de 10-12cm do esfíncter anal, sem a necessidade da divulsão adicional do mesentério. Quando se apresentava parcialmente repleta, a bexiga oferecia melhor suporte para a sua tração no sentido caudal e melhor visualização das estruturas anatômicas que circundavam o órgão, dispensando-se o cateterismo vesical. Após a sutura, o segmento anastomosado tendia a se localizar caudalmente em relação aos ligamentos vesicais, evidenciando que a raiz mesentérica não exercia tração que comprometesse a integridade da sutura, o que poderia determinar cicatrização imperfeita ou a instalação de peritonite. A sutura entre a prega íleocecal remanescente e o mesentério do segmento do reto visou reconstituir artificialmente a continuidade mesentérica e manteve alinhadas as bordas da anastomose, prevenindo a insinuação de alças. A situação anatômica dos ligamentos laterais da bexiga em relação à anastomose possivelmente contribuiu para a eficiência desse procedimento quanto à insinuação de alças.

O fio de seda agulhado utilizado nas anastomoses íleo-retais constituiu uma opção dentre outros fios. Demonstrou segurança nos nós e acomodação adequada nas bordas suturadas, não sendo detectadas reações tissulares que limitassem seu uso, apesar de sua capilaridade e maior coeficiente de atrito em relação aos fios monofilados. Por ocasião da necropsia, a 161,4 dias da cirurgia e aos 228,1 dias de idade, os pontos de sutura não foram detectados. O posicionamento dos nós das suturas dentro do lume intestinal visou sua eliminação por essa via, além de minimizar reações na serosa dos órgãos. A sutura do tipo Swift, caracterizada por pontos isolados, em princípio apresenta a vantagem de justapor adequadamente as camadas dos segmentos anastomosados. Em adição, não limita completamente a expansão da circunferência, minimizando ou prevenindo possíveis estenoses.

Os distúrbios hidroeletrolíticos e deficiências vitamínicas, além do balanço energético e outras alterações funcionais, não têm sido completamente avaliadas (Laplace et al., 1989). Nesta pesquisa, não foram feitos exames laboratoriais que mensurassem as perdas hidroeletrolíticas para a adequada reposição dos eletrólitos. Tais exames são importantes para a completa avaliação clínica dos suínos anastomosados, e independente da técnica empregada merecem ser pesquisados para comparar os efeitos das anastomoses íleo-retais com ou sem a remoção do intestino grosso.

A canulação da veia marginal da orelha para fins de hidratação e reposição de eletrólitos, por ser considerada laboriosa, pode ser substituída pela via oral e pela inclusão do medicamento na ração, mesmo sem quantificação precisa dos efeitos. Assim, os suínos aparentemente recuperaram o desequilíbrio hidroeletrolítico à medida que as fezes passavam de líquidas a pastosas. As reações dermatológicas mencionadas por Costa et al. (1994) ocorreram por efeito do contato das fezes líquidas e requereram tratamento diário, cedendo ao tratamento. A dermatite foi considerada intensa principalmente no final da primeira semana do pós-operatório e o uso de corticosteróide sistêmico pareceu não interferir na cicatrização da ferida operatória. A dermatite deve ser convenientemente tratada por ser incômoda e predispor a foliculites, podendo interferir no desempenho dos animais e alterar o comportamento e o apetite.

As diferenças entre as circunferências externas do íleo e do reto (Tab. 2) eram esperadas. Constituem, em última análise, a compensação volumétrica do intestino delgado, relativa à remoção do intestino grosso que é cerca de três vezes menor do que o delgado. Quando comparadas às circunferências dos órgãos correspondentes nos suínos abatidos com idade e peso similares em granjas comerciais, as diferenças não foram significativas. Quando foram comparadas as circunferências do íleo e do reto dos animais operados, as diferenças foram significativas, o mesmo ocorrendo entre as do íleo e do reto dos animais jovens abatidos nas granjas. Do ponto de vista cirúrgico, nos animais operados a diferença representava apenas 1,5cm, em média. O tipo de sutura por pontos simples separados e a intervalos regulares foi adequado para justapor as bordas do íleo e do reto e compensou a diferença de diâmetros no local da anastomose. A anastomose íleo-retal término-terminal em suínos adultos não sugere ser a ideal, considerando-se a circunferência do reto dos suínos normais abatidos. Os dados da Tab. 2 indicaram que a anastomose íleo-retal pode ser praticada até três meses de idade, sem a necessidade de ampliação do diâmetro do íleo ou redução do diâmetro do reto.

Quanto ao desenvolvimento ponderal dos suínos anastomosados, vários fatores podem ser levados em consideração. Salientam-se a redução inicial do peso em cerca de 12% pela ausência do intestino grosso e seu conteúdo, pelas perdas hidroeletrolíticas não compensadas nas três primeiras semanas do pós-operatório, pelo estresse cirúrgico, pelo metabolismo de drogas, pela mudança de manejo e adaptações do intestino delgado na tentativa de compensar ou minimizar a ausência do intestino grosso. O crescimento e o ganho de peso foram considerados insuficientes, considerando-se que entre 15 e 21 dias do pós-operatório os animais pesavam o equivalente ao dia da cirurgia e aos 161 dias da cirurgia ou 228 dias de idade pesavam em média 71,3kg. Uma vez que a anastomose íleo-retal determina redução de crescimento e de ganho de peso menor em relação a suínos normais (Köhler et al., 1992), tais efeitos podem ser atribuídos diretamente à exérese do intestino grosso nesta pesquisa. Entretanto, os suínos foram considerados saudáveis, adaptados à nova condição e passaram a integrar um experimento sobre digestibilidade. Para a recomposição dos pesos iniciais é aconselhável a utilização de suínos a partir da terceira ou quarta semana do pós-operatório, ocasião em que não é evidente o desconforto induzido pela dermatite.

As informações obtidas na literatura apontam para a ampla variação quanto à idade e peso dos suínos destinados à cirurgia de anastomose íleo-retal (Souffrant et al., 1985; Leão et al., 1988; Laplace et al., 1989; Serrano et al., 1989, 1990; Köhler et al., 1992; e Redlich et al., 1997). Com base na presente pesquisa, admite-se que suínos com mais de 15kg podem ser submetidos à ressecção do intestino grosso e anastomose íleo-retal término-terminal, desde que as circunferências externas dos órgãos sejam compatíveis com o tipo de sutura empregado.

Os resultados das culturas bacterianas do material obtido em diferentes locais das áreas dilatadas do intestino delgado indicaram a presença de flora bacteriana que, em condições normais, não afeta a saúde dos animais. Em geral, tais colônias são encontradas nos intestinos delgado e grosso de suínos normais e carecem de importância clinica.

As modificações da forma e da situação anatômica do intestino delgado cranialmente à anastomose, conforme verificadas durante a necropsia, constituíram as observações macroscópicas mais significativas. A curvatura maior do estômago era o limite a partir da qual a alça dilatada desviava-se no sentido ventral e caudal e com menor liberdade de deslocamento em relação aos outros segmentos intestinais, sem evidenciar aderências. Pode-se afirmar que a extensão da dilatação não variou em cerca de 70% dos suínos anastomosados, considerando-se os valores entre 150 e 160cm (suínos nº 1550, 1561, 1567, 1568, 1569, 1571 e 1577; Tab. 3). Tais resultados sugerem que o intestino delgado dos suínos com anastomose íleo-retal término-terminal tende a limitar a dilatação das alças intestinais a valores em torno de 150cm, aproximadamente aos 230 dias de idade e 160 dias da cirurgia. As demais alterações encontradas à necropsia não foram consideradas decorrentes das anastomoses.

Quanto à avaliação microscópica, a redução da espessura das paredes do intestino delgado, compreendendo a lâmina muscularis mucosa e as camadas musculares e da mucosa do reto remanescente, foi o achado mais freqüente em decorrência de hipotrofia. As adaptações intestinais desenvolvidas de modo a compensar a ausência do intestino grosso resultaram na dilatação dos segmentos mais distais do intestino delgado e conseqüente adelgaçamento das alças. O fato parece se relacionar com o efeito produzido pela estase do conteúdo, mantendo as alças distendidas e hipotônicas e diminuindo a peristalse. As alterações histológicas observadas pouco diferem das mencionadas por Redlich et al. (1997).

As dilatações intestinais representam o modo como os suínos anastomosados supriram a ausência do intestino grosso e se adaptaram à nova condição de metabolismo para garantirem a sobrevivência. O intestino delgado, por ser o principal órgão onde ocorrem a digestão e absorção dos alimentos, é impelido a compensar as perdas representadas por enterectomias parciais. As ressecções do jejuno ou do íleo, por exemplo, não produziram alterações significativas no crescimento e no consumo alimentar de suínos por efeito de compensações morfológicas (Laplace, 1975) e foram mais observada no segmento distal do íleo (Laplace, 1980). O mecanismo pelo qual isso ocorre depende de vários fatores, dos quais participam o nervo vago e o eixo hipotalâmico-hipofisário (Laplace, 1980). Na presente pesquisa, não se tratou de ressecção intestinal segmentar, mas sim da ressecção do intestino grosso, exceção feita a 10-12cm do reto, o que conduz à impossibilidade de o órgão compensar perdas em si mesmo por meio de hipertrofia. Contudo, não se pode descartar completamente a hipótese de que a dilatação segmentar do intestino delgado, em face da ausência do intestino grosso, ocorra de modo similar, uma vez que permanecem o estimulo vagal e as funções do eixo hipotalâmico-hipofisário.

CONCLUSÕES

A ressecção do intestino grosso anastomose íleo-retal em suínos jovens é tecnicamente exeqüível e permite a sobrevivência dos animais por período adequado à utilização dos animais em pesquisas sobre digestibilidade. A sutura do tipo Swift com fio de seda promove adequada justaposição das bordas da anastomose e permite compensar pequenas diferenças entre os diâmetros do íleo e do reto. A remoção do intestino grosso produz adaptações morfofuncionais intestinais marcantes e determina redução do desenvolvimento corporal e do ganho de peso. O período requerido para a adaptação digestiva limita a utilização imediata dos animais em experimentos de digestibilidade.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jul 2002
  • Data do Fascículo
    Abr 2002

Histórico

  • Recebido
    24 Nov 2000
  • Aceito
    12 Set 2001
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