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Hipospadia perineal em um cão: relato de caso

Perineal hypospadias in a dog: case report

Resumos

A hipospadia é uma anomalia congênita da genitália externa, na qual a uretra peniana termina ventral e caudalmente à sua abertura normal. Pode ser classificada, com base na localização da abertura uretral, como glandular, peniana, escrotal, perineal e anal. O objetivo deste trabalho é relatar um caso raro de hipospadia perineal, em que são abordados seus aspectos clínicos e terapêuticos, em um cão macho, sem raça definida, com seis meses de idade. Um canino com histórico de suspeita de hermafroditismo e presença de um orifício, logo abaixo do ânus, pelo qual urinava foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante o exame físico, foi observado o meato uretral localizado ventralmente ao ânus, além de alterações no prepúcio, pênis e escroto. Foram realizados exames de triagem, tais como: hemograma completo, urinálise, ecografia abdominal e uretrocistografia. O cão foi encaminhado para a cirurgia, quando foi submetido à amputação peniana e prepucial total e também à orquiectomia. O canino recebeu antibioticoterapia, analgésicos, anti-inflamatório e limpezas diárias dos pontos e da região perineal e apresentou excelente recuperação pós-operatória. Após 30 dias da cirurgia, o paciente retornou ao hospital, e foi verificada completa cicatrização da ferida cirúrgica, sem sinais de infecção urinária e inflamação ou assaduras na região perineal. A hipospadia perineal é um caso raro de anomalia uretral congênita, ainda pouco documentada em medicina veterinária. O procedimento cirúrgico realizado demonstrou ser importante, uma vez que removeu toda a genitália externa defeituosa, onde, futuramente, poderiam desenvolver-se infecções e/ou inflamações. Com isso, minimizou as complicações dessa doença e melhorou a qualidade de vida do paciente.

anomalias congênitas; uretra; defeitos desenvolvimentares; canino


Hypospadias is a congenital anomaly of the external genitalia, where the penile urethra finishes its normal opening ventrally and caudally. It can be classified based on the location of the urethral opening as glandular, penile, scrotal, perineal and anal. The aim of this work was report an uncommon case of perineal hypospadias, working on the clinical and therapeutic aspects in a six-month-old male dog of undefined race. A dog with a history of suspected hermaphroditism and presenting a hole below the anus by which it urinated, was rescued at the Veterinary Teaching Hospital of the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS). During the physical exam, it was observed that the urethral meatus was situated ventrally to the anus. Foreskin, penis and scrotum alterations were also seen on the dog. Screening exams such as complete blood count, urinalysis, abdominal ultrasound and cystourethrography were done. The dog went straight to surgery, where it had total penile and total preputial amputation and also orchiectomy. The canine showed excellent postoperative recovery, receiving antibiotic therapy, analgesics, anti-inflammatories and daily cleaning on stitches and the perineal region. Thirty days after surgery the patient went back to the Hospital presenting a complete healing of the surgical wound, without reporting signs of urinary infection and inflammation or rashes on the perineal region. The perineal hypospadias is a rare case of urethral congenital anomaly, still not well documented by veterinary medicine. The surgical procedure done demonstrated to be important, since there was the removal of all of the defective external genitalia where, in the future, inflammation and infection could develop, decreasing the complications of this disease and improving this patient's quality of life.

congenital anomalies; urethra; developmental defects; canine


INTRODUÇÃO

A hipospadia é uma anomalia congênita da genitália externa, na qual a uretra peniana termina ventral e caudalmente à sua abertura normal (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.). Pode ser classificada, com base na localização da abertura uretral, como glandular, peniana, escrotal, perineal e anal (Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.). A etiologia desse distúrbio ainda é desconhecida, contudo fatores teratogênicos ou hereditários podem afetar a produção de andrógenos ou a ligação aos seus receptores, comprometendo o desenvolvimento da uretra nos machos (Meyers-Wallen, 2001MEYERS-WALLEN, V.N. Anormalidades heredadas del desarrollo sexual en perros y gatos. IVIS. International Veterinary Information Service. 2001. Disponível em: <http://www.ivis.org/advances/concannon/meyers_es/ivis.pdf>. Acessado em 06/2011.
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).

O diagnóstico definitivo é baseado na observação do desenvolvimento anormal da uretra peniana, do pênis, do prepúcio e do escroto, além de dados da anamnese, descartando-se os diagnósticos diferenciais. Pseudo-hermafroditismo, hermafroditismo verdadeiro, fístula ou traumatismos uretral, persistência do frênulo peniano e hipoplasia peniana fazem parte dos diagnósticos diferenciais (Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.). Os sinais clínicos possíveis incluem incontinência urinária, assadura da região do períneo por urina e consequente pioderma, além de infecções persistentes ou recorrentes do trato urinário (Matthews, 2008MATTHEWS, H.K. Doenças da Uretra. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. (Eds). Manual Saunders de clínica de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2008. p.943-950.).

Os defeitos mínimos (próximos à extremidade peniana) podem não exigir nenhuma cirurgia uretral (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.). Em outros casos, aconselha-se a reconstrução (com ou sem amputação peniana). Em pacientes com orifício prepucial formado incompletamente e hipospadia na glande, é necessária a reconstrução prepucial. Recomenda-se a excisão dos genitais externos no caso dos principais defeitos de desenvolvimento, que envolvem uretra, prepúcio e pênis. É indicada a castração de animais afetados (Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.). O tratamento cirúrgico de escolha, nos casos de hipospadias severas, é a excisão total da genitália externa e o desvio do fluxo urinário por meio de uma uretrostomia (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.).

O objetivo deste trabalho é relatar um caso raro de hipospadia perineal, em um cão, macho, sem raça definida (SRD), com seis meses de idade, em que são abordados seus aspectos clínicos e terapêuticos.

CASUÍSTICA

Um canino, SRD, macho, seis meses de idade e massa corporal de 8kg, foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS) com histórico de suspeita de hermafroditismo e presença de um orifício, logo abaixo do ânus, pelo qual urinava. A proprietária também relatou incontinência e infecções urinárias (hematúria e odor forte na urina) e interesse sexual diante de fêmeas da mesma espécie. No exame físico, observou-se o meato uretral localizado ventralmente ao ânus (Fig. 1), além de severas alterações no prepúcio, pênis e escroto. O pênis apresentava-se subdesenvolvido e com desvio ventral (Fig. 2); o prepúcio estava ventralmente incompleto, e o escroto dividido (Fig. 3).

O canino foi submetido a exames de triagem, tais como: hemograma completo, urinálise, ecografia abdominal e uretrocistografia. O hemograma apresentou discreta leucocitose (leucócitos totais = 21.200/µL), mantendo-se os demais parâmetros de acordo com os valores de referência para a espécie. A urinálise evidenciou infecção do trato urinário inferior, pela presença de acentuado número de leucócitos (5-20/campo) e bactérias (2+) visualizados no exame do sedimento. Na ecografia, observaram-se testículos ectópicos no subcutâneo e ausência de alterações nos demais órgãos abdominais inspecionados. Além disso, por meio desse exame, não foi visualizado tecido ovariano, e, como o paciente não apresentava sinais clínicos (ambiguidade genital, características heterossexuais) compatíveis com a patologia de que a proprietária suspeitava, descartou-se a possibilidade de se tratar de um caso de hermafroditismo. A uretrocistografia retrógrada (Fig. 4), com contraste positivo, confirmou a ausência de uretra peniana cranialmente ao seu meato próximo ao orifício anal.

Diante das alterações observadas no exame clínico e dos resultados dos exames complementares, firmou-se o diagnóstico de hipospadia perineal. Dessa forma, o paciente foi encaminhado para a realização dos procedimentos cirúrgicos de amputação peniana e prepucial total, devido aos defeitos de desenvolvimento do pênis e do prepúcio, e de orquiectomia dos testículos retidos no subcutâneo, conforme as técnicas já descritas em literatura (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.; Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.) (Fig. 5). Não foi realizada nenhuma técnica de uretrostomia, uma vez que não havia tecido uretral nos locais onde são, preferivelmente, realizadas as uretrostomias caninas (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.; Smith, 1998SMITH, C.W. Afecções Cirúrgicas da Uretra. In: SLATTER, D. (Ed). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Manole, 1998. p.1737-1749.; Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.).

O canino apresentou excelente recuperação pós-operatória, recebendo antibioticoterapia, analgésicos, anti-inflamatório e limpezas diárias dos pontos e da região perineal. Decorridos 10 dias da cirurgia, o animal retornou ao HCV-UFRGS para revisão clínica e remoção dos pontos cutâneos. No 30º dia pós-cirúrgico, fez-se novamente uma revisão do paciente, o qual demonstrou completa cicatrização da ferida cirúrgica, sem apresentar sinais de infecção urinária e inflamação ou assaduras na região perineal.

DISCUSSÃO

O paciente apresentava hipospadia, uma doença congênita, de machos, raramente observada em cães, na qual a uretra se abre ventral e caudalmente ao orifício normal (Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.). A etiopatogenia ainda não está completamente elucidada. O desenvolvimento do sistema urinário possui íntima relação com o sistema reprodutor e com a genitália externa. Durante a gestação, ocorre a diferenciação do tubérculo e das pregas genitais em direção ao aparelho reprodutor masculino ou feminino, de acordo com a presença ou não do hormônio sexual masculino. A base etiopatogenia da hipospadia pode ser caracterizada por deficiência de testosterona durante a fase crítica da morfogênese. Assim, além da hipoplasia dos corpos cavernosos, pode ocorrer o desenvolvimento anormal da uretra peniana, do pênis, do prepúcio e do escroto (Volpato et al., 2010VOLPATO, R.; RAMOS, R.S.; MAGALHÃES, L.C.O. et al. Afecções do pênis e prepúcio dos cães - Revisão de Literatura. Vet. Zootec., v.17, p.312-323, 2010.). No presente caso, a hipospadia diagnosticada foi classificada como perineal, cuja localização ventral ao ânus é considerada uma das mais comuns (Torres et al., 2007TORRES, J.; SATO, A.; TORRES, O. Hipospadia severa com defecto concurrente del pene, escroto y prepúcio em canino. REDVET. Rev. Electrónica Vet., v.8, p.1-3, 2007.).

As infecções urinárias recorrentes relatadas pela proprietária, provavelmente, aconteceram pela ascensão das bactérias pelo trato urinário. Isso ocorreu porque o meato uretral se encontrava logo abaixo do ânus e, durante a defecação, inevitavelmente, as fezes contaminavam esse orifício. Já a incontinência urinária pode ter sido confundida com polaquiúria, comumente observada nas infecções urinárias (Moreau e Lees, 1992MOREAU, P.M.; LEES, G.E. Incontinência, enurese e noctúria. In: ETTINGER, S.J. (Ed.) Tratado de Medicina Interna Veterinária. 3.ed. São Paulo: Manole, 1992. p.153-159.).

O hemograma evidenciou uma discreta leucocitose por neutrofilia, o que sugere uma infecção aguda. Na urinálise, foram observados bacteriúria, hematúria discreta, piúria e número aumentado de células epiteliais transicionais no sedimento urinário, o que indica que o cão apresentava uma infecção do trato urinário inferior no período pré-cirúrgico (Grauer, 2006GRAUER, G.F. Infecções do Trato Urinário. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. (Eds). Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.463-467.; Tilley e Smith, 2008TILLEY, L.P.; SMITH, F.W.K. Distúrbios do desenvolvimento sexual. In: Consulta Veterinária em 5 minutos - Espécie Canina e Felina. 3.ed. São Paulo: Manole, 2008. p.420-421.).

A ecografia abdominal confirmou os testículos ectópicos, em região de subcutâneo, devido à malformação do escroto e ao fato de este ficar dividido (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.; Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.; Torres et al., 2007TORRES, J.; SATO, A.; TORRES, O. Hipospadia severa com defecto concurrente del pene, escroto y prepúcio em canino. REDVET. Rev. Electrónica Vet., v.8, p.1-3, 2007.). Além disso, esse exame teve o propósito de pesquisar tecido ovariano na cavidade abdominal, o qual não foi visualizado, e, portanto, não foi confirmada a suspeita de hermafroditismo. Segundo a terminologia médica, um hermafrodita verdadeiro é aquele que apresenta ambos os tecidos, ovariano e testicular (Meyers-Wallen, 2001MEYERS-WALLEN, V.N. Anormalidades heredadas del desarrollo sexual en perros y gatos. IVIS. International Veterinary Information Service. 2001. Disponível em: <http://www.ivis.org/advances/concannon/meyers_es/ivis.pdf>. Acessado em 06/2011.
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; Torres et al., 2007TORRES, J.; SATO, A.; TORRES, O. Hipospadia severa com defecto concurrente del pene, escroto y prepúcio em canino. REDVET. Rev. Electrónica Vet., v.8, p.1-3, 2007.). A uretrocistografia teve a finalidade de observar o trajeto uretral até a bexiga, uma vez que a uretra não é visualizada em radiografias simples (Hurd, 2007HURD, C. Estudos de Contraste. In: HAN, C.M.; HURD, C.D. (Eds). Diagnóstico por Imagem para a Prática Veterinária. 3.ed. São Paulo: Roca, 2007. p.128-154.). Com esse exame, foi possível confirmar a suspeita de que não havia uretra peniana, não se justificando, portanto, a realização de uma uretrostomia.

Figura 1
Vista caudal da região perineal do canino, demonstrando a passagem da sonda pelo orifício uretral, localizado ventralmente ao ânus.

Figura 2
Vista ventral da região abdominal caudal do cão, na qual se pode observar o pênis subdesenvolvido e com desvio ventral (seta verde).

Figura 3
Vista ventral da região abdominal caudal, evidenciando o escroto dividido, o prepúcio incompleto ventralmente e o pênis com desvio ventral e subdesenvolvido.

Figura 4
Uretrocistografia evidenciando o trajeto uretral anormal até a bexiga. A seta (vermelha) indica o local da cateterização da uretra na região perineal.

Figura 5
Vista ventral do abdômen caudal do canino após realização dos procedimentos de amputação peniana e prepucial e de orquiectomia.

Embora o paciente apresentasse alterações severas de toda a genitália externa, o que tornava impossível o ato sexual, a produção hormonal pelos testículos proporcionou libido ao cão, durante a puberdade. Somado a isso, a hipospadia tem sido descrita como um defeito familiar em algumas raças de cães (Meyers-Wallen, 2001MEYERS-WALLEN, V.N. Anormalidades heredadas del desarrollo sexual en perros y gatos. IVIS. International Veterinary Information Service. 2001. Disponível em: <http://www.ivis.org/advances/concannon/meyers_es/ivis.pdf>. Acessado em 06/2011.
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; Tilley e Smith, 2008TILLEY, L.P.; SMITH, F.W.K. Distúrbios do desenvolvimento sexual. In: Consulta Veterinária em 5 minutos - Espécie Canina e Felina. 3.ed. São Paulo: Manole, 2008. p.420-421.). As raças descritas com maior frequência são Pinscher, Cocker Spaniel, Collie, Doberman e Dinamarquês (Gobello et al., 2003GOBELLO, C.; DE LUCA, J.C.; CORRADA, Y. et al. Penile hypospadia in a rottweiler: a case report. Analecta Vet., v.23, p.38-41, 2003.; Angeli et al., 2007MATTHEWS, H.K. Doenças da Uretra. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. (Eds). Manual Saunders de clínica de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2008. p.943-950.). Por essas duas razões, foi realizada a orquiectomia, uma vez que não se recomenda a reprodução dos animais afetados (Meyers-Wallen, 2001MEYERS-WALLEN, V.N. Anormalidades heredadas del desarrollo sexual en perros y gatos. IVIS. International Veterinary Information Service. 2001. Disponível em: <http://www.ivis.org/advances/concannon/meyers_es/ivis.pdf>. Acessado em 06/2011.
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; Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.).

A técnica cirúrgica escolhida nesse caso foi a amputação total peniana e prepucial, além da orquiectomia, já que se recomenda a excisão dos genitais externos no caso dos defeitos de desenvolvimento que envolvam o pênis, o prepúcio e o escroto (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.; Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.; Torres et al., 2007TORRES, J.; SATO, A.; TORRES, O. Hipospadia severa com defecto concurrente del pene, escroto y prepúcio em canino. REDVET. Rev. Electrónica Vet., v.8, p.1-3, 2007.). Não se realizou a uretrostomia, também indicada nos casos de hipospadias severas com defeitos uretrais maiores (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.), uma vez que não havia tecido uretral nos locais onde são, preferivelmente, realizadas as uretrostomias caninas (Hobson, 1996HOBSON, H.P. Procedimentos Cirúrgicos Penianos. In: BOJRAB, M.J. (Ed). Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. São Paulo: Roca, 1996. p.397-402.; Smith, 1998SMITH, C.W. Afecções Cirúrgicas da Uretra. In: SLATTER, D. (Ed). Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Manole, 1998. p.1737-1749.; Hedlund, 2005HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.).

A hipospadia perineal é um caso raro de anomalia uretral congênita, ainda pouco documentada em medicina veterinária. O exame físico detalhado, para detectar malformações concomitantes, bem como os exames complementares foram de grande valia para se estabelecer o diagnóstico definitivo, descartar outras doenças e escolher o método terapêutico mais eficaz. O procedimento cirúrgico realizado demonstrou ser importante, porque removeu toda a genitália externa defeituosa, onde, futuramente, poderiam desenvolver-se infecções e/ou inflamações. Assim. minimizou as complicações dessa doença e melhorou a qualidade de vida do paciente.

REFERÊNCIAS

  • ANGELI A.L.; ROCHA, T.M.M.; MAIA R. et al. Perineal hypospadia in male english bulldog: first report. Acta Sci. Vet., v.35, p.591-592, 2007.
  • GOBELLO, C.; DE LUCA, J.C.; CORRADA, Y. et al. Penile hypospadia in a rottweiler: a case report. Analecta Vet., v.23, p.38-41, 2003.
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  • HEDLUND, C.S. Cirurgia do Trato Reprodutivo Masculino. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p.648-672.
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  • MOREAU, P.M.; LEES, G.E. Incontinência, enurese e noctúria. In: ETTINGER, S.J. (Ed.) Tratado de Medicina Interna Veterinária. 3.ed. São Paulo: Manole, 1992. p.153-159.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    11 Fev 2013
  • Aceito
    16 Dez 2013
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