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Primeira ocorrência de Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. para o Brasil

First record of Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. from Brazil

Resumos

Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. foi coletado em manguezais da Ilha de Algodoal-Maiandeua, no litoral do Pará, em maio/1999, sobre tronco em decomposição de Rhizophora mangle L., constituindo este o primeiro registro da espécie para o Brasil.

Phellinus mangrovicus; Hymenochaetaceae; manguezais; Brasil


Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. was collected in mangroves of the Algodoal-Maiandeua Island, Pará, Brazil, in May/1999, on bark of Rhizophora mangle L. in decomposition, this constituting the first record of the species from Brazil.

Phellinus mangrovicus; Hymenochaetaceae; mangroves; Brazil


PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE PHELLINUS MANGROVICUS (IMAZ.) IMAZ. PARA O BRASIL1 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor

Ezequias Lopes de Campos2 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor

Maria Auxiliadora Queiroz Cavalcanti2 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor

Recebido em 04/02/2000. Aceito em 27/04/2000

RESUMO ¾ (Primeira ocorrência de Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. para o Brasil). Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. foi coletado em manguezais da Ilha de Algodoal-Maiandeua, no litoral do Pará, em maio/1999, sobre tronco em decomposição de Rhizophora mangle L., constituindo este o primeiro registro da espécie para o Brasil.

Palavras-chave¾Phellinus mangrovicus, Hymenochaetaceae, manguezais, Brasil

ABSTRACT ¾ (First record of Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. from Brazil). Phellinus mangrovicus (Imaz.) Imaz. was collected in mangroves of the Algodoal-Maiandeua Island, Pará, Brazil, in May/1999, on bark of Rhizophora mangle L. in decomposition, this constituting the first record of the species from Brazil.

Key words¾Phellinus mangrovicus, Hymenochaetaceae, mangroves, Brazil

Introdução

O ecossistema manguezal apresenta ampla distribuição geográfica no Brasil, ocupando grande parte de seu litoral (Sant'Anna & Whately 1981). Apesar de sua extensão e importância, este ecossistema é ambiente pouco explorado em relação à micota, porém, nos poucos trabalhos envolvendo fungos macroscópicos, considerando a baixa diversidade de fungos neste ambiente (Goh & Yipp 1996), o gênero Phellinus é relativamente bem representado. Até o presente, foram citados P. mangrovicus (Imazeki 1941), P. pachyphloeus (Fidalgo 1968), P. gilvus (Kohlmeyer 1969; Sotão et al. 1991; Almeida-Filho et al. 1993), P. rimosus (Bononi 1984) e P. punctatus (Sotão et al. 1991). Este trabalho tem como objetivo relatar a segunda ocorrência ao nível mundial de P. mangrovicus, tendo em vista que o único registro até o momento foi citado para o Japão, por Imazeki (1941).

Material e métodos

A Ilha de Algodoal-Maiandeua situa-se no litoral nordeste do Estado do Pará, no município de Maracanã, entre as coordenadas geográficas de 00°35'03" a 00°38'29"S e 47°31'54" a 47°34'57"W e possui área de 2.378ha (Bastos 1996).

A espécie, dentre outras dezenove estudadas, foi coletada em manguezais da Ilha de Algodoal-Maiandeua-PA em maio/1999.

No campo, os espécimes foram coletados manualmente com auxílio de uma faca e acondicionados em sacos de papel. No laboratório, foram feitas anotações relativas à cor das superfícies abhimenial e himenial, do contexto, dos tubos e da margem, utilizando-se a carta de cores de Maerz & Paul (1950), e anotações relativas à espessura, comprimento e largura do basidioma. Na preservação e herborização seguiu-se Fidalgo & Bononi (1984).

Para a observação microscópica do material, foram feitos cortes à mão livre dos basidiomas com lâminas de aço inixodável. Os cortes foram acondicionados em lâminas de vidro contendo hidróxido de potássio 3% e corados com floxina 1%, segundo a técnica de Martin (1934). Também foi utilizado o reagente de Melzer, segundo Singer (1951), para observação da reação amilóide ou dextrinóide dos basidiosporos, hifas e outras microestruturas.

Os espécimes foram depositados no Herbário "Padre Camilo Torrend" (URM) do Departamento de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Resultados e discussão

Phellinus mangrovicus(Imaz.) Imaz., Bull. Forest Exp. Sta. Meguro 57: 114. 1952.

Basiônimo: Fomes mangrovicus Imaz., J. Jap. Bot. 17: 176. 1941.

(Fig. 1)


Basidioma anual, séssil, 1,8-9,0 x 1,4-5,8 x 1,3-5,3cm. Píleo conchado, imbricado, lenhoso. Superfície abhimenial glabra a velutina, zonada, profundamente sulcada, MP16A12 (Biskra Date), MP16C10, MP16C8, MP16H9. Margem lobada, inteira, marrom MP16A12 (Biskra Date). Contexto duplex com uma linha preta fina a espessa bem distinta, concolor com a margem, 0,2-0,3cm espesso. Superfície himenial poróide com poros circulares a angulares, ferrugínea MP12H6 (Roe), MP12E5 (Indian Buff), MP12I5, 5-6 poros por mm. Sistema hifálico dimítico; hifas generativas septadas, sem ansas, hialinas a levemente amareladas, parede fina, 2,5-5,0mm diâm.; hifas esqueléteas castanhas, não ramificadas, tortuosas, parede espessa, 3,0-6,0mm diâm. Cistídios e setas ausentes. Basídios não observados. Basidiosporos castanhos, muito numerosos, parede espessa, lisa, ocasionalmente unigutulados, contendo em seu interior uma substância refringente, 5,0-6,5 x 5,0mm.

Espécime estudado: BRASIL, Pará: Maracanã, Manguezal da Ilha de Algodoal-Maiandeua, sobre Rhizophora mangle em decomposição, Campos & Luz XII/1998 (URM 76928).

Distribuição: Kusai, Japão (Imazeki 1941), sendo atualmente ampliada para o Brasil.

Os basidiosporos desta espécie possuem as mesmas características dos basidiosporos de Phellinus fastuosus (Lév.) Ryv., porém diferenciam-se desta última por apresentar parede ligeiramente mais espessada. Outra diferença marcante da espécie é a presença de uma linha preta dividindo o contexto, além de sulcos profundos na superfície abhimenial. De acordo com a literatura consultada, aparentemente trata-se da primeira citação fora do Japão. Imazeki (1941) descreveu esta espécie sobre Rhizophora mangle em Kusai, no Japão, sob a denominação de Fomes mangrovicus. Posteriormente, o mesmo autor transferiu o táxon para o gênero Phellinus, como P. mangrovicus (Imazeki 1952). A espécie pode ser considerada de ocorrência rara, visto que, nas coletas rea-lizadas em quatro diferentes períodos, foi somente detectada em um período (maio/1999), sobre tronco de Rhizophora mangle, coincidindo com o mesmo substrato da espécie descrita originalmente por Imazeki (1941) no Japão. Larsen & Cobb-Poulle (1990), na revisão do gênero Phellinus, consideram P. mangrovicus restrita à localidade-tipo (Kusai, Japão). As características microscópicas estão de acordo com as da espécie descrita para o Japão por Imazeki (1941). Entretanto, não há qualquer referência quanto à presença ou ausência da linha preta no contexto.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Departamento de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco pelo apoio e facilidades oferecidas; à MSc. Tatiana Gibertoni, pelo auxílio na identificação do material; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de Mestrado ao primeiro autor.

2 Departamento de Micologia, Universidade Federal de Pernambuco, Rua Prof. Nelson Chaves s/n, CEP 50760-420, Recife, PE, Brasil

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  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Ago 2001
    • Data do Fascículo
      Dez 2000

    Histórico

    • Aceito
      27 Abr 2000
    • Recebido
      04 Fev 2000
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