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Relação Pais-Filhos na Transição para a Vida Adulta, Autonomia e Relativização da Hierarquia

Parent-Child Relationship in the Transition to Adulthood, Autonomy and Relativization of Hierarchy

Resumos

O relacionamento pais-filhos modifica-se ao longo do ciclo de vida familiar. Após a adolescência, continuando a dependência dos filhos, não há uma passagem linear ao mundo adulto. Uma nova fase, a da transição para a vida adulta, é vivenciada pela família. Durante esse período, observa-se a necessidade de os pais continuarem auxiliando o processo de crescimento dos filhos. Compreender a experiência de pais, que vivenciam essa fase, é o objetivo dessa pesquisa. A metodologia qualitativa é a utilizada, entrevistando-se pais e mães de classe média, residentes no Rio de Janeiro, cujos filhos têm entre 15 e 26 anos. Conclui-se que os pais participam, oferecendo suporte à autonomia dos seus filhos jovens, relativizando a diferença hierárquica ao se aproximarem mais deles.

Relação pais-filhos; transição para a vida adulta; ciclo de vida familiar; hierarquia; autonomia


The relationship between parents and children changes throughout the family life cycle. After adolescence, as children's dependence still remains, there is no linear passage to adulthood. Hence, a new phase of transition to adult life is experienced by the family. During this period, there is the need for parents to keep supporting children's developing process. The goal of the present research is to understand parents' experience in this phase. A qualitative methodology is adopted, through interviews with middle-class mothers and fathers living in Rio de Janeiro whose children are between 15 and 26 years old. We concluded that parents participate by offering support to their young children's autonomy, while they relativize the hierarchical difference when get closer to them.

Parents-children relationship; transition to adulthood; family life cycle; hierarchy; autonomy


Ao longo do ciclo de vida familiar, os pais executam diferentes tarefas durante o crescimento dos filhos (Garey, Hansen, Hertz, & Macdonald, 2002Garey, A. I., Hansen, K. V., Hertz, R., & Macdonald, C. (2002). Care and kinship: An introduction. Journal of Family Issues, 23, 703-715.; McGoldrick & Carter, 1995McGoldrick, M., & Carter, B. (1995). As mudanças no ciclo de vida familiar. Porto Alegre, RS: Artes médicas.). De acordo com as fases do ciclo de vida, apresenta-se, a seguir, uma descrição sintética dessas tarefas, consideradas específicas para famílias de classe média de sociedades industrializadas, nas quais é enfatizada a crescente autonomia dos filhos em relação aos pais. Desse modo, começando-se pela adolescência até a idade adulta, foco do presente estudo, podem ser relacionadas as seguintes tarefas para os pais, paralelas à transformação e crescimento dos filhos: (a) adolescência - os pais têm que negociar e participar da transformação dos filhos em indivíduos que começam a tomar decisões, desenvolvendo maior autonomia; (b) jovem adulto (saindo de casa) - mudar para uma relação parental menos hierárquica; (c) jovem adulto (casando) - aceitar a escolha dos filhos quanto ao futuro cônjuge; (d) adulto (tornando-se pais) - a partir da presença de uma nova geração, os filhos têm que se adaptar à diferente participação de seus pais em suas vidas; inicia-se a construção de novas identidades, a de pais e a de avós, sendo que os últimos, a partir do contato com os netos, desenvolvem uma nova forma de se relacionar com os filhos; (e) adulto (em idade mais avançada) - os pais têm que aceitar o fato de poderem ser mais dependentes dos próprios filhos.

Entretanto, devido à continuidade da dependência dos filhos em relação aos pais após a adolescência, há uma variação no ciclo de vida, relativizando-se a visão tradicional descrita acima. Assim, deve ser acrescentada, ao ciclo vital, a transição para a vida adulta (nomeação sociológica) ou adultez emergente (emerging adulthood - nomeação psicológica), que constitui uma fase distinta, alterando a passagem direta da adolescência ao mundo adulto. Entre esses dois momentos, nessa nova fase, o jovem não é adolescente nem adulto (Arnett, 2000, 2004Arnett, J. J. (2000). Emerging adulthood: A theory of development from the late teens through the twenties. American Psychologist, 55(5), 469-480.; Camarano, 2006Camarano, A. A. (Ed.). (2006). Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição? Rio de Janeiro, RJ: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.; Guerreiro & Abrantes, 2005Guerreiro, M. D., & Abrantes, P. (2005). Como tornar-se adulto: Processos de transição na modernidade avançada. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 20(58), 165-212.).

Comparando-se à geração dos pais, hoje os jovens vivenciam a instabilidade e o constante movimento de saída e entrada da casa dos pais. Muitos jovens experimentam uma variedade de estilos de vida e de relacionamentos íntimos, sem necessariamente assumirem as responsabilidades esperadas de um adulto ou deixarem a casa dos pais. Possuem autonomia para tomarem certas decisões, sem o ônus da completa independência. Por exemplo, podem arriscar-se em uma relação amorosa, sabendo que podem voltar para a casa dos pais, comportamento típico dos jovens bumerangues (Mitchell, 2006Mitchell, B. (2006). Changing courses: The pendulum of family transitions in comparative perspective. Journal of Comparative Family Studies, 37(3), 325-343.). A situação do mercado de trabalho e a exigência de uma prolongada formação profissional, paralelamente, não oferecem garantias de total independência dos pais. Portanto, nas sociedades industrializadas, a transição para a vida adulta é marcada pela incerteza, indefinição e complexidade (Arnett, 2000, 2004Arnett, J. J. (2000). Emerging adulthood: A theory of development from the late teens through the twenties. American Psychologist, 55(5), 469-480.; Arnett & Taber, 1994Arnett, J. J., & Taber, S. (1994). Adolescence terminable and interminable: When does adolescence end? Journal of Youth and Adolescence, 23(5), 517-537.).

A percepção de maior instabilidade para a juventude de hoje é amplificada ao se traçar um paralelo com uma suposta estabilidade da família tradicional, já que havia maior previsibilidade quanto à entrada na vida adulta. Entretanto, supondo que, mesmo na família tradicional, não haja um momento de estabilidade completa, pode-se observar a diversidade e as flutuações presentes, especialmente na transição para a vida adulta. Desse ponto de vista, ao relativizar o modelo tradicional (Ponciano, 2002Ponciano, E. L. T. (2002). Família nuclear e terapia de família: Conexões entre duas histórias. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 2(2), 39-56.; Ponciano & Féres-Carneiro, 2003Doyle, A. B., & Moretti, M. M. (2000). Attachment to parents and adjustment in adolescence: Literature review and policy implications (CAT number 032ss. H5219-9-CYH7/001/SS) . Ottawa, Canada: Health Canada, Child and Family Division.), o comportamento dos jovens pode ser compreendido como uma fase e não um impedimento ou bloqueio no desenvolvimento. É preciso, portanto, investigar como essa fase, mais diversificada e incerta do que nas gerações anteriores, tem afetado a relação entre pais e filhos, enquanto a independência e a autonomia são alcançadas paulatinamente.

Não se deve esquecer também que há diferenças entre as classes sociais e os grupos culturais, variando o tempo e o modo como os jovens vivenciam a transição para a vida adulta (Camarano, 2006Camarano, A. A. (Ed.). (2006). Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição? Rio de Janeiro, RJ: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.; Camarano, Leitão, Pasinato, & Kanso, 2004Camarano, A. A., Leitão, J. M., Pasinato, M. T., & Kanso, S. (2004). Caminhos para a vida adulta: As múltiplas trajetórias dos jovens brasileiros. Última Década, 21, 11-50.; Cerveny & Berthoud, 1997Cerveny, C. M. de O., & Berthoud, C. M. E. (1997). Família e ciclo vital: Nossa realidade em pesquisa. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.; Féres-Carneiro, 2005Féres-Carneiro, T. (2005). Conjugalidade dos pais: Possíveis influências no projeto de casamento dos filhos. In Anais do Simpósio Nacional de Psicologia Social do Desenvolvimento (pp. 89-99). Vitória, ES: Universidade Federal do Espírito Santo.; Gitelson & McDermott, 2006Gitelson, I. B., & McDermott, D. (2006). Parents and their young adult children: Transitions to adulthood. Child Welfare, 85(5), 853-866.; Guerreiro & Abrantes, 2005Guerreiro, M. D., & Abrantes, P. (2005). Como tornar-se adulto: Processos de transição na modernidade avançada. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 20(58), 165-212.; Pais, Cairns, & Pappámikail, 2005Pais, J. M., Cairns, D., & Pappámikail, L. (2005). Jovens europeus: Retrato da diversidade. Tempo Social, 17(2), 109-140.). Quanto ao comportamento dos jovens hoje, a variedade é o resultado da soma de diferentes fatores, dentre eles, os recursos econômicos e sociais que determinam a capacidade de tomar decisões e fazer escolhas de vida.

Para os jovens de países industrializados, os anos finais da adolescência até o período dos vinte anos são muito importantes e de profundas mudanças. Muitos obtêm o nível de educação e de treinamentos necessários para a vida laboral. As possibilidades de mudança são variadas no trabalho e no amor, sendo exploradas diferentes visões de mundo. No final dos vinte anos, muitos jovens fizeram escolhas de vida que têm ramificações duradouras, mas até lá viverão um período de intensa experimentação. Os jovens podem experimentar mais livremente que os adolescentes, porque são menos monitorados pelos pais, e mais livres que os adultos, porque são menos constrangidos por papéis sociais. O uso de drogas, por exemplo, tende a aumentar durante e no final dos vinte anos e tende a diminuir com o casamento e a paternidade, que trazem as responsabilidades do mundo adulto (Arnett, 2000Arnett, J. J. (2000). Emerging adulthood: A theory of development from the late teens through the twenties. American Psychologist, 55(5), 469-480.).

A sexualidade também é um campo a ser explorado com liberdade pelo jovem, que experimenta e conhece várias possibilidades, antes de um compromisso sério. A exemplo disso, nos anos de 1980, no Brasil, o ficar difundiu-se como um novo modo de relacionamento, oferecendo ao jovem a oportunidade de ampliar o contato com parceiros variados, em uma noite ou por um breve instante, não tendo, necessariamente, repercussões para o futuro (Heilborn, Cabral, Bozon, & Grupo GRAVAD, 2006 Heilborn, M. L., Cabral, C. S., Bozon, M., & Grupo GRAVAD. (2006, 20 set.). Gênero e carreiras sexuais e reprodutivas de jovens brasileiros. Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Caxambu, MG.). O jovem, caracterizando o seu mundo pela experimentação, busca-se conhecer, construindo sua autonomia individual, adotando comportamentos independentes de sua família de origem, em um mundo desconhecido pelos pais.

Ainda assim, o jovem prolonga sua permanência na casa paterna, fazendo com que esse processo de maior autonomia e de independência seja vivido no interior da família. Enquanto não assume completamente a vida adulta, a relação com os pais sofre modificações. A principal mudança é uma maior aproximação entre eles, sendo estabelecido um relacionamento de maior reciprocidade e respeito mútuo, tendendo mais à igualdade do que à hierarquia (Singly, 1996, 2000Singly, F. (1996). Le soi, le couple et la famille. Paris: Nathan.). A relação de dependência e/ou independência é alternada conforme a situação e a necessidade dos filhos. Os pais continuam oferecendo suporte financeiro e emocional, principalmente quando não há condições favoráveis de entrada no mercado de trabalho e quando as relações amorosas são instáveis, não definindo um projeto de casamento e de saída da casa paterna.

Consequentemente, os pais assistem a um aumento de complicações quanto ao desempenho de suas tarefas, já que não há uma previsibilidade durante a transição para a idade adulta. A adolescência dos filhos chega ao fim, mas não há uma diminuição da participação dos pais e de suas responsabilidades. É preciso continuar auxiliando os filhos no desenvolvimento de maior autonomia emocional e financeira. Portanto, da adolescência à vida adulta, os pais mantêm um importante papel para o crescimento dos filhos, podendo facilitar e encaminhar essa transição (Doyle & Moretti, 2000Doyle, A. B., & Moretti, M. M. (2000). Attachment to parents and adjustment in adolescence: Literature review and policy implications (CAT number 032ss. H5219-9-CYH7/001/SS) . Ottawa, Canada: Health Canada, Child and Family Division.; Gitelson & McDermott, 2006Gitelson, I. B., & McDermott, D. (2006). Parents and their young adult children: Transitions to adulthood. Child Welfare, 85(5), 853-866.; Gower & Dowling, 2008Gower, M., & Dowling, E. (2008). Parenting adult children: Invisible ties that bind? Journal of Family Therapy, 30(2), 425-437.; Reichert & Wagner, 2007Reichert, C. B., & Wagner, A. (2007). Considerações sobre a autonomia na contemporaneidade. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 7(3), 46-59.; Sampaio, 2004Sampaio, D. (2004). Inventem-se novos pais: Construindo uma relação mais sólida e confiável entre pais e filhos. São Paulo, SP: Gente.).

Enfatiza-se, assim, a importância da conexão com figuras parentais para o desenvolvimento saudável do jovem, apesar de serem diminuídas as atividades em conjunto e as interações entre pais e filhos nesse período da vida (Larson, Richards, Moneta, & Holmbeck, 1996Larson, R. W., Richards, M. H., Moneta, G., & Holmbeck, G. C. (1996). Changes in adolescents' daily interactions with their families from ages 10 to 18: Disengagement and transformation. Developmental Psychology, 32, 744-754.). O apego seguro e a conexão emocional com os pais facilitam o incremento da autonomia (Ryan & Lynch, 1989Ryan, R. M., & Lynch, J. H. (1989). Emotional autonomy versus detachment: Revisiting the vicissitudes of adolescence and young adulthood. Child Development, 60, 340-356.). O encorajamento parental e a presença de seu suporte são importantes para a tomada de decisão e a solução de problemas dos filhos jovens. O processo de diferenciação não acontece sem os pais, mas com eles. Desse modo, a relevância da relação pais e filhos, ligando a infância, a adolescência e a idade adulta, é destacada. A participação dos pais fomenta a autonomia em um contexto de disponibilidade e de presença. Por conseguinte, independentemente das mudanças ocorridas nas interações pais e filhos, ao longo do ciclo vital é importante que os pais continuem sendo uma fonte de apego seguro, trabalhando o equilíbrio continuado entre a conexão e o aumento da autonomia (Fuligni & Eccles, 1993Fuligni, A. J., & Eccles, J. (1993). Perceived parent-child relationships and early adolescents' orientation towards peers. Developmental Psychology, 29, 622-632.; Hauser, 1984; Moore, 1987Hauser, S. T. (1984). Familial contexts of adolescent ego development. Child Development, 55, 195-213.). Desse modo, é relevante investigar como a mudança no relacionamento pais-filhos, durante a transição para a vida adulta, tem ocorrido no Brasil, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo dessa investigação é o de compreender a experiência de pais e mães de classe média, cujos filhos têm entre 15 e 26 anos. Caracteriza-se como um estudo exploratório, que empregou metodologia qualitativa, entrevistando-se pais e mães com filhos nessa faixa etária, cuja relevância está na discussão desse tema a partir da experiência dos entrevistados. A partir da análise dos dados dessa pesquisa, portanto, busca-se contribuir para a inserção de uma realidade, a brasileira/carioca, no campo de estudos da transição para a vida adulta e da transformação do relacionamento pais-filhos. Nesse sentido, destaca-se a crítica de que 96% das amostras estudadas advêm da Europa e dos EUA, mas correspondem apenas a 12% da população mundial (Arnett, 2008, 2011, 2012Arnett, J. J. (2008). The neglected 95%: Why American psychology needs to become less American. American Psychologist, 63, 602-614.; Henrich, Heine, & Norenzayan, 2010Henrich, J., Heine, S., & Norenzayan, A. (2010). The weirdest people in the world? Behavioral and Brain Sciences, 33, 61-135.).

Para compreender como mães e pais de jovens cariocas estão vivenciando a transição para a vida adulta dos seus filhos, procura-se investigar as experiências vividas, os significados atribuídos a esse momento em que diminui a previsibilidade para o comportamento dos jovens e, ainda, que tipo de suporte oferecem, enquanto seus filhos não se tornam adultos. Dessa forma, pretende-se compreender uma nova fase do desenvolvimento pessoal e familiar, destacando como ocorre a transformação do papel parental.

Método

Participantes

Foram realizadas 25 entrevistas, distribuídas da seguinte forma: treze entrevistas somente com mães (onze separadas e duas casadas), sete com casais e cinco com pais (três separados e dois recasados). As mães e os pais entrevistados separadamente não tinham relações entre si e os casais entrevistados eram pais dos mesmos filhos. Ao todo, 32 pessoas foram entrevistadas.

O maior número de entrevistas feitas somente com a mãe provavelmente se deve à maior disponibilidade das mesmas para falar de seus filhos. Já as entrevistas feitas com o casal dependeram da organização das mães para a participação dos pais. Por sua vez, os pais apresentaram maior dificuldade para participar, geralmente justificada por falta de tempo ou compromissos de trabalho. Não havia uma determinação inicial de se fazer a entrevista com um ou outro, acolhendo-se a disponibilidade das pessoas que se voluntariavam. Dessa forma, as entrevistas foram iniciadas com as pessoas que se dispunham, caracterizando-se o predomínio numérico da mãe. Ao notar a prevalência de um discurso que excluía o pai como um participante ativo na vida dos filhos, mesmo nas entrevistas feitas com o casal, fez-se a opção pela realização de mais cinco entrevistas somente com pais, em separado da mãe de seus filhos, buscando ativamente encontrá-los. Essas últimas entrevistas enriqueceram a pesquisa, obrigando a releitura das entrevistas anteriores.

A faixa etária dos filhos foi inicialmente delimitada entre 15 e 26 anos, mas foi abrangida uma faixa de idade um pouco para menos ou para mais, devido à presença de filhos com idades variadas na mesma família. Entretanto, o foco da entrevista manteve-se na idade anteriormente definida. A delimitação de idade procurou abranger a entrada no Ensino Médio, cujo término precede o vestibular, caracterizando a escolha profissional como o início de um compromisso para a vida adulta, e a saída da graduação, cuja característica é a entrada formal no mercado de trabalho, marcando os passos para a independência financeira. Abrangeu-se, assim, uma faixa etária maior do que a delimitada, por exemplo, por Arnett (2004)Arnett, J. J. (2004). Emerging adulthood: The winding road from the late teens through the twenties. New York: Oxford University Press. para essa fase: dos 18 aos 25 anos, compreendendo que não há uma clara delimitação de quando termina a adolescência e começa a vida adulta, variando de acordo com parâmetros socioculturais (Arnett & Taber, 1994Arnett, J. J., & Taber, S. (1994). Adolescence terminable and interminable: When does adolescence end? Journal of Youth and Adolescence, 23(5), 517-537.). Desse modo, é observada a passagem da adolescência à entrada na vida adulta. Os demais critérios para a seleção dos entrevistados foram: pertencerem à classe média e serem moradores da cidade do Rio de Janeiro, definindo uma amostra cujas características tendem a se alinhar com a expectativa de maior autonomia para os filhos, a partir da adolescência. A quantidade de 25 entrevistas confirmou-se à medida que essa amostra demonstrou ser suficientemente abrangente e representativa para a análise do discurso dos sujeitos desse segmento social, sem pretensões à generalização.

Todas as mães e todos os pais entrevistados têm formação universitária, sendo que nem todos exercem a profissão, sustentando-se com outras atividades. Quatro pais e uma mãe são aposentados. Quanto à formação dos filhos: os mais novos têm o projeto de ingressar na universidade; os mais velhos já estão cursando; poucos estão formados e no início da carreira. Quanto ao número de filhos: quatro famílias têm apenas um filho; a maioria (13 famílias) tem dois filhos; quatro famílias têm três filhos; três famílias têm quatro filhos e uma família tem cinco filhos.

A idade dos filhos variou entre 01 e 38 anos, mas a maior parte dos filhos encontra-se na faixa definida para a pesquisa: entre 15 e 26 anos. As 25 famílias somam o total de 59 filhos, sendo a maioria do gênero feminino. Apenas três filhos não moram nem com o pai nem com a mãe: um filho de 26 anos, recentemente, mudou-se para outro estado para iniciar um novo emprego, uma filha de 25 anos casou-se recentemente e mora em outro estado, e um rapaz de 26 anos que, buscando maior independência, foi morar em outro estado. Do total dos filhos, 2% encontram-se entre 1 e 10 anos, 51% entre 11 e 20 anos, 39% entre 21 e 26 anos e 8% com mais de 26 anos. A idade dos pais variou entre 40 e 67 anos. Dos 32 pais entrevistados, 50% encontram-se na faixa dos 40 anos, 41% na faixa dos 50 e 9% na faixa dos 60 anos.

Delineamento, Instrumentos e Procedimentos

Os entrevistados foram indicados por conhecidos diretos e indiretos dos pesquisadores envolvidos, após a divulgação por e-mail das características dos participantes. Com as pessoas indicadas, contatadas por telefone e por e-mail e que concordaram em participar, as entrevistas foram marcadas no local de maior facilidade para as mesmas, sendo considerada a privacidade necessária. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). As entrevistas foram gravadas, após leitura e assinatura, pelos participantes, de um termo de consentimento, que informava o tema da pesquisa, a preservação do anonimato e a possibilidade de entrar em contato com a pesquisadora responsável, caso necessário. Não houve recusa à participação dentre os indivíduos contatados e que aceitaram marcar a entrevista.

Foi feita uma entrevista-piloto com a primeira mãe indicada e contatada por telefone, a fim de validar o roteiro elaborado, seguindo os procedimentos acima descritos. Por fim, para a realização de todas as entrevistas, foi elaborado um roteiro semiestruturado que abordou os seguintes temas: identificação objetiva dos componentes da família e dos entrevistados (sexo, idade, formação e profissão); história da relação pais e filhos - da infância à adolescência; características da relação atual com os filhos; percepções quanto ao estilo de vida dos filhos; percepções quanto à participação na vida dos filhos; expectativas quanto ao futuro (dos filhos e da relação com eles). Os tópicos foram construídos de forma aberta, a fim de que os entrevistados narrassem livremente a sua experiência.

Os entrevistados foram nomeados identificando os componentes de suas famílias com letras e siglas, marcando a posição de cada um no grupo familiar, sendo M de mãe, P de pai, Fov de filho mais velho, Fav de filha mais velha, Fom de filho do meio, Fam de filha do meio, Foc de filho caçula, Fac de filha caçula, Fou de filho único e Fau de filha única. Ao destacar um fragmento, as abreviações M ou P são relativas à entrevista feita somente com o pai ou somente com a mãe, e a abreviação MP é relativa à entrevista feita com o casal. As famílias foram numeradas de 1 a 25 e as abreviações são seguidas do número correspondente a cada família.

As entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo (Bardin, 2008Bardin, L. (2008). Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições Setenta.), utilizando-se a técnica de análise temática, que consiste em desmembrar o texto em eixos temáticos, estabelecendo núcleos de sentido, apresentados e discutidos a seguir. Para a eleição desses temas, de acordo com o objetivo da pesquisa, foi realizada uma "leitura flutuante", demarcando núcleos de sentido de cada entrevista (decifração estrutural) e, posteriormente, estabelecendo relações entre elas, a partir da repetição de alguns temas significativos. A partir dessa leitura, foram estabelecidos os temas cuja predominância no discurso dos entrevistados é afetivamente significativa, sendo relacionados à descrição da experiência de serem pais de jovens. Essa eleição, portanto não ocorreu por um critério estatístico e sim clínico (compreensão a partir da narrativa), estando de acordo com uma das possibilidades técnicas de análise de conteúdo, proposta por Bardin (2008)Bardin, L. (2008). Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições Setenta..

Resultados e Discussão

A partir da leitura e análise do discurso dos entrevistados, emergiram os seguintes eixos temáticos:

  1. Mundo dos jovens: o que os pais sabem sobre a vida de seus filhos?;

  2. Conflitos: da mentira à negociação;

  3. Sobre o futuro: meu filho, um adulto?;

  4. Pai/mãe de jovens: a predominância feminina;

  5. Separação: a diferença com o pai;

  6. Como estar próximo(a) dos(as) filhos(as): a importância da conversa;

  7. Ajudar a crescer / a se virar: a conquista da independência.

Para essa discussão, foram excluídas as categorias 4 e 5 que são apresentadas e analisadas em outro trabalho.

Mundo dos Jovens: O que os Pais Sabem sobre a Vida de Seus Filhos?

Os pais entrevistados hesitaram em afirmar com toda convicção que sabem o que se passa com os filhos, quando estes estão se divertindo à noite. Atribuem os perigos ao contexto social, mas desconhecem como seus filhos comportam-se nesse contexto. O uso de drogas, por exemplo, é uma preocupação, sobretudo porque os pais não têm absoluta certeza sobre a experiência dos filhos. Nesse sentido, ainda se pode falar de uma diferença entre gerações e da presença de segredos, que indicam o afastamento entre as experiências dos filhos jovens e a possibilidade de conhecimento e compreensão dos pais. Portanto, o tema "mundo dos jovens" define-se em oposição ao mundo dos pais, podendo haver contato entre eles a partir da troca de informações.

Uma das mães exemplifica o modo como os pais se aproximam do mundo dos jovens, pelo fornecimento de informações, a partir do celular: "Só mesmo para me dar notícias. Eu fico tranquila" (M3). Há também a distinção desses mundos pelo uso de palavras que indicam contextos muito diferentes: enquanto a filha está na night (e não na "discoteca"- termo primeiramente usado pela mãe, que depois se corrige), a mãe é acordada várias vezes à noite, para ficar tranquila, sabendo que a filha está bem. Night e noite são dois termos que designam a vivência de experiências muito diferentes: a da filha, divertindo-se, e a da mãe, à espera de notícias. Referindo-se ao comportamento da filha na night, a mãe remete-se ao uso de drogas, afirmando saber que a filha bebe, mas não sabe detectar se há algum problema e, nesse caso, quais drogas estariam sendo usadas: "Que eu saiba de maconha, drogas também nunca. . . . Também não sei, porque não tenho o menor contato. Nunca experimentei" (M3). As dúvidas que a mãe apresenta são remetidas à sua falta de experiência, que indica, igualmente, o afastamento do mundo e da experiência dos jovens.

A relação amorosa e a sexualidade são temas presentes nas trocas de informação entre pais e filhos, mas ainda podem ser faladas com algumas reservas, principalmente com o pai. Ainda que a troca não seja completamente aberta, os pais podem dar algumas dicas, orientando e prevenido problemas ocasionados pela atividade sexual, como no relato a seguir:

Então, eu disse pra ela: "atenção!". Porque ela, Fav, não tinha aquela vacina do HPV. . . A mais nova também já está tomando, com 16 anos, e ela, a Fav, namora no quarto, namora aqui na sala e eu dou umas tossidas antes de entrar na sala à noite, principalmente, porque, às vezes, estou na rua e eles estão aqui no maior namoro, aqui no sofá. E ai eu chego tossindo "tô chegando". . . . o meu marido é uma pessoa muito tranquila [também]. (M12)

A respeito da sexualidade ainda há uma forte distinção de gênero. As mães participam mais, recebendo algumas informações ou ajudando a tomar decisões, principalmente com suas filhas mulheres. Os filhos homens costumam dividir com as mães aspectos emocionais de sua vida amorosa, geralmente quando têm dúvidas ou estão em crise no relacionamento.

A troca de informações entre pais e filhos sobre a vida amorosa/sexual remete à tentativa de proximidade, a partir de um tema tradicionalmente considerado tabu. Já a night aparece como uma distinção, marcando o mundo dos jovens para onde os pais não vão, mas podem ter todas (ou quase todas) as informações trazidas pelos filhos, comunicando-se pelo celular (Nicolaci-da-Costa, 2007Nicolaci-da-Costa, A. M. (2007). Celulares: Um "presente do céu" para mães de jovens. Psicologia e Sociedade, 19(3), 108-116.). Ainda assim, há o distanciamento da experiência, já que os pais não têm como saber tudo que ocorre com os filhos enquanto se divertem, especialmente no que se refere ao uso de drogas (Doyle & Moretti, 2000Doyle, A. B., & Moretti, M. M. (2000). Attachment to parents and adjustment in adolescence: Literature review and policy implications (CAT number 032ss. H5219-9-CYH7/001/SS) . Ottawa, Canada: Health Canada, Child and Family Division.; Gitelson & McDermott, 2006Gitelson, I. B., & McDermott, D. (2006). Parents and their young adult children: Transitions to adulthood. Child Welfare, 85(5), 853-866.; Gower & Dowling, 2008Gower, M., & Dowling, E. (2008). Parenting adult children: Invisible ties that bind? Journal of Family Therapy, 30(2), 425-437.).

Conflitos: Da Mentira à Negociação

Os conflitos entre pais e filhos, sobre as saídas, as festas e a realização das tarefas escolares podem ser resolvidos a partir, principalmente, de duas estratégias: a mentira, mais presente na adolescência, e a negociação, que tende a aumentar à medida que o jovem caminha para a vida adulta. Por conseguinte, o tema "Conflitos", a partir das estratégias de solução encontradas, define o modo como pais e seus filhos jovens se afastam e se aproximam.

O relato a seguir exemplifica a preocupação de um pai com a sua filha de 15 anos que, começando a sair de casa sozinha, mente para fazer o que é proibido. Esse pai é separado e soube da mentira pela mãe. Quando encontrou com a filha, no fim de semana, resolveu adotar uma estratégia de aproximação gradual e pela conversa, orientando, mais do que dando bronca, o que já havia sido feito pela mãe:

Por exemplo, a Fac agora resolveu que ia pro baile funk lá na . . . e não avisou a ninguém. . . . Domingo sentei ela aqui: "vem cá, me conta a sua versão dessa história...". As amigas, com quem ela foi, uma eu não conheço, mas a outra ela faz o que ela quer, ela mente o tempo todo e "não é assim que vai acontecer comigo nem com sua mãe". . . Eu acho que até certo ponto ela vai ter que andar um pouco vigiada, porque é uma fase complicada. (P17)

O pai parece perceber que as mentiras da filha têm ligação com a busca de uma maior autonomia, mas, buscando maior proximidade, esse pai estabelece a hierarquia e a necessidade do controle.

Os conflitos parecem ocorrer mais entre pessoas com pensamentos e desejos diferentes do que entre gerações. Há alguns conflitos e muita negociação, o que suaviza a distinção geracional. A negociação, por vezes, sugere uma indistinção e uma possível troca de papéis. A hierarquia entre pais e filhos não é completamente abolida, mas ela é intercambiável em um processo relacional pautado pela negociação e pela maior proximidade (Singly, 1996, 2000Singly, F. (1996). Le soi, le couple et la famille. Paris: Nathan.). Quando não há a possibilidade de negociação, a fim de evitar o conflito, a alternativa é a mentira, que, paradoxalmente, define uma distinção hierárquica entre pais e filhos. Observa-se, assim, a mentira como uma forma de burlar a lei, quando não é possível definir uma pauta para a negociação das regras.

A mentira pode ser um caminho que os adolescentes encontram para dar espaço a um campo de pensamentos e de atividades no qual não querem o acesso dos pais. Quando adolescentes e seus pais têm diferentes visões sobre o limite apropriado para o exercício da autonomia, uma possível resposta é o conflito; outra, mentir. Se os pais tentam exercer influência sobre um aspecto da vida que o adolescente vê como não sendo um assunto para eles, o(a) filho(a) pode se sentir justificado(a) a mentir, com o objetivo de evitar o conflito e preservar a sua autonomia. Com o passar dos anos, concepções e comportamentos ligados à mentira para os pais tendem a mudar. Para o jovem, em transição para a vida adulta, a mentira tende a diminuir sua frequência à medida que os pais permitem maior autonomia e exercem menos controle, aumentando a intimidade entre pais e filhos e permitindo a aceitação das diferenças (Singly, 1996, 2000). Por consequência, com o aumento da proximidade, mais se criam oportunidades para a negociação, diante de um desacordo e/ou um conflito (Finkenauer, Engels, & Meeus, 2002Finkenauer, C., Engels, R. C. M. E., & Meeus, W. (2002). Keeping secrets from parents: Advantages and disadvantages of secrecy in adolescence. Journal of Youth and Adolescence, 31(2), 123-136.; Jensen, Arnett, Feldman, & Cauffman, 2004Jensen, L. A., Arnett, J. J., Feldman, S., & Cauffman, E. (2004). The right to do wrong: Lying to parents among adolescents and emerging adults. Journal of Youth and Adolescence, 33(2), 101-112.).

O relato a seguir trata do leve surgimento de um conflito, resolvido com um breve processo de negociação encabeçado pela mãe e incentivado pelo pai, que sente pena de não atender ao desejo de sua filha caçula de 15 anos, mesmo que ela não esteja correspondendo à exigência de tirar notas melhores na escola. Com nostalgia, a mãe, obtendo a anuência do pai, recorda a criação que tiveram, baseada na autoridade dos pais.

M - Então, a gente teve uma criação diferente. Primeiro, porque a gente morava no interior . . . e segundo, a gente foi criado numa época . . . que as coisas tinham limites, os pais... tinham muito mais... força de autoridade, não tinha aquela relação de amizade, que a gente tem hoje. Então, a gente pensa assim, hoje em dia, nós temos uma postura diferente porque nós somos amigos, né? . . . aí a gente fez uma barganha, porque dói muito você tirar as coisas deles, mas tem que acontecer. . . . [devido ao boletim vermelho] "Então . . . não tem encontro com as amigas. Não vai. Vai ficar fazendo resumo de Filosofia", que eu tinha pedido. E aí o pai: "É uma pena, saber que está todo mundo lá". [risos] A gente não cedeu, a gente fez uma...

P - Na realidade, a gente fica mais...

M - é, ele é mais mole...

P - mais maleável nesse ponto. Fico com pena das crianças. A gente não pode realmente educar... Hoje, fiz uma pergunta para o Fov [que tem 18 anos]. Se ele sabe a diferença entre liberdade e amizade... (MP13)

A negociação remete ao questionamento da autoridade parental, fazendo com que pai e mãe também precisem discutir com os filhos qual é a diferença entre liberdade, amizade e autoridade. Fica a pergunta: qual é o limite entre amizade e autoridade numa família em que são todos iguais e pode-se falar e negociar abertamente, sem reservas? A mãe, no final do exemplo acima, diz saber que os filhos têm os seus segredos, o que sinaliza para a possibilidade de nem tudo ser falado e/ou ser colocado à mesa para a negociação. Os filhos podem estar tomando decisões e agindo sem a participação dos pais, o que indica que há um processo de diferenciação, que se dá pelo afastamento dos pais, podendo existir segredos, mentiras e omissões.

Sobre o Futuro: Meu Filho, um Adulto?

Esse tema remete ao sentido de que os filhos são vistos como adultos em alguns aspectos e, em outros, não. Assim, a entrada na vida adulta é adiada, porque os filhos ainda não estão preparados. O que define essa preparação que possibilitará o alcance do status de adulto? Segundo os entrevistados, a formação profissional e a independência financeira parecem ser as respostas necessárias para uma definição quanto ao futuro. Enquanto isso, não há um marcador que determine a entrada definitiva na vida adulta e a relação com os filhos prolonga-se indefinidamente em uma situação de (semi) dependência.

O relato, a seguir, apresenta o diálogo entre mãe e pai, suas diferentes posições e suas dúvidas quanto à independência dos filhos e, consequentemente, quanto ao futuro.

M - Ela [Fam] ficou autônoma entre aspas. . . . Ela dá um grito da mulher que trabalha, que faz, acontece, que tudo, mas que é extremamente... [dependente] . . . O mais velho andou fazendo umas bobagens aí, gastando mais do que devia com a namorada que arrumou e ele [o pai] fica revoltado, mas termina que cobre, que dá um jeito . . . eu acho que a gente pode proteger, mas passar assim, não está ensinando a nenhum dos três . . .

P - Eu acho que essa dependência deles é muito ligada também à questão financeira. Eu acho que, tendo uma condição financeira que dê para se autossustentarem, eles vão mudar muito.

M - Mas, até chegar a essa condição financeira, vai ter que ter um amadurecimento.

P - [sobre a relação de dependência dos filhos] Filho é filho até a gente ir fazer companhia a Dercy Gonçalves. (MP19)

Segundo o pai, a situação de dependência parece só ter solução com a morte dos pais. Assim, o projeto de se sustentar sozinho, casar e ter filhos, característico do ciclo de vida tradicional (McGoldrick & Carter, 1995McGoldrick, M., & Carter, B. (1995). As mudanças no ciclo de vida familiar. Porto Alegre, RS: Artes médicas.), não é visto, nem pelos pais nem pelos filhos, como urgente. É preciso preparar-se e aprender a viver de uma forma independente, experimentando estilos de vida alternativos, com o auxílio dos pais (Arnett, 2000, 2004Arnett, J. J. (2000). Emerging adulthood: A theory of development from the late teens through the twenties. American Psychologist, 55(5), 469-480.).

Os pais entrevistados esperam manter a ligação com os filhos ao longo dos anos e tiveram dificuldades de imaginar seus filhos, no futuro, casados e completamente independentes. O relato da mãe abaixo é o único mais extenso a esse respeito, talvez porque um dos seus filhos já esteja casado:

As minhas expectativas são que a gente esteja juntos como a gente está até hoje nos dias das mães, a gente esteja junto no aniversário dela, no aniversário dele, no Natal. Esses momentos de família. Que a gente, realmente, seja essa família unida como a gente foi até ela constituir a família dela. (M5)

Diante desse relato único, surge a pergunta: será que os pais estão se acostumando a terem seus filhos debaixo de suas asas por mais tempo? Não se trata de defender o distanciamento dos pais e sim de se considerar como vai ocorrer a passagem para a vida adulta, à medida que os filhos prolongam a dependência dos pais e não há mais previsibilidade para esse momento de passagem (Doyle & Moretti, 2000Doyle, A. B., & Moretti, M. M. (2000). Attachment to parents and adjustment in adolescence: Literature review and policy implications (CAT number 032ss. H5219-9-CYH7/001/SS) . Ottawa, Canada: Health Canada, Child and Family Division.; Gitelson & McDermott, 2006Gitelson, I. B., & McDermott, D. (2006). Parents and their young adult children: Transitions to adulthood. Child Welfare, 85(5), 853-866.; Gower & Dowling, 2008Gower, M., & Dowling, E. (2008). Parenting adult children: Invisible ties that bind? Journal of Family Therapy, 30(2), 425-437.). Essa passagem, portanto, deve ser pensada como um momento no qual pais e filhos se preparam para entrarem juntos em uma nova fase, que culmina com os filhos adultos, sem necessariamente dispensar a participação dos pais, mas sim, trazendo uma nova perspectiva para o papel parental (Arnett & Taber, 1994Arnett, J. J., & Taber, S. (1994). Adolescence terminable and interminable: When does adolescence end? Journal of Youth and Adolescence, 23(5), 517-537.; Reichert & Wagner, 2007Reichert, C. B., & Wagner, A. (2007). Considerações sobre a autonomia na contemporaneidade. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 7(3), 46-59.).

Como Estar Próximo dos(as) Filhos(as):

A Importância da Conversa

Esse tema remete à aproximação entre pais e filhos, identificando a especificidade da interação cotidiana a partir da conversa. Pai e mãe se aproximam dos filhos de modos diversos, mas a conversa é enfatizada por ambos.

Eu senti que naquele momento, em que ela tava passando por esse processo [estresse], era muito mais importante eu pegar ela, abraçar, colocar ela com a cabeça no meu colo, conversar com ela, mas de uma forma carinhosa, mostrando a ela como ela tá fazendo com a vida dela e tal . . . no dia-a-dia eu sinto mais que a gente é mais amiga do que esse papel de mãe e filha. Do Fom . . : "Mãe, o que que você acha? Eu queria fazer um curso assim, assim. O que você acha disso?" Aí, eu tô explicando pra ele como mãe, o que eu acho daquilo. . . . Hoje em dia, eu acho assim que existe uma troca muito grande. Em momentos eu tenho que ser a mãe, em outros momentos eu tenho que ser a amiga. (M18)

Essa proximidade, nomeada, por vezes, como amizade, é alcançada durante as diversas tentativas de comunicação. Ainda assim, está presente uma indefinição quanto à especificidade dessa conversa que relativiza a hierarquia e o papel parental (Singly, 1996, 2000Singly, F. (1996). Le soi, le couple et la famille. Paris: Nathan.). No relato anterior, a mãe conta como se aproxima dos filhos nos momentos em que estão estressados e/ou tendo que tomar decisões, enfatizando que tem uma relação de troca com eles. O relato abaixo retrata a insistência de uma mãe para se aproximar da filha por meio da conversa, ao mesmo tempo querendo reconhecer o direito da filha de ser diferente e ter maior autonomia:

Que a gente pratique: "Eu não tô querendo que você me dê todas as respostas. Não. Eu tô querendo praticar com você o ato de conversa". E só praticando que a gente vai derrubando os muros . . . "Eu tô aprendendo. Eu aprendi muitas coisas com você". Do jeito de lidar, né? (M9)

A mãe, nesse terceiro relato, afirma que a distância geográfica, quando a filha morou por um período em outro estado, não diminuiu a proximidade entre elas, pois ambas mantiveram-se ligadas pela conversa. Mas, ao mesmo tempo, não quer que essa proximidade seja confundida com uma amizade que a retira do papel de mãe:

Mesmo de longe, a gente está ligada. Eu via que tinha sofrimento. Só fui lá uma vez. A gente tem uma... a gente tem uma ligação. . . . Eu posso dizer que, de certa forma, nós somos amigas, mas não essa amiga . . . Claro que é difícil envelhecer, mas não à custa de eu não assumir a maternidade. (M2)

O pai, cujo relato apresenta-se a seguir, é distinto por exemplificar outro tipo de abordagem. Quando um filho se afasta, pode ser necessária uma intervenção mais agressiva para depois iniciar-se uma conversa:

A gente não pode deixar o filho se isolar. Eu conheci um cara genial que pra mim era um sábio e ele teve um problema com o filho que se trancava dentro de casa e não falava. . . . E ele foi lá um dia e arrombou a porta do garoto. Literalmente, arrombou a porta e passou a conversar. E ficou na minha cabeça e eu achei o maior barato . . . e aí abriu-se um canal de comunicação. Pra mim, é muito difícil e eu sempre tentei nunca deixar essa coisa acontecer. (P21)

O relato da mãe seguinte mostra que ela teve dificuldades de acompanhar seu filho, enquanto ele tinha um estilo de vida muito diferente do dela. Ela tentava estar próxima do filho, organizando festas e recebendo os seus amigos, considerados diferentes, mas não conseguia ter uma proximidade suficiente para dar conselhos e orientar, o que foi relatado também por autores como Larson et al. (1996)Larson, R. W., Richards, M. H., Moneta, G., & Holmbeck, G. C. (1996). Changes in adolescents' daily interactions with their families from ages 10 to 18: Disengagement and transformation. Developmental Psychology, 32, 744-754., Moore (1987)Moore, D. W. (1987). Parent-adolescent separation: The construction of adulthood by late adolescents. Developmental Psychology, 23, 298-307.e Ryan e Lynch (1989)Doyle, A. B., & Moretti, M. M. (2000). Attachment to parents and adjustment in adolescence: Literature review and policy implications (CAT number 032ss. H5219-9-CYH7/001/SS) . Ottawa, Canada: Health Canada, Child and Family Division.. Hoje, quando o filho tem 24 anos, ele se aproxima mais dela e é possível dar-lhe sugestões e ajudá-lo a fazer escolhas:

Olha, eu acho que ele está mudando, porque na época que ele era adolescente ele tinha muito aqueles amigos meio nerd, esquisitões, literalmente esquisitões, né? . . . e esses amigos, que ele ficou muito nessa época, são muito fechados. . . . Então, têm alguns... que ele fez uma banda, ele . . . toca guitarra, eles iam para um estúdio e ele ficava injuriado porque ele é muito certinho, muito correto. . . . Então, ele chegava lá com tudo já estudado e os outros chegavam atrasados . . . Então, ele está começando a deixar esses amigos e eu já até pontuei: "talvez você não esteja mais se identificando com eles". Foi uma época que ele passou, que era muito fechado. Então, eu acho que ele está mudando. Ele está mais sociável [mais próximo]. (M6)

Hoje, essa mãe pode falar o que pensa sobre o que o filho está vivendo, enquanto o filho a procura para falar de sua vida e de suas escolhas. Esse foi o relato mais nítido sobre uma diferença que quase inviabilizou a comunicação. Outros pais falaram das escolhas diferentes dos filhos, como ter um cabelo pintado com várias cores ou fazer escola de circo, mas não chegaram a mencionar um distanciamento que impedisse orientar essas escolhas. Por ser extremo, esse relato ajuda a compreender que a orientação que os pais podem oferecer aos filhos depende da proximidade que conseguem estabelecer com eles, principalmente, a partir da conversa, que sinaliza para a relativização da hierarquia, ainda que se mantenha a distinção entre pais e filhos.

Ajudar a Crescer / a se Virar: A Conquista da Independência

O tema "ajudar a crescer / a se virar" define-se pela ajuda que os pais pretendem oferecer para que seus filhos se tornem independentes. Portanto, uma das preocupações dos pais refere-se à necessidade de ajudar os seus filhos a crescerem:

Você saiu com a intenção, com a motivação de ser independente, autônoma. Eu não quero você aqui por menos do que isso. Você vai voltar? Eu quero ver você com essa mesma intenção . . . Você não precisa sair daqui de casa pra ser isso aí. Você pode ser isso aí morando aqui comigo. (M22)

No primeiro relato, a mãe conta a história do retorno de sua filha para a casa materna, após uma tentativa de morar com uma amiga, o que durou cerca de um mês. Ela aceita a filha de volta, mas ressalta a necessidade desta continuar desenvolvendo-se de forma autônoma, sem precisar sair de casa, sendo essa uma das formas de se identificar que houve o alcance de maior independência (Noom, Dekovic, & Meeus, 2001Noom, M. J., Dekovic, M., & Meeus, W. (2001). Conceptual analysis and measurement of adolescent autonomy. Journal of Youth and Adolescence, 30(5), 577-595.). O relato do pai, a seguir, diferencia-se, por não aceitar que pode haver independência morando na casa dos pais. O pai conta uma história cuja moral defende: quem quiser ser rei tem que morar em sua própria casa. Na casa do pai, fica-se enquanto há um projeto profissional e não é possível ser independente para fazer o que bem entender:

Ficar aqui querendo ser independente e morando na minha casa é uma coisa que é incompatível. . . . Se quiser ter a sua vida, você vai morar em outro lugar. . . . Pode ficar na minha casa, se tiver um projeto [profissional]. . . . Pode ficar, mas nada disso de ficar achando que se é dono da casa. . . . A casa é minha. (P24)

O pai seguinte parece concordar com o anterior, já que ressalta a independência implicando ganhar o próprio dinheiro e ter a própria casa. A diferença entre eles, porém, encontra-se no fato de que o primeiro aceita que as filhas permaneçam em casa enquanto estão em formação e o segundo pai não compreende tal situação da mesma forma. Esse pai percebe uma diferença geracional, ao sinalizar para a lentidão com que os filhos saem de casa hoje, identificando uma acomodação devido ao conforto de permanecer na casa paterna:

Você só é livre, se você é independente. Enquanto você é dependente de grana, você não é totalmente livre. . . . Eu tinha isso. Meu pai me dava dinheiro e eu não aceitava. Minha mãe queria fazer chantagem comigo e eu tinha que dizer... eu não posso dizer não, se eu tô recebendo dinheiro, entendeu? . . . eu acho que eles são muito lerdos hoje. . . . eles estão amadurecendo muito mais devagar. . . . Na minha época, se fazia qualquer loucura para se ficar livre da casa, dos pais. Hoje, não. . . . (P21)

O relato a seguir exemplifica o surgimento da autonomia em uma idade precoce. O filho mais velho dessa família de cinco filhos, hoje com 24 anos, trabalhando e residindo em outro estado, desde cedo é o responsável por algumas tarefas domésticas, assumindo o cuidado com seus irmãos mais novos. Provavelmente, por ter essa experiência, surpreendeu a mãe, ao surgir com uma proposta na infância de uma autonomia mais arrojada.

M - Com sete anos ele [Fov] me chamou para conversar e falou assim "Eu quero conversar com você". . . . então, ele chegou perto de mim . . . aí sentei e ele sentou do meu lado muito sério, que ele é. . . . Aí ele disse: "Eu vou fazer sete anos. Eu queria morar sozinho". . . . Aí eu tive uma reação horrível porque me veio uma emoção forte. Eu dei um murro na mesa e falei: "Tá bom! Se você tiver condições de assumir sua casa, sua comida, sua roupa, o aluguel, você vai". Aí, ele olhou para mim e com a mesma naturalidade, não esperou nem um segundo e falou: "mas eu posso ter a chave da casa para eu entrar quando chegar do judô". E aí eu disse: "Mas é claro!". Eu fiz uma festa, dei a chave para ele e ele ficou feliz.

P - Essa satisfação que ele está tendo em morar sozinho hoje, não é uma coisa que surgiu agora.

M - Pois é, pois é. (MP25)

Os pais entrevistados enfatizaram a independência que, para ser alcançada, precisará do seu apoio e incentivo, ao aceitarem que seus filhos necessitam de autonomia psicológica (Steinberg, 2001Steinberg, L. (2001). We know some things: Parent-adolescent relationships in retrospect and prospect. Journal of Research on Adolescence, 11(1), 1-19.). Se os pais não estão ali para reconhecer e modular a necessidade de autonomia de seus filhos, essa tarefa se torna mais árdua e, por vezes, deve ser realizada apesar dos pais (Sampaio, 2004Sampaio, D. (2004). Inventem-se novos pais: Construindo uma relação mais sólida e confiável entre pais e filhos. São Paulo, SP: Gente.). Tanto melhor, porém, se for possível que os filhos contem com seus pais para se tornarem adultos autônomos, independentes e responsáveis (Larson et al., 1996Larson, R. W., Richards, M. H., Moneta, G., & Holmbeck, G. C. (1996). Changes in adolescents' daily interactions with their families from ages 10 to 18: Disengagement and transformation. Developmental Psychology, 32, 744-754.; Moore, 1987Moore, D. W. (1987). Parent-adolescent separation: The construction of adulthood by late adolescents. Developmental Psychology, 23, 298-307.; Ryan & Lynch, 1989Doyle, A. B., & Moretti, M. M. (2000). Attachment to parents and adjustment in adolescence: Literature review and policy implications (CAT number 032ss. H5219-9-CYH7/001/SS) . Ottawa, Canada: Health Canada, Child and Family Division.).

Considerações Finais

A transição para a vida adulta, sendo uma fase distinta do ciclo de vida, transforma tanto o desenvolvimento do filho jovem quanto o de seus pais, acarretando mudanças para o sistema familiar como um todo. Essa recente transformação do desenvolvimento pessoal e familiar, que rompe com a expectativa de independência do filho no início dos seus vinte anos, precisa ser mais estudada, enfocando a mudança do papel dos pais, já que os filhos prolongam a sua dependência, devido à permanência na casa paterna. Não é mais a relação inicial da infância, que demandava cuidados físicos de sobrevivência, sendo caracterizada pela total dependência. Trata-se de um novo tipo de relação de cuidado que, mesmo considerando o aumento da autonomia, exerce o papel de apoio ao crescimento do filho. Esse é um desafio que se apresenta com a extensão da entrada na vida adulta: prolongada a dependência, ainda que relativa, os pais precisam criar condições para o desenvolvimento adulto dos filhos. Por conseguinte, a compreensão dessa transformação desenvolvimental pode se constituir num subsídio importante para a prática clínica com adolescentes, emergentes adultos e suas famílias, identificando alguns dos problemas vividos no cotidiano, que afetam a relação familiar e a saúde emocional de todos os envolvidos.

Com essa pesquisa, identificando uma situação característica do contexto atual das sociedades industrializadas, começa-se a compreender essa situação a partir do relato dos pais que têm enfrentado esse desafio, buscando conhecer e analisar experiência de pais e mães da classe média da cidade do Rio de Janeiro, que têm filhos entre 15 e 26 anos. Ouvir e discutir o relato dos pais entrevistados permite que sejam conhecidas histórias singulares, ao mesmo tempo em que se visa à construção de uma abordagem teórica sistemática da experiência de ser pai e mãe de jovens.

Até aqui, deve ser ressaltada a semelhança encontrada na literatura revisada, que indica a importância de uma participação ativa dos pais no período de transição para a vida adulta, cumprindo o papel de oferecer suporte para o crescimento e a autonomia dos seus filhos jovens. Esse papel não é exercido por autoridades inquestionáveis, mas por amigos, mais velhos, mais experientes, prontos a aconselhar e ajudar na tomada de decisões, o que pode prolongar a permanência dos filhos na casa dos pais, transformando a família.

Os dados refletem a situação de um grupo privilegiado de pais, apesar das dificuldades enfrentadas para encaminharem os filhos para o mundo adulto. Pesquisas ainda precisam ser empreendidas com famílias de classe popular, indicando, possivelmente, uma maior diferença em relação à literatura discutida. Nesse sentido, o limite de nossa pesquisa está em retratar, a partir do discurso dos pais, a realidade de jovens que vivem um processo de experimentação protegido e, na ausência de políticas públicas, têm, no suporte familiar, a condição de enfrentarem os obstáculos que poderiam paralisar o seu desenvolvimento. Nessa específica transição para a vida adulta, ainda que haja conflitos durante o processo, a negociação é a tônica de uma relação pais-filhos não mais baseada na autoridade e no estabelecimento de uma rígida hierarquia.

O que foi ouvido dos entrevistados, portanto, reforça a ideia de que os pais estão participando da vida de seus filhos jovens. O único tópico que parece escapar à influência direta dos pais é o uso de drogas, surgindo como um tema que envolve segredos entre pais e filhos e que precisa ser mais estudado. Seria essa área que identificaria mais nitidamente a separação entre o mundo dos jovens, caracterizado pela experimentação, e o mundo dos adultos, caracterizado pela observação e obediência às regras sociais? Essa área é uma das poucas que os pais consideram não conhecer como os filhos estão vivendo, restando quase nada que pudesse escapar do conhecimento e da participação deles. Por fim, considerando que o afastamento dos pais é paralelo à construção da identidade dos filhos jovens, questiona-se: como se daria essa construção quando os pais afirmam conhecer e estar tão próximos dos filhos? Para que essas perguntas sejam respondidas é preciso empreender outras pesquisas, investigando e discutindo essa nova fase de desenvolvimento que afeta o relacionamento pais-filhos.

Agradecimento à FAPERJ pela bolsa de Pós-doutorado Recem Doutor concedida à primeira autora.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2014

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2012
  • Revisado
    19 Dez 2012
  • Aceito
    18 Jan 2013
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