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Acumulação tecnológica e inovação industrial: conceitos, mensuração e evidências no Brasil

Resumos

Este artigo oferece uma contribuição à gestão do processo de desenvolvimento industrial no contexto de economias em desenvolvimento, particularmente no Brasil. Para isso, esclarece certas terminologias relativas a acumulação de capacidade tecnológica e inovação industrial e apresenta um modelo, acompanhado de breve aplicação prática, que pode ser usado para examinar _ e gerir _ o processo de desenvolvimento industrial.

Capacidade tecnológica; Inovação industrial; Economias em desenvolvimento


his article offers a contribution to the management of the industrial development process in the context of developing economies, particularly Brazil. The article clarifies certain terminologies relative to technological capability accumulation and industrial innovation. Finally, the article presents a metric, followed by a brief empirical application, that can be used to examine _ and manage _ the process of industrial development.

Technological capability; Industrial innovation; Developing economies


Acumulação tecnológica e inovação industrial: conceitos, mensuração e evidências no Brasil

Paulo N. Figueiredo

Ph.D. em gestão da tecnologia e inovação pela University of Sussex, Reino Unido. Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. Coordena o Programa de Pesquisa em Gestão da Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial no Brasil (Ebape/FGV). É autor do livro Technological Learning and Competitive Performance (pnf@fgv.br)

RESUMO

Este artigo oferece uma contribuição à gestão do processo de desenvolvimento industrial no contexto de economias em desenvolvimento, particularmente no Brasil. Para isso, esclarece certas terminologias relativas a acumulação de capacidade tecnológica e inovação industrial e apresenta um modelo, acompanhado de breve aplicação prática, que pode ser usado para examinar - e gerir - o processo de desenvolvimento industrial.

Palavras-chave: Capacidade tecnológica. Inovação industrial. Economias em desenvolvimento.

ABSTRACT

This article offers a contribution to the management of the industrial development process in the context of developing economies, particularly Brazil. The article clarifies certain terminologies relative to technological capability accumulation and industrial innovation. Finally, the article presents a metric, followed by a brief empirical application, that can be used to examine - and manage - the process of industrial development.

Key words: Technological capability. Industrial innovation. Developing economies.

O fim da política de substituição de importações, no início dos anos 80, e a intensificação da globalização e da liberalização comercial, durante os anos 90, contribuíram para tornar a acumulação tecnológica fator ainda mais crucial para o crescimento econômico e a competitividade internacional de países em desenvolvimento.

No Brasil, nos últimos 15 anos, tem havido uma profusão de estudos baseados em "diagnósticos", descrições, análises e propostas relativas ao papel da política tecnológica no desenvolvimento econômico e inserção da economia brasileira no mercado internacional.1Para uma breve revisão de alguns desses estudos, ver Figueiredo (2004). Porém, ainda há escassez de abordagens gerenciais para estratégias de inovação industrial do ponto de vista de acumulação de capacidade tecnológica. Observa-se ainda o uso indiscriminado de certos termos sem fundamentos analíticos e empíricos adequados, tanto no discurso como em documentos acadêmicos, governamentais e de consultoria, relativos a estratégias de inovação industrial. Isto pode conduzir, de um lado, à realização de estudos cujo foco de análise não capte adequadamente a realidade industrial e, de outro, a uma interpretação equivocada da realidade. Por conseguinte, pode deturpar e interferir negativamente no processo de desenho e implementação de estratégias de inovação industrial, tanto em nível governamental como empresarial.

CAPACIDADE TECNOLÓGICA INOVADORA: FATORES-CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Embora os benefícios da capacidade tecnológica inovadora para o desenvolvimento econômico de indústrias e países tenham sido observados, desde a Revolução Industrial, por Adam Smith, Alexis de Tocqueville e Karl Marx, foi J. Schumpeter, na década de 30, quem enfatizou a importância da inovação para o desenvolvimento econômico das nações. Também foi Schumpeter quem nos ensinou que o conceito de inovação não se restringe a produtos e processos, mas envolve novas formas de gestão, novos mercados e novos insumos de produção.

A partir da década de 50, alguns pesquisadores buscaram explicações para questões não abordadas por Schumpeter: fontes de inovação, melhoria contínua e características de empresas inovadoras. Mais especificamente, houve a emergência de um conjunto de estudos dedicados a examinar a capacidade tecnológica, os ativos específicos à empresa ou a base de conhecimento como fontes de diferenças entre empresas em termos de performance competitiva, ainda que no mesmo setor industrial. Essa perspectiva, ancorada na "abordagem baseada em recursos" gerou um conjunto de estudos inspiradores tanto conceituais como empíricos.2Ver Penrose (1959); Hollander (1965), dentre outros.

No final dos anos 70, começou a emergir um conjunto de estudos que, de maneira mais sistemática, buscava examinar o papel da mudança tecnológica no desenvolvimento industrial e econômico de países e empresas. A partir de raízes intelectuais diversas, tanto no campo da economia como da gestão, essa nova abordagem passou a ser popularmente conhecida como neo-schumpeteriana ou evolucionista.3Ver Freeman (1974; 1982); Rosenberg (1976); Rothwell (1977); Nelson e Winter (1982); Dosi (1988a; 1988b); Dietrickx e Cool (1989); Teece et al. (1990); Pavitt (1984; 1991); Pavitt e Wald (1971) e muitos outros. Vários desses estudos enfatizaram o papel da capacidade tecnológica como fonte de diferenças entre setores industriais e países, em termos de progresso industrial e crescimento econômico.

Um ponto comum nesses estudos é a rejeição à abordagem da economia ortodoxa, na qual a tecnologia era considerada meramente como informação e apenas uma variável exógena nos modelos de desenvolvimento econômico. Os estudos neo-schumpeterianos apontavam o caráter tácito e intrínseco da tecnologia como um dos fatores para explicar a impossibilidade de sua transferência automática de um contexto para outro. Isso, por sua vez, estava no seio das explicações das diferenças entre empresas e setores industriais em termos de performance técnico-econômica. Porém, tais estudos focavam tecnologia e inovação no contexto de empresas e países que já se encontravam em estágio avançado de industrialização.

Desenvolvimento Tecnológico no Contexto de Economias em Crescimento

No final dos anos 70, sob a influência intelectual da "abordagem baseada em recursos" e da "perspectiva neo-schumpeteriana", emergiu um conjunto de estudos sobre o desenvolvimento tecnológico em empresas de países em desenvolvimento - ou de industrialização tardia. Mais especificamente, no início dos anos 70, a pesquisa sobre tecnologia em países em desenvolvimento adotou uma perspectiva dinâmica. Deixando de lado o ponto de vista estático dos economistas ortodoxos - os quais também argumentavam a inexistência de atividades tecnológicas inovadoras em empresas de economias em desenvolvimento - os novos estudos concentram-se nas mudanças ao longo do tempo na tecnologia e na maneira como as empresas implementavam tais mudanças (STEWART; JAMES, 1982). Esses novos estudos, que tiveram origem na América Latina sob a liderança de Jorge Katz, deram grande atenção às mudanças na capacidade tecnológica das empresas ao longo do tempo.4Ver Katz (1976); Maxwell (1981); Dahlman e Fonseca (1978) e vários outros sumariados em Katz (1987). Em seguida, estudos similares foram desenvolvidos na Ásia (BELL et al., 1982; LALL, 1987) e alguns poucos foram implementados na África (MLAWA, 1983).5Para uma extensiva revisão desses estudos, ver Figueiredo (2001).

Durante meados dos anos 90, um novo conjunto de estudos emergiu para examinar as implicações dos processos de aprendizagem na trajetória de acumulação tecnológica de empresas de países em desenvolvimento.6Ver, por exemplo, Hobday (1995); Kim (1997; 1998); Dutrénit (2000); Figueiredo (2001). Diferentemente daqueles dos anos 70, essa nova geração de estudos examinou a base organizacional dos processos de aprendizagem e suas implicações para a acumulação tecnológica das empresas. Adotou-se, portanto, uma perspectiva muito mais ampla do que a descrição de trajetórias tecnológicas de firmas, característica dos estudos iniciais. Alguns estudos também examinaram, nas diferenças entre as empresas, o papel dos processos de aprendizagem em termos de acumulação tecnológica e aprimoramento de performance técnico-econômica (FIGUEIREDO, 2001) e o papel da cultura organizacional em termos de acumulação tecnológica (VERA-CRUZ, 2002). O exame da velocidade de acumulação tecnológica, medida em número de anos, aparece em dois estudos dessa literatura (ARIFFIN, 2000; FIGUEIREDO, 2001).

Essas literaturas têm examinado a relação entre acumulação tecnológica e inovação industrial de maneira exaustiva, tanto conceitualmente como empiricamente. Durante os últimos dez anos, houve um considerável avanço na pesquisa sobre esses temas, no contexto de empresas de economias em desenvolvimento. Os estudos têm demonstrado, com adequado grau de detalhe e profundidade se e como os processos de aprendizagem afetam a capacidade inovadora e competitiva de empresas. Os resultados, análises e recomendações gerados por tais estudos são fontes valiosas para o aprimoramento de estratégias empresariais e governamentais de melhoria da performance inovadora e técnico-econômica tanto de empresas como de países. Para a operacionalização das várias recomendações emanadas desses estudos, primeiro faz-se necessário o entendimento de duas questões-chave: o real significado do conceito "capacidade tecnológica" e a maneira apropriada de identificá-la e medi-la.

Capacidade Tecnológica: o que é, afinal?7capacidades Há uma ampla literatura na qual se busca distinguir entre os termos e capacidades tecnológicas. Mais precisamente, na língua inglesa, os diferentes termos usados são, por exemplo, capabilities, competence e competencies. Porém, não é o objetivo deste artigo discutir as diferentes perspectivas, mas apresentar a definição mais ampliada do termo capacidade tecnológica no contexto de economias em desenvolvimento. Por isso, daqui em diante, será usado apenas o termo capacidade tecnológica. Não obstante, é importante lembrar que o termo capacitação tecnológica refere-se ao processo de acumulação de capacidades tecnológicas por meio dos vários processos subjacentes de aprendizagem.

Bell e Pavitt (1993; 1995) formularam uma definição ampla, segundo a qual a capacidade tecnológica incorpora os recursos necessários para gerar e gerir mudanças tecnológicas. Tais recursos acumulam-se e incorporam-se aos indivíduos (como aptidões, conhecimentos e experiência) e aos sistemas organizacionais. Essa definição baseia-se em outras formuladas anteriormente.8Ver Katz (1976); Lall (1982; 1987); Dahlman e Westphal (1982); Bell (1982); Westphal et al. (1984); Scott-Kemmis (1988). Além disso, a capacidade tecnológica é de natureza difusa.

A partir da "abordagem baseada nos recursos específicos da firma" (PENROSE, 1959) e valendo-se de evidências empíricas, Bell (1982) faz distinção entre dois tipos de recursos: os que são necessários para usar os sistemas de produção existentes e os que são necessários para mudar os sistemas de produção. Estes últimos não devem ser tomados como um conjunto distinto de recursos especializados pois, por serem de natureza difusa, estão amplamente disseminados por toda a organização.

Em outras palavras, a capacidade tecnológica de uma empresa (ou de um setor industrial) está armazenada, acumulada, em pelo menos quatro componentes (LALL, 1992; BELL; PAVITT, 1993; 1995; FIGUEIREDO, 2001)9Essa perspectiva ampla para capacidade tecnológica também é encontrada na literatura sobre gestão da inovação no contexto de empresas inovadoras de economias industrializadas (LEONARD-BARTON, 1995). apresentados a seguir e ilustrados na Figura 1.


- sistemas técnicos físicos - referem-se à maquinaria e equipamentos, sistemas baseados em tecnologia de informação (como os bancos de dados), software em geral, plantas de manufatura;

- pessoas - referem-se ao conhecimento tácito, às experiências e habilidades de gerentes, engenheiros, técnicos e operadores que são adquiridos ao longo do tempo, mas que também abrangem sua qualificação formal. Essa dimensão tem sido geralmente denominada de "capital humano" da empresa ou do país;

- sistema (tecido) organizacional - refere-se ao conhecimento acumulado nas rotinas organizacionais e gerenciais das empresas, nos procedimentos, nas instruções, na documentação, na implementação de técnicas de gestão (total quality management - TQM; material requirement planning - MRP; just-in-time - JIT, entre outras), nos processos e fluxos de produção de produtos e serviços e nos modos de realizar certas atividades nas organizações;

- produtos e serviços - referem-se à parte mais visível da capacidade tecnológica e refletem o conhecimento tácito das pessoas e da organização e dos seus sistemas físicos e organizacionais. Por exemplo, nas atividades de desenho, desenvolvimento, prototipagem, teste, produção e na parte de comercialização de produtos e serviços, estão refletidos os outros três componentes da capacidade tecnológica.

Portanto, existe uma relação inseparável (simbiótica) entre esses quatro componentes. A capacidade tecnológica possui uma natureza não apenas disseminada, mas abrangente. Ademais, a capacidade tecnológica é intrínseca ao contexto da firma, região ou país onde é desenvolvida (PENROSE, 1959; NELSON; WINTER, 1982; DOSI, 1988a, 1988b).10Para mais detalhes sobre essa perspectiva, ver Bell e Pavitt (1993; 1995) e Bell (1996). Logo, é curioso o termo "transferência" de tecnologia. Esse termo pode transmitir a falsa idéia de que a tecnologia pode ser automaticamente transladada de um contexto para outro. No entanto, a real transferência de tecnologia de economias industrializadas para economias em desenvolvimento envolve, de um lado, a gestão da aquisição, instalação e operação da tecnologia importada. De outro, implica assegurar o engajamento da organização recipiente em um contínuo e sistemático processo de aprendizagem tecnológica. É justamente essa segunda "metade" que tende a ser negligenciada em estratégias de inovação industrial. Isso contribui para explicar o processo irregular de desenvolvimento tecnológico que tende a ocorrer em economias em desenvolvimento.

Em razão da natureza tácita e ampla da capacidade tecnológica, aqui não se faz distinção entre capacidade tecnológica e organizacional - ou entre tecnologia e organização -, já que a última é parte integrante da primeira. Porém, há uma tendência a negligenciar-se a dimensão organizacional da capacidade tecnológica.11Há uma literatura clássica sobre a relação simbiótica entre tecnologia e organização. Ver Rosenberg (1976; 1982), Salomon (1984), Pavitt (1985). Ou seja, enquanto costuma-se dar grande ênfase ao "capital humano" como fonte de desenvolvimento tecnológico, dedica-se atenção inadequada ao "capital organizacional", ou seja, à capacidade tecnológica embutida e armazenada no sistema (tecido) organizacional. A adoção de perspectivas limitadas de capacidade tecnológica (como sistema físico ou capital humano) pode ter implicações negativas para implementação de estratégias de inovação industrial. Uma das causas de resultados pífios, em termos de desempenho inovador e/ou técnico-econômico da tecnologia importada para a empresa receptora, é a "compra" de tecnologia limitada aos sistemas físicos e técnicos. Em outras palavras, estratégias industriais que enfocam apenas os elementos mais visíveis da capacidade tecnológica (oferta de capital e de sistemas físicos), sem considerar o desenvolvimento do capital organizacional, conduzem a resultados insignificantes em termos de inovação e produtividade.12Ver exemplos em Bell et al. (1982), Leonard-Barton (1995), Dutrénit (2000) e Figueiredo (2001).

Em outros casos, ainda que seja dada forte atenção ao desenvolvimento de "capital humano" para absorver a tecnologia importada, a dimensão organizacional é normalmente negligenciada. Por exemplo, em nossas atividades de trabalho de campo de pesquisa, é comum encontrarmos gerentes que afirmam que, a despeito da presença de máquinas avançadas e de engenheiros e técnicos altamente qualificados, a empresa não consegue obter inovação em produtos e serviços e nem melhorar seu desempenho técnico. Ou seja, como se costuma justificar, falta nas empresas uma "organização" para integrar esses elementos e transformar o conhecimento tácito em novos produtos e práticas de produção. Isso parece refletir, de um lado, a ausência ou inadequação de esforços para aprimorar o tecido organizacional e gerencial no qual a capacidade tecnológica da empresa é acumulada. De outro, reflete uma percepção limitada sobre o que vem a ser "capacidade tecnológica". Por exemplo, é louvável a meta brasileira de formar cerca de 10 mil doutores por ano. Porém, muito embora esse seja um elemento importante do desenvolvimento tecnológico nacional, primeiro é essencial responder a questões como: "Para que e em que áreas a oferta de tal capital humano é relevante para o país?" Em outras palavras, primeiro, é preciso saber como se pretende integrá-los aos demais componentes da capacidade tecnológica nacional.

MENSURAÇÃO DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA

No que concerne à identificação e medição da capacidade tecnológica em empresas ou setores industriais, particularmente no contexto de economias em desenvolvimento, o que é importante é não apenas identificar se essa capacidade existe ou não, mas também a direção, extensão - ou nível - e velocidade de seu desenvolvimento ou acumulação. Por isso, é preciso levar em conta o princípio básico de gestão, segundo o qual se pode gerir com eficácia aquilo que se pode medir. Antes porém, de introduzir a métrica para este fim, serão comentadas algumas das principais limitações dos indicadores convencionais para identificar e medir a capacidade tecnológica.

Indicadores Convencionais: por que são Limitados?

Indicadores relativos à base de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e patentes têm sido extensivamente usados para medir a capacidade tecnológica de empresas, setores industriais e países. Normalmente, é realizada avaliação do pessoal alocado em laboratórios de P&D, dos gastos em P&D e da intensidade da atividade de patentes internacionais registradas nos Estados Unidos como parâmetro para inovações internacionalmente reconhecidas.13Discussões detalhadas sobre a limitação desses indicadores para o contexto de empresas em economias em desenvolvimento são desenvolvidas em Bell e Pavitt (1993, 1995); Ariffin e Bell (1999); Ariffin (2000) e Figueiredo (2001; 2003a; 2003b).

Há uma vasta literatura internacional, concernente ao contexto de empresas e países tecnologicamente avançados, que mede capacidade tecnológica de firmas e indústrias, à base, por exemplo, de gastos em P&D (MANSFIELD et al., 1979), qualificações formais de indivíduos (PACK, 1987; JACOBSSON; OSKARSSON, 1995), investimentos em pessoal alocado em laboratórios de P&D (WORTMAN, 1990) e estatísticas de patentes depositadas nos EUA (PATEL, 1995; PATEL; PAVITT, 1997) e mesmo uma combinação de P&D, patentes, gastos em educação, e estatísticas de pessoal de engenharia (DANIELS, 1997). Além disso, há o Manual de Oslo (OECD, 1997) que, embora tenha avançado em relação ao padrão de medida anterior (Manual Frascati), adota como critério-chave a medição de atividades tecnológicas por meio de estatísticas de P&D.

No Brasil, a combinação de estatísticas de patentes e outras medidas quantitativas - como gastos em P&D, educação, percentual de cientistas e engenheiros qualificados e intensidade de capital - tem sido usada em alguns estudos para medir a capacidade tecnológica (MACEDO; ALBUQUERQUE, 1999; QUADROS et al., 2001; ANDREASSI; SBRAGIA, 2002; KANNEBLEY, 2003). Tais estudos são extremamente meritórios ao apresentarem uma perspectiva agregada das atividades tecnológicas em empresas no Brasil. Vários deles têm suas raízes na literatura internacional sobre fatores determinantes das atividades inovadoras no âmbito empresarial (como COHEN; LEVIN, 1989; COHEN; LEVINTHAL, 1990; KUMAR; SIDDHARTHAN, 1997).

Porém, como argumentado em Lall (1992), Bell e Pavitt (1993; 1995), Dutrénit (2000), Ariffin (2000) e Figueiredo (2001; 2003a; 2003b), há situações em que algumas dessas medidas têm suas próprias limitações e são menos relevantes pelas seguintes razões:

- indicadores relativos às atividades de P&D e de patentes são apenas prevalentes em alguns setores industriais de países tecnologicamente avançados (como por exemplo, Estados Unidos, Japão, Reino Unido e Alemanha), onde certas empresas têm níveis suficientemente profundos de P&D e intensiva produção de patentes internacionais. Logo, a aplicação desses indicadores para empresas em economias em desenvolvimento - que, em geral, não possuem níveis sofisticados de capacidade tecnológica inovadora para conduzir atividades de P&D e patentes - seria irrelevante;

- estatísticas de patentes internacionais, particularmente patentes nos Estados Unidos, são geralmente aceitas como uma medida superior de capacidade tecnológica. Estão disponíveis por longo período de tempo e fornecem detalhes estatísticos altamente quantificáveis, que poderiam ser examinados de acordo com a localização geográfica e área técnica (PATEL, 1995). Entretanto, muito embora isso seja verdadeiro, avaliar capacidades tecnológicas tendo como base essas estatísticas internacionais poderia ser limitante e tendencioso para empresas em economias em desenvolvimento que não exportam significativamente produtos especializados e de marca própria para o mercado dos EUA.

- nas empresas que operam em economias em desenvolvimento (América Latina, Ásia, África do Sul ou alguns países do Oriente Médio e Leste Europeu) é rara a incidência de laboratórios de P&D formalmente estruturados conforme os encontrados em empresas de economias industrializadas. Não obstante, atividades tecnológicas inovadoras e complexas são conduzidas através dos departamentos de engenharia, de qualidade e de manutenção. É muitas vezes nessas unidades organizacionais que está acumulada grande parte das capacidades tecnológicas inovadoras das empresas;

- a maneira como a empresa constrói a sua base organizacional influencia no sucesso ou fracasso de seu engajamento em atividades inovadoras - de básicas à P&D. Porém, as abordagens baseadas em indicadores convencionais não captam as características e elementos do tecido organizacional, no qual a capacidade tecnológica é desenvolvida, acumulada e sustentada.

- outro problema dos estudos baseados em estatísticas de indicadores convencionais é que eles examinam a capacidade tecnológica em um ponto no tempo (momento atual - snap-shot studies).14performanceÉ o caso, por exemplo, do desenho da Pintec (IBGE) e de seu desdobramento refletido no estudo 'Inovação, padrões tecnológicos e desempenho de firmas industriais brasileiras', realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. Não obstante, um dos méritos do estudo do Ipea é chamar a atenção para as implicações positivas dos esforços das empresas em 'inovação tecnológica' para a sua econômica. Tal abordagem estática não permite esclarecer como empresas desenvolveram progressivamente níveis mais profundos de capacidade tecnológica. Ou seja, não há exame do processo de acumulação tecnológica.

Subjacente à persistência do uso desses indicadores convencionais para medir capacidade tecnológica no contexto de economias em desenvolvimento, está uma perspectiva de inovação que tende a negligenciar tanto as atividades de imitação, cópia, adaptação, experimentação, como a adoção de novos produtos e processos e de novos arranjos organizacionais que são parte do processo inovador (DOSI, 1988a; 1988b; LALL, 1992). Tais atividades são essenciais para o entendimento do processo de desenvolvimento tecnológico em economias em desenvolvimento (BELL; PAVITT, 1993, 1995; DUTRÉNIT, 2000; ARIFFIN, 2000; FIGUEIREDO, 2001). Ou seja, há diversos graus de inovação - de básica a complexa - que não são captados pelos estudos à base de indicadores convencionais. Identificar a progressão por meio dos diferentes estágios de desenvolvimento tecnológico é crucial para entender a dinâmica industrial de economias e regiões em desenvolvimento. Para isso, é fundamental examinar os diferentes estágios percorridos por empresas e setores industriais.

Métrica Alternativa para Identificar e Medir a Capacidade Tecnológica

Baseando-se em Katz (1987), Dahlman et al. (1987) e Lall (1987; 1992; 1994) desenvolveu um modelo no qual as capacidades tecnológicas de uma empresa são categorizadas por funções. Tal modelo sugere que a acumulação processa-se a partir das categorias mais simples para as mais complexas.15Outros modelos descrevem as trajetórias de acumulação de capacidade tecnológica adotando perspectivas diversas. O 'ciclo reverso de produto' de Hobday (1995) está mais ligado à acumulação de capacidades para os mercados exportadores, ao passo que o modelo 'aquisição-assimilação-aprimoramento' de Kim (1997) tem mais a ver com a acumulação de capacidade para produtos do que para outros tipos de funções tecnológicas (por exemplo, equipamento, gestão de projetos, processos e organização da produção). O princípio dessa métrica começou a ser desenvolvido pelo clássico estudioso russo Alexander Gerschenkron (1962), com base na idéia de estágios de desenvolvimento no contexto de industrialização tardia. Depois, outro avanço significativo foi feito em Lall (1992) e, mais tarde, refinada em Bell e Pavitt (1995). Em Figueiredo (2001), esse modelo foi empiricamente adaptado para explicitar melhor as diferenças entre empresas do setor de aço, em termos da maneira e da taxa (velocidade) de acumulação de capacidade tecnológica e em termos de aprimoramento de desempenho técnico-econômico (ver o modelo adaptado no Quadro 1).16O processo de adaptação e validação desse modelo para sua aplicação empírica em um estudo centrado na indústria de aço levou aproximadamente um ano. As principais atividades desse processo envolveram a seleção das funções tecnológicas relevantes, a coleta e a classificação das atividades específicas para expressar os diversos níveis de capacidade tecnológica e uma contínua validação com diferentes profissionais de empresas de aço e especialistas da indústria.


Em outras palavras, o modelo permite identificar e medir a acumulação de capacidade tecnológica baseada em atividades que a empresa é capaz de realizar ao longo de sua existência. Com base nesse modelo, é possível distinguir entre: capacidades rotineiras e capacitações inovadoras. As primeiras são para usar ou operar certa tecnologia e sistemas de produção, enquanto as segundas são para adaptar e/ou desenvolver novos processos de produção, sistemas organizacionais, produtos, equipamentos e projetos de engenharia (isto é, para gerar e gerir a inovação tecnológica).

O Quadro 1 apresenta um exemplo do modelo modificado para aplicação empírica. Embora essa adaptação tenha sido feita, inicialmente, para a indústria do aço, o modelo tem sido utilizado para estudos de desenvolvimento tecnológico em outros setores industriais, como será apresentado com mais detalhes a seguir.17Ver, por exemplo, Ariffin (2000) e Ariffin e Figueiredo (2003) para a indústria eletrônica; Tacla e Figueiredo (2003) para indústria de bens de capital fornecedora de sistemas de produção para a indústria de celulose e papel. Uma adaptação para a indústria de motocicletas e bicicletas foi realizada em Figueiredo (2005). No âmbito do Programa de Pesquisa em Gestão da Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial no Brasil, da Ebape/FGV, adaptações têm sido feitas em estudos empíricos de desenvolvimento tecnológico em empresas de diferentes setores industriais no Brasil: metal-mecânico, linha branca (geladeiras, máquinas de lavar, ar condicionado e fornos microondas), componentes eletrônicos, telefonia celular e fixa. A capacidade tecnológica por função e nível de dificuldade é medida pelo tipo de atividade que a empresa é capaz de realizar por si mesma em diferentes intervalos de tempo.

Com relação à aplicação empírica desse modelo, é importante notar os seguintes pontos:

- O modelo permite captar dois tipos de trajetória de desenvolvimento tecnológico: pela evolução da simples produção de bens e serviços cada vez mais complexos e de maior valor agregado e pelo aprofundamento do nível de capacidade tecnológica. No primeiro caso, estuda-se, por exemplo, a evolução da manufatura de simples aparelhos de áudio à de DVDs. No segundo, pode-se analisar a produção básica para a engenharia, desenho e desenvolvimento de processos e/ou produtos.

- Embora apresente a capacidade tecnológica em níveis ou "estágios", como em Gerschenkron (1962), o modelo não pressupõe que todas as empresas de um certo setor industrial - e até mesmo unidades de uma mesma empresa - necessariamente capacitem-se nessa seqüência linear. O modelo também não pressupõe que as capacidades sejam construídas, acumuladas, sustentadas (ou debilitadas), ao mesmo tempo e à mesma velocidade, para as diferentes funções tecnológicas. Ademais, é difícil fazer uma separação entre as atividades relacionadas aos produtos e o processo de sua fabricação, incluindo-se aí o instrumental e o equipamento utilizado.

- Em estudos no âmbito de empresas - e mesmo de setores industriais - recomenda-se classificar as funções tecnológicas específicas (como produtos, processo e organização da produção), em termos de tipos e níveis de capacidades, em vez da empresa ou do setor industrial em si (DUTRÉNIT, 2000; FIGUEIREDO, 2003a; 2003b). As empresas acumulam suas capacidades para funções tecnológicas diversas, de várias maneiras, em diferentes direções e velocidades. Para certa função tecnológica (produtos, por exemplo) pode-se alcançar uma profundidade de capacidade tecnológica (nível 5), enquanto que em uma outra função (gestão de projetos) pode-se acumular um nível mais superficial (nível 2).

- Lembrando que as capacidades rotineiras e inovadoras acumulam-se de maneira paralela dentro da empresa, e também do setor industrial, é possível acumular partes de certas capacidades inovadoras sem que o acúmulo de suas capacidades rotineiras esteja consolidado. Chamamos a esse fenômeno "acumulação truncada ou incompleta", observado, com certa freqüência, em empresas que operam em economias ou áreas emergentes (DUTRÉNIT, 2000; ARIFFIN, 2000; FIGUEIREDO, 2001, 2003a).

A aplicação empírica mais sofisticada desse modelo permite ainda examinar a velocidade (ou taxa) de acumulação - isto é, o número de anos que uma empresa ou setor industrial leva para alcançar determinado nível de capacidade para funções tecnológicas específicas. Também é possível identificar quanto tempo uma empresa - ou conjunto de empresas - permaneceu estacionada em certo nível de capacidade tecnológica. A identificação e o exame da progressão por meio dos diferentes estágios de desenvolvimento tecnológico é crucial para entender a dinâmica industrial de economias e regiões em desenvolvimento (KATZ, 1987; LALL, 1992; BELL; PAVITT, 1993; 1995).

Exemplos de medições da velocidade de acumulação de capacidade tecnológica são apresentados em Figueiredo (2001; 2002; 2003a), enquanto Ariffin desenvolve um método e sua aplicação empírica sistemática na indústria eletroeletrônica (2000). Essa preocupação em medir o tempo de acumulação tecnológica presente nesses dois estudos ainda é uma questão negligenciada em estudos empíricos e em estratégias de inovação industrial - embora seja crucial para empresas de economias emergentes, como foi já mencionado nesse artigo.

Como uma extensão do modelo no Quadro 1, o Gráfico 1 (a "escada") é uma estrutura auxiliar, que facilita a visualização da trajetória tecnológica de empresas de economias em desenvolvimento. Tão importante quanto focalizar a acumulação do nível mais avançado de capacidade tecnológica, é entender que a construção e a acumulação dessa capacidade em níveis intermediários são uma pré-condição para o alcance de patamares mais elevados (DOSI, 1988a; LALL, 1992; HOBDAY, 1995; BELL; PAVITT, 1993, 1995; DUTRÉNIT, 2000; ARIFFIN, 2000; FIGUEIREDO, 2001, 2003a). Entretanto, estudos sobre inovação industrial em economias em desenvolvimento tendem a ignorar os seguintes aspectos: a importância da acumulação de capacidades em níveis intermediários e como e em quanto tempo as empresas evoluem da acumulação de capacidades rotineiras para inovadoras - de básicas a avançadas.

Por isso, a aplicação empírica dos modelos apresentados no Quadro 1 e no Gráfico 1 permite levantar questões aparentemente simples. Mas a busca sistemática e disciplinada de respostas para elas pode conduzir a uma estratégia de inovação industrial focada e coerente - tanto no âmbito de empresas como de setores industriais ou até mesmo de um país. As questões são:


- onde estamos em termos de capacidade tecnológica?;

- quanto tempo levamos para chegar até aqui?;

- por quanto tempo estamos "estacionados" em um determinado nível de capacidade para uma função tecnológica específica?;

- quão distante estamos da fronteira tecnológica internacional?;

- onde queremos estar até o ano x?;

- quais são os recursos e como geri-los para alcançar um nível de capacidade tecnológica em x número de anos?

APLICAÇÃO EMPÍRICA DA MÉTRICA DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA

Apresenta-se a seguir uma breve aplicação empírica do modelo de mensuração de capacidade tecnológica. Isso foi feito com base em recente estudo sobre desenvolvimento tecnológico na indústria de tecnologia de informação e comunicação (TIC) no Brasil (FIGUEIREDO; MARINS, 2005). O estudo examinou o desenvolvimento de capacidades tecnológicas em 18 dos mais importantes institutos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) vocacionados para o setor de TIC localizados nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte.18O estudo também examinou duas fontes utilizadas pelos institutos pesquisados para construir suas capacidades tecnológicas: processos de aprendizagem intra-organizacionais e ligações com empresas e componentes da infra-estrutura tecnológica (universidades, institutos de pesquisa, centros de formação e treinamento e laboratórios), ver Figueiredo e Marins (2005).

A composição da amostra obedeceu a três critérios: localização; idade; e natureza dos institutos. Localização refere-se à dispersão geográfica dos institutos de P&D no território nacional. Assim, a amostra foi composta por institutos geograficamente distribuídos em todas as regiões do Brasil.

Quanto à idade dos institutos de P&D foram pesquisados desde aqueles criados na década de 60 até os mais recentes, como de 2001. Por fim, examinou-se institutos de natureza diversa: tanto públicos como privados, tanto ligados a universidades quanto independentes ou ligados a empresas. Portanto, foi obtida uma amostra representativa, rica em evidências e diversificada.

Para examinar as questões pesquisadas com adequado detalhamento e profundidade, foi necessária a coleta de evidências empíricas primárias. Tais evidências foram coletadas por meio de fontes variadas: entrevistas, observação direta e análise de documentação. Em razão das idades diferentes dos institutos - e no intuito de obter-se comparações interessantes - foi criada uma estrutura de três fases comuns:

- fase inicial: período em que começam suas atividades;

- fase intermediária: período de transição da primeira fase para a última - marcada pelo amadurecimento tecnológico e pela adaptação a condições externas (como a desregulamentação e a privatização do setor de telecomunicações nacional e a criação da Lei de Informática);

- fase atual.

Para o exame da capacidade tecnológica nas organizações da amostra, foi construída uma métrica específica para esse tipo de indústria com base em extensivo trabalho de adaptação, calibração e validação (ver o modelo adaptado no Quadro 2). Quanto aos tipos, foram examinadas as capacidades construídas pelos institutos em quatro funções tecnológicas: engenharia de software; gestão de projetos; produtos e soluções; e ferramentas e processos. As capacidades tecnológicas foram divididas em seis níveis de complexidade crescente, sendo que os níveis 1 e 2 representam as capacidades de rotina e os níveis de 3 a 6 representam as capacidades para inovar. O estudo encontrou uma diversidade de tipos e níveis de capacidades tecnológicas inovadoras na amostra examinada, conforme mostrado na Tabela 1.


As principais evidências relativas ao estágio atual da capacidade tecnológica dos participantes da amostra são:

- A função tecnológica "engenharia de software" é a que concentra mais institutos nos níveis 5 e 6 ("intermediário-superior" e "avançado", respectivamente). Embora apenas um deles (correspondente a 5,5% da amostra) tenha alcançado as capacidades de nível 6, as capacidades de nível 5 representam o máximo de capacitação de onze participantes (61,1%).

- As capacidades de nível 4 ("intermediário"), representam o grau máximo de capacitação na função "engenharia de software" em seis institutos pesquisados (33,3%). O instituto que consolidou as capacidades de nível 6 representa um centro de referência mundial no desenvolvimento de determinada tecnologia. Em termos de "gestão de projetos", o nível 4 ("intermediário") é o que concentra maior número de participantes e 12 institutos o têm como nível máximo alcançado (66,6% da amostra).

- O nível 3 ("inovação básica") representa o grau máximo alcançado por quatro participantes (22,0%).

- O nível 5 ("intermediário-superior") representa o grau máximo de capacitação em "gestão de projetos" de dois institutos estudados (11,1%) - sendo um deles independente e o outro ligado a uma empresa.

Muito embora nenhum instituto estudado tenha consolidado as capacidades de nível 6 ("avançado") em "gestão de projetos", um dos participantes da amostra encontra-se em processo de transição para aquele nível. Nesse instituto há esforços deliberados no sentido de transformar a prevenção de falhas e defeitos durante a realização de um projeto (não apenas em produtos, mas também em processos) em uma rotina estruturada e formalizada.

A função "produtos e soluções" é a única em que os participantes da amostra estão distribuídos em torno de quatro níveis de especialização máxima, estando apenas um deles (5,5%) restrito ao nível 3 ("inovação básica"). O nível 4 ("intermediário") concentra dez institutos estudados (55,5%). Os níveis 5 ("intermediário-superior") e 6 ("avançado") representam o nível máximo alcançado por seis e por um participante (33,3% e 5,5%, respectivamente). As evidências apontam que o instituto que alcançou o nível 6 de capacitação nessa função é capaz de desenvolver produtos e soluções de elevada complexidade, dotados de capacidade de personalização para atender necessidades ainda não identificadas. Além disso, há a geração de spin-offs por conta da complexidade e da especialização das atividades em que esse instituto vem se engajando.

Finalmente, em relação a "ferramentas e processos", os institutos estudados estão agrupados em três níveis de capacitação tecnológica: 10 (55,5%) encontram-se no nível 3 ("inovação básica"); 7 (38,8%) no nível 4 ("intermediário"); e 1 (5,5%), que é um instituto independente, no nível 5 ("intermediário-superior").

As evidências indicam que os institutos têm buscado organizar suas atividades em torno de métodos de trabalho internacionalmente praticados. No entanto, embora uma parte significativa deles esteja orientada para a organização de suas práticas em torno de padrões internacionais, as evidências sugerem que poucos são os que, ao se organizarem e obterem certificações, voltaram-se para o desenvolvimento de práticas próprias e de processos adequados a suas especificidades.

Além disso, assim como o ocorrido com a função "gestão de projetos", não há institutos que tenham consolidado as capacidades de nível 6 ("avançado") na função "ferramentas e processos". As evidências sugerem a ausência de institutos que venham realizando o aprimoramento contínuo de processos e sistemas operacionais próprios, uma vez que muitos nem mesmo estruturaram por completo seus processos organizacionais e operacionais.

Portanto, o estudo contribuiu para elucidar a realidade desse segmento da indústria de TIC no Brasil. Tal realidade é, por vezes, desconhecida justamente pela escassez ou ausência de estudos dessa natureza. Isso contribui para a emergência de certas generalizações comuns sobre o desenvolvimento tecnológico na América Latina e no Brasil. É assim que, com base em análises agregadas, tem-se argumentado que a partir da década de 90 iniciou-se um processo de deterioração das capacidades tecnológicas construídas até a década de 80 (CIMOLI; KATZ, 2003; KATZ, 2004). Segundo a perspectiva desses estudos, as atividades de P&D estão cada vez mais concentradas em países industrializados. Nas economias latino-americanas, há certa tendência de especialização na produção de commodities e na atividade de produção industrial básica, sendo elas geralmente descritas como passivas em termos de aprendizagem e inovação. Outros estudos sugerem que a interação entre infra-estrutura tecnológica e empresas vem sendo seriamente deteriorada a partir da década de 90, e que o processo de deterioração de capacidade tecnológica industrial caracteriza-se pela aprendizagem passiva do sistema nacional de inovação (CASSIOLATO; LASTRES, 2000; CASSIOLATO et al., 2001; VIOTTI, 1997, 2000).

Ocorre que tais argumentos e generalizações normalmente não são apoiados por evidências empíricas de primeira mão e suficientemente detalhadas em nível de organizações. Por isso, as conclusões que emergem de tais estudos não refletem a realidade de empresas e indústrias de países ou áreas em desenvolvimento. Especificamente, tais generalizações não se sustentam frente ao escrutínio empírico detalhado que a aplicação desta métrica permite.

COMENTÁRIOS FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA ESTRATÉGIA INDUSTRIAL

Este artigo buscou oferecer uma contribuição ao aprimoramento da gestão do processo de desenvolvimento tecnológico no contexto de economias em desenvolvimento, particularmente no Brasil. Para isso, procurou esclarecer o significado de certas terminologias relativas a aprendizagem tecnológica e inovação industrial e apresentou um modelo de mensuração que pode ser usado para examinar o processo de desenvolvimento industrial.

Tal iniciativa pode ser interpretada por alguns como "demasiadamente acadêmica". Contudo, convém reiterar que tem havido uso indiscriminado de certos termos relativos à inovação industrial sem a adequada fundamentação analítica e empírica. Essa prática pode deturpar e interferir negativamente no processo de desenho e na implementação de estratégias governamentais e empresariais de inovação. Por isso, foram apresentadas algumas definições e um modelo de mensuração alternativo para a acumulação de capacidade tecnológica. Isso é particularmente importante para o contexto da indústria no Brasil, pelos seguintes motivos:

- permite esclarecer as definições subjacentes ao desenho de estudos empíricos e de estratégias de inovação industrial. A partir de uma noção mais clara do real escopo do tema e das variáveis envolvidas, é possível calibrar, desenhar ou redesenhar estratégias com foco mais coerente com as necessidades do contexto industrial e tecnológico do Brasil e das suas diferentes regiões;

- auxilia a condução de novos estudos de inovação industrial fundamentados principalmente no trabalho de campo - e não apenas em análises de estatísticas oficiais - que possibilitam coletar evidências qualitativas e quantitativas de primeira mão e captar a realidade das atividades tecnológicas na indústria com adequado nível de detalhe e profundidade. Isso contribuiria para ampliar o debate para além das generalizações comuns - ou mesmo derrotistas - sobre o desenvolvimento tecnológico da indústria que, de tempos em tempos, emergem não apenas no Brasil, mas também na América Latina.

Mais especificamente, estudos baseados em amostra de dezenas de milhares de empresas, sem distinção inter-setorial e à base de indicadores convencionais captados em um ponto no tempo podem gerar apenas uma mera "radiografia" de uma situação que nem sempre reflete a realidade industrial do país. Ou seja, estudos dessa natureza pouco contribuem para o entendimento da real dinâmica industrial - tão necessário para o desenho e redesenho de estratégias governamentais e empresariais.

A aplicação empírica do modelo de mensuração de capacidade tecnológica permite:

- avaliar, identificar e pontuar, de modo contínuo e à luz de taxonomias coerentes, o nível tecnológico dos setores-chave da indústria na economia brasileira;

- identificar a maneira e a velocidade com que certos setores têm acumulado suas capacidades tecnológicas ao longo do tempo. Ou seja, distinguir os setores mais dinâmicos dos mais lentos em termos de acumulação de capacidades tecnológicas pois, setores mais vagarosos em termos de acumulação tecnológica talvez necessitem de incentivos diferentes e de maior exposição às pressões competitivas internacionais;

- identificar os setores industriais que têm maior potencial e que devem receber maior atenção - em termos de recursos materiais, humanos, técnicos, organizacionais e financeiros - para aprofundar o desenvolvimento de capacidades tecnológicas;

- recomendar políticas específicas para disseminar atividades que conduzam ao desenvolvimento de capacidades tecnológicas nos setores mais relevantes para cada uma das regiões do Brasil.

De fato, atingir níveis de inovação próximos daqueles alcançados por empresas de países tecnologicamente avançados não é tarefa fácil. Porém, são duvidosas as perspectivas que advogam o avanço industrial de economias em desenvolvimento à base de proteção tarifária e subsídios, no intuito de resgatar a experiência histórica de certos países hoje tecnologicamente avançados (CHANG, 2002). Evidências e análises de estudos sobre inovação industrial realizados ao longo das últimas décadas - alguns citados aqui - sugerem que a gestão da acumulação tecnológica, no âmbito das empresas, associada a diferentes estratégias governamentais, que convergem para apoiar e estimular o desenvolvimento tecnológico na indústria, são fatores essenciais para que empresas, de economias emergentes sigam uma trajetória ascendente na intricada "escada" de capacidades tecnológicas.

Na verdade, a intensificação da globalização e da liberalização comercial não elimina a necessidade de intervenções governamentais à base de desenho e implementação de estratégias para suportar, direta e indiretamente, a acumulação de capacidade tecnológica industrial.

Assim, como sugere a perspectiva subjacente ao modelo apresentado no Gráfico 1, durante o processo de desenho de estratégias de inovação industrial é importante distinguir dois tipos de desenvolvimento de capacidade tecnológica: a rotineira (para usar) e a inovadora (para gerar e gerir mudança tecnológica). Enquanto os governos estiverem interessados em acelerar ambos os tipos de trajetória, serão necessários diferentes recursos e ações para cada caso. Por isso, as decisões relativas a essas duas trajetórias estão no coração das opções estratégicas de desenvolvimento industrial de um país.

Em termos de estratégia industrial, a questão-chave é não apenas calibrar o grau de incentivos a empresas - para a compra de máquinas e equipamentos ou para exportação, por exemplo (abordagem estática) - mas também estimular que um grande número de empresas se mova, com adequada velocidade, para a acumulação de níveis inovadores de capacidade tecnológica por meio de um contínuo processo de aprendizagem (abordagem dinâmica).

Por isso, no intuito de contribuir para facilitar a materialização de certos objetivos, tanto governamentais como empresariais - por exemplo, o alcance de alto nível de desempenho inovador e exportador, com base em uma perspectiva de 2020, para certos segmentos da indústria no Brasil -, sugere-se a criação de metas de desenvolvimento de capacidade tecnológica. Isso significa criar prazos para o alcance de diferentes tipos e níveis de capacidades tecnológicas para os vários setores industriais no longo prazo, com avaliação a cada dois anos. Essa medida possibilitaria que ajustes periódicos, em termos, por exemplo, de fortalecimento e/ou reorganização da infra-estrutura tecnológica e de processos de aprendizagem, pudessem ser implementados, a fim de contribuir para a materialização dos níveis tecnológicos desejados. O processo de elaboração e implementação das metas de desenvolvimento de capacidade tecnológica poderia envolver lideranças empresariais, governamentais, acadêmicas e de outras organizações da sociedade comprometidas com o desenvolvimento industrial e tecnológico nacional.

NOTAS

Este artigo foi gerado no âmbito do Programa de Pesquisa em Gestão da Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial no Brasil, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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Artigo recebido em 18 de março de 2005

Aprovado em 7 de abril de 2005

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  • Para uma breve revisão de alguns desses estudos, ver Figueiredo (2004).
  • Ver Penrose (1959); Hollander (1965), dentre outros.
  • Ver Freeman (1974; 1982); Rosenberg (1976); Rothwell (1977); Nelson e Winter (1982); Dosi (1988a; 1988b); Dietrickx e Cool (1989); Teece et al. (1990); Pavitt (1984; 1991); Pavitt e Wald (1971) e muitos outros.
  • Ver Katz (1976); Maxwell (1981); Dahlman e Fonseca (1978) e vários outros sumariados em Katz (1987).
  • Para uma extensiva revisão desses estudos, ver Figueiredo (2001).
  • Ver, por exemplo, Hobday (1995); Kim (1997; 1998); Dutrénit (2000); Figueiredo (2001).
  • capacidades

    Há uma ampla literatura na qual se busca distinguir entre os termos e
    capacidades tecnológicas. Mais precisamente, na língua inglesa, os diferentes termos usados são, por exemplo,
    capabilities,
    competence e
    competencies. Porém, não é o objetivo deste artigo discutir as diferentes perspectivas, mas apresentar a definição mais ampliada do termo
    capacidade tecnológica no contexto de economias em desenvolvimento. Por isso, daqui em diante, será usado apenas o termo
    capacidade tecnológica. Não obstante, é importante lembrar que o termo
    capacitação tecnológica refere-se ao processo de acumulação de capacidades tecnológicas por meio dos vários processos subjacentes de aprendizagem.
  • Ver Katz (1976); Lall (1982; 1987); Dahlman e Westphal (1982); Bell (1982); Westphal et al. (1984); Scott-Kemmis (1988).
  • Essa perspectiva ampla para capacidade tecnológica também é encontrada na literatura sobre gestão da inovação no contexto de empresas inovadoras de economias industrializadas (LEONARD-BARTON, 1995).
  • Para mais detalhes sobre essa perspectiva, ver Bell e Pavitt (1993; 1995) e Bell (1996).
  • Há uma literatura clássica sobre a relação simbiótica entre tecnologia e organização. Ver Rosenberg (1976; 1982), Salomon (1984), Pavitt (1985).
  • Ver exemplos em Bell et al. (1982), Leonard-Barton (1995), Dutrénit (2000) e Figueiredo (2001).
  • Discussões detalhadas sobre a limitação desses indicadores para o contexto de empresas em economias em desenvolvimento são desenvolvidas em Bell e Pavitt (1993, 1995); Ariffin e Bell (1999); Ariffin (2000) e Figueiredo (2001; 2003a; 2003b).
  • performance

    É o caso, por exemplo, do desenho da Pintec (IBGE) e de seu desdobramento refletido no estudo 'Inovação, padrões tecnológicos e desempenho de firmas industriais brasileiras', realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. Não obstante, um dos méritos do estudo do Ipea é chamar a atenção para as implicações positivas dos esforços das empresas em 'inovação tecnológica' para a sua econômica.
  • Outros modelos descrevem as trajetórias de acumulação de capacidade tecnológica adotando perspectivas diversas. O 'ciclo reverso de produto' de Hobday (1995) está mais ligado à acumulação de capacidades para os mercados exportadores, ao passo que o modelo 'aquisição-assimilação-aprimoramento' de Kim (1997) tem mais a ver com a acumulação de capacidade para produtos do que para outros tipos de funções tecnológicas (por exemplo, equipamento, gestão de projetos, processos e organização da produção).
  • O processo de adaptação e validação desse modelo para sua aplicação empírica em um estudo centrado na indústria de aço levou aproximadamente um ano. As principais atividades desse processo envolveram a seleção das funções tecnológicas relevantes, a coleta e a classificação das atividades específicas para expressar os diversos níveis de capacidade tecnológica e uma contínua validação com diferentes profissionais de empresas de aço e especialistas da indústria.
  • Ver, por exemplo, Ariffin (2000) e Ariffin e Figueiredo (2003) para a indústria eletrônica; Tacla e Figueiredo (2003) para indústria de bens de capital fornecedora de sistemas de produção para a indústria de celulose e papel. Uma adaptação para a indústria de motocicletas e bicicletas foi realizada em Figueiredo (2005). No âmbito do Programa de Pesquisa em Gestão da Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial no Brasil, da Ebape/FGV, adaptações têm sido feitas em estudos empíricos de desenvolvimento tecnológico em empresas de diferentes setores industriais no Brasil: metal-mecânico, linha branca (geladeiras, máquinas de lavar, ar condicionado e fornos microondas), componentes eletrônicos, telefonia celular e fixa.
  • O estudo também examinou duas fontes utilizadas pelos institutos pesquisados para construir suas capacidades tecnológicas: processos de aprendizagem intra-organizacionais e ligações com empresas e componentes da infra-estrutura tecnológica (universidades, institutos de pesquisa, centros de formação e treinamento e laboratórios), ver Figueiredo e Marins (2005).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Mar 2005

    Histórico

    • Aceito
      07 Abr 2005
    • Recebido
      18 Mar 2005
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