Considerando-se, à luz das contribuições freudianas mais tardias, que o traumático, entendido como excesso pulsional, estaria situado além da capacidade de representação psíquica, exploramos neste artigo a estreita articulação entre trauma e "indizível". Para tal, são retomados alguns aspectos centrais da teorização psicanalítica sobre o trauma, aspectos relacionados com a sua dimensão "intransmissível". Segundo esta visada, o trauma constitui um vivido que ultrapassa a capacidade psíquica de apropriação e de recalcamento. Nosso objetivo é mostrar como a ideia de uma narrativa impossível, mas absolutamente necessária - eixo central do presente artigo - parece aplicar-se perfeitamente ao sofrimento indizível posto em cena a partir da experiência traumática, e que torna tão fundamental a paradoxal tarefa de narrá-la.
trauma; psicanálise; representação; narrativa; memória