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Acarofauna associada à vegetação espontânea de vinhedos

Mitefauna associated to spontaneous vegetation of vineyards

Resumos

Objetivou-se identificar a acarofauna associada à vegetação espontânea presente em vinhedos de Vitis vinifera (L.) var. Cabernet Sauvignon, Merlot e Sémillon e V. labrusca (L.) var. Isabel. Amostragens mensais foram realizadas de junho a setembro/2009 e junho a setembro/2010 em Caxias do Sul e de junho/2010 a junho/2011 em Sant'Ana do Livramento, RS, Brasil. Foram registrados 474 ácaros pertencentes a 14 morfoespécies, nove gêneros e cinco famílias (Phytoseiidae, Tarsonemidae, Tenuipalpidae, Tydeidae e Winterschmidtiidae). A maior abundância de ácaros ocorreu em Caxias do Sul, entretanto a maior riqueza de espécies foi registrada em Sant'Ana do Livramento. De acordo com os resultados deste trabalho, a acarofauna presente nos nove vinhedos amostrados foi registrada em sua maioria em Sida rhombifolia L. e caracterizou-se pela ocorrência dominante de Lorryia sp., seguida por Typhlodromalus aripo (Muma, 1967) e Steneotarsonemus sp..

Acari; controle biológico; manejo integrado; Vitis vinifera; V. labrusca


The objective of the present study was to identify the mitefauna associated to the spontaneous vegetation of vineyards of Vitis vinifera var. Cabernet Sauvignon, Merlot and Sémillon and V. labrusca var. Isabel in the municipalities of Caxias do Sul and Sant'Ana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brazil. Monthly samplings were accomplished during the period of June to September 2009 and June to September 2010 in Caxias do Sul and from June 2010 to June 2011 in Sant'Ana do Livramento. A total of 474 mites belonging to 14 morfospecies of nine genera and five families (Phytoseiidae, Tarsonemidae, Tenuipalpidae, Tydeidae e Winterschmidtiidae) were identified. The highest abundance of acarids was registered in Caxias do Sul, however a highest species richness was registered in Sant'Ana do Livramento. Results shows that most of the mitefauna collected at the nine sampled vineyards were registered on Sida rhombifolia L.; dominant mite species were Lorryia sp., proceeded by Typhlodromalus aripo (Muma, 1967) and Steneotarsonemus sp..

Acari; biological control; integrated management; Vitis vinifera; V. labrusca


ARTIGOS CIENTÍFICOS

BIOLOGIA

Acarofauna associada à vegetação espontânea de vinhedos

Mitefauna associated to spontaneous vegetation of vineyards

Raquel Bottini de MouraI; Fernanda de Oliveira de Andrade BertoloI; Ana Paula OttII,1 1 Autor para correspondência.

IPrograma de Pós-graduação em Fitotecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil

IILaboratório de Acarologia Agrícola, Departamento de Fitossanidade, UFRGS, Av. Bento Gonçalves 7712, 91540-000, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: ana.ott@ufrgs.br

RESUMO

Objetivou-se identificar a acarofauna associada à vegetação espontânea presente em vinhedos de Vitis vinifera (L.) var. Cabernet Sauvignon, Merlot e Sémillon e V. labrusca (L.) var. Isabel. Amostragens mensais foram realizadas de junho a setembro/2009 e junho a setembro/2010 em Caxias do Sul e de junho/2010 a junho/2011 em Sant'Ana do Livramento, RS, Brasil. Foram registrados 474 ácaros pertencentes a 14 morfoespécies, nove gêneros e cinco famílias (Phytoseiidae, Tarsonemidae, Tenuipalpidae, Tydeidae e Winterschmidtiidae). A maior abundância de ácaros ocorreu em Caxias do Sul, entretanto a maior riqueza de espécies foi registrada em Sant'Ana do Livramento. De acordo com os resultados deste trabalho, a acarofauna presente nos nove vinhedos amostrados foi registrada em sua maioria em Sida rhombifolia L. e caracterizou-se pela ocorrência dominante de Lorryia sp., seguida por Typhlodromalus aripo (Muma, 1967) e Steneotarsonemus sp..

Palavras-chave: Acari, controle biológico, manejo integrado, Vitis vinifera, V. labrusca.

ABSTRACT

The objective of the present study was to identify the mitefauna associated to the spontaneous vegetation of vineyards of Vitis vinifera var. Cabernet Sauvignon, Merlot and Sémillon and V. labrusca var. Isabel in the municipalities of Caxias do Sul and Sant'Ana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brazil. Monthly samplings were accomplished during the period of June to September 2009 and June to September 2010 in Caxias do Sul and from June 2010 to June 2011 in Sant'Ana do Livramento. A total of 474 mites belonging to 14 morfospecies of nine genera and five families (Phytoseiidae, Tarsonemidae, Tenuipalpidae, Tydeidae e Winterschmidtiidae) were identified. The highest abundance of acarids was registered in Caxias do Sul, however a highest species richness was registered in Sant'Ana do Livramento. Results shows that most of the mitefauna collected at the nine sampled vineyards were registered on Sida rhombifolia L.; dominant mite species were Lorryia sp., proceeded by Typhlodromalus aripo (Muma, 1967) and Steneotarsonemus sp..

Key words: Acari, biological control, integrated management, Vitis vinifera, V. labrusca.

INTRODUÇÃO

A preocupação com organismos antes considerados de importância secundária na cultura da videira, levou à busca por informações sobre a acarofauna em vinhedos (JOHANN et al. 2009, KLOCK et al. 2011). No Estado do Rio Grande do Sul, especificamente, tem-se registrado com frequência, danos ocasionados por ácaros fitófagos nessa cultura (FERLA & BOTTON, 2008, SIQUEIRA et al., 2011).

A manipulação dos agroecossistemas pelo manejo de culturas de cobertura e da vegetação espontânea influencia a dinâmica populacional de inimigos naturais favorecendo o controle biológico de artrópodes fitófagos (ALTIERI et al. 2005, MONTEIRO et al., 2002). Plantas que compõem a vegetação espontânea nos agroecossistemas, têm papel na manutenção de inimigos naturais de ácaros fitófagos, devido ao fornecimento de locais de refúgio para reprodução e proteção e por prover alimento alternativo (pólen, néctar, micélio e outras presas), mantendo-os no sistema mesmo na ausência da presa preferencial (FERLA & MORAES, 2002, DUSO et al., 2010).

A diversificação do agroecossistema vitícola relaciona-se à maior abundância e diversidade de ácaros predadores, em especial da família Phytoseiidae em relação à presença de ácaros fitófagos (BABAR et al., 2010, TIXIER et al., 1998) evidenciando a importância da manutenção desses habitats. Este trabalho teve como objetivo, identificar a acarofauna associada à vegetação espontânea de vinhedos de Vitis vinifera (L.) var. Cabernet Sauvignon, Merlot e Sémillon e Vitis labrusca (L.) var. Isabel.

MATERIAL E MÉTODOS

Um vinhedo de cada uma das variedades Cabernet Sauvignon, Isabel e Sémillon foi avaliado de junho a setembro durante os anos de 2009 e 2010 (oito amostragens) em Caxias do Sul (29°08'19''S, 50°59'59''O) e três vinhedos de cada uma das variedades Cabernet Sauvignon e Merlot foram avaliados de junho/2010 a junho/2011 (13 amostragens) em Sant'Ana do Livramento (30°46'14''S, 55°22'11''O). Os vinhedos de Caxias do Sul situam-se a uma altitude de 830m; o clima na região é classificado como Cfb de acordo com KÖPPEN (1948) e a temperatura média anual é de 16,5°C. As variedades Isabel e Sémillon apresentam o sistema de condução Latada e a variedade Cabernet Sauvignon é conduzida sob o sistema Espaldeira. Em Sant'Ana do Livramento os vinhedos são conduzidos no sistema Espaldeira e encontram-se a uma altitude de 180m; o clima é classificado como Cfa (KÖPPEN, 1948) com temperatura média anual de 17,4°C. Em todos os vinhedos foi empregado manejo fitossanitário com aplicação de acaricidas, fungicidas e herbicidas, além de roçadas periódicas.

As coletas foram realizadas mensalmente sendo sorteadas, em cada vinhedo, 10 entrelinhas e, em cada uma destas, foram coletados dois exemplares de cada uma das espécies Daucus pusillus Michx., Leucanthenum vulgare Lam. e Trifolium pratense L. em Caxias do Sul e um exemplar de cada uma das espécies Bidens pilosa L., Raphanus raphanistrum L., Sida rhombifolia L. e Solanum americanum Mill. em Sant'Ana do Livramento. As plantas foram levadas ao laboratório para a retirada dos ácaros e esses foram montados em lâminas de microscopia contendo meio de Hoyer (JEPPSON et al., 1975) e mantidos em estufa para a secagem do meio e fixação, distensão e clarificação dos espécimes. Na identificação dos espécimes foram utilizadas chaves dicotômicas (KRANTZ & WALTER, 2009, CHANT & MACMURTRY, 2007) e o auxílio de especialistas. Vouchers das espécies foram depositados no MCN-FZB/RS e na Coleção de Referência do Laboratório de Acarologia Agrícola da UFRGS.

Na amostragem de Caxias do Sul o número de ácaros não foi relacionado às plantas da vegetação espontânea, sendo registrado apenas o número total de ácaros na vegetação espontânea por vinhedo (Tabela 1). A dominância das espécies (D) foi definida através da fórmula: D% = (i/t).100, onde i = total de indivíduos de uma espécie e t = total de indivíduos coletados e agrupados de acordo com as categorias estabelecidas por FRIEBE (1983). Para análise da relação entre ácaros, plantas da vegetação espontânea e variedades de videira em Sant'Ana do Livramento os dados foram submetidos à análise multivariada de componentes principais com utilização do Software Past Versão 1.37 (HAMMER et al., 2001) e para análise entre diferenças numéricas foi utilizado o programa estatístico BioEstat versão 4 (AYRES et al., 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registrados 474 ácaros pertencentes a 14 espécies, nove gêneros e cinco famílias. O maior número de ácaros foi registrado em Caxias do Sul (64,5%), sendo 70% destes associados à variedade Sémillon (Tabela 1). JOHANN et al. (2009) registraram 920 ácaros de 43 espécies pertencentes a 11 famílias nas plantas espontâneas de vinhedos das variedades Cabernet Sauvignon e Pinot Noir em Bento Gonçalves e Candiota, RS. Nos mesmos municípios, KLOCK et al. (2011) em levantamentos na vegetação espontânea de vinhedos de Chardonnay e Merlot, registraram 602 ácaros de 18 espécies distribuídos em 13 famílias. O maior número de indivíduos, espécies e famílias registrados por esses autores em relação ao presente estudo, deve-se provavelmente ao maior número de espécies vegetais amostradas, respectivamente 63 e 59, enquanto no atual levantamento foram amostradas apenas sete espécies vegetais. Outro fator relevante é a não utilização de acaricidas e outros pesticidas durante as coletas nos estudos de Candiota e Bento Gonçalves, diferindo do manejo adotado no atual estudo o qual pode ter reduzido as populações de ácaros por serem utilizados produtos com ingredientes ativos não seletivos aos inimigos naturais. A maior presença de ácaros nas plantas presentes no vinhedo da variedade Sémillon pode ser atribuída ao manejo empregado nesse vinhedo, com menor número de aplicações de pesticidas e de roçadas, por ser considerado uma variedade em declínio.

A família de ácaros mais abundante foi Tydeidae, corroborando os resultados de JOHANN et al. (2009) e KLOCK et al. (2011), os quais registraram, respectivamente, 185 e 171 tideídeos. Lorryia sp. foi a única morfoespécie considerada eudominante em todos os vinhedos em Caxias do Sul. A alta abundância dessa morfoespécie em Caxias do Sul pode estar relacionada à sua alimentação diversificada, constituída por fungos, pólen, e por apresentar-se, eventualmente, com hábito fitófago (MORAES & FLECHTMANN, 2008). Outro fator que deve ser considerado é a alta incidência de doenças fúngicas nos vinhedos de Caxias do Sul, o que poderia fornecer fonte abundante de alimento a essa espécie, em comparação aos vinhedos de Sant'Ana do Livramento. Os tideídeos podem ainda servir como alimento alternativo para os fitoseídeos (STRICKLER et al., 1987, McMURTRY & CROFT, 1997, FERLA & MORAES, 1998). Dessa forma, provavelmente, Lorryia sp. teria possibilitado a manutenção dos predadores nos vinhedos de Caxias do Sul, quando suas presas preferenciais apresentavam baixas densidades.

Os ácaros predadores da família Phytoseiidae constituíram o segundo grupo em abundância (110 ind.), porém apresentaram maior riqueza de espécies (sete). KLOCK et al. (2011) registraram Phytoseiidae como a família com maior riqueza de espécies apresentando igualmente sete espécies. Entre os fitoseídeos, em ambas regiões, T. aripo foi o mais abundante, sendo registrado em todas as plantas da vegetação espontânea. Em Sant'Ana do Livramento esteve associado principalmente à variedade Cabernet Sauvignon e em Caxias do Sul à Isabel (Tabelas 1 e 2). KLOCK et al. (2011) registraram um único espécime ocorrendo em Senecio sp. (Asteraceae) em vinhedo da variedade Chardonnay em Bento Gonçalves. Neoseiulus californicus foi registrado unicamente em Sant'Ana do Livramento, associado às duas variedades de Vitis vinifera (L.) De VILLIERS & PRINGLE (2011) registraram N. californicus como uma das três espécies de fitoseídeos mais frequentes e abundantes,ocorrendo em R. raphanistrum durante três anos de amostragens em vinhedos na África do Sul. Essa espécie pode alimentar-se tanto de artrópodes em geral e ácaros tetraniquídeos, bem como de pólen, ocupando uma situação intermediária entre os Tipos II e III (McMURTRY & CROFT, 1997). Além disso, pode se estabelecer no agroecossistema antes dos ácaros fitófagos e mantê-los em níveis muito baixos (PRINGLE & HEUNIS, 2006). Isto pode ser corroborado pelo pequeno número de Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) registrado nas plantas da vegetação espontânea (Tabela 2). Neoseiulus tunus, foi coletada em todas as variedades de videira em Caxias do Sul e em Sant'Ana do Livramento. De acordo com McMURTRY & CROFT (1997), N. tunus pertence ao grupo III de predadores, os quais podem sobreviver e reproduzir-se sobre as mais diversas fontes de alimento, inclusive pólen, o que deve favorecer a sua ocorrência na vegetação espontânea. A espécie T. peregrinus (Tabela 2) é registrada pela primeira vez no estado do Rio Grande do Sul, tendo sido coletada exclusivamente em B. pilosa, possivelmente, devido ao pólen provido pela planta. De acordo com FOULY et al. (1995), essa espécie é generalista e apresenta alta taxa de longevidade e fecundidade quando alimentada com pólen de Quercus virginiana Miller e Typha latifolia L.. Amblyseius herbicolus, apesar de já ter sido registrada em várias plantas nativas e cultivadas no Brasil (MORAES et al., 2004), é relatada pela primeira vez em plantas associadas a Vitis sp. no Brasil, tendo sido registrado exclusivamente em Caxias do Sul, na variedade Isabel (Tabela 1).

Entre os fitófagos, a família mais abundante foi Tarsonemidae (82 ind.), sendo representada por quatro morfoespécies (Tabelas 1 e 2). No estudo de KLOCK et al. (2011), essa família também foi a mais representativa entre os ácaros fitófagos. Tarsonemidae apresenta espécies com hábitos alimentares diferenciados, desde aquelas que se alimentam de fungos, algas e plantas superiores até espécies predadoras e parasitas de insetos (MORAES & FLECHTMANN, 2008). O tarsonemídeo mais abundante foi Steneotarsonemus sp., o qual não foi registrado apenas na variedade Sémillon em Caxias do Sul. A morfoespécie Fungitarsonemus sp. foi registrada exclusivamente na variedade Merlot em Sant'Ana do Livramento. Esse gênero apresenta hábito alimentar pouco conhecido, mas, de acordo com FLECHTMANN & MORAES (2001), pode servir como fonte de alimento alternativo, favorecendo a presença de inimigos naturais em agroecossistemas. Estes dois tarsonemídeos não foram coletados na vegetação espontânea de vinhedos em Bento Gonçalves, Candiota e Encruzilhada do Sul (KLOCK et al., 2011 e JOHANN et al., 2009). As duas morfoespécies de Tarsonemus sp. ocorreram exclusivamente nos vinhedos de Sant'Ana do Livramento. A segunda família em abundância entre os fitófagos, Tenuipalpidae, foi representada por B. phoenicis, o qual foi considerado subdominante em Caxias do Sul e raro em Sant'Ana do Livramento. Esse resultado corrobora o encontrado por KLOCK et al. (2011), os quais registraram um exemplar deste ácaro em S. americanum em vinhedo de Cabernet Sauvignon em Candiota, RS, sendo considerado raro. Brevipalpus phoenicis é considerada de grande importância econômica no Brasil por ser transmissora de vírus em culturas como citros e café (MORAES & FLECHTMANN, 2008), apesar de não ser referida como causadora de danos econômicos na cultura da videira (FLECHTMANN, 1979).

O gênero Czenspinskia, único representante de Winterschmidtiidae registrado, pode utilizar-se de néctar como fonte de alimento (PEMBERTON, 1993) e esteve associado exclusivamente a vinhedos de Cabernet Sauvignon em Sant'Ana do Livramento, ocorrendo em Solanum americanum (Mill.), a qual é considerada uma planta néctar-polinífera, muito visitada por abelhas (JUNIOR et al., 2007).

O maior número de ácaros predadores em relação aos ácaros fitófagos presentes na vegetação espontânea de vinhedos em Caxias do Sul e Sant'Ana do Livramento corrobora os resultados de JOHANN et al. (2009) e KLOCK et al. (2011), em vinhedos no RS. Esses dois estudos têm associado a alta abundância de predadores, em especial de fitoseídeos, à presença de espécies de ácaros fitófagos como Calepitrimerus vitis (Nalepa, 1905), em vinhedos sem a aplicação de pesticidas. Entretanto, no presente estudo, não foi registrada alta abundância de espécies fitófagas, podendo-se atribuir a menor abundância destas à aplicação de acaricidas. O controle químico de ácaros nos vinhedos estudados em Caxias do Sul e Sant'Ana do Livramento é realizado preventivamente, sem monitoramento prévio das populações, e sem o conhecimento do nível de dano para qualquer espécie.

Relação entre acarofauna, plantas da vegetação espontânea e variedades de videira em Sant'Ana do Livramento

Dentre as quatro espécies da vegetação espontânea coletadas nos vinhedos de Sant'Ana do Livramento, Sida rhombifolia apresentou maior abundância de indivíduos (81), com diferença significativa na abundância de ácaros entre as espécies vegetais (F=3,408; p=0,03) e a maior riqueza de espécies (Tabela 2). Isso se deve, possivelmente devido à complexidade estrutural e densidade foliar apresentada pela planta, oferecendo microclima e abrigo adequados à acarofauna. Um fator que pode ter influenciado na maior abundância e riqueza de espécies de ácaros é a maior ocorrência de S. rhombifolia durante as ocasiões amostrais. As práticas de manejo empregadas nos vinhedos, como roçadas e aplicações de herbicidas fizeram com que as abundância das espécies vegetais variassem ao longo das ocasiões de amostragem. A espécie vegetal que apresentou o menor número de indivíduos (seis) e riqueza de espécies de ácaros associados (dois) foi R. raphanistrum, resultado que corrobora o estudo de SANTOS (2011) o qual identificou um total de 32 espécies de ácaros, sendo apenas quatro espécies registradas em R. raphanistrum, em um levantamento de acarofauna em 167 espécies de plantas espontâneas de vinhedos em Setúbal, Portugal.

Através da análise de Componentes Principais (Figura 1), podemos visualizar que o conjunto de vinhedos de ambas as variedades que incluem as plantas R. raphanistrum e S. americanum encontram-se agrupados, provavelmente, em razão da baixa riqueza e abundância de espécies de ácaros nesses locais (Tabela 2). O fitoseídeo T. aripo está associado à presença de B. pilosa em ambos os vinhedos, com maior incidência em Cabernet Sauvignon. Por sua vez, a morfoespécie Steneotarsonemus sp. parece estar relacionada à S. rhombifolia, sendo registrada nos vinhedos de ambas variedades.


CONCLUSÃO

Nas plantas da vegetação espontânea associadas aos vinhedos em Caxias do Sul e Sant'Ana do Livramento, está presente um total de 14 espécies de ácaros, sendo sete delas predadoras. O maior número de ácaros ocorre em Caxias do Sul, entretanto, a riqueza de espécies é maior em Sant'Ana do Livramento. Sida rhombifolia L. é a espécie da vegetação espontânea que reúne o maior número de ácaros. A acarofauna presente nos nove vinhedos amostrados caracteriza-se pela predominância de Lorryia sp., seguida por Typhlodromalus aripo e Steneotarsonemus sp.. Registra-se Amblyseius herbicolus pela primeira vez em plantas associadas à Vitis sp. no Brasil e Typhlodromalus peregrinus tem seu primeiro registro para o estado do Rio Grande do Sul.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Dra. Ilsi Boldrini (UFRGS), pela identificação das espécies botânicas; ao Dr. Andre Luis Matioli e ao Dr. Jefferson Mineiro (Instituto Biológico de São Paulo), ao Dr. Noeli Juarez Ferla (UNIVATES), à Mestre Liana Johann (PUCRS, UNIVATES) e a Matheus dos Santos Rocha (UNIVATES), pelas identificações; à Eng.a Agr.a Nicole de Carvalho Barros, aos graduandos de Agronomia da UFRGS, Manuela Sulzbach, Pedro Augusto Veit e Leonardo Sobrosa Rosito e à Biól.a Maria Rita Poeta, pelo apoio durante as amostragens e processamento do material; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Processo 131157/2009-4) e aos revisores anônimos, pelas sugestões e comentários ao manuscrito.

Recebido 07.11.12

Aprovado 19.03.13

Devolvido pelo autor 04.07.13

CR-2012-1094.R2

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    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Ago 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013
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