Acessibilidade / Reportar erro

Desenvolvendo e mantendo um programa de acadêmica em enfermagem

EDITORIAL

Desenvolvendo e mantendo um programa de acadêmica em enfermagem

Kathy Hegadoren

Doutora em Ciências Médicas. Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Alberta/Canadá. Professora Associado de Psiquiatria, Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Alberta. Edmonton, Alberta, Canadá

A transição entre o acadêmico de enfermagem e o enfermeiro-pesquisador está repleta de novas oportunidades, múltiplas demandas de tempo e expectativas por parte da faculdade, que podem significar um grande desafio. A transição entre se dedicar exclusivamente a um projeto de doutorado e se dividir entre as responsabilidades do ensino, os deveres da faculdade e o desenvolvimento da pesquisa é um deles. A imagem de montanha russa poderia ajudar a descrever os altos e baixos emocionais que exemplificam a carreira do pesquisador. Primeiramente é necessário saber que todas essas escolhas acadêmicas lhe levaram a um assento na montanha russa, e para isso é importante conhecer algumas estratégias que poderiam fazer mais prazerosa essa viagem. Esse editorial está dedicado à próxima geração de enfermeiros-pesquisadores que tem entrado na academia. Eles possuem a empolgação, a energia e a dedicação para fazer a diferença com seus estudantes, sua faculdade, e, principalmente, com suas pesquisas, comunidades e pacientes. Essa paixão e energia deve ser nutrida e mantida, com a finalidade de que os enfermeiros-pesquisadores continuem solucionando os problemas da prática cotidiana e estendendo o cuidado de enfermagem para todos.

Talvez seja importante iniciar essa discussão lembrando o propósito da pesquisa em enfermagem. O propósito, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa em Enfermagem, nos Estados Unidos, é proporcionar uma base científica de cuidado para os individuos, ao longo do seu ciclo vital. Outras pessoas têm proporcionado elementos essenciais sobre o propósito da pesquisa. Abert Einstein afirmou: "se soubéssemos o que era aquilo que estávamos fazendo, não seria chamado de pesquisa". Anne Frank passou uma mensagem poderosa quando ela afirmou: "não penso em toda a miséria, mas em toda a beleza que ainda nos resta". A pesquisa em enfermagem tem se ampliado além da documentação sobre o impacto de algumas doenças especiíficas, problemas de saúde, e o impacto dos determinantes sociais, para desenvolver e testar práticas inovadoras e intervenções que fortaleçam as capacidades/habilidades dos indivíduos, famílias e comunidades a maximizarem seu potencial de saúde.

Gradualmente, os pesquisadores em enfermagem, em todo o mundo, enfrentam fatores contextuais que criam desafios únicos. Nem todos os membros da faculdade de enfermagem iniciam em sua posição com um pós-doutorado concluido; isso poderia significar uma das desvantagens para o novo enfermeiro-acadêmico, quando concorre por apoio financeiro à pesquisa, com outros pesquisadores que possuem uma longa tradição de trabalho pós-doutoral. A enfermagem e a pesquisa em saúde têm se tornado cada vez mais diversificadas e especializadas. Existem tantas publicações atualmente, que dificulta seguir o passo das pesquisas ou criar nexos razoáveis em torno do próprio programa de pesquisa. É importante conhecer o que você não irá estudar e focar-se no que você é como pesquisador. Investir tempo para encontrar colaboradores, com a finalidade de aumentar as áreas especializadas de pesquisa, poderia ser um importante primeiro passo. Existe uma pressão, por parte das agências de fomento governamentais, para realizar pesquisas que possam ser comercializadas. As pesquisas em enfermagem centralizadas nos problemas de qualidade de vida, equidade de assistência em saúde, ou justiça social não se encaixam nesse modelo de financiamento. As agências de fomento estão subordinadas à economia do país, e existe uma grande pressão, dado que o número de pesquisadores aumenta, mas os fundos disponíveis não.

A concorrência entre os fundos nacionais e estaduais tem se intensificado, deixando muitas pesquisas sem financiamento. Existe uma grande tensão entre as novas e poderosas estratégias de disseminação e as perspectivas mais tradicionais, relacionadas com o "padrão-ouro" da produtividade em pesquisa. São as publicações em revistas e apresentações em conferencias suficientes para a disseminação do conhecimento? Essa perspectiva tem colaborado com a incorporação dos principais achados dentro da prática de enfermagem? O que mais precisa fazer o enfermeiro-pesquisador em termos de transmissão de conhecimento? São esses esforções reconhecidos pela instituição acadêmica? Finalmente, é importante ressaltar que existe atrito entre os administradores das faculdades cuja responsabilidade é fornecer uma variedade de programas educativos profissionais, e proporcionar tempo para que os membros desenvolvam e mantenham suas pesquisas. Os membros das faculdades devem exercer um papel ativo, advogando para conquistar tempo para suas pesquisas, mas devem também maximizar esse tempo.

Nos Programas de Doutorado em Enfermagem você está destinado a desenvolver uma questão de pesquisa que seja possível de responder em um tempo razoável mas como novo membro da faculdade, interessado em se manter no mesmo campo de pesquisa em saúde, você deve expandir, para desenvolver a sua "grande questão" e trabalhar passo a passo para respondê-la, se apropriando de elementos e estudos específicos, ao mesmo tempo em que mantem a grande questão em mente. Essa afirmativa sobre o propósito do seu programa de pesquisa vai prover um guia para sua carreira. Você vai precisar ter clareza sobre a questão e flexibilidade para envolver-se em reflexões e informações. Pratique articulando a pregunta: "e dai?", porque seu programa de pesquisa é tão importante para prosseguir? Quem necessita saber dos seus resultados? Atreva-se a ter uma visão de como a prática/política/qualidade de vida/educação em enfermagem poderia ser incrementada se você respondesse sua questão por completo.

A equipe administrativa da faculdade pode proporcionar um suporte valioso de recursos e incentivar os novos membros da faculdade. Com relação aos recursos, podem ser incluidos os estudantes de graduação como assistentes de pesquisa, diminuição da carga horária no primeiro ano, ajuda individual para escrever a primeira solicitação formal ou informal de fomentos, ou na revisão do manuscrito, serviços de edição e estruturação, além de espaços, dentro dos intervalos, para apresentações, para que os membros da comunidade acadêmica possam contribuir com ideias e perguntas. Uma forte supervisão é imperativa, principalmente se você ainda não concluiu seu trabalho pós-doutoral. Escolha seu mentor com calma, pois essa pessoa também pode se converter em um membro da sua equipe de pesquisa. Seu primeiro projeto deve ser curto e fácil de ser completado em um ano; isso irá mostrar capacidade de começar, completar e publicar uma pesquisa, a partir do projeto. Você deve tomar cuidado ao convidar co-pesquisadores nos projetos iniciais, considerando, as habilidades de pesquisa complementares, os benefícios e a hierarquia. Você deve lembrar que está construindo uma equipe também para estudos futuros. A maioria dos novos pesquisadores em enfermagem tem experiência limitada na contratação de pessoal, administração de orçamento, responsabilização pelo recrutamento, supervisão da análise de dados e tomada de decisões autorais. É um tempo de manter-se focado e aprender a dizer não a todas aquelas oportunidades inesperadas e emocionantes que podem aparecer em seu caminho. A maioria destas oportunidades pode aparecer novamente, mas você precisa terminar esse trabalho a tempo.

O modelo do pesquisador trabalhando sozinho em seus projetos sustentáveis e vantajosos, já não existe mais, os problemas de saúde estão se tornando mais complexos e requerem um trabalho transdisciplinar e multidimensional. Alguns pequenos grupos de pesquisa têm se convertido em equipes formais e em redes nacionais e internacionais. Colaborações bem-sucedidas em pesquisa estão baseadas no modelo onde todos trazem algo à mesa; sejam novas ideias, experiência em métodos de pesquisa, acesso a populações participantes, habilidades de liderança, experiência em estatística ou experiência na captação de fomentos. Esta variedade de habilidades deve ser complementar e todos devem contribuir nas atividades da pesquisa. Respeito e abertura às diferentes perspectivas do mesmo problema de saúde é essencial. Procure grupos locais para fazer parte deles, ou equipes e redes já formadas. Existem associações em seu campo que fazem encontros anuais? Se possível, participe e se apresente para os líderes dessa associação. Se agências comunitárias são parceiras da equipe de pesquisa é importante que haja reciprocidade na parceria.

Conforme avança na conclusão do seu primeiro projeto, desenvolva os seguintes passos, para responder à grande questão, tendo em consideração que existiram novas demandas de tempo para tomar decisões estratégicas: você necessitará iniciar, aceitando estudantes da graduação, principalmente estabelecendo uma relação de cosupervisão, o que fornecerá um aprendizado sobre papeis e responsabilidades. Quando possível, estabeleça uma relação com uma bibliotecária, ela pode ser uma fonte valiosa de informação sobre como fazer buscas nas bases de dados. Se você não teve oportunidade durante seu doutorado, aprenda como fazer uma revisão sistemática, existe muita informação publicada, mas não acessível para os enfermeiros da prática. Apesar de todas as demandas acadêmicas, você vai precisar investir tempo e energia em suas parcerias e colaborações de pesquisa. Aquelas pessoas que não têm apoio, através de uma comunicação assertiva, acabaram desistindo com o tempo. Compartilhar suas ideias de pesquisa com líderes de enfermagem e com agentes comunitários pode ajudar a manter-se focado na atenção dos problemas de saúde emergentes. Você também vai precisar de tempo pessoal para se apropriar de mais marcos conceituais e informações recentes. Isso ajudará a refinar seu estudo e ressaltar outros projetos que devem ser iniciados depois, assim como o desenho metodológico mais apropriado.

A carreira do pesquisador é sedutora, sempre na beira do descobrimento, sendo parte de novas formas de pensamento e atuação, interagindo com futuros académicos, e tendo a oportunidade de fazer a diferença para aqueles que necessitam de cuidados de enfermagem. Não é mais um ato isolado, faz parte da dinâmica do pensar, o que pode contribuir com grandes avanços para a saúde e o cuidado em saúde. Como novo pesquisador, atrevasse a acreditar que sua pesquisa e sua participação nos grupos de pesquisa, equipes e redes, podem realmente fazer a diferença. Suba na "montanha russa" e aproveite essa inacreditável viagem.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Set 2013
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: textoecontexto@contato.ufsc.br