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Educação a distância na área da enfermagem: relato de uma experiência

Distance learning in the nursing area: report of an experience

Educación a distancia en el área de enfermería: relato de una experiencia

Resumos

Trata-se de relato da experiência do oferecimento de disciplina do curso de mestrado da Universidad Nacional de Rosário. Tem como objetivo subsidiar a reflexão sobre a concepção da educação a distância, enquanto modalidade adequada e eficaz, para proporcionar ensino de qualidade a determinada clientela. A disciplina foi desenvolvida em três momentos: videoconferência; atividades didáticas realizadas a distância e seminário presencial. A tutoria foi compartilhada estabelecendo-se o desafio de realizar uma relação dialógica com os alunos. As autoras acreditam que a EAD pode constituir-se em ferramenta pedagógica adequada para qualificar enfermeiros que não têm acesso aos processos convencionais de pós-graduação, viabilizando a qualificação de um grande contingente de enfermeiros, geograficamente dispersos, sem possibilidade de afastar-se do seu cotidiano de vida e profissional. Frente à necessidade de formar os atendentes de enfermagem do país e qualificar enfermeiros para atuar como docentes, a EAD apresenta-se como uma estratégia pedagógica eficaz e possível.

tecnologia educacional; educação de pós-graduação em enfermagem; enfermagem


This study aims at reporting an experience of offering a course in the master program of the Universidad Nacional de Rosário. The purpose is to offer elements for a reflection on a conception of long-distance education, as an adequate and efficient modality of education, aiming at enabling a teaching with quality to a determined clientele. The course was developed in three moments: video-conference, long-distance didactic activities and a seminar. The tutoring was shared by establishing the challenge of having a dialogic relation with the students. Authors believe that long-distance education is an adequate pedagogical tool to qualify nurses who have no access to traditional graduate studies. Therefore it enables the qualification of a greater number of nurses, geographically dispersed, who are unable to scape from the routine of their personal and professional lives. Facing the need to form the country's nursing workers and qualify nurses to act as teachers, long-distance learning is an effective and possible pedagogical strategy.

educational technology; nursing graduate studies; nursing


Se trata de relatar la experiencia del ofrecimiento de la materia del curso de Maestría de la Universidad Nacional de Rosario. Tiene como objetivo ayudar en la reflexión sobre la concepción de la educación a distancia (EAD), como modalidad adecuada y eficaz, para proporcionar una enseñanza de calidad a determinada clientela. La materia fue desarrollada en tres momentos: Video-conferencia; Actividades didácticas realizadas a distancia y Seminario presencial. La tutoría fue compartida estableciéndose el desafío de realizar una relación dialógica con los alumnos. Las autoras creen que la EAD puede constituirse en herramienta pedagógica adecuada para cualificar enfermeros que no tiene acceso a los procesos convencionales de postgrado, haciendo viable la cualificación de un gran contingente de enfermeros geográficamente dispersos, sin posibilidad de alejarse de su vida cotidiana y profesional. Frente a la necesidad de formar los auxiliares de enfermería del país y cualificar enfermeros para actuar como docentes, la EAD se presenta como una estrategia pedagógica eficaz y posible.

tecnología educacional; educación de postgrado en enfermería; enfermería


COMUNICAÇÕES BREVES/RELATO DE CASOS

Educação a distância na área da enfermagem: relato de uma experiência

Distance learning in the nursing area: report of an experience

Educación a distancia en el área de enfermería: relato de una experiencia

Marisa Antonini Ribeiro BastosI; Eliane Marina Palhares GuimarãesII

Docentes da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais:

IEnfermeira, Doutora, e-mail: marisa@enf.ufmg.br

IIEnfermeira, Mestre, e-mail: elianemg@enf.ufmg.br

RESUMO

Trata-se de relato da experiência do oferecimento de disciplina do curso de mestrado da Universidad Nacional de Rosário. Tem como objetivo subsidiar a reflexão sobre a concepção da educação a distância, enquanto modalidade adequada e eficaz, para proporcionar ensino de qualidade a determinada clientela. A disciplina foi desenvolvida em três momentos: videoconferência; atividades didáticas realizadas a distância e seminário presencial. A tutoria foi compartilhada estabelecendo-se o desafio de realizar uma relação dialógica com os alunos. As autoras acreditam que a EAD pode constituir-se em ferramenta pedagógica adequada para qualificar enfermeiros que não têm acesso aos processos convencionais de pós-graduação, viabilizando a qualificação de um grande contingente de enfermeiros, geograficamente dispersos, sem possibilidade de afastar-se do seu cotidiano de vida e profissional. Frente à necessidade de formar os atendentes de enfermagem do país e qualificar enfermeiros para atuar como docentes, a EAD apresenta-se como uma estratégia pedagógica eficaz e possível.

Descritores: tecnologia educacional; educação de pós-graduação em enfermagem; enfermagem

ABSTRACT

This study aims at reporting an experience of offering a course in the master program of the Universidad Nacional de Rosário. The purpose is to offer elements for a reflection on a conception of long-distance education, as an adequate and efficient modality of education, aiming at enabling a teaching with quality to a determined clientele. The course was developed in three moments: video-conference, long-distance didactic activities and a seminar. The tutoring was shared by establishing the challenge of having a dialogic relation with the students. Authors believe that long-distance education is an adequate pedagogical tool to qualify nurses who have no access to traditional graduate studies. Therefore it enables the qualification of a greater number of nurses, geographically dispersed, who are unable to scape from the routine of their personal and professional lives. Facing the need to form the country's nursing workers and qualify nurses to act as teachers, long-distance learning is an effective and possible pedagogical strategy.

Descriptors: educational technology; nursing graduate studies; nursing

RESUMEN

Se trata de relatar la experiencia del ofrecimiento de la materia del curso de Maestría de la Universidad Nacional de Rosario. Tiene como objetivo ayudar en la reflexión sobre la concepción de la educación a distancia (EAD), como modalidad adecuada y eficaz, para proporcionar una enseñanza de calidad a determinada clientela. La materia fue desarrollada en tres momentos: Video-conferencia; Actividades didácticas realizadas a distancia y Seminario presencial. La tutoría fue compartida estableciéndose el desafío de realizar una relación dialógica con los alumnos. Las autoras creen que la EAD puede constituirse en herramienta pedagógica adecuada para cualificar enfermeros que no tiene acceso a los procesos convencionales de postgrado, haciendo viable la cualificación de un gran contingente de enfermeros geográficamente dispersos, sin posibilidad de alejarse de su vida cotidiana y profesional. Frente a la necesidad de formar los auxiliares de enfermería del país y cualificar enfermeros para actuar como docentes, la EAD se presenta como una estrategia pedagógica eficaz y posible.

Descriptores: tecnología educacional; educación de postgrado en enfermería; enfermería

INTRODUÇÃO

A Escola de Enfermagem, nos últimos anos, tem se instrumentalizado para disponibilizar programas de capacitação pessoal na modalidade a distância, tanto no que diz respeito à preparação de seu corpo docente, quanto à adequação tecnológica, como mais uma alternativa para responder a uma demanda social estabelecida na área da saúde, em especial, para o pessoal de enfermagem.

Algumas experiências já se tornaram realidade, como, por exemplo, a descentralização do Curso de Especialização em Enfermagem de Saúde Pública, oferecido fora da sede de Belo Horizonte; do curso de Mestrado em Enfermagem, oferecido em outras cidades do estado de Minas Gerais e a participação na construção e implementação de consultoria a distância para o Programa de Saúde da Família, disponível no site http://www.psf.ufmg.br.

Além dessas iniciativas, a Escola de Enfermagem participou do curso de mestrado "Maestría en Administración de Servicios de Enfermería", da Universidad Nacional de Rosario, Argentina/Facultad de Ciencias Médicas/Escuela de Graduados, na modalidade a distância. Para essa atividade, foram convidadas as autoras desse artigo, para criar e desenvolver a disciplina denominada: Economia e Administração de Serviços de Enfermagem.

A publicação desse artigo tem como objetivo apresentar a experiência das autoras no processo de criação e desenvolvimento da disciplina do curso de mestrado acima referido. Ao expor os aspectos facilitadores das estratégias de enfrentamento e avaliação dos alunos, bem como aqueles que as dificultam, esperam subsidiar a reflexão sobre a concepção da educação a distância, enquanto uma ferramenta pedagógica adequada e eficaz, para proporcionar um ensino de qualidade a uma clientela que possui determinadas características.

O contato com a literatura relacionada com essa temática indica que a educação a distância (EAD) tem se mostrado como uma estratégica adequada e eficaz para educação de adulto, já inserido ao mercado de trabalho, e que tem uma experiência acumulada, facilitando o acesso ao saber por um grande contingente de alunos.

A educação a distância (EAD) não é uma ferramenta nova; é mais antiga que parece, pois já tem mais de um século de existência. Seus primórdios remontam ao ano de 1881, quando William R. Harper, primeiro reitor e fundador da Universidade de Chicago, ofereceu, com absoluto sucesso, um curso de Hebreu por correspondência. Em 1889, o Queen's College, do Canadá, deu início a uma série de cursos a distância, sempre registrando grande procura por eles, devido, principalmente, a seu baixo custo e às grandes distâncias que separavam os centros urbanos. Daquela época em diante, a EAD foi sendo desenvolvida, utilizando-se as mais variadas estratégias, ferramentas e tecnologias(1).

Existem inúmeras definições de EAD que ora enfatizam a questão tecnológica e pedagógica, ora, outros aspectos relacionados às características da clientela e do acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, dentre as quais destacamos:

- Na educação a distância, os alunos estão relativamente dispersos.

- São alunos predominantemente adultos.

- Há possibilidade de comunicação massiva.

- A comunicação é de dupla via, ou seja, o aluno interage com o sistema que produz o ensino, com intermediação realizada pelo tutor.

- O estudo é individualizado, independente e autônomo. O que se pretende é que o aluno aprenda a aprender.

- Há tendência a adotar estruturas curriculares flexíveis, que permitam maior adaptação às possibilidades e expectativas dos alunos, liberdade de ação, respeito ao ritmo.

- O custo é decrescente por estudante, depois de um grande investimento inicial na produção e editoração do material gráfico, por exemplo.

- A comunicação se dá por meio da utilização de tecnologias convencionais e inovadoras(2).

RELATO DA EXPERIÊNCIA

A disciplina foi construída e operacionalizada a partir da definição de alguns pressupostos vinculados à concepção de educação a distância e à concepção pedagógica, dentre eles:

- É possível oferecer cursos a distância de qualidade. Isso passa por realizar um bom planejamento didático, seleção de conteúdos que sejam adequadamente relacionados às competências a serem adquiridas pelo aluno, construção de material gráfico que seja consoante à concepção pedagógica adotada. Além, é claro, da estrutura organizacional de suporte, tutores que compreendam o seu papel de facilitador do processo ensino-aprendizagem.

- A participação dos tutores representava a possibilidade de utilizar recursos não disponíveis no país. Representava, assim, a garantia do acesso igualitário ao saber, uma vez que as alunas estavam dispersas em cidades da Argentina. Além do mais, tinha que ser garantida a permanência do aluno no seu local de trabalho.

- O aluno é um ser ativo, sujeito fundamental do processo de construção do seu próprio conhecimento.

- O professor é um facilitador do processo ensino-aprendizagem.

- É possível estabelecer uma relação dialógica entre tutores e alunos, facilitada pela utilização de tecnologias interativas de comunicação.

- Na educação a distância deve ser incentivada a utilização de todos os meios de comunicação disponíveis, desde o correio até as mais modernas tecnologias de multimídia.

- Aprender a aprender pressupõe o estímulo ao trabalho independente e autônomo ligado à experiência profissional dos alunos.

Perfil dos alunos

O corpo discente foi constituído por vinte e cinco enfermeiros, homens e mulheres, com idade de 36 a 65 anos. Eram docentes e profissionais de serviços de saúde privados e públicos, alguns com grande experiência em gerência de serviços.

A disciplina

A disciplina Economia e Administração dos Serviços de Enfermagem foi desenvolvida em três momentos principais.

No primeiro momento, foi realizada uma videoconferência; no segundo, atividades didáticas realizadas a distância com utilização de dois módulos; e o terceiro momento foi presencial, quando as duas tutoras foram para a Argentina e permaneceram por uma semana.

1º momento

A Videoconferência teve, basicamente, dois objetivos: a realização de uma conferência sobre Gerência dos Serviços de Saúde e a oportunidade de tirar dúvidas sobre a operacionalização do curso. Foi realizada em conexão via satélite, em tempo real (imagem e som) e com possibilidade de interação entre docentes e alunos. Esse momento foi enriquecedor, em especial, pela oportunidade de poder apresentar e explicar a proposta metodológica da disciplina, quando os alunos já tinham em mãos o material instrucional.

2º momento

O 2º momento foi caracterizado pela realização de atividades didáticas a distância, orientadas por um módulo instrucional construído especificamente para o curso e contendo quatro unidades temáticas, relacionadas às competências que se esperava que o enfermeiro adquirisse. O outro módulo foi constituído de leituras complementares.

O módulo oferece oportunidades de investigação, análise e resolução de problemas, por meio da realização de estudos independentes; estimula a busca de temas complementares, possibilitando que o participante se atualize em relação aos conteúdos selecionados. Permite, também, que o aluno realize atividades de aprendizagem por meio da utilização de conhecimentos adquiridos e reflita criticamente sobre esses conhecimentos, a partir do seu contexto de trabalho e realidade social. A elaboração teve, como princípio, problematizar o cotidiano do profissional, despertando-o para a ação e a tomada de decisão em situações concretas do seu cotidiano.

Os alunos tiveram possibilidade de refazer as atividades durante os quatro meses de desenvolvimento do curso.

3º momento: momento presencial

Foi o momento de interação face a face dos sujeitos do processo ensino-aprendizagem. Nesse momento presencial de uma semana, os tutores tiveram a oportunidade de conhecer os alunos, conversar muito sobre as impressões e sobre si mesmos, desfazendo alguns pré-conceitos, dúvidas e angústias.

Foi realizado, também, um seminário, quando os grupos de trabalho apresentaram o material produzido, mostrando a realidade, as dúvidas e os avanços de cada grupo.

Nessa fase, foi realizada a avaliação final da aprendizagem. A avaliação da disciplina teve um caráter formativo, considerando todo o processo de construção do conhecimento, desde as atividades de aprendizagem individuais e em grupo, até o momento presencial. Ela foi constituída de avaliação do tutor e auto-avaliação e, conforme sugerido na literatura, com valorização de mudança de atitude, criatividade, competência em estabelecer inter-relações e o processo de construção por sucessivas aproximações(3).

A auto-avaliação foi realizada com base em um instrumento pré-estruturado onde o aluno registrava aspectos positivos e negativos com relação ao material didático, à concepção metodológica e ao desenvolvimento dos seminários. Registrava, também, sua opinião em relação à contribuição da disciplina para a vida pessoal e profissional, além de listar os aspectos facilitadores e limitadores, vivenciados durante o processo, e, finalmente, apresentava sugestões para novas experiências.

A tutoria

A relação foi de dois tutores para vinte e cinco alunos. Foi uma tutoria compartilhada, uma vez que acompanharam o processo ensino-aprendizagem de todos os alunos e, juntas, decidiram e propuseram estratégias e caminhos.

O papel do tutor era o mesmo descrito no projeto do Curso de Especialização em Educação Profissional/ENSP(4): "...assumir integralmente o apoio ao processo de aprendizagem dos alunos, identificando as diferenças entre as suas trajetórias, respeitando ritmos próprios, valorizando suas conquistas, procurando integrá-los e ajudando-os a enfrentar os desafios que o ensino individualizado impõe".

Além desse papel, as tutoras estabeleceram o desafio de realizar uma relação dialógica com os alunos, por meio de um acompanhamento e dinâmica de ensino que lhes dessem a certeza de que não estavam sozinhos e de que o processo ensino-aprendizagem fosse algo verdadeiramente compartilhado.

Assim, estabelecer uma relação dialógica implicava:

1. compreender o aluno como uma pessoa adulta que tem toda uma trajetória de vida pessoal e profissional e que essa experiência acumulada deve ser resgatada no processo de construção do seu conhecimento;

2. considerar as diferenças de experiência, de expectativas, de ritmos de aprendizagem, de cultura e de realidades;

3. compreender que trabalho independente e autônomo, característica do aprender a aprender, não significa trabalho solitário e desamparado;

4. apontar caminhos, estimular avanços, e, sobretudo, aprender com o insucesso. (do aluno e das tutoras).

AVALIANDO A EXPERIÊNCIA

As pessoas são diferentes, e realizar educação centrada na pessoa requer do educador colocar-se frente a esse desafio, ou seja, facilitar o processo ensino - aprendizagem de pessoas diferentes, com culturas diferentes, línguas diferentes, realidades diferentes. Assim, estabelecer uma relação dialógica com o outro, passa por compreender a dimensão cultural do outro, compreender que essa pessoa pensa e age pautada num cotidiano e contexto diferente do seu.

No ensino convencional, os alunos são tratados na coletividade, no que se refere a ritmo, tempo e material educacional. Na EAD, o contato é tutor/aluno. Mais do que nunca, percebe-se que é necessário saber trabalhar com diferenças, sob o ponto de vista de experiência profissional, de vida, cultural e de habilidades. O tutor deve adotar estratégias educacionais, nas quais, o respeito a essa característica humana se realize. "Diante da diversidade, é preciso atenção para valorizar as diferenças, estimular idéias, opiniões e atitudes, desenvolver a capacidade de aprender a aprender e de aprender a pensar, assim como levar o aluno a obter o controle consciente do aprendido, retê-lo e saber aplicá-lo noutro contexto"(5).

Isso, na prática, significa ser flexível, saber lidar com o imprevisível, e, principalmente, flexibilizar o processo ensino-aprendizagem, a tecnologia e o material pedagógico elaborado, com respeito ao ritmo, tempo e quadro de referência do outro. Significa, portanto, fazer um acompanhamento diferenciado, quase que personalizar o processo ensino-aprendizagem, exigindo que o tutor seja organizado, estruture uma lógica de trabalho e defina códigos de orientação pessoal.

Na avaliação realizada pelos alunos, a disciplina foi considerada dinâmica, flexível, possibilitando aplicar os conceitos teóricos na prática profissional. Destacaram, ainda, que a proposta de realização das atividades de aprendizagem despertou a criatividade, permitindo a organização do tempo de forma individual.

Segundo alguns autores(6), educação a distância permite a formação do aluno fora do contexto da sala de aula, com ausência de rigidez quanto aos requisitos de espaço (onde estudar?), momento de assistir às aulas e tempo (quando estudar?) e ritmo (em que velocidade aprender?).

Para as tutoras, a educação a distância representou, também, a possibilidade de realizar o processo ensino - aprendizagem sem muita rigidez quanto a espaço, tempo e ritmo. Realizaram as atividades no tempo disponível, no próprio ritmo e no local mais viável. Essa é uma facilidade que o ensino a distância proporciona.

Outro fator que facilitou o trabalho de tutoria foi uma forte interação entre as docentes. Assim, a tutoria compartilhada, estratégia adotada para enfrentar a inexperiência das tutoras, serviu de apoio e suporte mútuo, e tornou-se um fator facilitador do processo, avaliado como eficaz e positivo, sob o ponto de vista das docentes.

Para os alunos, a integração das docentes foi também percebida como um fator facilitador do processo ensino-aprendizagem, manifestada pela coerência de postura durante as discussões teóricas e teórico-práticas.

No que se refere à concepção pedagógica, a literatura sobre EAD aponta para o risco de repetir, na educação a distância, os ineficazes métodos instrucionais utilizados no ensino presencial. Sob esse ponto de vista, a videoconferência, embora considerada uma tecnologia inovadora, de ponta, foi utilizada numa concepção pedagógica que não a diferencia de uma aula expositiva do ensino presencial. Ela é uma tecnologia ainda cara, pelo menos no nosso meio, e, segundo a experiência das tutoras, dificulta o uso de metodologias mais flexíveis e centradas no aluno, com menor controle de tempo e de participação desses. Por outro lado, segundo os alunos, permitiu uma primeira aproximação "visual" com o grupo, diminuindo a distância e a ansiedade de um trabalho mediado pela tecnologia, dando-lhe uma abordagem mais humana.

No que se refere ao material instrucional produzido para cursos a distância, algumas questões devem ser formuladas: o material instrucional permite o ensino autônomo e independente? Em que medida os módulos elaborados contêm mensagens que correspondem às competências que os alunos deverão adquirir? Os módulos abordam temas que problematizam o cotidiano do trabalho, a realidade vivida, instrumentalizando-os para tomada de decisão em situações concretas do seu cotidiano de vida e profissional?

Embora as tutoras tivessem elaborado um módulo que possibilitasse que o aluno buscasse seu conhecimento pautado na experiência, estimulando o "aprender a aprender", a homogeneidade dos materiais instrucionais, nos quais "todos aprendem o mesmo conhecimento por meio de um pacote instrucional"(7), levou-as pensar na necessidade de elaborar recursos instrucionais mais flexíveis que permitissem verdadeiramente o ensino independente e autônomo. Para isso, tornou-se necessário adotar certa individualização dos recursos educacionais, por meio da indicação de material adicional, de acordo com as expectativas individuais.

Sob essa ótica, a experiência apontou a dificuldade de elaborar material instrucional que não fosse apenas um "transmissor de informação", tornando-se um instrumento utilizado na pedagogia da transmissão. Assim, o texto não pode ser apenas informativo. "Ele tem que ser um discurso persuasivo, com estímulos para a realização de operações complexas, além de internalização de conhecimentos anteriores e com a experiência pessoal, a síntese integradora, a motivação heurística, a inquietude por identificar as formas possíveis de aplicação em seu meio, e, ainda, considerar as implicações sociais e éticas de tais aplicações"(7).

Na avaliação do material instrucional, realizada pelos alunos, foi enfatizada a sua aplicabilidade na discussão da teoria, com base na experiência prática e na ampliação do conhecimento por meio da indicação de leituras complementares de interesse pessoal.

Analisando os aspectos relacionados à comunicação e aos recursos tecnológicos utilizados, a experiência mostrou que quem define a tecnologia de comunicação é o aluno. Para isso, é necessário que o tutor tenha familiaridade com todas as tecnologias de comunicação disponíveis.

Na análise desse aspecto da experiência, não há como descolar a educação de comunicação, seja ela de qualquer natureza ou modalidade, seja ela mediada pela tecnologia, a internet, o vídeo, o material gráfico, a fala ou o gesto. O êxito da comunicação depende não apenas dos recursos tecnológicos que serão utilizados, mas também e, principalmente, da concepção pedagógica que sustenta essa tecnologia. Comunicação depende do conteúdo da mensagem, um código coerente com o conteúdo e o canal que garanta a fidelidade na comunicação da mensagem. Assim, a comunicação, seja em EAD ou não, não deve ser apenas uma transmissão de informação, mas um meio de promover processos de diálogo, participação e interação. A comunicação implica não só conteúdo, canal, mas também relação, relação humana(7).

No processo de educação, as tecnologias devem ser utilizadas preferencialmente para proporcionar aos estudantes a oportunidade de interagir e trabalhar em problemas e projetos significativos. Na educação a distância, não se deve repetir o equívoco cometido no ensino convencional, ou seja, a possibilidade de utilizar tecnologias de comunicação de ponta deve estar sustentada numa concepção de ensino que possibilite a aprendizagem significativa, apoiando o pensamento reflexivo, dialógico, contextual, complexo, intencional, colaborativo, construtivo e ativo. Além disso, deve-se fazer, também, uma análise de cada uma dessas tecnologias de ponta, frente à possibilidade de viabilizar construtivismo a distância, ou seja, as aplicações construtivistas da tecnologia(8).

Em relação aos recursos tecnológicos utilizados para o desenvolvimento da disciplina, os alunos apontaram, como fator facilitador, a manutenção de uma via de comunicação permanente com os docentes, possibilitando a retroalimentação do processo de aprendizagem, à medida que as atividades eram realizadas. No entanto, enfatizaram, como um dos fatores que dificultaram a disciplina, as limitações iniciais decorrentes da implementação da comunicação via e-mail.

Com relação à socialização de alunos e tutores, é inegável que, na educação a distância, há uma limitação em alcançar socialização no processo educativo que ocorre da troca de experiências proporcionada pela relação pessoal entre professor e aluno. Analisando a experiência sob esse ponto de vista, o momento presencial permitiu, de certa forma, amenizar a limitação do processo de socialização, facilitando, também, o processo de avaliação, uma vez que foi possível identificar o grau de envolvimento e participação com as tarefas individuais e em grupo.

Finalizando, as tutoras gostariam de enfatizar algumas conclusões decorrentes dessa experiência em EAD:

- A experiência significou, principalmente, a possibilidade de qualificação de enfermeiros, com utilização de recursos externos ao país, imprimindo qualidade, atualização e inovação ao programa de pós-graduação, por meio de uma eficaz articulação que é estudo/trabalho.

- A educação a distância é uma estratégia eficaz para atingir pessoas que querem ou precisam ser qualificadas, mas que, por razões diversas, não podem se afastar do seu contexto de vida e de trabalho.

- A distância entre alunos e docentes, característica da EAD, pode ser utilizada como sua grande força, ou seja, a possibilidade de engajar os alunos de forma dinâmica ao processo de aprendizagem, respeitando a independência e a autonomia, estabelecendo elos entre a aprendizagem e a experiência de vida e profissional. Os educadores a distância podem e devem utilizar essa característica da EAD (não afastamento do aluno do seu cotidiano de vida e de trabalho), no sentido de contextualizar conteúdos, resgatar experiências, integrando ou consolidando novas habilidades e conhecimentos à sua experiência profissional e de vida, instrumentalizado-os para atuar nas situações concretas.

- Para engajar os alunos de forma dinâmica ao processo ensino-aprendizagem, é necessário reconhecer a natureza social do conhecimento. Ele não existe descolado do contexto social em que ocorre. Baseado nesse pressuposto, o educador a distância incentiva a busca de conhecimento por meio da "conversa didática dirigida", com tutores, colegas, comunidade, contribuindo para a aprendizagem, de forma dinâmica e independente. "A chave é a autonomia com a qual os alunos conduzem seus próprios estudos. Eles se aproximam e integram o conhecimento compartilhado com seus próprios interesses e perspectivas"(9).

- É necessário que os docentes trabalhem dentro do princípio da interdependência e participem do sistema de apoio e aconselhamentos. O aconselhamento é uma estratégia fundamental para estabelecer o vínculo do aluno à instituição, com participação de tutores e pessoal administrativo. É também utilizado para reforço, motivação, para promover interesse e evitar evasões. A idéia de sistema de apoio em EAD é o trabalho de rede, trabalho articulado por meio de temas ou interesses comuns, viabilizando grupos de discussão, promovendo interação entre grupos de interesse. Pode incluir, também, a utilização de rede informatizada, para distribuição do material didático e avaliação(9).

- Com o olhar focado na realidade da Enfermagem, as tutoras acreditam que a EAD pode se constituir em ferramenta pedagógica adequada para qualificar enfermeiros que, por razões várias, não têm acesso aos processos convencionais de pós-graduação. Ela viabiliza a qualificação de um grande contingente de enfermeiros, que estão geograficamente dispersos, longe dos grandes centros, sem possibilidade de afastar-se do seu cotidiano de vida e profissional. Frente à necessidade de formar os atendentes de enfermagem do país, que é o desafio de todos nós, e de qualificar enfermeiros para atuar como docentes, a EAD apresenta-se como uma ferramenta pedagógica eficaz e possível.

Recebido em: 30.7.2001

Aprovado em: 14.5.2003

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2004
  • Data do Fascículo
    Out 2003

Histórico

  • Recebido
    30 Jul 2001
  • Aceito
    14 Maio 2003
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