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Protocolos para desmame da ventilação mecânica em pediatria

À BEIRA DO LEITO

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

Protocolos para desmame da ventilação mecânica em pediatria

Werther Brunow de Carvalho; Nilton Ferraro Oliveira

Existe um conceito básico geral em cuidados intensivos de que a atuação interdisciplinar melhora os cuidados clínicos de rotina de pacientes gravemente enfermos, quando se complementa o julgamento clínico à beira do leito com a utilização de protocolos baseados em evidências. Uma pesquisa recente, utilizando protocolo dirigido comparativamente à retirada gradual orientada pelo médico em crianças criticamente enfermas, demostrou um aumento da taxa de sucesso de extubação¹ traqueal, com resultados clinicamente importantes e estatisticamente significantes. Uma pesquisa multicêntrica recente², do grupo de trabalho Pediatric Acute Lung Injury and Sepsis Investigators (PALISI), compara a utilização de protocolos para retirada gradual com cuidados padrão de procedimento, comparando também um protocolo utilizando ventilação com suporte de pressão (n = 62 pacientes) com outro protocolo utilizando ventilação com suporte de volume (n = 60 pacientes) e com outro grupo que não utilizou protocolo (n = 60 pacientes). A pesquisa foi interrompida após as primeiras 182 crianças devido a ausência de diferenças entre os grupos com respeito à qualquer dado evolutivo relacionado ao desmame. Conclui-se que o protocolo de retirada gradual não diminui significantemente a duração da ventilação mecânica em lactentes e crianças, mas que o uso de sedativo era o principal fator que afetou a duração do desmame neste estudo, já que a utilização aumentada de sedativo nas primeiras 24 horas do desmame é um preditor de falha da extubação (p = 0.04), sendo este dado consistente com os achados em pacientes adultos. Uma outra conclusão que se deduz é que, contrariamente aos dados de pacientes adultos3,4, a maioria das crianças foram retiradas da ventilação pulmonar mecânica em dois dias ou menos.

Os protocolos baseados em evidência não são um sinônimo de receita de bolo e não devem ser tão rígidos de maneira a determinar uma importância secundária em relação à segurança e conforto da criança. Sabemos que diversos protocolos têm melhorado a prática de cuidados intensivos em pediatria, e que estes devem ser realizados com o objetivo de aumentar os conhecimentos em relação aos cuidados das crianças doentes, mas que em várias ocasiões poderão não demostrar dados estatísticos e clínicos melhores do que os cuidados habituais fornecidos ao paciente.

Referências

1. Schultz TR, Lin RJ, Watzman HM, Durning SM, Hales R, Woodson A, et al. Weaning children from mechanical ventilation: a prospective randomized trial of protolol-directed versus physician-directed weaning. Respir Care 2001;46:772-82.

2. Randolph AG, Wypij D, Venkataraman S, Hanson JH, Gedeit RG, Meert K, et al. Effect of mechanical ventilator weaning protocols on respiratory outcomes in infants and children: a randomized controlled trial. JAMA 2002;288(20):2561-8.

3. Maclntyre NR, Cook DJ, Ely Jr Ew. Evidence-based guidelines for weaning and discontinuing ventilatory support. Chest 2001; 120 (suppl 6):275S-395S.

4. Kollef MH, Shapiro SD, Silver P, St John RE, Prentice D, Sauer S, et al. A randomized, controlled trial of protocol-directed versus physician-directed weaning from mechanical ventilation. Crit Care Med 1997; 25(5): 567-74.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Abr 2003
  • Data do Fascículo
    Jan 2003
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