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Da natureza do homem Corpus hippocraticum

Nature of man Corpus hippocraticum

Da natureza do homem

Corpus hippocraticum

Nature of man

Corpus hippocraticum

Malgrado ser o tratado Da natureza do homem considerado por Joly (1966, p. 5) "um texto muito hipocrático", este não é, comprovadamente, um tratado da lavra de Hipócrates, mas sim de seu discípulo e genro, Pólibo. Pode-se alegar, em prol desta autoria, que: 1) a História dos animais (III, 512b12-513a7), de Aristóteles, cita e praticamente transcreve o parágrafo 11 do tratado, introduzindo-o com a frase: "disseram assim Syénesis e Diógenes; Pólibo, porém, disse como se segue ..."; 2) o Anônimo de Londres (XIX, 2 et seq.) refere-se à primeira parte do tratado, isto é, ao trecho que se estende até o oitavo parágrafo, como proveniente da pena de Pólibo.

Galeno (Sobre o Da natureza do homem, preâmbulo) crê na autenticidade hipocrática dos oito primeiros parágrafos do tratado, mas pondera que os sete restantes são uma interpolação devida aos mercadores de livros de Alexandria e de Pérgamo. Todavia, o critério de Galeno é assaz subjetivo, conquanto, embora complexo, repousa sobre o fato de, na sua opinião, serem os textos "dignos" ou não de Hipócrates1 1 Ver Littré (1849, p. 53); Jouanna (1992,1992, p. 93). no que diz respeito ao conhecimento de anatomia e até mesmo às opções lexicais. A exemplo destas últimas, poder-se-ia citar a palavra oúrema, no décimo quarto prágrafo do tratado, onde também se encontra sua outra forma, oûron.

Galeno de Pérgamo não encerra aí seus argumentos. A eles, acrescenta a passagem 270c do Fedro:

Sócrates — Então, quanto à natureza da alma, crês que é possível conhecê-la devidamente sem conhecer a natureza do todo?

Fedro — Quanto a isso, fiando-se em Hipócrates, da família dos Asclepíades, não é possível conhecer o corpo sem esse método.

Sócrates — É certo, meu amigo, o que ele diz. É necessário, porém, examinando o lógos para além de Hipócrates, observar se este está de acordo com aquele.

Fedro — É o que digo.

Sócrates — Veja, então, o que dizem sobre a natureza Hipócrates e o lógos verdadeiro. Não seria assim que é preciso pensar sobre a natureza de um objeto? Ou seja, primeiramente, examinar se o objeto que nós queremos ser os tekhnikoí — e capazes de formar outro tekhnikós — é simples ou multiforme, e, em seguida, se esse for simples, observar sua propriedade, a que atividade está mais propenso, ou de que ação é passível? Se o objeto possuir muitas formas, não seria preciso, depois de contá-las, vê-las a cada uma uma como um objeto simples, isto é, examinar a que está mais propenso a fazer ou de que ação é mais passível?

Para Galeno, esse trecho de Platão refere-se ao tratado Da natureza do homem. Mas, se tivesse razão o médico de Pérgamo, o tratado dificilmente seria de Pólibo, que esse é contemporâneo de Aristóteles. Contudo, Littré (1839, pp. 294-300) empenhou-se em demonstrar que Platão se baseara no tratado Da medicina antiga. Alega o lexicógrafo francês que Platão não se referia ao método empírico, mas ao critério de generalização que se encontra minuciosamente descrito no Da medicina antiga.

Jouanna (1992, pp. 88-9, 97), por sua vez, é mais cético quanto ao depoimento de autenticidade fornecido pelo diálogo platônico. Esse helenista chega mesmo a desautorizar por completo o raciocínio de Littré:

No século XIX, Littré pensava ter mostrado de maneira definitiva que o tratado alvejado por Platão era o Da medicina antiga. Assim, ele fazia deste tratado a ‘pedra de toque’ que lhe permitia determinar os tratados escritos pela mão de Hipócrates. Mas sua demonstração, que acreditava decisiva, não formou unanimidade. É preciso dizer que a própria interpretação do texto de Platão já é fonte de discussões entre eruditos. Quando Platão faz Hipócrates dizer que não é possível conhecer a natureza do corpo sem conhecer o todo, o que entendia ele por ‘todo’? Os eruditos se dividem. Trata-se do universo, como pensa a maioria, ou do todo que forma o objeto considerado, como estima a minoria?

Charles Petersen escreveu, em meados do século passado, um artigo2 2 O artigo de Petersen, foi publicado no periódico Philologus (1849, pp. 209-65). Apud Littré (1851, pp. viii-xiv). no qual atribui peremptoriamente a autoria de Da natureza do homem a Hipócrates. A esse artigo, Littré (1851, pp. xi-xiv) respondeu com veemência. Petersen, segundo Littré, observa que Platão, "que segue geralmente a doutrina hipocrática", admite, em seus diálogos, com exceção do Timeu, a bile e o fleuma como causa das doenças. No entanto, no Timeu, diálogo de sua fase adulta, ele muda de opinião e aceita a teoria dos quatro elementos, presente sobretudo no tratado Da natureza do homem. Esta doutrina dos quatro elementos não é encontrada nem nos primeiros livros de Hipócrates nem nos diálogos de Platão do primeiro ciclo. Então, ainda seguindo o raciocínio de Petersen, é lícito crer que Hipócrates só adotou esta teoria numa fase tardia de sua carreira de médico e que ele a apresentou ao público no intervalo entre suas primeiras obras e o Timeu. Não se sabe, exatamente, quando Platão escreveu este diálogo, mas Petersen inclinou-se a acreditar que ele veio à luz imediatamente depois da República completa, e essa última, sabe-se, conheceu o público depois da primeira viagem de Platão a Siracusa (entre 369 e 365 a.C.). Assim sendo, Platão, na opinião deste helenista, teria tido seu primeiro contato com Da natureza do homem naquela época. Já que Platão não conhecia o tratado quando escreveu seus primeiros diálogos, Petersen crê que a data de sua divulgação não pode distar muito do período compreendido entre 400 e 370 a.C.

Em sua resposta, Littré (1851) foi implacável com Petersen. Mostrou muito apropriadamente que seu colega helenista fora insólito e se baseara em fatos incertos e hipotéticos. O contra-argumento de Littré é que, para se aceitar a datação proposta, seria necessário: saber a exata data de composição do Timeu; crer que o tratado surgiu tardiamente e pouco depois do Timeu; considerar que este texto exerceu forte influência sobre Platão; e certificar-se de que a doutrina dos quatros humores não é de uma data mais recuada do que a última parte da vida produtiva de Hipócrates.

Littré, apesar de ter combatido energicamente a proposição de Petersen, não chega a defender que Pólibo tenha escrito Da natureza do homem. Contudo, a crítica contemporânea não hesita em considerar o genro de Hipocrátes como o verdadeiro autor do tratado. Jouanna, Joly, Bourguey, Lonie e todos os mais recentes expoentes dos estudos hipocráticos, nas obras em que se referem ao autor do tratado, são unânimes em admitir que seu autor é Pólibo e seu inspirador, Hipócrates.

Do texto e da tradução

Não caberia aqui uma história do texto de Da natureza do homem,3 3 Sobre esse aspecto, ver Cairus (1994). contudo, um esclarecimento se faz necessário. Jouanna, em seu estabelecimento do texto do tratado, privilegia o testemunho do Codex Parisianus 2253, a fonte sabidamente mais antiga (século X). Este manuscrito contém de Galeno apenas uma pequena parte do tratado Sobre o uso das partes; não obstante, ostenta o título Galeni uaria opuscula quorum index praeponitur. O documento, cujas páginas são numeradas, abrange, além de Da natureza do homem, dez outros tratados do Corpus hippocraticum integralmente e um incompletamente.

O tratado intitulado Da dieta salutar — de tema consideravelmente diverso do texto aqui apresentado — foi incluído por Jacques Jouanna no corpo do Da natureza do homem. A tradução que ora apresento acompanha Joly (1966), Jones (1959) e Littré (1849), no sentido de reconhecer o décimo quinto parágrafo como o último do tratado.

Entre os temas que figuram em Da natureza do homem, o que se tem mostrado mais fértil em estudos é aquele central dos dez primeiros parágrafos: a teoria dos quatro humores. Segundo esta teoria, o homem é composto de sangue, fleuma, bile amarela e bile negra, e sua saúde é resultado do equilíbrio entre essas quatro matérias vitais. A partir dessa tese, Pólibo estabelece uma relação entre os quatro humores e as quatro estações do ano. O interesse dos estudiosos por essas idéias hipocráticas funda-se, sobretudo, no diálogo que Pólibo empreende com os filósofos pré-socráticos.

Procurei ser o mais fiel possível na tradução do texto. O estilo duro e visceralmente antiliterário dos tratados do Corpus hippocraticum foi observado. Esse não é (e nunca foi) um texto com preocupações estéticas, como parece ser o de Platão. Trata-se de um texto que tinha como norte um novo conceito trazido pelas escolas médicas de Cós e Cnido a essa cultura que mutatis mutandis ainda é a nossa: a verdade pragmática, não ideal (como a socrática), nem somente comprovável (como a de Empédocles ou a de Anaxágoras), mas já comprovada, pretensamente avesso a dogmas, que necessitava de uma expressão divulgadora em nome de um altruísmo ainda pouco conhecido, que, tal como em Eurípides, unia a humanidade, e não apenas os povos.

Para a tradução, foi usado o texto estabelecido por Jacques Jouanna, em cotejo com o texto editado por Émile Littré.


Miniatura inscrita num manuscrito medieval (ca. 1500) representando Galeno. Wellcome Institute for the History of Medicine, Londres. (p. 375)

Da natureza do homem

texto em grego

1. Quem costuma ouvir aqueles que falam sobre a natureza humana, além do que concerne à medicina, para ele, este discurso não é interessante de ser ouvido. Digo, pois, não ser o homem, por completo, nem ar nem fogo nem água nem terra nem nenhum outro elemento que não é manifesto no interior do próprio homem. Mas deixo de lado aqueles que querem falar tais coisas. Certamente não me parece que os que dizem tais coisas as conheçam perfeitamente.

Hídria ateniense do século VI a.C.
Tendo se banhado estes homens untam-se com óleo como era costume entre os gregos por razões de saúde e estética.
Rijksmuseum zan Oudheten, Leiden.
(p. 202)

Usam todos o mesmo juízo, e não dizem as mesmas coisas; mas desse juízo eles chegam à mesma conclusão. Dizem, pois, ser uno algo que existe, e ser este uno o uno e o todo, mas não concordam sobre os nomes. Diz um deles ser o ar o uno e o todo; o outro ser o fogo; o outro, a água; o outro, a terra. Cada um acrescentando ao próprio discurso testemunhas e provas que nada são. Quando, pois, todos utilizam o mesmo juízo, mas não dizem as mesmas coisas, é evidente que não as conhecem. Poderia qualquer um saber muito bem disso observando aqueles que se contradizem; pois quando os mesmos homens contradizem uns aos outros diante dos mesmos ouvintes, nunca um só é três vezes seguidas vitorioso no discurso; mas uma vez este triunfa; outra, aquele outro; outra ainda aquele cuja língua tiver maior fluência diante do público. Todavia, é justo aceitar que quem fala conheça bem os assuntos, fazendo triunfar sempre seu próprio discurso, caso conheça ele a realidade e a demonstre como se deve. Parece-me, porém, que estes homens derrubam a si mesmos nos termos de seus discursos, por inabilidade (asyneisía), e restabelecem o discurso de Mélissos.

2. Sobre estas coisas, o que já foi dito me basta. Alguns médicos dizem que o homem é apenas sangue; outros afirmam ser o homem bile; outros ainda, fleuma, e chegam, todos eles, à mesma conclusão; com efeito, dizem haver uma substância, a qual cada um quer nomear da sua maneira, e esta substância, sendo uma, muda o aspecto (idéen) e a propriedade (dýnamis), coagida pelo frio e pelo calor, e se torna doce e amarga, clara e escura, e toma toda sorte de outras características. Não me parece, no entanto, serem estas coisas assim. A maioria demonstra estas coisas e ainda outras muito parecidas com elas. Eu, de minha parte, digo que, se o homem fosse uma unidade, nunca sofreria. Pois, sendo uma unidade, não haveria por que sofrer. Se realmente sofre, é necessário que haja também um único medicamento. Mas há muitos, pois há muitas substâncias no corpo, as quais, quando, contra a natureza, mutuamente se esfriam e se esquentam, e se secam e se umedecem, geram doenças; de tal modo que muitas são as formas (idéai) de doenças e seus tratamentos vários. De minha parte, penso que aquele que considera que o homem é apenas sangue, e nenhuma outra substância, denota que ele não muda de aspecto nem toma todas suas formas, quer no tempo de um ano, quer no tempo de toda sua vida, durante o qual só parece haver sangue dentro dele. Pois é preciso que haja uma ocasião qualquer na qual esta substância interna aflore. O mesmo digo a quem afirma ser o homem somente fleuma e a quem afirma ser ele bile. Eu, por minha vez, demonstrarei que as substâncias que direi ser o homem, tanto conforme o costume, quanto conforme a natureza, são sempre uniformemente as mesmas, seja ele jovem, seja velho; quer no tempo frio, quer no quente. Apresentarei provas e apontarei as necessidades graças às quais cada substância aumenta e diminui dentro do corpo.

3. Primeiramente, é necessário que a gênese não se dê a partir de um só indivíduo. Como, de fato, um ser único geraria, se não se unisse a outro? Afinal, se não se mesclarem seres que sejam da mesma raça e tenham as mesmas propriedades, não haveria gênese nem isto poderia acontecer. Por outro lado, se o calor e o frio, e o seco e o úmido, não se inter-relacionarem com moderação e em igualdade, mas um predominar sobre o outro, o mais forte sobre o mais fraco, não ocorrerá a gênese. De sorte que como seria possível gerar a partir de um só ser, quando não se gera a partir de muitos, se a combinação entre eles não for bem constituída? Sendo esta a natureza de todos os seres e a do homem, então é forçoso que o homem não seja uno; mas cada um dos humores4 4 A palavra ‘humor’ não está no original. A única ocorrência da palavra khymós (‘humor’), no tratado, está no seu último parágrafo. que contribuem para a gênese conserva no corpo sua propriedade, e precisamente a que contribuiu. É necessário, também, que cada humor retorne à sua própria natureza, tendo chegado ao seu fim o corpo do homem: o úmido ao úmido, o seco ao seco, o calor ao calor e o frio ao frio.

Pedra tumular do médico ateniense Jasão, que apalpa o abdome de um paciente, à direita do qual se vê uma enorme ventosa (séc. II a.C.).
Museu Britânico, Londres.
(p. 201)

Esta é a natureza dos animais e de todos os seres: tudo acontece da mesma maneira e termina da mesma forma. Pois a natureza dos seres é formada a partir de todos estes humores já mencionados, e, segundo o que foi dito, acaba e se desintegra exatamente lá onde cada um se formou.

4. O corpo do homem contém sangue, fleuma, bile amarela e negra — esta é a natureza do corpo, através da qual adoece e tem saúde. Tem saúde, precisamente, quando estes humores são harmônicos em proporção, em propriedade e em quantidade, e sobretudo quando são misturados. O homem adoece quando há falta ou excesso de um desses humores, ou quando ele se separa no corpo e não se une aos demais. Pois é necessário que, quando um desses humores se separa e se desloca para adiante de seu lugar, não só este lugar donde se desloca adoeça, mas também o lugar no qual ele transborda, ultrapassando a medida, cause dor e sofrimento. E quando um desses humores flui para fora do corpo mais do que permite a sua superabundância, a evacuação causa sofrimento. Se, por outro lado, for feita a evacuação, a metástase e a separação dos outros humores dentro do corpo, é forçoso que isto cause, conforme o que já foi dito, um duplo sofrimento: no lugar do qual se deslocou e no lugar em que superabundou.

5. Tendo prometido, realmente, demonstrar que as substâncias que eu afirmaria constituírem o homem são sempre as mesmas segundo o costume e a natureza, afirmo então serem elas o sangue, o fleuma e a bile, tanto a amarela quanto a negra. E, primeiramente, afirmo que os nomes desses humores, segundo o costume, se distinguem, e nenhum deles tem o mesmo nome. Em seguida, de acordo com a natureza as aparências se diversificam: nem o fleuma se parece com o sangue nem o sangue com a bile nem a bile com o fleuma. Pois como seriam parecidos estes humores uns com os outros, cujas cores não se apresentam as mesmas diante dos olhos, nem parecem ser a mesma coisa ao toque da mão? Pois não são nem quentes nem frios nem secos nem úmidos da mesma maneira. É necessário, então, quando um difere dos demais em aparência e propriedade, que eles não sejam um único elemento, se é que o fogo e a água não são uma só e a mesma coisa. Podeis acreditar que não são todos estes uma única substância, mas cada uma delas tem sua particular propriedade e natureza: pois, se derdes a um homem um remédio que remova fleuma, ele vomita fleuma, e se lhe derdes um remédio que remova bile, ele vomita bile. Segundo os mesmos princípios, a bile negra é purgada, se lhe derdes remédio que remova bile negra. E se ferires uma parte qualquer do próprio corpo, de sorte a produzir uma chaga, dela escorrerá sangue. E estas coisas acontecerão diante de vós todo dia e toda noite, no inverno e no verão, até que o homem seja capaz de tirar de si mesmo o sopro (pneûma), e de recolocá-lo, e ele será capaz disso até que seja privado de alguns destes fenômenos congênitos. Mas são congênitas estas coisas mencionadas. Como, então, não seriam congênitas? Primeiro, é evidente que o homem, enquanto vive, tem sempre todos estes humores nele. Depois, ele nasceu de um ser humano que os tinha a todos, foi alimentado no seio de um ser humano que os tinha a todos. Eis o que, neste momento, afirmo e demonstro.

6. Os que dizem que o homem é uma unidade, a mim parece terem feito uso da seguinte opinião: vendo aqueles que tomam os remédios e perecem na excessiva purgação, alguns vomitando bile e outros fleuma, pensam, por isso, que o homem é um desses humores, aquele que for visto sendo eliminado ao morrer o homem. E quem afirma que o homem é sangue, faz uso da mesma opinião: vendo os homens serem degolados e o sangue fluir do corpo, criam a opinião de que este humor é o princípio vital (psykhé) do homem, e todos eles usam estas provas testemunhais em seus discursos. Em primeiro lugar, nas purgações excessivas, ninguém jamais morreu ao ter purgado apenas bile. Mas, quando alguém toma um remédio que remove a bile, primeiro vomita bile, depois fleuma, depois, além disso, vomita bile negra, e, finalmente, sangue puro.


Busto que se supôs representar Hipócrates. Considera-se hoje que seja de Crisipos, um dos líderes da escola de Cnido. Museu Capitolino, Roma (p. 192)

Os mesmos fenômenos acontecem também com os remédios que removem o fleuma, pois primeiro vomitam o fleuma, depois a bile amarela, depois a negra, finalmente o sangue puro e, então, morrem. Pois o remédio, quando adentra o corpo, primeiro remove o que estiver mais de acordo com sua natureza nos órgãos internos do corpo; depois, extrai e purga os outros humores. Assim como as plantas criadas e semeadas, quando chegam à terra, cada uma delas tira aquilo que estiver mais de acordo com a sua natureza no interior da terra, onde há substância ácida, amarga, doce, salgada e de todos os outros tipos. Primeiro, elas absorvem a maior quantidade possível daquela substância que está mais de acordo com a sua natureza; depois, extraem as outras. É isto que os remédios fazem no corpo. Quando removem a bile, primeiro purgam a bile mais pura, depois a misturada. E novamente os remédios para do fleuma porta o fleuma mais puro, depois o misturado. E, nos degolados, o sangue escorre mais quente e mais vermelho, depois escorremais semelhante ao fleuma e à bile.

7. No inverno, o fleuma aumenta no corpo do homem. Pois, no inverno, este humor, dentre os que estão no corpo, é o que está mais de acordo com a natureza, pois é o mais frio. Eis a prova disso, de que o fleuma é o mais frio: se quiserdes tocar o fleuma, a bile e o sangue, descobrireis que o fleuma é o mais frio. Todavia, ele é o mais viscoso, e, depois da bile negra, é o que é removido com mais violência. E tudo o que sai pela violência torna-se mais quente, forçado pela violência mesma. Mas, apesar deste fato, o fleuma mostra-se muito frio por causa de sua natureza peculiar. Podeis saber que o inverno enche o corpo de fleuma assim: no inverno, os homens escarram e assoam o nariz muito fleumaticamente; nessa estação, as inchações que tiverem tornam-se mais brancas, e sobrevêm as outras doenças fleumáticas. Na primavera, porém, o fleuma ainda permanece forte no corpo, e o sangue aumenta: o frio se abranda, e as chuvas caem; o sangue aumenta por causa dos temporais e dos dias quentes; estas condições do ano são as mais conformes com a natureza deste humor, pois a primavera é úmida e quente. Podeis saber disso assim: os homens, na primavera e no verão, são tomados pelas disenterias; o sangue lhes escorre do nariz, e ficam muito quentes e vermelhos. No verão, o sangue ainda é forte e a bile aumenta no corpo e permanece assim até o outono. No outono, porém, o sangue torna-se pouco, pois o outono é contrário à sua natureza; mas a bile domina o corpo no verão e no outono. Podeis saber disso assim: os homens, espontaneamente, vomitam bile nesta estação, e purgam muito biliosamente por causa das febres e das colorações destes homens.

Estátua de mármore encontrada perto de Cós, outra suposta representação de Hipócrates.
Museu de Cós. (p. 208)

O fleuma, porém, no verão, está o mais enfraquecido possível, pois esta estação, sendo seca e quente, é contrária à sua natureza. No outono, o sangue torna-se o mais escasso possível no homem, pois o outono é seco e começa imediatamente a esfriar o homem. Mas a bile negra, no outono, é muito abundante e vigorosa. Quando o inverno sobrevém, aquela bile, esfriando-se, torna-se parca, e o fleuma aumenta novamente, por causa da grande quantidade de chuvas e da duração das noites. Então, o corpo do homem tem permanentemente todos estes humores que, segundo a estação anual vigente, tornam-se, ora mais, ora menos abundantes, cada qual de acordo com sua proporção e com a sua natureza. Todos os anos compreendem todos os princípios: o calor, o frio, o seco e o úmido, pois nenhum desses princípios permaneceria um instante sem todas as coisas inseridas nesse universo; mas, se um elemento qualquer faltar, todos desaparecem. Pois, a partir da mesma necessidade, todos eles se reúnem e se alimentam mutuamente. Do mesmo modo, se um desses humores congênitos faltasse, o homem poderia viver. No ano, dominam o inverno, a primavera, o verão e o outono, cada qual à sua vez. Assim também, no homem, domina ora o fleuma, ora o sangue, ora a bile, primeiro a amarela, depois a chamada negra. Eis a claríssima prova: se quiserdes dar o mesmo remédio quatro vezes durante o ano, ele vomitará, no inverno, fleumaticamente; na primavera, umidamente; no verão, biliosamente, e no outono, nigérrimo.

8. Então, sendo estes humores assim, as doenças que aumentam no inverno devem, no verão, esmorecer; mas as que, no verão aumentam, devem, no inverno, esmorecer, são aquelas que não saram no período dos dias, mas, sobre o período dos dias, falarei alhures.5 5 Além de se encontrar uma exposição sobre o "período dos dias" neste tratado (15), pode-se notá-la também nas seguintes passagens: Prognósticos, 20; Aforismos, II, 23; Epidemias, II, 3, e Prenoções de Cós, 123. As doenças que surgem na primavera devem esperar seu fim acontecer no outono. Quanto às doenças outonais, o fim delas se dá obrigatoriamente na primavera. A doença que for além destes períodos, deve-se saber que esta durará um ano.6 6 "Um ano" foi minha tradução para eniaúsion. Mas Littré (1848, p. 51, n.17) lembra que Galeno afirma que esta palavra pode significar "doença que durará um ano ou um período de anos". E assim, o médico deve tratar as doenças como sendo cada uma delas dominante no corpo conforme a estação anual que está mais de acordo com sua natureza.

9. Além dessas coisas, é preciso saber também isto: que as doenças que a repleção engendra, a evacuação as cura; as doenças que surgem pela evacuação, a repleção as cura; as que são oriundas do exercício, a pausa cura, e as que são geradas pela inércia, cura-as o exercício. Para resumir: o médico deve pôr-se em oposição às constituições das doenças, às características físicas, às estações e às idades, e relaxar o que estiver tenso, e retesar o que estiver relaxado. Pois, assim, o sofrimento cessaria de fato, e parece-me ser isto a cura. As doenças provêm umas das dietas, outras do ar,7 7 A partir daqui, a palavra ‘ar’ será designada, no tratado, por pneûma, em oposição a eér ( NH,1) o qual inspiramos para viver. Deve-se, assim, fazer o diagnóstico de cada uma: quando muitos homens são tomados por uma só doença, deve-se atribuir a causa desta doença ao que é mais comum e àquilo de que todos nós nos servimos: que é isso que respiramos. Pois é evidente que as dietas de cada um de nós não são a causa, quando a doença ataca a todos sucessivamente: aos mais jovens e aos mais velhos, igualmente às mulheres e aos homens, aos que se embriagam com vinho e aos que bebem água, aos que comem massa da cevada e aos que se nutrem de pão, aos que se exercitam muito e aos que se exercitam pouco; então a causa não poderia ser a dieta, quando os homens que seguem todos os tipos de dietas são tomados pela mesma doença. Mas, quando as doenças de toda espécie surgem ao mesmo tempo, é evidente que as dietas são a causa, cada qual de uma doença respectiva, e o procedimento de cura deve ser realizado contra o verdadeiro motivo da doença, como foi dito por mim também algures, e pela mudança das dietas. Pois é evidente que as dietas que o homem segue não lhe são propícias, quer em sua totalidade, quer em grande parte, quer em um só de seus pontos; deve-se adequar o que foi observado, tendo em vista a natureza, a idade e a aparência do homem, a estação do ano e o tipo de doença, e proceder ao tratamento, ora separando, ora juntando os elementos, como foi dito outrora por mim, e lutar contra cada condição das idades, das estações, dos aspectos, das doenças, com remédios e com dietas. Quando se instaura uma epidemia, é evidente que as dietas não são sua causa; mas o que respiramos, este sim, é a causa, e é óbvio que este paira contendo alguma secreção insalubre. É preciso, nesse momento de epidemia, dar tais conselhos aos homens: não mudar as suas dietas, porque elas não são a causa da doença; estar atento ao corpo que emagrece e se enfraquece ao máximo, eliminando aos poucos a bebida e a comida das quais está acostumado a fazer uso; porque se muda rapidamente a dieta, o elemento mais novo torna-se um perigo no corpo; mas é preciso manter as dietas como estavam, quando parecem em nada prejudicar o homem. Deve, ainda, ser observado que o ar aspirado pela boca seja o menos volumoso e o mais puro possível, afastando-se, o quanto se puder, dentro de seus países, das regiões nas quais a doença tiver se assentado, e emagrecendo os corpos, pois assim os homens usam o ar com menos força e freqüência.

10. As doenças que surgem das partes mais fortes8 8 Littré (1849, p. 59) lembra que Galeno entendia ‘partes fortes’ e ‘partes fracas’ (iskhyrótata e asthenéstata) pelas partes mais fortes ou fracas em cada indivíduo diferentemente, mas o médico de Pérgamo diz que alguns chamavam "equivocadamente" às vísceras vitais de iskhyrótata. do corpo, estas são as mais temíveis; pois, se elas ficam naquele mesmo lugar onde começaram, sofrendo as partes mais fortes, necessariamente sofre todo o corpo; e se uma parte entre as mais fracas for atingida por uma mais forte, as soluções tornam-se difíceis. Porém, se uma entre as mais fracas atingir as mais fortes, as coisas se resolvem mais facilmente, pois, devido à força, os fluxos se destroem rapidamente.

11. As veias9 9 Neste texto, não parece haver distinção entre veia e artéria, como acontece em Articulações, razão pela qual Jouanna (1975) traduz phléps por "vasos sangüíneos". Porém, como o NH é comprovadamente mais recente que o outro tratado, este inexoravelmente da lavra de Hipócrates, preferimos a tradução ‘veia’. mais grossas estão assim dispostas: há quatro pares no corpo, e um deles saindo de trás da cabeça e passando pelo pescoço, por sobre a parte externa da coluna, de um lado e de outro, e, ao longo dos quadris, chega às pernas; depois, passa pelas partes inferiores das pernas, sobre as partes externas dos tornozelos e chega aos pés. Deve-se, então, fazer, quanto às dores do dorso e dos quadris, flebotomias nos jarretes e nas externas dos tornozelos. O segundo par de veias, as chamadas jugulares, saindo da cabeça, ao lado das orelhas, passando pelo pescoço ao longo da parte interna da coluna, de ambos os lados, levam o sangue, pela região lombar, aos testículos e às coxas; passam pelos joelhos, na parte interna, depois, pela inferior da perna, ao longo dos lados internos dos tornozelos até os pés.

Placa votiva dedicada a Asclépio, provavelmente em gratidão pelo alívio das varizes exibidas na perna.

Museu Arqueológico Nacional, Atenas. (p. 173)

Deve-se, então, fazer, quanto às dores da região lombar e dos testículos, a flebotomia na parte interna dos jarretes e dos tornozelos. As veias do terceiro par, saindo das têmporas, passando pelo pescoço e sob os omoplatas, reúnem-se nos pulmões e chegam: a da direita saindo do pulmão, por baixo do mamilo, chega ao baço e ao rim, a outra veia, a que vai da esquerda à direita, saindo do pulmão, por baixo do mamilo, ao fígado e ao rim e terminam, as duas, no ânus. O quarto par de veias sai da parte dianteira da cabeça e dos olhos, sob o pescoço e as clavículas; depois pela parte superior dos braços, até as articulações; depois, pelos antebraços, e até os punhos, até os dedos; depois dos dedos, outra vez pelas palmas das mãos e pela parte superior dos antebraços até as articulações, e pela parte inferior dos braços, e da parte superior das costas, uma chega ao baço e a outra ao fígado, depois, acima do ventre, espalhadas pelo corpo são muito numerosas e de vários tipos, através das quais o alimento chega ao corpo. Vão, porém, das veias grossas, internas e externas, ao ventre e ao resto do corpo, e internas e externas, ao ventre e ao resto do corpo, e intercambiam-se mutuamente, as de dentro com as de fora, e as de fora com as de dentro. Deve-se, então, proceder às flebotomias, de acordo com esses princípios. Mas é preciso cuidar que as incisões sejam feitas bem longe dos lugares nos quais as dores costumam aparecer e o sangue se acumular. Assim, com efeito, ocorreria menos subitamente uma mesma mudança, poderias mudar também de hábito, de sorte que o sangue não mais se acumule no mesmo espaço.

12. Para os que expelem muito pus sem estarem com febre; para aqueles nos quais a urina está muito carregada de pus sem haver dor, e também para aqueles para os quais os excrementos são cronicamente ensangüentados como na disenteria, e que têm a idade de 35 anos ou são mais velhos; para todos estes, as doenças surgem da mesma causa: de fato, estes, necessariamente, são sofredores e têm, quanto ao corpo, uma vida penosa enquanto são rapazotes trabalhadores; mas, depois, livres das tribulações, tornam-se carnudos, com uma carne mole e muito diferente da anterior, e têm o corpo muito dividido entre o que era antes e o que se tornou, de forma a não haver mais similitude.

Hipócrates representado por um artista bizantino no século XIV.
De manuscrito grego (c. 1342). Biblioteca Nacional de Paris.
(p. 206)

Quando então uma doença toma os que estão assim dispostos, estes escapam na hora, mas, depois, passada a doença, o corpo se coliqua no decorrer do tempo, e o sangue seroso escorre pelas veias, onde encontra espaço mais amplo. Se, então, o sangue seroso se dirige ao ventre inferior, este humor fica quase como o que está dentro do corpo, que se aproxima do excremento; estando, de fato, em via de declive, o humor não se fixa por muito tempo no intestino. Mas, se escorre para o peito, torna-se supurado. Pois estando em aclive a via, o sangue se fixa por muito tempo no peito, apodrece e toma a forma de pus. Se derrama na bexiga, por causa do calor daquele lugar, torna-se branco e quente, e se dissocia: o que for muito suave fica situado acima e o que for muito espesso, o chamado pus, fica abaixo. E ocorrem cálculos nas crianças, devido ao calor deste lugar e de todo o corpo. Nos varões, porém, não ocorrem cálculos devido à baixa temperatura do corpo.10 10 Essa teoria encontra-se detalhada no tratado Ares, águas e lugares (9). É preciso saber bem que o homem, no primeiro de seus dias, é mais quente do que ele mesmo em outras idades, e, no último dos seus dias, é mais frio.11 11 A mesma idéia está exposta em Aforismos (I, 9). Com efeito, o corpo que cresce e se desenvolve é forçosamente quente. Quando, porém, o corpo começa a definhar, vertendo líquidos em abundância, torna-se mais frio. E, segundo este raciocínio (lógos), quanto mais cresce o homem no primeiro de seus dias, tanto mais se torna quente, e, quanto mais definha no último de seus dias, tanto mais se torna necessariamente frio. Os que estão em tal situação tornam-se espontaneamente sãos, a maioria, depois de 45 dias12 12 Ms.Parisianus 2253, adotado por Jouanna (1975): 42 dias; ms. Marcianus 269 e Vaticanus 276, seguidos por Littré (1849): 45 dias, e ms. Marcianus 282, em citação de Galeno: quarenta e dois dias. a partir do momento no qual começa a coliquação. Os que ultrapassam este prazo tornam-se espontaneamente sãos em um ano, a menos que o homem seja acometido por outro mal.

13. As doenças recentes, das quais as razões são bem conhecidas, essas são as que permitem diagnósticos mais precisos. Deve-se, pois, proceder à cura delas opondo-se à causa da doença; dessa forma será possível, com efeito, livrar-se do que torna possível a doença no corpo.

14. Para os que têm depositado em sua urina grãos como os de areia ou outras concreções, para esses, houve, no início, um tumor perto da veia grossa, e esse tumor supurou; depois, porém, o tumor não se rompendo rapidamente, as concreções se formam a partir do pus, as quais são compelidas, junto com a urina, através da veia, até a bexiga. Naqueles cuja urina (ourémata)13 13 Galeno, apud Littré (1849, p. 66), escreveu que Pólibo e Hipócrates jamais usariam tal palavra no lugar de oûron, cujo uso é regra neste e noutros tratados (Cairus, 1994). tem apenas aspecto de sangue, nesses, as veias sofreram lesões.14 14 Tese em concordância com Aforismos (IV, 78). Quanto àqueles em cuja urina espessa pequenos pedaços de carne, em formato de fios de cabelo, estão presentes, quanto a esses, é preciso saber se tais pedaços vêm dos rins e das afecções artríticas.15 15 Ms. Parisianus 2253 omite: e das afecções artríticas. Para os que têm a urina limpa, mas aparecem eventualmente em suas urina farelos, então, a bexiga destes está descamando.

15. A maioria das febres provém da bile. São quatro os seus tipos, fora as que têm origem nas dores localizadas. Seus nomes são: contínua, cotidiana, terçã e quartã. A chamada febre contínua advém da bile abundante e mais pura, e produz crises mais curtas; de fato, o corpo, sem nunca se esfriar, coliqua-se rapidamente esquentado pelo grande calor. A febre cotidiana provém, depois da contínua, da bile abundante, e cessa mais rapidamente que as outras, mas é mais longa que a contínua, na medida em que provém de uma menor quantidade de bile, e porque o corpo tem trégua; na febre contínua, porém, não há pausas jamais. A terçã é mais longa do que a cotidiana, e provém de uma quantidade menor de bile. Na medida em que o corpo repousa mais tempo na terçã do que na cotidiana, essa primeira febre é mais duradoura do que a cotidiana. As quartãs, por sua vez, são outras, mas segundo o mesmo raciocínio (lógos): elas são mais duradouras do que as terçãs; na medida em que implicam menor quantidade de bile fomentadora do calor e resfriamento maior do corpo. Sua duração excessiva e sua tenacidade são devidas à bile negra. A bile negra é, de fato, o mais viscoso dos humores contidos no corpo, e o que produz sede mais duradoura. Sabe-se, pelo conhecimento do que se segue, que as febres quartãs partilham do elemento da bile negra: é no outono principalmente que os homens são tomados pela febre quartã, e na idade que vai de 25 a 45 anos,16 16 Codex Parisianus 2253, seguido por Jouanna (1975): 42; codeces Marcianus 269 e Vaticanus 276, seguidos por Littré (1849): 45, e Codex Marcianus 282, em citação de Galeno: quarenta. porque esta idade é, dentre todas as idades, a mais tomada pela bile negra, e a estação outonal lhe é a mais propícia dentre todas as estações. Quanto aos que são tomados pela quartã fora desta estação e desta idade, é preciso saber bem que a febre não será duradoura, a menos que o homem sofra de algum outro mal.

Tradução do grego, introdução, e notas por

Henrique Cairus

Professor de letras clássicas, Faculdade de Letras

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rua dr. Júlio Otoni 278 fundos 1

20241-100 Rio de Janeiro — RJ

e-mail: hcairus@ax.apc.org cairus@letras.ufrj.br

As imagens que ilustram a seção foram retiradas de Medicine, an illustrated history, organizado por Albert S. Lyons e R. Joseph Petrucelli. Nova York, Abradale Press, Henry N. Abrams Inc. Publishers. 1987

   

   

NOTAS:

  • Aristoteles 1964 Histoire des animaux. Livres I-IV. Texte établi et traduit par Pierre Louis. Paris, Les Belles Lettres.
  • Benedetto, Vicenzo Di. Cos e Cnido 1980 In: Hippocratica: Colloque Hippocratique de Paris. Paris, Centre National de La Recherche Scientifique, pp. 97-113.
  • Bourgey, Louis 1980 Hippocrate et Aristote: lorigine, chez le philosophe, de la doctrine concernant la nature. Hippocratica Paris, Centre National de La Recherche Scientifique, pp. 59-65.
  • Bourgey, Louis 1975 La relation du médecin au malade dans les écrits de lécole de Cos. In: La Collection hippocratique et son rôle dans la médecine: Colloque Hippocratique de Strarsbourg. Lieden. E. J. Brill, pp.209-27.
  • Cairus, Henrique 1994 O vocabulário fisiológico do tratado hipocrático Da natureza do homem. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertaçăo de Mestrado em Letras Clássicas.
  • Durling, Richard J. 1993 A dictionary of medical terms in Galen Leiden/Nova York/Köln: E. J. Brill.
  • Ippocrate 1983 Testi di Medicina greca Introduzioni di Vicenzo Di Benedetto. Premessa al texto, traduzione e note di Alessandro Lami. Milano: Rizzoli.
  • Hippocrate 1975 La nature de lhomme. Edité, traduit et commenté par Jacques Jouanna. In: Corpus medicorum Graecorum Berlim: Akademie-Verlag.
  • Hippokratis. 1992-1993. Hapanta Eisagoghí, Metáfrasis ke scólia tou Vasileíou Mindhilarou. Athinai: Kaktos, 16vols.
  • Joly, Robert 1980 Un peu depistémologie historique pour hippocratisants. In: Hippocratica: Colloque Hippocratique de Paris. Paris: Centre National de La Recherche Scientifique, pp. 285-99.
  • Joly, Robert 1966 Le niveau de la science hippocratique Paris: Les Belles Lettres.
  • Joly, Robert 1975 Platon, Phčdre et Hippocrate: vingt ans aprés. In: La collection hippocratique et son rôle dans la médecine: Colloque Hipocratique de Strasbourg. Lieden. E. J. Brill, 1975. pp. 407-21.
  • Jouanna, Jacques 1992 Hippocrate Paris, Fayard.
  • Jouanna, Jacques 1974 ippocrate et lÉcole de Cnide Paris, Les Belles Lettres.
  • Oeuvres complètes d’Hippocrate 1839-61 Traduction, introduction et notes philologiques par Émile Littré. Paris, Academie Royale de Médecine, tomo I, 1839; tomo II, 1840; tomo IV, 1844; tomo VI, 1849; tomo VII, 1851; tomo VIII, 1853; tomo IX, 1861a; tomo X, 1861b.
  • Pinault, Jody Rubin. 1992 Hippocratic lives and legends Leiden/Nova York/Köln: E. J. Brill.
  • Vegetti, Mario. 1976 Opere di Ippocrate 2a ed. Turin, Unione Tipografico-Editrice Torinense.
  • 1
    Ver Littré (1849, p. 53); Jouanna (1992,1992, p. 93).
  • 2
    O artigo de Petersen, foi publicado no periódico
    Philologus (1849, pp. 209-65).
    Apud Littré (1851, pp. viii-xiv).
  • 3
    Sobre esse aspecto, ver Cairus (1994).
  • 4
    A palavra ‘humor’ não está no original. A única ocorrência da palavra
    khymós (‘humor’), no tratado, está no seu último parágrafo.
  • 5
    Além de se encontrar uma exposição sobre o "período dos dias" neste tratado (15), pode-se notá-la também nas seguintes passagens:
    Prognósticos, 20;
    Aforismos, II, 23;
    Epidemias, II, 3, e
    Prenoções de Cós, 123.
  • 6
    "Um ano" foi minha tradução para
    eniaúsion. Mas Littré (1848, p. 51, n.17) lembra que Galeno afirma que esta palavra pode significar "doença que durará um ano ou um período de anos".
  • 7
    A partir daqui, a palavra ‘ar’ será designada, no tratado, por
    pneûma, em oposição a
    eér (
    NH,1)
  • 8
    Littré (1849, p. 59) lembra que Galeno entendia ‘partes fortes’ e ‘partes fracas’
    (iskhyrótata e
    asthenéstata) pelas partes mais fortes ou fracas em cada indivíduo diferentemente, mas o médico de Pérgamo diz que alguns chamavam "equivocadamente" às vísceras vitais de
    iskhyrótata.
  • 9
    Neste texto, não parece haver distinção entre veia e artéria, como acontece em
    Articulações, razão pela qual Jouanna (1975) traduz
    phléps por "vasos sangüíneos". Porém, como o
    NH é comprovadamente mais recente que o outro tratado, este inexoravelmente da lavra de Hipócrates, preferimos a tradução ‘veia’.
  • 10
    Essa teoria encontra-se detalhada no tratado
    Ares, águas e lugares (9).
  • 11
    A mesma idéia está exposta em
    Aforismos (I, 9).
  • 12
    Ms.Parisianus 2253, adotado por Jouanna (1975): 42 dias; ms.
    Marcianus 269 e
    Vaticanus 276, seguidos por Littré (1849): 45 dias, e ms.
    Marcianus 282, em citação de Galeno: quarenta e dois dias.
  • 13
    Galeno,
    apud Littré (1849, p. 66), escreveu que Pólibo e Hipócrates jamais usariam tal palavra no lugar de oûron, cujo uso é regra neste e noutros tratados (Cairus, 1994).
  • 14
    Tese em concordância com
    Aforismos (IV, 78).
  • 15
    Ms.
    Parisianus 2253 omite: e das afecções artríticas.
  • 16
    Codex Parisianus 2253, seguido por Jouanna (1975): 42;
    codeces
    Marcianus 269 e
    Vaticanus 276, seguidos por Littré (1849): 45, e
    Codex Marcianus 282, em citação de Galeno: quarenta.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Out 1999
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