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Hans W. Loewald: a importância da realidade na constituição do sujeito e na clínica psicanalítica

Hans W. Loewald: the importance of reality in the constitution of the subjectivity and in psychoanalytical practice

Resumos

Enfatiza-se a importância da realidade e da experiência atual na constituição do sujeito, por meio da apresentação das ideias de Hans W. Loewald e do exame de sua concepção original de realidade. A natureza relacional das pulsões, a ideia do novo objeto na relação analítica, a noção de invenção da realidade, o conceito de sublimação e a forma de compreender o simbolismo estão entre as formulações mais importantes de Loewald acerca do papel do ambiente na constituição do sujeito. Suas formulações também permitem a compreensão da inserção do sujeito na realidade social contemporânea.

Realidade; alteridade; constituição do sujeito; teoria psicanalítica; clínica psicanalítica


This paper is focused on the importance of reality and on the current experience in the constitution of subjectivity based on Hans W. Loewald's ideas, and on his original conception of reality. The relational character of drives, the idea of a new object for the psychoanalytical relationship, the invention of reality, the conception of sublimation, and the understanding of symbolism are among Loewald's most important ideas concerning the role of the environment in the constitution of subjectivity. His ideas are also important for a more specific understanding of the relationship between subjectivity and contemporary social reality.

Reality; alterity; constitution of the subject; psychoanalytical theory; psychoanalytical practice


ARTIGOS

Hans W. Loewald: a importância da realidade na constituição do sujeito e na clínica psicanalítica* * Este artigo tem por base a tese de doutorado "A importância da realidade na constituição do sujeito e na clínica psicanalítica: investigação sobre o trabalho de Melanie Klein e Hans W. Loewald", realizada no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Nelson Coelho Jr. e defendida por Rosana Sigler em 4 abril de 2008.

Hans W. Loewald: the importance of reality in the constitution of the subjectivity and in psychoanalytical practice

Rosana SiglerI; Nelson Coelho JuniorII

IPsicanalista e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Professora do curso de graduação em psicologia da Universidade São Francisco - campus São Paulo. sigler@usp.br

IIPsicanalista, professor nos cursos de graduação e pós-graduação em psicologia da USP. ncoelho@usp.br

RESUMO

Enfatiza-se a importância da realidade e da experiência atual na constituição do sujeito, por meio da apresentação das ideias de Hans W. Loewald e do exame de sua concepção original de realidade. A natureza relacional das pulsões, a ideia do novo objeto na relação analítica, a noção de invenção da realidade, o conceito de sublimação e a forma de compreender o simbolismo estão entre as formulações mais importantes de Loewald acerca do papel do ambiente na constituição do sujeito. Suas formulações também permitem a compreensão da inserção do sujeito na realidade social contemporânea.

Palavras-chave: Realidade, alteridade, constituição do sujeito, teoria psicanalítica, clínica psicanalítica.

ABSTRACT

This paper is focused on the importance of reality and on the current experience in the constitution of subjectivity based on Hans W. Loewald's ideas, and on his original conception of reality. The relational character of drives, the idea of a new object for the psychoanalytical relationship, the invention of reality, the conception of sublimation, and the understanding of symbolism are among Loewald's most important ideas concerning the role of the environment in the constitution of subjectivity. His ideas are also important for a more specific understanding of the relationship between subjectivity and contemporary social reality.

Keywords: Reality, alterity, constitution of the subject, psychoanalytical theory, psychoanalytical practice.

Este artigo é dedicado à apresentação das teorias psicanalíticas de Hans W. Loewald, com ênfase em suas ideias sobre a importância da realidade na constituição do sujeito. A realidade aqui referida engloba a dimensão da alteridade, ou seja, a presença de um outro, bem como a dimensão material e social, esta última correspondendo a formas de funcionamento pré-subjetivas.

Loewald - nascido na Europa e radicado nos Estados Unidos - é um autor que muito influenciou algumas vertentes da psicanálise contemporânea, embora não tenha merecido, de forma geral, o devido reconhecimento.1 1 A exceção são os autores Stephen A. Mitchell (1998) e Judith Guss Teicholz (1999), os quais discutem as ideias de Loewald assinalando o não-reconhecimento de sua indubitável influência sobre muitos psicanalistas contemporâneos. Thomas Ogden, por sua vez, também reconhece a importância de Loewald quando dedica a ele um dos artigos da série em que discute trabalhos originais em psicanálise (2006). Ele propôs uma forma original de se conceber a noção psicanalítica de realidade, a partir de uma leitura crítica e criativa dos escritos de Freud. Aluno de Heidegger no início de sua formação, Loewald traz em seu trabalho a influência do grande filósofo alemão, embora quase nunca o mencione textualmente .

Stephen Mitchell e Margaret Black (1995) compreendem que a história da psicanálise desde Freud tem sido marcada por algumas controvérsias nos âmbitos da teoria e da técnica. A importância do ambiente no desenvolvimento psíquico é tema central em algumas dessas controvérsias. Duas delas, que estão relacionadas ao âmbito teórico mas possuem implicações no âmbito da clínica, estão entrelaçadas e referem-se à causa e à permanência de quadros psicopatológicos. A primeira refere-se à sua origem: os quadros psicopatológicos advêm de um processo de desenvolvimento perturbado por experiências reais e acontecimentos destrutivos traumáticos ou resulta de uma apreensão errônea da experiência precoce por causa do impacto potente da fantasia infantil? A segunda refere-se à permanência dos quadros psicopatológicos, que deriva em parte da dialética entre trauma e fantasia, na compreensão da causa: o que impede o restabelecimento saudável é o conflito inconsciente gerador de operações defensivas ou o desenvolvimento interrompido, pela ausência de certas provisões ambientais?

Os autores ressaltam que estes debates têm resultado, nos últimos anos, em formulações mais complexas que sintetizam aspectos intrapsíquicos, com acento na pulsão, conflito e defesa, e aspectos interpsíquicos, com acento na experiência relacional. Uma dessas formulações pode ser exemplificada no trabalho de Hans W. Loewald, entre outras razões, por enfatizar, a um só tempo, a pulsão e os fatores interacionais na constituição psíquica e na origem das psicopatologias, interpenetrando-se e em constituição mútua desde o início da vida. O trabalho do autor, além disso, ao propor uma concepção original de realidade, acaba por enfatizar a importância do ambiente no processo de constituição do psiquismo como não pôde ser feito por teóricos que postularam de forma dicotômica as relações do sujeito com a realidade (tal como podemos observar como predominante na dimensão teórica do trabalho de M.Klein).

AS REALIDADES E SUA RELAÇÃO COM O SELF

O autor critica a concepção de realidade predominante no texto freudiano, uma realidade já posta desde o início da vida e descoberta pelo psiquismo em desenvolvimento. Nessa concepção, a relação entre a realidade e o sujeito seria caracterizada pela oposição e confronto, e termos como "princípio de realidade" e "teste de realidade" sinalizariam a imposição da realidade sobre o sujeito e a necessidade de adaptação. Nesse sentido, a fantasia é compreendida como a atividade que permanece sob o princípio de prazer, distanciada da luta do ego com a realidade. Processos primários e secundários caracterizariam, cada um deles, atividades psíquicas bastante diversas, ligadas ao id e ao ego, instâncias também compreendidas em relação de oposição. Loewald critica, assim, a ênfase de Freud sobre os aspectos defensivos do sujeito em permanente luta com a realidade interna das pulsões e com uma realidade externa frustrante.

Retomando a concepção freudiana de narcisismo, o autor resgata uma concepção de realidade em Freud que não teria sido por ele enfatizada. Assim, não há uma realidade externa já dada, que o sujeito irá descobrir, mas a construção e reconstrução de realidades mais e menos discriminadas do sujeito, a partir da unicidade narcísica original da criança com a mãe. Não há uma realidade, mas várias, porque ela e o ego não podem ser considerados em separado. Eles se desdobram conjuntamente em sucessivos estágios de integração ego-realidade. Em níveis precoces, o ego está imerso em um solo primordial, em total indiferenciação e fluidez com a realidade. Essa realidade materna, com seu apelo engolfante, coexiste ao ego dotado de tendências à síntese.

Uma das implicações desta concepção de realidade é a de que, em níveis precoces de integração, tais como em alguns estados psicóticos, não ocorre perda de realidade, como teria sido tradicionalmente considerado, mas, ao contrário, excesso de partes da realidade. Loewald resgatou algumas ideias de Paul Federn, que insistia na proposição de que os fenômenos da esquizofrenia relacionam-se mais à perda dos limites do ego (e, portanto, a um ganho de realidade) do que à retirada defensiva da realidade. O que ocorre é que a realidade muda regressivamente seu caráter, de tal forma que os limites entre ego e realidade se tornam fluidos. Partindo dessas ideias do autor, Loewald (1951) refere-se à transferência na esquizofrenia como um nível de relacionamento com o outro - diferente de uma relação objetal - muito próximo do narcisismo primário e dos sentimentos mágicos de identidade e influência mútua. E acrescenta:

"A extrema sensitividade, o 'sexto sentido' que muitas pessoas esquizoides têm com relação a outras pessoas e a qualidade empática de seus relacionamentos se devem a uma integração ego-realidade mais fluida e menos diferenciada, semelhante aos estágios iniciais." (p.19)

Muitos anos depois, Loewald (1988a) vai referir-se à empatia (não apenas nas pessoas esquizoides) como um fenômeno possível graças à unissonância e reverberação existentes entre os seres humanos. A subjetividade e, também, a natureza em geral correspondem a manifestações de uma "atividade totalmente envolvente", um solo primordial, feito dos mesmos processos e princípios. Retornaremos a isso adiante.

Esta experiência precoce do sujeito com a realidade, mais especificamente com a alteridade, foi retratada por Nelson E. Coelho Jr. e Luís Claudio Figueiredo (2004) como uma das figuras das intersubjetividade denominada trans-subjetiva. Os autores propõem quatro matrizes organizadoras de diferentes dimensões da alteridade, reportando-as a patronos na filosofia, psicologia e psicanálise. A matriz de intersubjetividade trans-subjetiva é remetida, entre outros, a Martin Heidegger, autor com o qual Loewald teve contato próximo, quando estudou filosofia em Freiburg. Também presente em Merleau-Ponty e M.Scheler, esta matriz refere-se a uma "realidade materna primordial" percebida como um "continente engolfante" com relação à experiência subjetiva anterior à separação externo-interno. Em Loewald (1951/1980), reconhecemos esta matriz de intersubjetividade em passagens como a seguinte, quando trata de níveis precoces de integração:

"É a experiência de um solo de acolhimento e sustentação, em que a alteridade emerge como constituinte das experiências subjetivas, mas não por oposição e confronto, e sim por seu caráter de inclusão primordial. Trata-se, é evidente, de uma modalidade pré-subjetiva de existência." (p.17)

Além da realidade materna, há também a paterna que teria sido predominantemente explorada por Freud. Ela tem como seus representantes a vida fora do útero, a ausência do seio e a ameaça de castração, entre outras experiências frustrantes. Mas esta realidade não apenas frustra, mas também favorece níveis de discriminação ego-realidade, compondo o quadro prioritariamente tratado por Freud. Realidade materna e paterna são compreendidas pelo autor como ameaçadoras - a primeira, ameaça por seu apelo engolfante e pela ausência de limites, e a segunda ameaça com um excesso de discriminação, inibidor da imaginação, criatividade e vivacidade. Uma impede que as tendências em jogo na outra sejam levadas ao extremo: a realidade paterna liberta o sujeito do narcisismo, instaurando discriminação; e a realidade materna possibilita o resgate da vitalidade que um excesso de discriminação tende a comprometer.

As realidades materna e paterna não são mais e menos reais para o sujeito, pois ambas possuem o estatuto de realidade. Consequentemente , fantasia e realidade, para o autor, não são opostas, mas correspondem a diferentes níveis de integração ego-realidade. É por isso que noções como as de "teste de realidade" têm sua significação profundamente alterada, na teoria de Loewald. O teste de realidade pode ser compreendido como um "teste de fantasia experiencial - seu potencial e adequabilidade para realização", havendo também um "teste de efetividade" que corresponderia ao potencial da realidade "para englobar e penetrar na vida de fantasia" (1975, p.368). Há na saúde psíquica a possibilidade de uma transposição recíproca entre fantasia e realidade. Nesse sentido, Loewald afirma que é a presença entrelaçada dos processos primários e secundários que possibilita níveis superiores de integração ego-realidade. Correspondem a atividades mentais que deveriam estar ambas presentes nas relações do self com o mundo. Entre elas deve haver trânsito livre, processos secundários deixando-se atravessar pelos processos primários, de modo que a atividade científica, por exemplo, possa ganhar em criatividade e imaginação.

A concepção de realidade em Loewald acompanha formas de compreender outros aspectos centrais da teoria psicanalítica, em que se enfatiza sempre a natureza originária relacional, em oposição à ênfase clássica - de S.Freud e M.Klein, por exemplo - na dimensão intrapsíquica. Assim, o parricídio que faz parte do complexo de Édipo não é simplesmente elemento da fantasia edípica, mas corresponde a um ato emancipatório do sujeito, sendo "mais do que simbólico" (1979/1980, p. 395), uma vez que "nós matamos algo vital" em nossos pais. Sendo uma vivência fundamentalmente relacional, os pais possuem papel decisivo no modo como a criança atravessa essa experiência. Se processos defensivos ou integradores predominarão na dissolução do complexo de Édipo, depende em grande medida das relações edípicas terem sido mais ou menos frustrantes ou irresistíveis.

Loewald supõe também que self e mundo estão em uma relação continuamente constitutiva, numa alternância entre diferentes níveis de integração. Ao longo da vida, então, devemos supor momentos de imersão do sujeito na realidade, em relação de indiscriminação e fluidez potencialmente enriquecedoras do psiquismo. Loewald considera que o saudável no indivíduo está na possibilidade de alternância entre diferentes níveis de integração, e não na capacidade de atingir, por fim, níveis superiores de discriminação entre self e mundo.

Nesse sentido, o contato com o objeto externo real é importante e constitutivo, ao longo de toda a vida do sujeito, porque as internalizações ocorrem a cada resgate de níveis precoces de integração que possibilita a imersão no solo primordial trans-subjetivo. Essas internalizações transformam as relações internas, mas não instauram de uma vez por todas relações que substituem as relações com objetos externos (concepção que teria caracterizado a teoria de Freud, em 1923).

A internalização e a externalização em sua forma mais precoce correspondem à própria fundação da realidade interna e externa para o sujeito. Loewald (1962/1980) afirma:

"externalização primária significa que a

externalidade está sendo estabelecida;

internalização primária significa que

a internalidade está sendo constituída.

Neste nível, então, não podemos falar de externalização (projeção) e internalização como defesas (contra conflito interno ou privação externa); precisamos falar delas como processos de criação de limites e como processos de diferenciação de um estado indiferenciado." (p.266)

O acento na dimensão relacional caracteriza também a compreensão da pulsão, para Loewald. O ambiente "não necessariamente , ou não somente , reduz ou abole a excitação, mas também engendra e organiza os processos de excitação" (1971/1980, p.130) que só então podem ser chamados de pulsionais. As pulsões passam a existir a partir das interações da criança com a mãe, ou do analisando com o analista, quando mãe e analista reconhecem algumas exigências ainda indiferenciadas da criança e analisando. Os atos de reconhecimento deste outro organizam o que ainda não é da ordem da pulsão, despertando-a e instituindo-a. Loewald está partindo da ideia de que as relações entre self e realidade, não mais sendo caracterizadas como uma relação de oposição, teriam sido, a partir de 1920, vistas por Freud em termos das tendências de Eros para formar e manter unidades. Assim, a pulsão não toma o objeto como um meio para alívio da tensão, mas tem nele sua própria razão de ser.

Com relação às transformações operadas no processo psicanalítico, é possível dizer que Loewald concebe o fenômeno da transferência enfatizando o presente da experiência relacional da dupla analítica, em vez de enfatizar a experiência passada, que estaria sendo reeditada promovendo distorções da realidade atual. Loewald afirma que as interpretações do analista "encerram aspectos de uma realidade não distorcida que o paciente começa a captar passo a passo à medida que as transferências são interpretadas" (1960/1980, p.225).

O acento no presente também está no modo como o autor compreende o inconsciente e a relação de continuidade com a realidade exterior e seus objetos. Para ele, a transferência é um processo por meio do qual o analista se oferece ao inconsciente a fim de que este possa ganhar alguma forma, tal como os resíduos diurnos oferecem meios para que conteúdos inconscientes possam emergir nos sonhos. Já com relação aos sonhos, Loewald entende que não se trata de deformação destes conteúdos, mas exatamente de sua formação. A própria "integração de ego e realidade consiste na (...) transferência de processos e conteúdos inconscientes para novas experiências e objetos da vida atual" (1960/1980, p.252). A transferência não corresponde a um modo distorcido do analisando perceber o analista, mas à possibilidade de que o inconsciente tenha continuidade por meio dos objetos atuais. Esta concepção da transferência confere aos objetos contemporâneos o estatuto de elementos constituintes do psiquismo.

É assim que Loewald postula que o analisando pode experimentar novas formas de relação, porque "o analista se torna não apenas potencialmente mas verdadeiramente disponível como um novo objeto" (1960/1980, p.225). Esta possibilidade caracteriza a ação terapêutica da psicanálise. A relação de transferência, então, não é menos real do que as relações primordiais. "Qualquer 'relacionamento real' implica transferir imagens inconscientes para objetos atuais. Na verdade, objetos atuais são objetos, e deste modo reais, no pleno sentido da palavra (...) apenas na medida que esta transferência é realizada (...)" (1960/1980, p.254).

A neutralidade do analista, nesta visão, corresponde à capacidade de o mesmo fazer referência a um núcleo do ser revelado pelo analisando, e não a uma postura de assepsia cientificista, nem ao modelo do analista como espelho. Este núcleo do ser só pode ser captado pelo analista por meio da experiência relacional com o analisando. O analista coloca-se então disponível para uma nova relação objetal, sendo capaz de manter em mente aspectos centrais da subjetividade do analisando que lhe escapam. A esta capacidade do analista Loewald atribui "(...) a natureza positiva da neutralidade requerida, que inclui a capacidade para relações de objeto madura como as dos pais em seguir e ao mesmo tempo estar à frente do desenvolvimento da criança" (1960/1980, p. 230).

A REALIDADE SOCIAL DE FREUD E A "INTERPRETAÇÃO NEURÓTICA" DA REALIDADE

Em resumo, ao considerar níveis de integração ego-realidade, Loewald desloca a atenção da entidade indivíduo para a relação entre indivíduo e mundo. Com isso ele abre caminho para compreender a incidência do ambiente na constituição do self, com uma ênfase no papel do ambiente abarcando os pais, o analista e a realidade social mais ampla. Esta ênfase não pôde ser atribuída em teorias que supõem relações dicotômicas do sujeito com a realidade. Quanto ao indivíduo, ele poderá vir a configurar-se como uma entidade diferenciada da realidade com a qual se relaciona, mas preservará possibilidades de novas imersões indiferenciadas na realidade. Isto significa supor que o sujeito mantém, ao longo de toda a vida, a possibilidade de um contato com o outro, em que este pode ser apreendido para além das mediações que caracterizam a relação dicotômica sujeito/realidade. A relação do self com o mundo, compreendida como uma relação de oposição, tem como pressuposto esta dicotomia e não supõe, por isso, a incidência do outro na constituição do sujeito.

Loewald considera que a própria concepção de realidade de Freud é reflexo de sua relação com a realidade social em que viveu. A realidade estática e hostil, como teria sido até então concebida pela psicanálise, é fruto de uma determinada relação do self com a realidade em que operam predominantemente mecanismos defensivos. Esta relação não tem a ver só com processos internos do sujeito, mas estes são desencadeados também por características do contexto em que este sujeito vive. Loewald considera que a realidade cultural de Freud teria sido altamente complexa, uma realidade que perdera o contato com as origens humanas, dificultando processos de integração desta realidade. O tratamento psicanalítico seria expressão "da necessidade de redescobrir e reativar os canais submersos de comunicação que vão das origens de nossas vidas às estruturas de comportamento alienadas e solidificadas e às atitudes e respostas automáticas às instituições, convenções e crenças culturais (...)" (1952/1980, p.29/30). Loewald não se detém nas características desta realidade social, mas nós podemos, a partir de suas ideias, refletir sobre ela.

O ESTABELECIMENTO DE NÍVEIS PRECOCES DE INTEGRAÇÃO NA RELAÇÃO ANALÍTICA

Thomas Ogden (1996, 2003) é um dos autores contemporâneos que em seus textos aborda questões muito próximas daquelas tratadas por Loewald, sobretudo com relação à prática psicanalítica. Os dois autores parecem compreender de maneira semelhante alguns fenômenos que ocorrem na relação analítica, mas usam termos diferentes para referir-se a estes fenômenos. Gostaríamos de retomar aqui um caso clínico exposto por Ogden em um artigo de 2003, a partir do qual pretendemos ilustrar o resgate da unicidade do par analítico, no solo primordial relacional a partir do qual a constituição dos sujeitos - analista e analisando - pode ocorrer. Por meio da vivência do analista da reverie, transcorrida em dois principais momentos da primeira sessão de um analisando, emerge o que Ogden denomina de "a verdade de uma experiência emocional inconsciente". Esta pode ser utilizada pelo par analítico para transformações psíquicas, ou seja, para a constituição do sujeito. A reverie terá importância tanto em seu conteúdo quanto nas transformações em sua forma entre o primeiro e segundo momentos. Ao discutir os acontecimentos dessa sessão fazendo uso da noção do "terceiro analítico" (1996), o autor ilustra processos constitutivos de natureza fundamentalmente interacional. Ele também aborda o caráter interacional da própria verdade de uma experiência emocional inconsciente, de forma a não ser possível atribuir nem a analista nem a analisando a verdade que é comunicada pela interpretação do analista, verdade que emerge e que também vai se transformando por meio da experiência de ambos no transcorrer da sessão.

A vinheta clínica relatada por Ogden trata da primeira sessão de Mr. V., em que o analista vai fazendo interpretações cujo conteúdo é em grande parte derivado dos dois momentos de reverie. Mr. V. hesita em entrar na sala de espera do consultório do analista, caminhando algumas vezes no corredor entre duas portas, uma externa à casa e outra que dá acesso à sala de espera, alguns minutos antes de seu primeiro encontro com Ogden. Neste primeiro encontro, o analista irá deter-se neste acontecimento anterior à entrevista, embora de início Mr. V. tenha uma tendência a evitar o assunto. No transcorrer da sessão, porém, ele vai se sentindo mais encorajado a abordar o ocorrido, fazendo várias colocações relacionadas aos sentimentos que vão sendo nomeados pelo analista.

Entre o primeiro e o segundo momento de reverie do analista, ocorre uma mudança significativa no clima emocional da sessão, mudança também sinalizada pela forma com que emerge o devaneio do analista. Esta mudança ocorre após o analista ter comunicado sua primeira interpretação, formulada logo após a primeira reverie.

Ogden tem uma fugaz lembrança de um episódio de sua própria infância com um amigo, na forma de uma série emocionalmente intensa de imagens estáticas, como em fotos. Ele e o amigo, ambos com 8 anos, brincavam em um lago congelado, quando seu amigo cai na água, por ter pisado em pedaço que havia descongelado. Os sentimentos evocados pela lembrança de sua infância são de medo, culpa e vergonha, vividos de forma não compartilhada entre ele e seu amigo. Emergia, portanto, também uma sensação de profunda solidão, isolamento e tristeza.

Em meio a essa presença emocional evocada, Ogden diz a Mr.V. que, pelo som de seus passos no corredor, havia suspeitado que ele estivesse vivendo certo tumulto ao se aproximar daquele primeiro encontro entre eles. Mr. V. contribui com colocações a respeito deste episódio, o que é seguido de colocações do analista sobre o quão sozinho se sentira naquele momento antes de conhecê-lo, sentindo-se em uma espécie de "terra de ninguém" naquele corredor, impedido tanto de chegar até Ogden para conhecê-lo e iniciar uma análise (atravessando a porta de vidro) quanto de fazer parte da vida lá fora onde imaginava que as pessoas eram capazes de viver.

Mr. V. tem a tendência a fazer generalizações, evitando falar sobre seus sentimentos mais profundos, vinculados ao episódio no corredor e ao aqui-e-agora da sessão. Mas na metade final da sessão, Mr. V. pareceu ter se interessado em discutir o que tinha se passado com ele e parecia também menos receoso em fazê-lo. Alguns minutos de silêncio foram sentidos por Ogden como um longo tempo, mas não percebido como um silêncio ansioso. Durante esses minutos, o analista retorna ao episódio ocorrido em sua infância. Desta vez, porém, a experiência desta lembrança foi totalmente diferente, porque havia emergido em um contexto emocional da relação presente com Mr. V. que também era diferente. Havia uma sensação maior de estar vendo e sentindo coisas de dentro dele mesmo e do amigo, e não de um ponto de vista exterior e estático de antes. Havia, então, maior proximidade com os sentimentos em jogo e maior vividez em sua imaginação. Não se tratava de uma série de poses, mas do desdobramento de uma experiência, com grande realismo e impacto emocional. Ogden sentia que não havia escolha senão precisar tornar-se mais crescido do que era naquele momento, alguém que ele temia não conseguir ser. Sentia-se consciente de que não podia sequer conceber aquela versão de si mesmo, mais crescido.

Ogden, nesta reverie, pôde ter uma versão mais compreensível e compartilhável do evento, sentindo-se menos receoso em experienciar os sentimentos em jogo. O sentimento de vergonha pela imaturidade era uma versão nova de um sentimento evocado na primeira reverie, em que aparecia intenso medo, vergonha, culpa e solidão.

O analista, em um tom que comunica também os sentimentos envolvidos, fala sobre a vergonha de Mr. V. de sentir-se como criança, no corredor, ao se ver sem o papel com as orientações que Ogden havia lhe dado ao telefone e que, para ele, sentir-se ou comportar-se como criança era algo verdadeiramente vergonhoso. Esta fala do analista é seguida de visível alívio da tensão corporal de Mr. V. Este diz, então, em tom que apareceu ali pela primeira vez e que seria raro ao longo dos primeiros anos de sua análise: "'Lá fora eu me sinto tão perdido...'" (2003, p.602). Ogden enfatiza o tom com que o paciente diz essa frase: havia suavidade e ao mesmo tempo vivacidade nas palavras e as palavras escolhidas também comunicavam algo essencial. Havia um 'lá fora' que transmitia o sentimento de que também começava a existir um 'aqui dentro' do espaço analítico e da relação vitalizada com o analista, na qual Mr. V. já não se sentia mais tão perdido.

Um universo experiencial se abre a partir da fala do analista sobre a breve hesitação de Mr.V. ao chegar no consultório. Este, a princípio, não se detém neste breve mas significativo episódio, e tende a evitá-lo no contato mais automatizado que estabelece inicialmente com o analista. Profundidade e vitalidade se fazem presentes, no entanto, quando os dois falam sobre esta experiência em que aparece o contato estéril de Mr.V. com o mundo.2 2 A evitação e a esterilidade nas relações do self com o outro parecem ser típicas das relações promovidas no mundo social contemporâneo, processos de natureza defensiva que a relação analítica busca superar. Essas modalidades defensivas correspondem a formas de integração ego-realidade que cabem bem em dada realidade social estruturada de modo a não favorecer contatos fecundos e nutrientes, com a crescente ausência da presença concreta do outro. Contatos mais significativos são os que possibilitam processos constitutivos do psiquismo, resultando em patamares cada vez maiores de discriminação entre self e mundo preservandose ao mesmo tempo possibilidades de novas imersões vitalizadoras. O modo relacional defensivo no começo vivenciado por Mr. V. vai na direção contrária da experiência relacional significativa estabelecida na sessão. Em suas generalizações há fundamentalmente o distanciamento - da experiência do próprio sujeito e da dos outros, que lhe pareciam tão diferentes dele próprio.

Neste fragmento clínico, podemos identificar a instauração de uma experiência fecunda, para o par analítico, que corresponde a um nível de integração precoce ego-realidade. A experiência empática do analista em sua reverie possibilita uma identificação com o sentimento de profunda solidão, medo, vergonha e isolamento do paciente. Neste momento, níveis precoces na relação lembram a tenra experiência do bebê quando a mãe, em sintonia com ele, é capaz de identificar seus estados de ser. A imersão neste nível primordial de relação, um nível fundamental da experiência humana, possibilita a apreensão de sentidos, porque envolve a recuperação do que Loewald chama de "princípio, fonte e poder da natureza". Esta formulação do autor é encontrada em seu último livro sobre a sublimação e refere-se ao solo primordial trans-subjetivo que pode ser recuperado nesses níveis precoces de ego-realidade. Apresentaremos esta ideia adiante.

A descrição e discussão detalhada de Ogden, que incluem as razões pelas quais ele diz o que diz ao paciente, bem como as mudanças no clima emocional da sessão veiculado tanto pela reverie do analista quanto por sua fala e a do paciente, são tentativas do autor para mostrar como o campo estava sendo configurado mutuamente pelo par analítico. Também existe uma preocupação em mostrar uma dimensão da interpretação que vai além do seu conteúdo, abrangendo elementos sensoriais que comunicam estados afetivos, proximidade, intimidade e distanciamento entre analista e analisando. Compreendemos que estes aspectos referem-se ao resgate de uma dimensão precoce da linguagem referida por Loewald, na qual há uma densidade perceptiva que reúne experiência e palavra veiculados na dupla mãe e criança. Há também o plano mais diferenciado do caráter simbólico da palavra, que Loewald explora por meio de sua concepção de sublimação.

SUBLIMAÇÃO E SIMBOLISMO: A INVENÇÃO DA REALIDADE

A sublimação é um processo por meio do qual o sujeito pode reunir elementos psíquicos que estiveram separados pelo recalque. Porém, parece-nos que a sublimação, uma vez que não é compreendida como uma defesa, refere-se também a processos básicos do psiquismo, e não só os tardios, como seriam certos processos defensivos e como seria a reunião de elementos separados pelo recalque. A ideia central é a de que, por meio da sublimação, unicidades originais (níveis precoces de integração) são resgatadas - unicidade entre ego e realidade, entre experiência e palavra, entre a dimensão sexual e a não sexual. As defesas, na direção contrária, são processos caracterizados pelo jogo conflitivo de forças opostas, no qual se separa aquilo que originariamente esteve unido ainda em estado de indiferenciação. A sublimação corresponde a processos caracterizados pela harmonização de forças e, como tal, ela é canalização e organização da vida pulsional, construção do psiquismo e da realidade.

A construção da realidade na sublimação, porém, implica a ideia de invenção a partir de algo que já está lá. Esta formulação paradoxal lembra o conceito de criação em Winnicott, quando o psiquismo ao mesmo tempo encontra e cria os objetos e de que o objeto subjetivo é sempre anterior ao objeto objetivo, mas é preciso que este exista antes, para que aquele possa ser concebido. Há, no processo sublimatório postulado por Loewald, um domínio da realidade, no sentido de um acordo entre a realidade material e externa que já é presente e a realidade psíquica. A sublimação é "um tipo de reconciliação da dicotomia sujeito-objeto - uma reparação [atonement, palavra que veicula também a ideia de at one] daquela polarização e (...) um estreitamento do abismo entre (...) o mundo objetal e o self" (1988b, p.20).

Quando há sublimação - nas produções culturais, por exemplo, e na relação analítica, ocasião privilegiada para os processos sublimatórios - há uma reapropriação de si mesmo e da realidade externa pelo sujeito, de modo a instaurar ou reinstalar uma relação self-mundo significativa. A realidade, então, não é criada e nem, simplesmente, investida de modo pulsional. Há uma participação efetiva da realidade externa, incluindo os objetos, que oferecem meios pelos quais o inconsciente pode ganhar forma, tal como vimos ocorrer nos processos de transferências (tanto na relação analítica quanto nos processos oníricos). A realidade material "tem um lugar de relevo na constituição psíquica do adulto fornecendo-lhe as condições, os meios e recursos para os processos sublimatórios" (FIGUEIREDO, 2006, p.14). E qual o papel do simbolismo presente na sublimação? Consideramos que o modo como Loewald aborda o simbolismo é um elemento essencial de sua concepção de realidade. Vejamos o que ele diz a esse respeito.

Assim como a sublimação não deve ser considerada um processo defensivo - não se trata de transformar algo da ordem do sexual -, a simbolização também não deve ser compreendida como tal - não se trata de o símbolo mascarar uma realidade "verdadeira", a pulsional. Loewald considera que, nos processos defensivos, a simbolização é enfraquecida, e não instituída, tal como teria sido postulado a princípio quando Freud desvelou o caráter simbólico das produções do inconsciente. A disjunção entre símbolo e simbolizado ocorre nos processos defensivos, e o que é disfarçado não é o simbolizado (os pensamentos latentes por trás dos sintomas, por exemplo), mas o próprio simbolismo, esta união símbolo-simbolizado. Também na psicose, o simbolismo é afetado pela equação simbólica. Nesta não há simbolismo, pois símbolo e simbolizado são uma só e mesma coisa. O simbolismo é essencialmente um processo que envolve tanto a discriminação entre elementos da experiência do sujeito - palavra e coisa - como sua posterior ligação. Ou seja, o simbolismo é uma conexão entre elementos, na qual se preserva alguma diferenciação. Para Loewald, as palavras "indicam diferenças e separação enquanto, no mesmo ato, apontam a junção, o parentesco" (1988b, p.58).

A interpretação analítica é, assim, ocasião para o resgate da conexão entre a palavra e a experiência do sujeito (o resgate desta unicidade original) e, por isso, ocasião para a possibilidade de recuperar aspectos da experiência que estavam desligados e perdidos. A interpretação também é a instauração da discriminação entre analista e analisando, razão pela qual nem sempre deveria ser adotada, tal como em momentos nos quais predominam níveis arcaicos e indiferenciados de integração, sob pena de instaurar-se uma discriminação ainda não assimilável pelo analisando.

A presença do simbolismo na sublimação, então, não serve nem ao disfarce nem à deformação e tampouco à transformação da pulsão. O simbolismo oferece o "elemento ligante" para que o sujeito possa conectar-se de forma significativa com o mundo objetal e com a realidade material e social que já se oferecem ao sujeito como matéria-prima, por assim dizer, de uma construção singular. Pintar um quadro, realizar uma composição musical, escrever um texto são processos em que elementos do mundo - a tela e as tintas, as ondas sonoras produzidas pelos instrumentos musicais, as teorias, conceitos e a experiência do autor - oferecem-se como meios através dos quais o sujeito pode recuperar sua unicidade primordial com o mundo das cores, dos sons e das palavras. No resgate desta unicidade original, o self é reconstituído e a realidade externa é reconstituída porque é dotada de sentido mais profundo para o sujeito.

Quando Loewald afirma que o mundo exterior é "inventado" pelo sujeito, ele está, como já dissemos, comunicando o paradoxo existente neste processo: há uma criação ao mesmo tempo que um encontro com a realidade. Então, ele está incluindo a participação desta dimensão exterior ao psiquismo na constituição do sujeito e do mundo e, com isso, enfatizando a importância da realidade. No processo sublimatório, ocasião para a invenção da realidade, há algo que a um só tempo é gerado pelo self e apresentado, tal como ocorre na relação do artista com seu ambiente. Uma palavra, um som, uma forma, uma vez determinados, sugerem o próximo passo a ser dado. Este próximo passo é ao mesmo tempo criação e encontro, a criação indicando a participação do sujeito, e o encontro indicando a participação do ambiente. Isso ocorre tal como na relação da criança com a mãe, quando o bebê inventa a combinação boca-seio que ganha existência naquele exato momento do encontro entre a dupla. Loewald diz a esse respeito: "Eu adoto o conceito de invenção como distinto de descoberta e criação, para destacar a tensão e a prontidão complementar e recíproca do agente e do 'material'" (1988b, p. 76, grifo nosso).

O solo primordial, do qual emerge um sujeito mais discriminado do mundo, é de natureza relacional, está potencialmente presente ao longo de toda vida e é resgatado em sua originária união com o sujeito, a partir dos processos sublimatórios. Ora, trata-se aqui de uma concepção original não apenas da realidade, mas das relações do sujeito com essa realidade, que será experienciada como exterior, mas que fundamentalmente faz parte dele. Por isso, trata-se também de uma concepção original da própria subjetividade: ela "pode ser compreendida como a espontaneidade criativo-destrutiva e o poder da natureza" (1988b, p.78/79). O sujeito é concebido, então, como a manifestação de uma matriz original na qual não há elementos diferenciados - o "natura naturans, dos antigos filósofos, em contraste com natura naturata, que é a natureza considerada como o mundo das coisas distintas ou dos objetos" (1988b, p.78/79). O inconsciente dinâmico de Freud estaria próximo desta subjetividade assim compreendida; e o sentimento oceânico do qual Freud fala seria um modo de recuperação desta matriz original indiferenciada que enlaça a nós todos.

Nem todo produto humano implica invenção da realidade e de si mesmo, de modo que deveríamos considerar que só processos genuinamente sublimatórios promovem a renovação do sujeito e da realidade. Certas produções artísticas (decerto aquelas que possuem ressonância mais profunda e mais ampla em outros sujeitos), uma análise bem sucedida, um texto que possa também ressoar em seus leitores seriam resultantes de encontros do sujeito com a realidade em que algo de primordial estaria sendo resgatado e por isso transformador do psiquismo e da realidade externa.

Recebido em 14/4/2008.

Aprovado em 19/5/2008.

  • COELHO JUNIOR, N.E.; FIGUEIREDO, L.C. (2004) Figuras da intersubjetividade na constituição subjetiva: dimensões da alteridade, Interações. v.IX, n.17, p.9-28.
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  • *
    Este artigo tem por base a tese de doutorado "A importância da realidade na constituição do sujeito e na clínica psicanalítica: investigação sobre o trabalho de Melanie Klein e Hans W. Loewald", realizada no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Nelson Coelho Jr. e defendida por Rosana Sigler em 4 abril de 2008.
  • 1
    A exceção são os autores Stephen A. Mitchell (1998) e Judith Guss Teicholz (1999), os quais discutem as ideias de Loewald assinalando o não-reconhecimento de sua indubitável influência sobre muitos psicanalistas contemporâneos. Thomas Ogden, por sua vez, também reconhece a importância de Loewald quando dedica a ele um dos artigos da série em que discute trabalhos originais em psicanálise (2006).
  • 2
    A evitação e a esterilidade nas relações do
    self com o outro parecem ser típicas das relações promovidas no mundo social contemporâneo, processos de natureza defensiva que a relação analítica busca superar. Essas modalidades defensivas correspondem a formas de integração ego-realidade que cabem bem em dada realidade social estruturada de modo a não favorecer contatos fecundos e nutrientes, com a crescente ausência da presença concreta do outro. Contatos mais significativos são os que possibilitam processos constitutivos do psiquismo, resultando em patamares cada vez maiores de discriminação entre
    self e mundo preservandose ao mesmo tempo possibilidades de novas imersões vitalizadoras.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Jan 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      19 Maio 2008
    • Recebido
      14 Abr 2008
    Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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