Resumos
É relatada pela primeira vez a ocorrência de Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psyllidae, Acizzinae) no Brasil. A praga foi recentemente observada no Paraná, causando danos em folhas e brotações de Tipuana tipu (Benth.) em áreas urbanas. P. nigrivirga suga a seiva do floema e causa encarquilhamento, manchas e queda de folhas. Seus excrementos se acumulam sobre as folhas propiciando o aparecimento de fumagina ou caem em grande quantidade sobre os carros sujando-os como se fossem respingos de tinta branca e pegajosa.
Psyllidae; praga; praga introduzida; árvore ornamental; floresta urbana
The occurrence of Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psyllidae, Acizzinae), is reported for the first time, in Brazil. The psyllid was observed causing injuries on leaves and shoots of Tipuana tipu (Benth.), in urban areas of Paraná State. P. nigrivirga are tiny sap-sucking insects that feed on phloem and cause curling, stains and fall of leaves. The excrements of these insects accumulate on the leaves propitiating fungus growth on the leaves, or they fall in great amount on the cars dirtying them as if they were sparkling of white and sticky ink.
Psyllidae; pest; introduced pest; ornamental tree; urban forest
SCIENTIFIC NOTE
Primeiro registro de Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psylloidea), em Tipuana tipu (Benth.), no Brasil
First record of Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psylloidea), in Tipuana tipu (Benth.), from Brazil
Dalva L.Q. SantanaI; Daniel BurckhardtII; António M.F. AguiarIII
IEmbrapa Florestas, Estrada da Ribeira, km 111, C. postal 319, 83411-000, Colombo, PR, Brazil, dalva@cnpf.embrapa.br
IINaturhistorisches Museum, Augustinergasse 2, CH-4001 Basel, Switzerland, daniel.burckhardt@unibas.ch
IIILab. Agrícola da Madeira DSIA, Estrada Eng. Abel Vieira, 9135-260, Camacha, Madeira, Portugal antonio.aguiar@srafp.pt
RESUMO
É relatada pela primeira vez a ocorrência de Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psyllidae, Acizzinae) no Brasil. A praga foi recentemente observada no Paraná, causando danos em folhas e brotações de Tipuana tipu (Benth.) em áreas urbanas. P. nigrivirga suga a seiva do floema e causa encarquilhamento, manchas e queda de folhas. Seus excrementos se acumulam sobre as folhas propiciando o aparecimento de fumagina ou caem em grande quantidade sobre os carros sujando-os como se fossem respingos de tinta branca e pegajosa.
Palavras-chave: Psyllidae, praga, praga introduzida, árvore ornamental, floresta urbana
ABSTRACT
The occurrence of Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psyllidae, Acizzinae), is reported for the first time, in Brazil. The psyllid was observed causing injuries on leaves and shoots of Tipuana tipu (Benth.), in urban areas of Paraná State. P. nigrivirga are tiny sap-sucking insects that feed on phloem and cause curling, stains and fall of leaves. The excrements of these insects accumulate on the leaves propitiating fungus growth on the leaves, or they fall in great amount on the cars dirtying them as if they were sparkling of white and sticky ink.
Key words: Psyllidae, pest, introduced pest, ornamental tree, urban forest
Tipuana tipu (Benth.) Kuntze (Leguminosae, Papilionoideae) é uma planta originária da Bolívia e norte da Argentina que, devido a seus aspectos paisagísticos, é bastante utilizada na arborização urbana em diversas cidades brasileiras (Lorenzi 2003).
Em várias cidades do sul do Brasil, T. tipu é muito freqüente na arborização de ruas, praças e parques. Apesar de sua ampla distribuição, pouco se tem observado com relação aos seus aspectos fitossanitários.
Na primavera e verão de 2000 foi observada a presença de um inseto, infestando árvores de T. tipu, utilizadas na arborização urbana da cidade de Curitiba, PR. Alguns insetos foram coletados e armazenados em álcool 70%. Após exame em microscópio estereoscópico das diferentes fases do inseto, em preparações frescas e clarificadas, os autores concluíram tratar-se de Platycorypha nigrivirga Burckhardt (Hemiptera: Psyllidae, Acizzinae), inseto pouco conhecido e até o momento não citado no Brasil.
A distribuição geográfica do inseto inclui a Argentina, Bolívia e Uruguai (Burckhardt 1987). No Brasil P. nigrivirga foi coletada pelos autores em Curitiba no ano de 2000, e em Colombo e Guarapuava, também no Paraná, em 2002.
Os adultos do psílideo possuem coloração que varia do verde ao amarelo pardacento e vértice com uma faixa transversal marrom-escura a preta. O nome específico, nigrivirga, refere-se à faixa preta na cabeça (Fig. 1A). As antenas são marrom-claras, escurecendo gradativamente até o ápice. A margem anterior do pronoto varia de marrom-escura a preta e o mesonoto apresenta sete faixas longitudinais marrom-escuras. As asas anteriores são transparentes com veias marrons e células apicais com pequenas manchas triangulares marrons. As pernas têm coloração que varia do verde ao amarelo com tarsômeros apicais marrons (Burckhardt 1987).
As ninfas (Fig. 1B) apresentam coloração que varia do verde ao amarelo e algumas vezes podem apresentar manchas avermelhadas. Os escleritos cefálicos, em vista dorsal, apresentam-se margeados de marrom-escuro. O tórax tem cinco manchas arredondadas, duas triangulares e quatro alongadas pretas. As tecas alares sãomargeadas de preto. Na superfície dorsal do abdome são visíveis quatro faixas transversais de coloração preta, interrompidas no meio; a placa caudal é margeada de preto (Burckhardt 1987).
Em Curitiba, P. nigrivirga foi observada, nas fases de ovo, ninfa e adulto infestando ramos novos, pecíolos e folhas de T. tipu, único hospedeiro relatado até o momento no Brasil, assim como nos outros países onde o inseto foi detectado, causando encarquilhamento, manchas e queda de folhas. Altas populações do psilídeo foram observadas no final da primavera e início do verão do ano 2000. A partir do final da primavera começaram a aparecer os predadores, principalmente Coccinellidae, causando forte declínio na população da praga, no final do verão 2000/2001. As duas espécies mais freqüentemente encontradas alimentando-se de ninfas do psilídeo foram identificadas como Olla v-nigrum (Mulsant) e Cicloneda sanguinea L. (Coleoptera: Coccinellidae). Não foi observada a presença de parasitóides.
Nos anos subseqüentes o inseto tem sido freqüentemente encontrado nas árvores de T. tipu das ruas de Curitiba, com populações mais altas no inverno e baixas nos períodos mais quentes do ano.
Os psilídeos, assim como pulgões e moscas-brancas são insetos sugadores de floema (Gallo et. al. 2002) e que para assegurar a quantidade de nutrientes essenciais, tais como aminoácidos que estão sempre em baixa concentração no floema, utilizam-se de um sistema de filtração altamente eficiente (câmara-filtro), que concentra os nutrientes, retirando o excesso de água (Panizzi & Parra 1991). Assim, o excesso de líquido sugado é eliminado pelo ânus em forma de gotículas açucaradas. Parte da excreção acumula-se sobre as folhas, favorecendo o aparecimento de fumagina, dificultando a fotossíntese e a respiração da planta (Gallo et. al. 2002).
Os líquidos excretados por P. nigrivirga apresentam-se na forma de gotículas brancas e viscosas (Fig. 1C) que, além de deixarem as folhas pegajosas ou cobertas por fumagina, caem sobre os carros estacionados em baixo das árvores, sujando-os, como se fossem respingos de tinta branca.
Possivelmente por falta de divulgação do nome desse psilídeo e por semelhanças nos danos, P. nigrivirga tem sido erroneamente chamada de "cochonilha", não só pela população leiga em geral, mas também em publicações recentes (Biondi & Althaus 2005).
Received 29/XI/04.
Accepted 19/I/06.
- Biondi, D. & M. Althaus. 2005. Árvores de rua de Curitiba: Cultivo e manejo.Curitiba, FUPEF, 179p.
- Burckhardt, D. 1987. Jumping plant-lice (Homoptera: Psylloidea) of the Temperate Neotropical region. Part II: Psyllidae (subfamilies Diaphorininae, Acizziinae, Ciriacneminae and Psyllinae). Zool. J. Lin. Soc. 90: 145-205.
- Gallo, D., O. Nakano, S. Silveira Neto, R.P.L Carvalho, G.C. Baptista, E. Berti Filho, J.R.P. Parra, R.A. Zucchi, S.B. Alves, J.D. Vendramim, L.C. Marchini, J.R.S. Lopes & C. Omoto. 2002. Entomologia agrícola. Livroceres, Piracicaba. 920p.
- Lorenzi, H., H.M. Souza, M.A. Torres & V.L.B. Bacher. 2003. Árvores exóticas no Brasil: Madeireiras, ornamentais e aromáticas. Nova Odessa, Ed. Plantarum, 384p.
- Panizzi, A. R. & J.R.P. Parra. 1991. Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. São Paulo, Ed. Manole, 359p.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
31 Jan 2007 -
Data do Fascículo
Dez 2006
Histórico
-
Aceito
19 Jan 2006 -
Recebido
29 Nov 2004