RESUMO
O experimento foi realizado no Campo Experimental do Departamento de Águas e Energia Elétrica de Pindamonhangaba, SP, com o objetivo de avaliar novas formulações do inseticida fipronil edo fungo Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. no controle de larvas do gorgulho aquático, Oryzophagus oryzae (Costa Lima,1936), principal praga do arroz irrigado na região do Vale do Paraíba, SP. Os tratamentos foram: fipronil 250TS nas dosagens de 37,5; 50; 62,5; 125 g. i.a./lO0kg de semente, fipronil 20G nas dosagens de 60 e 80 g. i.a./ha, e fipronil 800WG nas dosagens de 60 e 80 g. i.a./ha, aplicados no dia da inundação da cultura; carbosulfan 250TS a 375 g. i.a./100 kg de semente, carbofuran 50G a 750 g. i.a./ha, aplicado a 15 dias após a inundação; B. bassiana suspenso em água mais 1% de espalhante adesivo, aplicado na dose de 101 4 conídios/ha um dia antes da inundação; B. bassiana impregnado em leucita com 2% de agente molhante, aplicado na dose de 101 4 conídios/ha, no dia da inundação; e testemunha. Apresentaram redução da população acima de 80% os inseticidas fipronil 20G e 800WG, e carbofuran 50G. O tratamento fipronil 250TS apresentou um efeito fitotônico. Os tratamentos referentes ao fungo não apresentaram efeito na população da praga.
PALAVRAS-CHAVE:
Oryzophagus oryzae
; gorgulho aquático; arroz;
Beauveria bassiana
; controle químico
ABSTRACT
The research was carried out in Pindamonhangaba county, SP, in order to study new formulations of fipronil and the fungus Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. for the control of larva of rice-water weevil, Oryzophagus oryzae (Costa Lima,1936), which is the most important pest of rice in the Paraíba valley. The treatments were: fipronil 250TS using 37.5; 50.0; 62.5 and 125.0 g. i.a./100.0 kg of seeds; fipronil 20G using 60.0 and 80.0 g. i.a./ha; fipronil 800WG using 60.0 and 80.0 g i.a./ha; carbosulfan 250TS using 375.0 g. i.a./100.0 kg of seeds; carbofuran 50G using 750.0 g. i.a./ha; B. bassiana mixed with water plus spreader stick, using 101 4 spores/ha; B. bassiana mixed with leucita plus 2% of moisture agent, using 101 4 spores/ha, and control. The insecticide fipronil 20G, fipronil 800WG and carbofuran 50G afforded leveis of control above 80%. The treatment fipronil 250TS showed phytotonic effect. The treatments with B. bassiana showed no effect on larva population.
KEY WORDS:
Oryzophagus oryzae
; rice-water weevil;
Beauveria bassiana
; chemical control
INTRODUÇÃO
Oryzophagus oryzae (Costa Lima, 1936), Helodytes foveolatus (Duval, 1945) e Lissorhoptrus tibialis (Hustache, 1926), denominados de "gorgulho aquático do arroz irrigado" ou "bicheira da raiz", são comumente encontrados nessa cultura em diversas regiões do Brasil, merecendo importância em função dos danos que as larvas provocam nas raízes. Dentre essas espécies destaca-se O. oryzae, representando cerca de 60 % da população conjunta (CAMARGO et al., 1990). O elevado prejuízo provocado por esses insetos, de até 43% de redução na produção (LEITE et al., 1992 ) justifica o combate dos mesmos, sendo o controle químico o método mais efetivo. A disponibilidade de apenas um inseticida registrado para o controle do gorgulho aquático (SALLES, 1977; LOECK & BELARMINO, 1986), agravado pelo fato de ser um produto de alta toxicidade e conseqüentemente, inadequado para ambiente aquático, tem acarretado a necessidade de se avaliar novos inseticidas, tendo em vista aqueles de menor toxicidade, dentre os quais, aqueles de natureza biológica. Dessa forma, um dos inseticidas químicos mais avaliados atualmente é o fiprúnil; tendo apresentado excelentes resultados quando empregado no tratamento de sementes, assim como em pulverização no dia da inundação da cultura, visando o combate dos adultos (LEITE et al., 1994; OLIVEIRA, 1994; CARBONARI et al., 1995;TAKADA et al., 1995;LEITE et al., 1995).
Procurando desenvolver um inseticida biológico, tem-se avaliado a utilização do fungo Beauveria bassiana em associação com óleo vegetal e mineral mediante a aplicação da mistura na lâmina de água, no que se objetiva também o combate dos adultos (LEITE et al., 1994; LEITE et al., 1995). Os resultados têm sido pouco satisfatórios devido ao fato da mistura permanecer na superfície da lâmina de água, apresentando uma persistência inferior à capacidade do inseto de se manter submerso. Dessa forma, os insetos escapam da ação do produto
O objetivo desse trabalho foi avaliar formulações do inseticida fipronil e do fungo B. bassiana.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Campo Experimental do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), em Pindamonhangaba, SP, em campo de arroz do cultivar IAC-101, irrigado por inundação e cultivado pelo sistema de plantio convencional. O plantio foi realizado no dia 13 de dezembro de 1994, enquanto que a inundação da cultura foi feita no dia 24 de janeiro de 1995.
Foram considerados 13 tratamentos: fipronil 250TS (Regent) nas dosagens de 37,5; 50,0; 62,5 e 125,0 g do ingrediente ativo (i.a.) por 100 kg de semente; carbosulfan 250TS (Marshal) a 375,0 g i.a./100 kg de semente; fipronil 20G (Regent) nas dosagens de 60,0 e 80,0 g i.a./ha; fipronil 800WG (Regent) nas dosagens de 60,0 e 80,0 g i.a./ha; carbofuran 50G (Ralzer) a 750,0 g i.a./ha; B. bassiana suspenso em água mais 1% de espalhante adesivo; B. bassiana impregnado em leucita com 2% de agente molhante; e testemunha. Foram utilizados 4 repetições por tratamento, - representadas · por parcelas de 20 m2 contendo 8 fileiras de arroz cada, com distribuição em blocos aoacaso. O inseticida carbofuran 50G foi utilizado como padrão.
A utilização de uma leucita de alta densidade na formulação do fungo em pó, adicionada do agente molhante, permitiu que o produto resultante afundasse na lâmina de água após sua aplicação, depositando o patógeno no fundo do terreno. Assim, no dia seguinte à sua aplicação, procedeu-se ao fechamento da entrada de água nas parcelas tratadas com o patógeno, tendo em vista drenar o terreno e obrigar os adultos dos insetos a descerem para a superfície do solo e se contaminarem com o organismo. No caso do tratamento do fungo em mistura com água, a utilização de espalhante adesivo, provavelmente, auxiliou na fixação do patógeno na superfície do solo antes da inundação da cultura: As parcelas foram mantidas drenadas por 4 dias tendo em vista permitir a penetração do patógeno no inseto, após o que foram inundadas.
As avaliações de larvas foram realizadas dentro do período de 40 a 45 dias após a inundação da cultura. Nesse período foram arrancadas, com o auxílio de uma cavadeira, 10 grupos de plantas por parcela, sendo cada metade obtida da 2ª e 3ª linha de cada lado das parcelas. A densidade larval foi avaliada agitando-se o sistema radicular dos grupos de plantas em um balde com água, seguido da coagem da mistura em uma peneira.
Número de perfilhos por metro linear no dia da inundação e final do ciclo da cultura; número de larvas do gorgulho aquático por 100 perfilhos amostrados aos 20 dias após a inundação; porcentagem de controle da praga; produção de grão; e porcentagem de incremento na produção; avaliados na cultura do arroz irrigado. Pindamonhangaba, SP.
Para o tratamento fungo mais água foi feita uma aplicação no dia anterior à inundação, no período da tarde, mediante a pulverização da suspensão em toda a área coberta e descoberta com vegetação, da parcela. Para o tratamento fungo mais leucita foi feita uma aplicação no dia da inundação, no período da tarde, mediante o peneiramento do produto sobre a lâmina de água. Quanto aos tratamentos referentes ao fipronil 20G e fipronil 800WG, foram aplicados também no dia da inundação, tendo-se realizado a distribuiçâ manual daqueles relacionados ao primeiro produto, e pulverização daqueles relacionados ao :;cf1mdo. O produto carbofuran 50G foi aplicado 20 dias apé, a inundação, mediante, também, a sua distribuição manu.::1
As pulverizações foram realizadas com o auxílio de um pulverizador costal de 5 litros na vazão de 200 litros/ha. O peneiramento foi feito com o uso de uma peneira de malha 20, aplicando-se uma quantidade correspondente a 1.000 kg do fungo mais leucita/ha. Os produtos granulados foram aplicados através da distribuição dos mesmos nas fileiras de plantas, tendo o auxílio de um copo de plástico.
O isolado do fungo foi o CB-74, originado de Lissorhoptrus sp. do Japão. O fungo foi produzido em arroz cozido e utilizado nas misturas com água e leucita na dosagem de 101 4 conídios/ha.
Avaliou-se, no final do ciclo da cultura, a produção de grãos resultante de cada tratamento, tendo-se considerado para isso as 2 linhas centrais de cada parcela, de 4 m cada linha. O stand resultante de cada tratamento, foi avaliado 1 dia antes da inundação da cultura, e no final do ciclo, tendo-se considerado para isso 1 m linear de plantas por parcela.
Os resultados quanto ao número de larvas por 100 perfilhas e produção em termos de kg/ha, foram analisados estatisticamente pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.
RESULTADOS
Apresentaram eficiência no controle da praga, ou seja, porcentagem de redução na população acima de 80%, os tratamentos fipronil 20G nas dosagens de 60 g i.a./ha (99,3%) e 80 g i.a./ha (98,5%), e fipronil 800WG nas dosagens de 60 g i.a./ha (94%) e 80 g i.a./ha (94%), ambos aplicados no dia da inundação da cultura, bem como o carbofuran 50G a 750 g i.a./ ha (98,6%), aplicado 20 dias após (Tabela 1). O tratamento fipronil 250TS a 125 g i.a/lOOkg apresentou porcentagem de controle de 73,9%, entretanto não diferenciou significativamente daqueles que apresentaram eficiência. Quanto aos tratamentos referentes ao fipronil 250TS, nas dosagens de 62,5, 50 e 37,5 g i.a./lOOkg, apresentaram baixa eficiência no controle da praga, ou seja, 44,5; 38,3 e 36,3 de controle, respectivamente.
Com relação à produção de grãos (Tabela 1), diferenciaram significativamente da testemunha o tratamento carbofuran 50G e todos aqueles referentes ao inseticida fipronil, exceto fipronil 20G a 60g i.a./ ha. Os tratamentos que diferenciaram significativamente da testemunha permitiram um incremento na produção variável de 802 a 1.38 lkg/ha, o que demonstra a viabiliade de uso desses produtos no controle do gorgulho aquático.
DISCUSSÃO
O tratamento fipronil 250TS a 125g.i.a/100kg não apresentou eficiência nesse experimento, entretanto apresentou porcentagem de controle acima de 95% em ensaio realizado por TAKADA et al. (1995). A menor eficiência nesse ensaio deve-se, provavelmente, ao fato do mesmo ter sido realizado em um solo de propriedades físicas e químicas diferentes, com teor de matéria orgânica superior.
Os resultados desse ensaio demonstram que o inseticida fipronil 250TS, utilizado em tratamento de semente, constitui-se, também, em um produto fitotônico já que os tratamentos da eficiência, apresentaram produções de grãos superiores àquelas resultantes dos tratamentos referentes ao fipronil 20G e fipronil 800WG, os quais apresentaram eficiência, com destaque para o tratamento fipronil 250TS a 125 g.i.a/ 100kg, o qual apresentou a maior produção do ensaio (6.485kg/ha). A maior produção de grão proporcionada pelo fipronil 250TS a 125g.i.a/100kg, em relação àquelas proporcionadas pelos produtos que ap_resentaram eficiência, assim como a diferença não significativa entre as porcentagens de controle apresentadas pelos mesmos, permitem que esse inseticida, na referida dosagem, seja recomendado para o controle do gorgulho aquático do arroz.
Os dados referentes ao número de perfilhas por metro linear, avaliados em suas fases da cultura, não apresentaram correlação com os tratamentos nem com os outros parâmetros.
Os tratamentos referentes ao fungo B. bassiana não apresentaram efeito inseticida devido, provavelmente, à inexistência de cobertura foliar na fase inicial da cultura do arroz e, conseqüentemente, à exposição dos conídios do fungo à radiação solar após a drenagem do terreno, resultando na inviabilização do patógeno antes da sua penetração no hospedeiro.
CONCLUSÕES
- O inseticida fipronil 20G nas dosagens de 60 e 80 g i.a/ha, e fipronil 800WG nas dosagens de 60 e 80 g i.a/ ha, aplicados no dia da inundação da cultura, são eficientes no controle do gorgulho aquático do arroz.
- O inseticida fipronil 250TS no tratamento de semente é fitotônico para as plantas de arroz irrigado.
- O inseticida fipronil 250TS na dose de 125 g i.a/ 100kg de semente deve ser recomendado para o controle do gorgulho aquático do arroz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
10 Fev 2025 -
Data do Fascículo
Jul-Dec 1998
Histórico
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Recebido
11 Mar 1998
