Open-access POLISSACARÍDEOS DE MEMBRANA DE BRUCELLA ABORTUS 1119-3, NA PROVA DE IMUNODIFUSÃO EM GEL DE ÁGAR, NO DIAGNÓSTICO DA BRUCELOSE EM BEZERRAS VACINADAS (B19)

MEMBRANE POLYSACCHARIDES OF BRUCELLA ABORTUS 1119-3, IN AGAR GEL IMMUNODIFUSION TEST, IN DIAGNOSIS OF BRUCELLOSIS ON VACCINATED HEIFERS (Bl9)

RESUMO

Avaliou-se o perfil sorológico de 33 fêmeas bovinas vacinadas com a amostra padrão de Brucella abortus (B19), através da prova de imunodifusão em gel de ágar, comparativamente aos testes de soroaglutinação rápida em placa (SAR), soroaglutinação lenta em tµbos (SAT), antígeno acidificado (ATA) e 2-mercaptoetanol (2-ME), durante 24 meses pós-vacinais. Para a realização da prova de imunodifusão foi utilizado extrato polissacarídico (POLI O) obtido da amostra de B. abortus 1119-3. Somente um animal (3,0%) apresentou reação precipitante na imunodifusão, no 14u dia pós-vacinai. No 28u dia após a vacinação, 15 (45,4%) animais apresentaram reatividade na imunodifusão, com igual quantidade no 42u dia pós-vacinai. No 56U dia após a vacinação, verificou-se três animais (9,1%) positivos na imunodifusão e um (3,0%) com reação precipitante fraco-positiva, que se manteve detectável no 91º e 119º dia pós-vacinai; embora os demais animais demonstrassem negatividade na prova a partir do 91º dia após a imunização. Nos testes de SAR, SAT e 2-ME, os animais apresentaram títulos máximos entre o 14º e 42º dias após a vacinação, com declínio regular e contínuo após este período, e juntamente com o do ATA, foram considerados negativos ao redor de 10 meses pósvacinais. Dentre as provas utilizadas, a imunodifusão em gel de ágar contendo antígenos polissacarídeos, foi a que apresentou maior precocidade na ausência de reações positivas (5 meses pós-vacinais).

PALAVRAS-CHAVE:
Brucelose bovina; imunodifusão; antígeno polissacarídico; soroaglutinação; B19

ABSTRACT

The serological profiles of 33 female bovines, vaccinated at three to eight months of age with the B19 standard strain of Brucella abortus, were evaluated by agar gel immunodifusion test, comparatively to plate agglutination, tube agglutination, rose bengal plate and mercaptoethanol tests, over a period of 24 months. For the immunodifusion test, polysaccharide extract obtained from the sample B. abortus 1119-3, was used as antigen. Only one (3.0%) animal presented precipitate reaction in the immunodifusion test on the 14th day after vaccination. On the 28th day after immunization, 15 (45.4%) animais revealed reaction in the immunodifusion, with the sarne amount on the 42nd experimental day. On the 56th day after vaccination, three (9.1%) animais were observed positive in the immunodifusion and one (3.0%) with weak-positive reaction, that stayed detectable on the 91th and 119th days after vaccination; although the other animais were negative since the 91th day after the immunization. Maximum leveis of antibodies detected reached by the plate agglutination, tube agglutination and mercaptoethanol tests were found between the 14th and the 42nd day, with regular and continuous decline after this period, and together with rose bengal plate test, were considered negative around ten months after vaccination. Among the tests used, the agar gel immunodiffusion assay containing polysaccharide antigens presented greater precocity in the absence of positive reactions (five months after vaccination).

KEY WORDS:
Bovine brucellosis; immunodiffusion test; polysaccharide antigen; agglutination tests; B19

INTRODUÇÃO

A brucelose bovina é uma enfermidade causada principalmente pela Brucella abortus, de distribuição mundial, que acarreta prejuízos de ordem sanitária e econômica (WORLD HEALTH ORGANIZATION-WHO, 1986; CORBEL, 1997).

Em 1933, WILSON & MILES sugeriram a diferenciação antigénica de estirpes lisas das espécies de B. abortus e B. melitensis pela existência de dois antígenos comuns, denominados A e M, que variavam quantitativamente para cada uma das espécies, com predomínio do antígeno A em B. abortus e M em B. melitensis (WILSON & MILES apudSÁ, 1989).

MILES & PIRIE (1939) procuraram individualizar os antígenos A e M e obtiveram uma substância solúvel específica, constituída bioquímicamente por um complexo fosfolipídico, proteínas e um derivado amino-polihidroxílico (polipeptídio); que recebeu a denominação inicial de antígeno nativo, conhecido atualmente como hapteno nativo (MILES & PIRIE, 1939 apudSÁ, 1989).

OLITZIKI & SULITZEANU (1957) descrevem outros antígenos de Brucella sp, tanto para cepas lisas como para as naturalmente rugosas (Brucella ovis e Brucella canis).

READFERN (1960) aplicou o modelo de extração de lipopolissacarídeos da parede celular de enterobactérias, em amostras do gênero Brucella, obtendo sete frações distintas. O estudo bioquímico e imunológico da fração cinco (F5), através da técnica de imunodifusão em gel de ágar, revelou a presença de dois componentes, um dos quais contendo os antígenos A e M.

A análise dos antígenos A e M da F5 de Brucella, mediante as técnicas de imunoeletroforese (HINSDILL & BERMAN, 1967) e por colorações seletivas, demonstraram que este componente era constituído por um lipopolissacarídeo (LPS), localizado na superfície do microrganismo em fase lisa. A caracterização bioquímica do LPS revelou sua complexidade estrutural, composta por uma macromolécula constituída principalmente por lipídios, carbohidratos e ácidos, termo-estável e com atividade endotóxica (LEONG et al., 1970).

DIAZ et al. (1976) e DIAZ et al. (1980), concluíram que o LPS da F5 de Brucella sp estava intimamente relacionado com reações antigénicas de superfície, utilizadas no sorodiagnóstico do agente através de técnicas baseadas na utilização de suspensões íntegras e inativadas de Brucella sp, como as provas de Coombs, rosa bengala e soroaglutinação lenta.

DIAZ et al. (1981) investigando a composição química do segundo componente da F5 do gênero Bruce/la, descrito inicialmente por READFERN (1960), determinaram a sua natureza polissacarídica, denominando o composto como polissacarídeo B (POLI B).

O POLI B foi descrito tanto no citoplasma de cepa rugosa de B. melitensis - 155 (DIAZ et al., 1979), como na parede celular de amostras lisas de B. abortus e B. melitensis (DIAZ et al., 1968; DIAZ et al., 1981). Ao contrário do LPS, o POLI B não possui atividade endotóxica e comporta-se como hapteno, ou seja não estimula a síntese de imunoglobulinas (Ig) frente à imunização com células íntegras intactas, lisas ou rugosas de Brucella sp (DIAZ et al., 1968).

DIAZ et al. (1979) referiram completa identidade em técnicas de imunodifusão entre polissacarídeos extraídos de cepas lisas e rugosas de Brucella sp. Por outro lado, MORENO et al. (1981) empregando técnicas imunoenzimáticas (enzyme-linked immunosorbent assay - ELISA), revelaram a presença de determinantes antigénicos distintos entre os polissacarídeos; sugerindo a denominação de POLI B para o composto extraído de amostras rugosas de B. melitensis, reservando a designação de hapteno nativo para polissacarídeos obtidos de amostras em fase lisa.

MORIYON & DIAZ (1985) assumem a coexistência do LPS e estruturas de natureza polissacarídica na parede celular de Brucella, admitindo que estas estruturas sejam imunologicamente relacionadas, embora estruturalmente distintas.

Até o momento não estão completamente esclarecidos os fatores que permitem que estes polissacarídeos de Brucella sp. atuem como haptenos, ou seja, não induzam à formação de Ig frente a antígenos vacinais, detectáveis em testes sorológicos convencionais. Entretanto, em animais infectados com Bruce/la sp., podem ser identificadas Ig anti-polissacarídeos de membrana; sugerindo que a síntese destas Ig estaria dependente de alguma condição particular relacionada à infecção natural pelo microrganismo (DIAZ et al., 1979; JONES et al., 1980; MORIYON & DIAZ, 1985). Desta forma, animais vacinados contra brucelose não apresentariam Ig específicas para polissacarídeosde Bruce/la, ao contrário de animais infectados.

O emprego de técnicas diagnósticas que detectassem Ig anti-polissacarídeos de membrana da bactéria, permitiria a diferenciação de anticorpos sintetizados em animais infectados dos induzidos pelo processo vacinai. Este fato motivou o estudo de diferentes protocolos de extração de polissacarídeos de membrana de Brucella sp. e sua aplicação à técnica de imunodifusão em gel de ágar no sorodiagnóstico da brucelose em animais (MORENO et al., 1987; ZYGMUNT & DUBRAY, 1987; BRUNDLE et al., 1988; DIAZ-APARICIO et al., 1993).

DIAZ et al. (1979) investigando a aplicação do POLI B, extraído de B. melitensis (amostra 115), na prova de imunodifusão em gel de ágar, não observaram reações de precipitação nos soros de bezerras, colhidos em 20 animais de 1 a 2 meses, 19 de 3 a 4 meses e 24 de 5 a 6 meses de idade, vacinados com a amostra B19.

SÁ (1989) compararam a prova de imunodifusão em gel de ágar, utilizando o hapteno nativo extraído de B. melitensis (16M), frente às provas de soroaglutinação em tubo, rosa bengala, 2- mercaptoetanol, prova de Coombs e fixação de complemento, em bezerras vacinadas com a amostra B19, observando que a prova de imunodifusão detectou Ig vacinais em três animais (21%) no 2{)12 dia pós-vacinai, negativando totalmente aos 3 meses pós-vacinais; período considerando bastante precoce em relação às demais provas testadas, que resultaram negativas entre o & e 12ll meses pós-vacinais.

Utilizando método de extração de polissacarídeos, baseado na obtenção não diferenciada (POLI B ou hapteno-nativo) do composto da membrana de amostras de B. abortus (1119-3), denominado de polissacarídeoO(POLI O), CHERWONOGRODZKY & NIELSEN (1988) avaliaram o emprego deste extrato, obtidos de cepas em fase lisa de B. abortus na prova de imunodifusão em gel de ágar, comparativamente a outras provas sorodiagnósticas convencionais, em amostras de soro de bovinos vacinados (B19) e infectados. Em 24 soros examinados de animais vacinados não foram observadas reações de precipitação na prova de imunodifusão, enquanto em 24 animais considerados infectados através das provas de soroaglutinação em tubo; fixação de complemento e ELISA, constatouse reações de precipitação em 18 animais.

PINOCHET et al. (1990) verificaram ausência de reação precipitante em 265 soros de animais vacinados (B19), utilizando o POLI O (obtido por extração alcoólica) na prova de imunodifusão em gel de ágar, a despeito da positividade em 237 destes soros na prova de soroaglutinação em tubo e 248 na de rosa bengala.

LORD & CHERWONOGRODZKY (1992) avaliando a prova de imunodifusão com polissacarídeos obtidos de amostras de B. melitensis-115 (POLI B) e de B. abortus 1119-3 (POLI O), além de provas convencionais de soroaglutinação (soroaglutinação rápida em placa, soroaglutinação lenta em tubo, 2- mercaptoetanol, fixação de complemento e card test), em 54 soros de bezerras vacinadas com amostra B19, examinadas mensalmente do 3{)12 ao 21Qll dias pósvacinais; não observaram nenhuma reação precipitante na prova de imunodifusão com os dois antígenos polissacarídicos, enquanto nas outras provas, todos os animais ainda apresentavam resultados positivos aos 210 dias pós-vacinais.

DIAZ-APARICIO et al. (1993) não observaram reações de precipitação na prova de imunodifusão em 40 soros de bezerras vacinadas com a amostra B19, utilizando como antígeno, polissacarídios extraídos de B. melitensis (hapteno nativo) e B. abortus 2308 (POLI O).

As dificuldades na diferenciação de reações oriundas de infecção das de origem vacinai, através de métodos sorológicos convencionais (MACMILLAN, 1990; NICOLETTI & TANYA, 1993; SARAVI et al., 1995; NIELSEN etal., 1996; WEYNANTS etal., 1996), decorrentes, principalmente, da persistência de Ig induzidas em animais vacinados com a amostra B19, são consideradas um dos maiores problemas no controle da brucelose, em países que adotam vacinas atenuadas aglutinogênicas (PLACKET et al., 1980; WHO, 1986).

Em função dos títulos pós-vacinais em animais adultos (WHO, 1986), o exame sorológico de fêmeas bovinas vacinadas com a amostra B19, conforme a normatização do Ministério da Agricultura do Brasil (BRASIL, 1979), deve ser realizado em idade igual ou superior a 30 meses, com interpretação diferenciada para animais vacinados e não vacinados.

Considerando a dificuldade dediferenciação de lg induzidas em animais infectados por Bruce/la sp, das sintetizadas em animais vacinados com a amostra de B. abortus (B19); objetivou-se com o presente estudo, avaliar a utilização do extrato polissacarídico (POLI 0), obti90 da amostra B. abortus 1119-3, aplicado à prova de imunodifusão em gel de ágar, comparativamente a provas sorodiagnósticas convencionais para brucelose em bezerras vacinadas com a B19.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Fazenda-Escola da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP - Campus de Botucatu, localizada no município de São Manoel, SP, utilizando-se 33 fêmeas bovinas da raça Nelore, entre 3 e 8 meses de idade.

A vacina empregada constituiu-se de produto comercial, contendo a amostra atenuada e liofilizada de B. abortus (B19). O produto foi testado quanto à concentração bacteriana e esterilidade antes do emprego nos animais experimentais; encontrando-se dentro dos padrões preconizados pela WHO (1986) para o número de unidades bacterianas viáveis, aferido pelo método de contagem viável (BIER, 1985) e com resultado negativo no teste de esterilidade para outros microrganismos.

Procedeu-se à vacinação de todos os animais, conforme a normatização do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária do Brasil, que preconiza para bovinos, a utilização da dose padrão da vacina B19 (B. abortus), em uma única dose, via subcutânea, nas fêmeas entre três a oito meses de idade (BRASIL, 1979).

Antes da vacinação, foi realizada colheita de sangue da totalidade dos animais, constituindo-se no dia zero do experimento. As primeiras quatro colheitas foram realizadas com intervalos de 14 dias, perfazendo o 14Q, 28Q, 42Qe 56Qdias pós-vacinais. As amostras subseqüentes foram obtidas no 91Q, 119Q, 154º, 182º, 210S1, 245º, 273º, 308º, 368º, 548º e 728º dias após a vacinação, totalizando 16 c lheitas.

Todos os animais foram testados pela técnica de imunodifusão em gel de ágar (MANCINI et al., 1965; FAHEY & MCKELVEY, 1965), utilizando-se como antígeno, extrato polissacarídico (POLI O) obtido da amostra de Brucella abortus 1119-3 no Instituto de Tecnologia do Paraná-TECPAR, de acordo com a técnica descrita por CHERWONOGRODZKY & NIELSEN (1988), com interpretação das reações de precipitação (formação de linhas), baseadas em leituras com 24, 48 e 72h.

Adicionalmente, todos os soros foram testados indistintamente nas provas de soroaglutinação rápida em placa (SAR), soroaglutinção lenta em tubos (SAT) e 2- mecaptoetanol, segundo ALTON et al. (1976), e aglutinação rápida em placa com antígeno acidificado tamponado, corado com rosa bengala (ATA), conforme ALTON et al. (1975); utilizando antígenos produzidos e gentilmente cedidos pelo TECPAR. Todas as provas sorodiagnósticas foram realizadas no Laboratório de Imunologia Aplicada do Depto de Higiene Veterinária e Saúde Pública-FMVZ-UNESP/Campus de Botucatu.

Em virtude da obrigatoriedade da vacinação no rebanho estudado, não foi estabelecido grupo-controle não vacinado com a amostra B19.

RESULTADOS

Os 33 animais estudados foram negativos.nas cinco provas realizadas, na amostragem obtida no dia da vacinação (dia zero).

Na prova de imunodifusão, somente um (3,0%) animal apresentou reação precipitante no 14Q dia após a vacinação. Nas amostras obtidas nas duas colheitas subseqüentes, verificou-se 15 (45,4%) animais positivos no 28º pós-vacinai e igual quantidade no 42º dia.

Aos 56 dias após a vacinação, três (9,1%) animais foram positivos e um (3,0%) com reação precipitante fraco-positiva na imunodifusão. Esta reação fracopositiva, manteve-se neste animal nas duas colheitas subseqüentes (91º e 119Q dias), embora os demais animais demonstrassem ausência de reações precipitantes a partir do 91Q dia pós-vacinai.

Ao final do 154Q dia após a vacinação, não foi observada nehuma reação precipitante na prova de imunodifusão nos animais experimentais (Fig. 1).

No 14º dia após a vacinação, todos os animais reagiram com títulos iguais ou superiores a 25 nas provas de SAR, SAT e 2-ME, e demonstraram soroconversão no do ATA.

Os títulos máximos na SAR e SAT foram constatados entre o 14Q e 42Q dias após a vacinação, e no 2- ME, entre o 28Q e 42Q dias pós-vacinais, verificandose o declínio regular e contínuo do título nas três provas após os referidos picos.

No 245Q e 273Q dias pós-vacinais, todos os animais foram considerados negativos nas provas de SAT e SAR (Fig. 1), respectivamente, segundo a normatização do Ministério da Agricultura do Brasil (BRASIL, 1979), embora ao final do 72811. dia após o uso da vacina, três animais ainda apresentassem títulos entre 25 e 50 na SAR e SAT.

No 2-ME e ATA, os animais apresentaram ausência de reações aglutinantes no 308º dia experimental (Fig. 1).

Fig. 1
Número de fêmeas bovinas vacinadas com a Bl9, positivas nas provas de imunodifusão com antígenos polissacarídicos(]D), :soroaglutinação rápida (SAR), soroagluti.nação lenta (SAT), .antígeno acidificado (ATA) e 2-mercaptoetanol (2-ME).

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Os resultados verificados para os títulos máximos nos animais experimentais na SAR e SAT, entre o l4ll e 4211 dias pós-vacinais, e entre 2811 e 42-º dias no 2- ME, são similares aos intervalos referidos por SUTHERLAND (1980) e WHO (1986) para bezerras vacinadas com a B 19 na idade recomendada. Estes títulos encontram justificativa na maior capacidade da SAR e SJIT na detecção de 1g da classe IgM (MAC MILLAN, 1990) e do 2-, ME, em relação à IgG (CASAS OLASCOAGA, 1976).

A negatividade daSAR e SÃf, observada aos nove e oito meses, respectivamente, nos animais estudados, segando as nonnas de .interpretação de animais vacinados do :l\finistério da Agricultura do Brasil (BRASIL, 1979), foi mais tardia que os resultados descritos por ORNELLAS-SANTOS et al. (1975), que referem negatividade nestas provas aos 6 meses pós-vacinais.

Foram .observados resultados negativos no 2-ME e ATA nos animais experimentais, ao redor dos dez meses pós-vacinais, contrariando os dados obtidos por SÁ (1989), qae refere a negatividade nestas provas a partir dos 6 meses pós-vacinais, em bezerras imunizadas oomaB19. No entanto, MAC MILLAN(-1990) menciona4i persistência de reações positivas no ATA em animais vacinados, em detrimento da negatividade nas provas de SAR, SAT e 2-ME.

A ausência precoce de reações aglutinantes no 2- ME -e ATA, provavelmente decorre da maior especificidade destas técnicas na detecção de Ig da classe IgG, que se caracteriza pela persistência em animais doentes, com tendência ao desaparecimento emanimais vacinados (SUTIIBRLAND, 1980;MAC MILLAN, 1990).

Apersistência de animais com títulos residuais após 12:meses pós-vacinais nas provas de SAR e SAT, concorda com as citações da WHO (1986). Estes títulos residuais podem ser justificados pela maior habilidade destes testes em detectar Ig da classe IgM (MACMilLAN, 1990), que tendem a predominar em arrimais vacinados com a B19 (SUIHERLAND, 1980).

Não encontra-se completamente esclarecido na literatura porque estes extratos polissacarídicos obtidos de amostras de Bruce/la sp., atuariam como haptenos na prova de imunodifusão para brucelose, e não induziriam Ig precipitantes em animais vacinados com a B19, ao contrário de anímais infectados; embora estas Ig possam ser identificadas em animais vacinados com a Bl9, através de métodos imunoenzimático:s, como o teste de ELISA (ALONSOURMENETA et al., 1988).

DIAZ et al_ (1979), JONES et al. (1980) e MORIYON & DIAZ(l985) citamqueasíntesedestas Ig anti-polissacarídias de natureza precipitante em animais infectados, provavelmente necessite de alguma condição particular relacionada ao processo infeccioso, que se encontra ausente ou em menor intensidade em animais vacinados com a B19. CHERWONOGRODZKY & NIELSEN (1988) sugerem que haveria diferenças quantitativas e qualitativas (afinidade) na produção destes anticorpos precipitantes em animais vacinados e infectados.

No presente estudo, no 1411 dia pós-vacina}, apenas um (3,0%) animal apresentou positividade na prova de imunodifusão. SÁ (1989) investigando Ig antihapteno nativo extraído de B. melitensis, aplicado à prova de imunodifusão, encontrou valores superiores, obtendo três (21,4%) animais positivos, em 14 estudados, no 1411 dia após a vacinação com a B19. Ao contrário, ZYGMUNT & DUBRAY (1987) pesquisando anticorpos precipitantes através do teste de imunodifusão em bezerras vacinadas com a B19, utilizando como antígeno o hapteno nativo extraído de B. abortus, não observaram nenhum animal reagente após a vacinação. Da mesma forma, DIAZ et al. (1979), utilizando o POLI B como antígeno, e CHERWONOGRODZKY & NIELSEN (1988), PINOCHET et al. ( 1990), LORD & CHERWONOGRODZKY (1992), empregando o POLI O, também não observaram reações precipitantes na prova de imunodifusão em fêmeas bovinas vacinadas com a B19.

Estas divergências observadas na persistência ou ausência de reações precipitantes na prova de imunodifusão em gel de ágar, em animais vacinados com a B19, empregando diferentes frações polissacarídicas extraídas de amostras do gênero Brucella, pode decorrer dos distintos protocolos de extração adotados, não permitindo a separação total da fração polissacarídica da Iipopolissacarídica, resultando em resíduos de LPS que poderiam reagir com Ig de origem vacinai (ZYGMUNT & DUBRAY, 1987), principalmente nos períodos de picos destas lg após a vacinação com a B19, notadamente entre o 14º e 42º dias pós-vacinais (SUTHERLAND, 1980).

Adicionalmente, a despeito das relevantes diferenças de determinantes antigênicos entre o LPS e polissacarídeos de membrana de Brucella sp (BRUNDLE et al., 1987; MORENO et al., 1987), a precipitação do LPS no soro de animais vacinados na prova de imunodifusão, ao contrário da fração polissacarídica, poderia ocorrer em virtude dos diferentes estados físicos de agregação do LPS, sob a forma de micélios, e dos polissacarídios, como moléculas dispersas (SHANDS, 1971), que poderiam afetar a capacidade precipitante de cada uma das frações (ALONSO-URMENETA etal., 1988).

No 91º dia pós-vacinai, foi observado somente um (3,0%) animal com reação precipitante na prova de imunodifusão nos animais experimentais. Dados similares também foram evidenciados em bezerras vacinadas com a amostra B19, referindo que estes animais raramente desenvolvem, ou mesmo não apresentam anticorpos precipitantes a partir de três meses pósvacinais, detectáveis através da prova de imunodifusão em gel de ágar, utilizando antígenos polissacarídicos de Brucella sp. obtidos por diferentes métodos de extração (PANIZO et al., 1978; DIAZ et al., 1979; BERMAN & JONES, 1980;DIAZ et al.,1980;DIAZ et al.,1981;JONES et al., 1980; DIAZ et al., 1984; CHERWONOGRODZKY & NlELSEN, 1988; SÁ, 1989; PINOCHET et al., 1990; LORD & CHERWONOGRODZKY, 1992; DIAZAPARICIO et al., 1993).

Perante os resultados obtidos, observou-se que as bezerras entre 3 e 8 meses, vacinadas com a amostra B19, apresentaram resposta sorológica assentada nas provas de SAR, SAT, ATA e 2-ME, com declínio regular e contínuo de reatividade após os referidos picos, consideradas negativas ao redor de 10 meses pósvacinais, enquanto a prova de imunodifusão apresentou alta precocidade na ausência de reações precipitantes (5 meses pós-vacinais); sugerindo que esta prova poderia ser aplicada como teste complementar alternativo no diagnóstico de brucelose em bezerras vacinadas com a amostra B19, em virtude do seu baixo custo, praticidade e especificidade para animais testados em idade inferior a recomendada pelo Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária do Brasil.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Gilberto Pedroso da Rocha, do Departamento de Produção e Exploração Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-UNESP/ Campus de Botucatu, pela concessão dos animais para o experimento;

Ao Zootecnista João Ratti Júnior, da Fazenda-Escola da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-UNESP/Campus de Botucatu, pelo auxílio na colheita de material.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ALONSO-URMENETA, B.; MORIYON, I.; DÍAZ, R.; BLASCO, J.M. Enzyme-linked immunosorbent assay with Bruce/la native hapten polysaccharide and smooth lipopolysaccharide. J. Clin. Microbial., v.26, n.12, p.2642-2646, 1988.
  • ALTON, G.G.; JONES, L.M.; PIETZ, D.E. Las técnicas de laboratorio en la brucelosis. Genebra: OMS, 1976. p.55-133 (Ser. Monogr., 55).
  • ALTON, G.G.; MAW, J.; ROGERSON, B.A. Serological diagnosis of bovine brucellosis: an evaluation of complement fixation, serum agglutination and Rose Bengal tests. Aust. Vet. J., v.51, p.57-63, 1975.
  • BERMAN, D.T. & JONES, M. Radial immunodifusion: a confirmatory test for bovine brucellosis. In: ANNUAL MEETING OF THE U.S. ANIMAL HEALTH, 83., 1980, San Diego, Califomia. Proceedings. p.118-127.
  • BIER, O. Microbiologia e Imunologia. 24. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1985.
  • BRASIL. Ministério da Agricultura. Secretaria de Defesa Sanitária Animal. Manual de procedimentos: movimento interestadual de animais e produtos. 2.ed. Brasília: MA, Secretaria de Defesa Sanitária Animal, 1979.
  • BRUNDLE, D.R.; CHERWONOGRODZKY, J.W.; CAROFF, M.; PERRY, M.B. The lipopolysaccharides of Brucella abortus and B. melitensis. Ann. lnst. Pasteur Microbiol., v. 138, p.92-98, 1987.
  • BRUNDLE, D.R.; CHERWONOGRODZKY, J.W.; PERRY, M.B. Characterization of Brucella polysaccharide B. Inf lml1un., v.56, n.5, p.1101-1106, 1988.
  • CASAS OLASCOAGA, R. Diagnóstico serológico de la brucelosis. Zoonosis, Comite, v.18, p.107-141, 1976.
  • CHERWONOGRODZKY, J.W. & NIELSEN, K.H. Brucella abortus 1119-3 O-chain polysaccharide to differentiate sera from B. abortus S-19- vaccinated and field-strain-infected cattle by agar gel immunodifusion.J. Clin. Microbiol., v.26, n.6, p.1120-1123, 1988.
  • CORBEL, M.J. Recent advances in brucellosis. J. Med. Microbiol., v.46, p.101-103, 1997.
  • DIAZ, R.; GARATEA, P.; JONES, L.M.; MORIYON, I. Radial immunodifusion test with a Brucella polysaccharide antigen for differentiating infected from vaccinated cattle. J. Clin. M icrobiol., v.10, n.1, p.37-41, 1979.
  • DIAZ, R.; JONES, L.M.; LEONG, D.; WILSON, J.B. Surface antigens of smoth brucellae. J. Bacteriol., v.96, n.4, p.893-901, 1968.
  • DIAZ, R.; MARAVI, P.; RIVIERO, A. Comparison of conterimmunoelectrophoresis with other serological tests in the diagnosis of human brucellosis. Buli. W.H.O., v.53, p.417-424, 1976.
  • DIAZ, R.; SALVO, M.D.; LAGO, L.F.; ZORRAQUINO, M. Diagnostico serologico de la brucelose bovina. Estudio comparativo de la preuba de imunodifusion radial com la reaccion de fijation de complemento. Rev. Diag. Biol., v.29, p.433-438, 1980.
  • DIAZ, R.; TOYOS, J.; SALVO, M.D.; FERNÁNDEZLAGO, L.; ALONSO, B.; MORIYÓN, I.; DORRONSORO, I. Studies on the polysaccharide B and native hapten of Brucella and Yersinia enterocolitica serotype 9. Dev. Biol. Stand., v.56, p.213-220, 1984.
  • DIAZ, R.; TOYOS, J.; SALVO, M.D.; PARDO, M.L. A simple method for the extraction of polysaccharide B from Brucella cells for use in the radial immunodifusion test diagnosis of bovine brucellosis.Ann. Rech. Vet., v.12, n.1, p.35-39, 1981.
  • DIAZ-APARICIO, E.; ARAGÓN, V.; MARÍN, C.; ALONSO, B.; FONT, M.; MORENO, E.; PÉREZ-ORTIZ, S.; BLASCO, J.M.; DÍAZ, R.; MORIYON, I. Comparative analysis of Brucella serotype A and M and Yersinia enterocolitica 0:9 polysaccharides for serological diagnosis of brucellosis in cattle, sheep and goats. J. Clin. Microbiol., v.31, n.12, p.3136-3141, 1993.
  • FAHEY, J.L. & MCKELVEY, E.M. Quantitative determination of serum immunoglobulins in antibody-agar plates. J. lmmunol., v.94, p.84-90, 1965.
  • HINSDILL, R.D. & BERMAN, T. Antigens of Brucella abortus. I. Chemical and immunoelectrophoretic characterization. J. Bacteriol., v.2, p.307-316, 1967.
  • JONES, L.M.; BERMAN, D.T.; MORENO, E.; DEYOE, B.L.; MICHAEL, J.; HUBER, J.D.; NICOLETTI, P. Evaluation of a radial immunodiffusion test with polysaccharide B antigen for diagnosis of bovine brucellosis. J. Clin. Microbiol., v.12, n.6, p.753-760, 1980.
  • LEONG, D.; DIAZ, R.; MILUER, K.; RUDBACH, J. ; WILSON, J.B. Strutural and biological properties of Brucella endotoxin. Infect. lmmun., v.1, p.174-182, 1970.
  • LORD, V.R. & CHERWONOGRODZKY, J.W. Evaluation ofpolysaccharide, lipopolysaccharide and b-glucan antigens in gel immunodiffusion tests for brucellosis in cattle. Am. J. Vet. Res., v.53, n.3, p.389-391, 1992.
  • MAC MILLAN, A. A conventional serologic tests. In: NIELSEN, K. & DUNCAN, J.R. Animal Brucellosis. Boca Raton: CRC Press, 1990. p.155-300.
  • MANCINI, G.; CARBONARA, A.O.; HERMANS, F.J. Immunochemical quantitation of antigens by a single radial immunodifusion. lmunochemical, v.2, p.235-254, 1965.
  • MORENO, E.; MAYER, H.; MORIYON, I. Characterization of a native polysaccharide hapten from Brucella melitensis. lnfect. Immun., v.55, p.2850-2853, 1987.
  • MORENO, E.; SPETH, S.L.; JONES, L.M.; BERMAN, D.T. Immunochernical charaterisation of Brucella lipopolisaccharides and polysaccharides. Infect. lmmun., v.31, n.l, p.214-222, 1981.
  • MORIYON, I. & DIAZ, R. Polissacarideos haptécnicos de brucella. In: CONGRESSO NACIONAL DE MICROBIOLOGIA, 9., 1985, Valadolid, Spain. Proceedings. p.349-351.
  • NICOLETTI, P. & TANYA, V. Comparison of enzyme-labeled immunosorbent assay and particle concentration fluorescence immunoassay with standard serologic methods and bacteriologic culture for detection of Brucella sp. infected cows in herds with brucellosis. J. Am. Vet. Med. Assoe., v.202, n.12, p.1975-1977, 1993.
  • NIELSEN, K.H.; KELLY, L.; GALL, D.; BALSEVICIUS, S.; BOSSE, J.; NICOLETTI, P.; KELLY, W. Comparison of enzyme immunoassays for the diagnosis of bovine brucellosis. Prev. Vet. Med., v.26, p.17-32, 1996.
  • OLITZIKI, A.L. & SULITZEANU, D. The antigenic structure in the genus Brucella. Bull. Res. Counc. Israel, v.6, p.112-114, 1957.
  • ORNELLAS-SANTOS, P.P.; ARAÚJO, R.F.; REIS, R. Brucelose bovina: Persistência da aglutinação pós-vacinai em bezerras de raças zebuínas vacinadas com a amostra B-19. Arq. Esc. Vet. Univ. Fed. Minas Gerais, v.27, p.363-373, 1975.
  • PANIZO, A; ORTIGOSA, J.; DIAZ, R. Presencia en sueros bovinos de precipitinas frente ai antígeno A + M, polisacárido B y proteínas dei genero Brucella. Rev. Sanid. Hig. Pública, v.52, p.1-12, 1978.
  • PINOCHET, L.V.; ÁBALOS, P.P.; STEPHENS, L.K.; DURÁN, M.N. Normalización de un antígeno soluble para descartar respuesta postvacunal a Brucella abortus cepa 19. Av. Cienc. Vet., v.5, n.2, p.119-123, 1990.
  • PLACKET, P.; ALTON, G.G.; CARTER, P.D. et al. Failure of a single dose of Brucella abortus strain vaccine to protect cattle when given early in calfhood. Austr. Vet. J., v.56, p.409-412, 1980.
  • READFERN, M.S. An immunochemical study of antigens of brucella extracted by the westpal techinique. Madison, 1960. [Tese (PhD)-Univ. Wisconsin].
  • SÁ, M.I.V.C.C. Avaliação da prova de imunodifusão radial com o antígeno hapteno nativo (HN) no diagnóstico serológico da brucelose em animais infectados e vacinados. Estudo comparativo com outras provas serológicas. Rep. Trab. Lab. Nac. Investig. Vet., v.21, p.11-44, 1989.
  • SARAVI, M.A; WRIGHT, P.F.; GREGORET, R.J.; GALL, D.E.J. Comparative performance of the enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) and conventional assays in the diagnosis ofbovine brucellosis in Argentina. Vet. lmmunol. Immunopathol., v.47, p.93-99, 1995.
  • SHANDS, J.W. The physical structure of bacterial lipopolysaccharide. In: WEINBAUM, G.; KADIS, S.; AJL, S. Microbial toxins. New York: Acadernic Press, 1971. p.127-144.
  • SUTHERLAND, S.S. Immunology of bovine brucellosis. Vet. Bull., v.50, p.359-368, 1980.
  • WEYNANTS, V.; TIBOR, A.; DENOEL, P.A; SAEGERMAN, C.; GODFROID, J.; THIANGE, P.; LETESSON, J. Infection of cattle with Yersinia enterocolitica 0:9 a cause of the false positive serological reactions in bovine brucellosis diagnostic tests. Vet. Microbial., v.48, p.101-112, 1996.
  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. Expert Commite on Brucellosis. Genebra: FAO/WHO, 1986. 132p. (Techinical Report, 740).
  • ZYGMUNT, M.S. & DUBRAY, G. Preparation by ultrafiltration and contrai by high-performance liquid chromatography of the native hapten of Brucella abortus foruse in radial immunodiffusion diagnostic test. J. Clin. Microbial., v.25, n.10, p.1860-1863, 1987.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2025
  • Data do Fascículo
    Jul-Dec 1998

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 1998
location_on
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro