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PRODUÇÃO DE MATA NATIVA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

SUMÁRIO

A Produção de madeira de mata nativa no Estado do Espírito Santo tem como principal produto a lenha com a produção de carvão em segundo e a produção de toras em último. De uma maneira geral a produção de mata nativa vem caindo seja na forma de lenha, carvão ou toras. Conforme os dados existentes, a produção de lenha caiu mais de 90 % no período de 1973 a 1990. A produção de toras apresentou para o mesmo periodo uma redução de mais de 60 %. Fato semelhante aconteceu com o carvão vegetal que também teve sua produção reduzida de 105.000 toneladas no ano de 1973 para cerca de 20.000 toneladas no ano de 1990, uma redução de mais de 80 %. Analisando-se as curvas de evolução da produção de mata nativa é possível prever que em futuro próximo deixará de existir produção de mata nativa no estado, excetuando-se o consumo informal de lenha para uso residencial pelas comunidades de baixa renda.

Palavras chave:
Espírito Santo; Mata Nativa; Produção de madeira.

SUMMARY

The production from native stands in Espirito Santo has as prime product fuelwood having the charcoal production in second and the timber production in the last place. Generally speaking the wood production from native forests is going down regardless the product type. According from the existent data the fuelwood production had a loss of more than 90 % on a decade period. The timber production presented a 80 % reduction on the period from 1980 to 1990. Similar fact happened with the charcoal production that falls from a production of 105.000 metric tons in the year of 1973 to 20.000 metric tons in the year of 1990. From the information it is possible to say that in a near future there will be no more wood production from native forests besides that informal low income population's fuelwood consumption.

Key words:
Espirito Santo; Native Stands; Wood Production.

Produção de Mata Nativa no Estado do Espírito Santo

O setor florestal carece de informações contínuas que permitam o planejamento de atividades futuras com total aproveitamento dos recursos florestais. Do crescimento dos plantios, até a produção e exportação de madeira e derivados ressente-se o mercado da falta de estatísticas confiáveis resultante de coleta de dados em séries temporais. É comum a utilização de dados pouco consistentes, devido não só a falta de continuidade nas pesquisas, mas também pelas mudanças metodológicas de coleta de dados, que muitas vezes modificam parâmetros de análise, inviabilizando a pesquisa com danos materiais e sociais incalculáveis. Este trabalho pretende trazer alguns dados referentes á produção de mata nativa no Estado do Espírito Santo, e tem como objetivo informare apresentar dados que servirão como marco para novos acompanhamentos.

I. Produção de Mata Nativa

Figura I.1
Distribuição da produção de mata nativa do Estado do Espírito Santo no ano de 1990

As estatísticas referentes a produção florestal do Estado do Espírito Santo não fazem distinção quanto ao destino da produção - industrial ou não-industrial1 1 Dados de produção obtidos da pesquisa anual do IBGE, Extração Vegetal.. . Desta forma, os dados de produção apresentados neste item dizem respeito à produção declarada de mata nativa.

No Estado do Espírito Santo, no ano de 1990, o produto florestal que mais se destacou foi a lenha, ficando o carvão vegetal em segundo lugar, e a produção de toras em terceiro, com somente 18% de toda a produção. A figura I.1 apresenta a distribuição da produção para o ano de 1990.

I.1. Produção de madeira em toras

A produção de madeira em toras vem apresentando uma tendência decrescente nas duas ultimas décadas, como pode ser observado na tabela I.1. Na década de 70, ela passa de cerca de 335 mil m3 em 1973 para aproximadamente 108 mil m3 em 1980. Volta a crescer em 1981 para cerca de 300 mil m3, entrando novamente em declínio até o final da década de 80, com uma produção inferior a 20% do volume produzido em 1981.

A figura I.2 mostra o caráter sazonal da produção de madeira em toras no Estado do Espírito Santo, durante o período observado. Quando a produção mostrou-se decrescente nos períodos de 73-80 e 81-90. Contudo, não se deve esperar um novo crescimento durante a década de 90. Pois, o caráter cada vez mais restritivo da legislação e a própria baixa qualidade física dos estoques disponíveis não possibilitam o crescimento da produção. De modo contrário, esta deve ser cada vez mais reduzida, podendo mesmo perder a sua significância, em termos de abastecimento da demanda interna. Como já ficou caracterizado no reduzido volume produzido em 1990.

Figura I.2
Produção de madeira em toras de florestas nativas do Estado do Espírito Santo no período de 1973 a 1990.

Tabela 1.1
Produção de madeira em toras de florestas nativas do Estado do Espírito Santo no período de 1973 a 1990.

I.2. Produção efetiva de lenha como combustível / redutor energético

A produção de lenha proveniente de mata nativa sofre uma abrupta redução entre o ano de 1973 e 1974. Conferindo uma forma exponencial à curva decrescente de produção de lenha de florestas nativas, no período analisado, como é exposto na figura I.3.

Assim, a produção de lenha passa, durante o período analisado, de 2,66 milhões de m3 para apenas 150 mil m3. Representando uma redução de 94% na quantidade declarada de lenha extraída de mata nativa.

Figura I.3
Produção de lenha de mata nativa no Estado do Espírito Santo, no período de 1973 -1990.

Tabela I.2
Produção de lenha de matas nativas do Estado do Espírito Santo no período de 1973 a 1990.

I.3. Produção efetiva de carvão vegetal como combustível /redutor energético

Da mesma forma que a produção de madeira em toras, a produção de carvão vegetal também apresenta um comportamento sazonal durante o período analisado, como pode ser observado na figura I.4. Durante a década de 70, apesar das flutuações, a produção de carvão vegetal possui uma tendência decrescente. No ano de 1981 ocorre uma duplicação da produção, em relação ao ano anterior. A partir de então, ocorre uma redução bastante expressiva na produção de carvão vegetal, caindo de cerca de 200.000 m3 em 1981 para cerca de somente 10 % deste valor no ano de 1990, conforme apresentado na tabela I.3.

Figura I.4
Produção de carvão vegetal de mata nativa do Estado do Espírito Santo no período 1973 - 1990.

Tabela I.3
Produção de carvão vegetal de florestas nativas do Espírito Santo no período de 1973 a 1990.

I.4. Evolução da produção de madeira para uso industrial

Conforme fot exposto nos itens anteriores a produção de floresta nativa do Espírito Santo tem se mostrado decrescente para todos os produtos madeireiros. A figura I.5 sintetiza o volume de produtos florestais madeireiros extraídos de florestas nativas no Estado do Espírito Santo na década de 80.

Figura I.5
Evolução da produção de madeira de mata nativa no Estado do Espírito Santo no período de 1980 - 1990

II. Volumes de madeira efetivamente produzidos para uso não-industrial

O comércio de madeira para fins não-industrial é na sua grande maioria feito de maneira informal, sendo inclusive abastecido através da extração ilegal de florestas nativas protegidas por leí. Esta situação dificulta a obtenção de informações precisas a este respeito, ainda mais que as estatísticas sobre produção não específica a sua destinação.

De qualquer forma, através de dados relativos ao consumo de madeira para usos não industrial é possível estimar, de forma aproximada, o volume produzido para esta finalidade. Pois é pouco provável que ocorra importação de outras Estados de um volume significativo de material lenhoso para o uso não-industrial, em virtude do pequeno valor alcançado por estes produtos. Uma vez, que a utilização para fins energéticos, na forma de lenha, é a destinação mais importante do volume de madeira explorado para usos não-industriais.

O consumo residencial de lenha foi levantado pelo Balanço Energético do Estado do Espírito Santo. Além deste levantamento, o Censo Agropecuário coletou informações sobre o uso de lenha e carvão vegetal nos próprios estabelecimentos rurais.

II.1. Distribuição espacial, evolução e tendências

De acordo com o BANDES (1989)BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO (BANDES) e SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA (SEAG/ES). Programa de desenvolvimento Florestal do Espírito Santo. Vol. I, Vitória, 1989, o consumo residencial de lenha é basicamente abastecido, pela exploração das formações florestais nativas do Estado.

Assim, através da série histórica do consumo residencial de lenha teríamos o volume produzido para atender esta demanda. Esta série é apresentada na tabela II.1. Onde podemos observar um decréscimo no consumo entre 1980 e 1984, passando de 1,86 milhões para 1,78 milhões de m3. Equivalente a uma taxa média anual de - 0,87%.

A evolução da produção de produtos madeireiros energéticos utilizados nos próprios estabelecimentos rurais é apresentada na tabela II.2. Diferenças significativas podem ser observada entre os anos em que se realizou os Censos Agropecuários. Com o total de lenha consumida nos estabelecimentos rurais passam de 1,5 milhões de m3, em 1975, para apenas 168 mil m3, em 1985. A mesma situação é observada para o carvão vegetal.

Observando os dados do consumo de lenha da tabela II.1 e II.2, podemos verificar uma redução no consumo de produtos florestais energéticos para fins energéticos, ao longo dos periodos observados. O que pode representar a dificuldade de obtenção destes produtos, em virtude da redução dos estoques disponíveis. Além da própria substituição por outras fontes energéticas mais modernas, como os derivados de petróleo e a eletricidade.

Além da produção de material lenhoso para fins energéticos, outros usos não-industrial da madeira como morrões e postes existem em menor escala, mas não foram registrados nos levantamentos até então realizados.

Tabela II.1
Consumo residencial de lenha no Estado do Espírito Santo, entre 1980 e 1984a.

No entanto devem ser salientado o cuidado na analise quantitativa dos produtos utilizadas para fins não-industriais. Devem ser consideradas as dificuldades de se trabalhar com produtos que são comercializados informalmente, ou mesmo coletados diretamente dos remanescentes florestais, por pessoas que nem possuem terras, mas que utilizam a lenha como sua principal fonte energética, cujo o volume não é registrados pelas estatísticas oficiais. O que levaria a subestimar, tanto o volume desta produção, como a sua importância para as comunidades locais, em especial as de baixa renda.

Tabela II.2
Consumo de lenha e carvão vegetal em estabelecimentos rurais no Estado do Espírito Santo, entre 1970 e 1990
  • 1
    Dados de produção obtidos da pesquisa anual do IBGE, Extração Vegetal..

BIBLIOGRAFIA

  • BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO (BANDES) e SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA (SEAG/ES). Programa de desenvolvimento Florestal do Espírito Santo. Vol. I, Vitória, 1989
  • FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Anuário Estatístico do Brasil, 1992
  • FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Extração vegetal. Pesquisas anuais, 1970 a 1990.
  • INSTITUTO BRASILEIRO DE SIDERURGIA (IBS). Anuário Estatístico da Indústria Siderúrgica Brasileira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    1997
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