Acessibilidade / Reportar erro

DUPLA CARREIRA E MOBILIDADE SOCIAL NO FUTSAL BRASILEIRO: DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES

DUAL CAREER AND SOCIAL MOBILITY IN THE BRAZILIAN FUTSAL: DIFFERENCES BETWEEN MEN AND WOMEN

RESUMO

Este artigo teve como objetivo analisar se, e em que medida, o marcador de gênero conforma diferentes perspectivas, oportunidades e incentivos que homens e mulheres na carreira esportiva no futsal, bem como para a reconversão para outra carreira vocacional. Para isso, descrevemos o perfil de atletas homens e mulheres sob o ponto de vista da trajetória esportiva e da dupla carreira. Utilizamos um questionário com 95 homens e 87 mulheres, participantes dos campeonatos adultos de futsal paulista. Nossos resultados apontam que a dupla carreira é predominante tanto para homens quanto para mulheres. Para elas, a dupla carreira com os estudos vai da adolescência até a idade adulta, quando os clubes as concedem bolsa universitária e salário. Após o ensino superior, as chances de permanência no futsal diminuem para mulheres, o que pode indicar a reconversão para outra carreira vocacional e chance de mobilidade social, já que elas são a primeira geração da família a atingir esse nível de ensino. Para os homens, a dupla carreira se estabelece mais precocemente, na infância e se torna, na idade adulta, conciliação com o trabalho, pois, com exceção de uma pequena parcela, a maioria não é remunerada para jogar. Essas diferenças demonstram a desigualdade de desenvolvimento do futsal entre os gêneros.

Palavras-chave:
Gênero; Esporte; Carreira Esportiva; Profissionalização

ABSTRACT

This article analyzed whether, and to what extent, gender shapes different perspectives, opportunities and incentives to the athletic career in Brazilian futsal for men and women, as well to another vocational career. For this, we describe the profile of male and female athletes from their sporting trajectory and dual career. We used a questionnaire with 95 men and 87 women, participating in the adult futsal championships in São Paulo Our results show that dual careers are predominant for both men and women. For the latter, dual career with studies lasts from adolescence to adulthood, when clubs grant them a university scholarship and salary. After higher education, the chances of staying in futsal decrease for women, which may indicate the conversion to another vocational career and the chance of social mobility, since they are the first generation of their family to reach this level of education. For men, dual career is established earlier, in childhood and becomes, in adulthood, coping with work, since most are unpaid to play, with the exception of a small portion. These differences demonstrate the inequality of futsal development between genders.

Keywords:
Gender; Sport; Athletic Career; Professionalization

Introdução

A carreira esportiva de homens e mulheres no futsal de alto nível de rendimento paulista circunscreve a temática deste artigo. O campo de estudos sobre participação, desenvolvimento e carreira esportiva vive uma crescente desde a década de 1980 e a partir do estudo pioneiro de Bloom11 Bloom B. Developing talent in young people. Ballantine Books: Nova Iorque; 1985., alguns modelos já foram gestados a fim de explicar o processo envolvido no desenvolvimento de um atleta11 Bloom B. Developing talent in young people. Ballantine Books: Nova Iorque; 1985.),(22 Côté J. The influence of the family in the development of talent in sport. Sport Psychol 1999;4:395-417. Doi: https://doi.org/10.1123/tsp.13.4.395
https://doi.org/10.1123/tsp.13.4.395...
),(33 Ericsson KA, Lehmann AC. Expert and exceptional performance: evidence of maximal adaptation to task constraints. Annu Rev Psychol 1996; 47:273-305. Doi: https://doi.org/10.1146/annurev.psych.47.1.273
https://doi.org/10.1146/annurev.psych.47...
),(44 Stambulova N, Stephan Y, Jäphag U. Athletic retirement: a cross-national comparison of elite French and Swedish athletes. Psychol Sport Exerc 2007; 8:101-118. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2006.05.002
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.200...
. Estes modelos serviram para demonstrar que a formação de atletas de alto nível de rendimento se explica a partir da conformação de um ambiente propício para o investimento esportivo ao longo da vida, que, por sua vez, deve ser diferenciado de acordo com cada etapa de desenvolvimento da pessoa. Desta forma, por mais que estes modelos apresentem diferença entre si, todos eles apostam na ideia de que a expertise esportiva não é fruto absoluto de uma condição genética específica, mas fruto de um investimento construído ao longo da carreira esportiva55 Côté J, Barker J, Abernethy AB. From play to practice: a developmental framework for the acquisition of expertise in team sports. In: Starkes J, Ericsson KA, editors. Expert Performance in Sports: Advances in Research on Sport Expertise. Champaign: Human Kinetics; 2003, p.89-113..

Por carreira esportiva compreende-se o envolvimento com a atividade esportiva, por muitos anos, realizada de forma voluntária por uma pessoa para tornar-se atleta e atingir um pico de rendimento em uma ou mais modalidade 66 Stambulova N, Alfermann D, Statler TA, Côté J. ISSP Position stand: career development and transitions of athletes. J Sport Exerc Psychol 2009; 07:395-412. Doi: https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671916
https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.96...
. A carreira é permeada por fases e transições: iniciação; desenvolvimento e especialização; aperfeiçoamento e anos de investimento; anos de manutenção do desempenho e pico; e, por fim, anos de destreinamento e descontinuidade do envolvimento competitivo66 Stambulova N, Alfermann D, Statler TA, Côté J. ISSP Position stand: career development and transitions of athletes. J Sport Exerc Psychol 2009; 07:395-412. Doi: https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671916
https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.96...
.

A passagem de uma fase para outra pode ser conflituosa e marcada por um afunilamento das possibilidades, o que por si, demandam da pessoa a capacidade de lidar com a não possibilidade de concretização da carreira. Estas transições ainda podem ser mais difíceis, na medida em que elas acontecem em momentos de mudanças em outros níveis da vida, como o caso da transição dos anos de investimento para a manutenção do desempenho (do júnior para o adulto), que costuma coincidir com o momento de decisão sobre o ingresso na faculdade ou no mundo profissional77 Papaioannou AG, Hackfort D. Routledge Companion to Sport and Exercise Psychology: Global Perspectives and Fundamental Concepts. London: Routledge; 2014.. Além dessa, ainda existem as possibilidades de transições não esperadas, como é o caso de uma lesão ou a mudança de modalidade esportiva.

Por compreender que a carreira esportiva é permeada por tensões que demandam do atleta conciliar diversos níveis de vida, por conseguinte, é necessário observar seu desenvolvimento não só em nível atlético. Os modelos de carreira esportiva, por essa via, têm privilegiado um olhar holístico, compreendendo que a pessoa, nas diversas relações que ela constrói e a constitui ao longo da vida, devem ser levados em consideração. Trata-se do nível esportivo, acadêmico/profissional, psicológico, social e financeiro. Nos últimos anos, indo para além destes cinco níveis, as pesquisas têm indicado que a variação destes fatores, no processo de formação esportiva, também se dá sob influência cultural, de modo que a comparação entre a carreira em diferentes países tem enfatizado a importância de se considerar os aspectos sociológicos e econômicos66 Stambulova N, Alfermann D, Statler TA, Côté J. ISSP Position stand: career development and transitions of athletes. J Sport Exerc Psychol 2009; 07:395-412. Doi: https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671916
https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.96...
),(77 Papaioannou AG, Hackfort D. Routledge Companion to Sport and Exercise Psychology: Global Perspectives and Fundamental Concepts. London: Routledge; 2014.),(88 Stambulova N, Ryba T. Setting the bar: Towards cultural praxis of athletes’ careers. In: Stambulova N, Ryba T, editors. Athletes’careers across cultures. London: Routledge; 2013..

Essas variações entre países têm sido abordadas, em particular, no que tange à conformação da dupla carreira esportiva, isto é, quando há a combinação entre o desenvolvimento esportivo e o acadêmico ou profissional99 Aquilina D. A study of the relationship between elite athletes’ educational development and sporting performance. Int J Hist Sport 2013;30;374-92. Doi: https://doi.org10.1080/09523367.2013.765723
https://doi.org/10.1080/09523367.2013.76...
. Estes estudos têm demonstrado a importância da combinação dessas duas esferas da vida para um balanceamento e uma empregabilidade após o término da carreira esportiva1010 Ryba TV, Stambulova NB, Ronkainen NJ, Bundgaard J, Selänne H. Dual career pathways of transnational athletes. Psychol Sport Exerc 2015; 21: 125-134. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2014.06.002
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.201...
, enfatizando ainda como diferentes contextos nacionais podem interferir na conformação dessa dupla carreira.

Ainda que os estudos sobre dupla carreira tenham sido realizados em diferentes modalidades esportivas, em diferentes países e com homens e mulheres, são escassas as tentativas de demonstrar de forma mais sociológica o processo de combinação dessas duas carreiras1111 Azevedo MF, Santos W, Costa FR, Soares AJG. Formação escolar e formação esportiva: caminhos apresentados pela produção acadêmica. Movimento2017; 23:185-200. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.61300
https://doi.org/10.22456/1982-8918.61300...
),(1212 Cosh S, Tully PJ. “All I have to do is pass”: A discursive analysis of student athletes’ talk about prioritising sport to the detriment of education to overcome stressors encountered in combining elite sport and tertiary education. Psychol Sport Exerc2014; 15:180-189. Doi: https://doi.org//10.1016/j.psychsport.2013.10.015
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.201...
. Isto é, são raras as tentativas de discutir as conformações sociais e relacionais que interferem nesse processo, por exemplo, do ponto de vista do mercado de trabalho, das relações de gênero e das questões de classe social. Ainda são sobretudo escassos, os artigos que trabalham com atletas profissionais1313 Stambulova NB, Wylleman P. Psychology of athletes’ dual careers: a state-of-the-art critical review of the European discourse. Psychol Sport Exerc2019; 42:74-88. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2018.11.013
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.201...
. A comparação entre gêneros tem sido abarcada, sobretudo, nos estudos sobre dupla carreira, para a qual a competência feminina é mais elevada, e no risco de abandono esportivo anterior à aposentadoria1313 Stambulova NB, Wylleman P. Psychology of athletes’ dual careers: a state-of-the-art critical review of the European discourse. Psychol Sport Exerc2019; 42:74-88. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2018.11.013
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.201...
. Estes estudos, todavia, não se concentraram em retratá-los no interior da carreira de alto nível de rendimento1313 Stambulova NB, Wylleman P. Psychology of athletes’ dual careers: a state-of-the-art critical review of the European discourse. Psychol Sport Exerc2019; 42:74-88. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2018.11.013
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.201...
.

Quando se trata do futsal, algumas pesquisas já evidenciaram a trajetória de mulheres e homens atletas no futsal1414 Martins MZ, Reis HHB, Castellani RM, Santana WC, Altmann H. Entre o amadorismo, a profissionalização e a carreira dupla: o futsal feminino de elite sul-americano. Rev Bras Ciênc Mov2018; 26:143-155. Doi: http://dx.doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
https://doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667...
),(1515 Souza ACF de, Martins MZ. O paradoxo da profissionalização do futsal feminino no Brasil: entre o esporte e outra carreira. Pensar Prát 2018;21(1):26-39. Doi: https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075
https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075...
),(1616 Klein LB. Profissionalização e escolarização de jovens atletas de futsal em Santa Catarina. [Dissertação de mestrado em educação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2014[acesso em 02 Mar 2020]. Disponível em:Disponível em:https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129350
https://repositorio.ufsc.br/handle/12345...
),(1717 Mascarin RB, Vicentini L, Marques RFR, Mascarin RB, Vicentini L, Marques RFR. Brazilian women elite futsal players’ career development: diversified experiences and late sport specialization. Motriz2019;25:e101968. Doi: https://doi.org/10.1590/s1980-6574201900010014
https://doi.org/10.1590/s1980-6574201900...
),(1818 Altmann H, Reis HH. Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamentos e de conquistas. Movimento2013; 19:211-32. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077
https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077...
),(1919 Santana WC, Reis HHB. Futsal feminino: perfil e implicações padagógicas. Rev Bras Ciênc Mov 2003; 11: 45-50. Doi: http://dx.doi.org/10.18511/rbcm.v11i4.525
https://doi.org/10.18511/rbcm.v11i4.525...
. No entanto, tais trabalhos não têm uma amostra mista e, por conseguinte, não refletem sobre as diferenças entre os gêneros. Estudos desse tipo seriam importantes para indicar possíveis caminhos de políticas esportivas de equidade no desenvolvimento esportivo das modalidades entre os gêneros.

Deste modo, este artigo debruça-se sobre a carreira esportiva de homens e mulheres atletas adultos de alto nível de rendimento de futsal. O objetivo foi comparar entre os gêneros o perfil dessa categoria sob o ponto de vista da trajetória esportiva e da dupla carreira. A partir desse panorama, analisamos se, e em que medida, o marcador de gênero conforma diferentes perspectivas para a carreira esportiva no futsal, que se consolidam nas oportunidades e incentivos que homens e mulheres terão de permanência como atletas e na reconversão para outra carreira vocacional.

Métodos

A pesquisa se desenvolveu no âmbito do futsal adulto da Federação Paulista de Futsal. Tendo em vista que o futsal adulto é a última fase do atleta salonista de alto nível de rendimento, o olhar a esse momento da carreira permite uma compreensão de todas as etapas e transições. Para compreender esse contexto, buscou-se descrever o perfil de atletas do futsal paulista do campeonato adulto masculino e feminino.

Esta pesquisa observou, a partir de um corte transversal e de forma quantitativa, o perfil de 95 jogadores do Campeonato Masculino de Futsal Paulista e de 87 jogadoras do Campeonato Feminino de Futsal Paulista, participantes da edição de 2016 e 2015, respectivamente. Tal amostra representa a totalidade da população dos/as atletas de futsal que disputaram o Campeonato Paulista em 2016 (no caso masculino) e 2015 (no caso feminino), da série A1, na categoria principal que se dispuseram a participar da pesquisa, conforme tabela 1. Cabe ressaltar que em São Paulo existe também a “Liga Paulista”, na qual participam os maiores clubes de futsal masculino do estado. Porém, trata-se de uma liga que, em âmbito estadual, só existe neste estado, cujos critérios para competir não são exclusivamente esportivos, mas também financeiros. Por isso a escolha da categoria adulta masculina da primeira divisão (A1) da FPFS, uma vez que essa está circunscrita à federação, sendo possível a comparação ao campeonato feminino.

O fato de todos/as os/as atletas dispostos/as a participarem da pesquisa terem respondido a este questionário nos isentou da necessidade de uma amostra, conferindo uma vantagem estatística no que diz respeito à inferência dos resultados2020 Morettin PA, Bussab WO. Estatística básica. 5th ed. São Paulo: Saraiva; 2004.. O instrumento respondido por estes/as atletas foi um questionário misto, composto de questões abertas e fechadas, e auto administrado. Este possibilitou reunir informações de um volume grande de interlocutores e sistematizá-las2121 Babbie E. Métodos de pesquisa de Survey. Belo Horizonte: Editora da UFMG; 1999.. O instrumento continha alguns eixos. O primeiro deles se referiu ao perfil socioeconômico e de formação esportiva2222 Marques MP, Samulski DM. Análise da carreira esportiva de jovens atletas de futebol na transição da fase amadora para a fase profissional: escolaridade, iniciação, contexto sócio-familiar e planejamento da carreira. Rev Bras Educ Fís Esporte 2009; 23:103-119. Doi: https://doi.org/10.1590/S1807-55092009000200002
https://doi.org/10.1590/S1807-5509200900...
e utilizou as seguintes informações: idade, sexo, faixa de remuneração salarial e escolaridade do atleta e de seus pais, bem como a ocupação dos mesmos, retratando os fatores sociais e financeiros que envolviam as condições de formação e desenvolvimento destes atletas.

No segundo eixo, tratamos das informações sobre a iniciação e especialização esportiva, de modo a compreender relações entre as características do alto rendimento com o ambiente pedagógico da iniciação e especialização esportiva. Essas informações permitiram observar a existência de diferenças nos padrões de formação esportiva entre os gêneros e se estes padrões estavam relacionados a uma desigualdade de oportunidades.

Por fim, o último eixo se referia às condições atuais de treinamento e de remuneração, a fim de investigar e confrontar o contexto da profissionalização de homens e mulheres, bem como a percepção que ambos têm a esse respeito. Esse eixo também nos ajudou a compreender o desenvolvimento da dupla carreira nos mesmos, seja relacionada ao estudo ou ao trabalho.

Tabela 1
Equipes Femininas e Masculinas que participaram do Paulista 2015 e 2016 e quantidades de atletas que responderam ao questionário

A análise de dados foi realizada por meio da estatística descritiva, a partir do cálculo de medidas resumo de cada um dos índices analisados. Estas medidas nos auxiliam por gerar “um ou alguns valores que sejam representativos da série toda”. Além disso, as medidas resumos permitiram comparar os nossos dados com outras referências e modelos sobre participação e desenvolvimento esportivo, carreira e gênero.

Resultados

Do ponto de vista do perfil socioeconômico e das condições nas quais se desenvolve a dupla carreira entre atletas profissionais do futsal, o grupo pesquisado apresentou faixa etária compreendida entre 16 e 38 anos, no caso dos homens e 16 e 35, de mulheres. A média de idade foi de 24,9± 4,43 e 22,83±3,22 e mediana de 24 e 22, para homens e mulheres respectivamente. A distribuição etária pode ser visualizada no Gráfico 1.

Gráfico 1
Distribuição de frequência da idade dos atletas por gênero

Ainda do ponto de vista do perfil desses/as atletas, aproximadamente 45% dos homens e 84% das mulheres já completaram ou estão cursando o ensino superior, assim como demonstramos no Gráfico 2. A Educação Física é a graduação mais presente, uma vez que 13,68% dos homens e 60% das mulheres se graduaram para essa profissão.

Gráfico 2
Distribuição de frequência da escolaridade dos Atletas por gênero

Cabe destacar que apenas 4 mulheres não completaram ainda o ensino médio, mas estão na idade de cursar; enquanto 10 homens não completaram ainda esse nível de escolaridade, embora apenas 2 estejam na faixa etária adequada para tal. Do ponto de vista da dupla carreira, há 57 (66%) mulheres que ainda estão cursando faculdade, o que é esperado uma vez que todas elas estão na faixa etária de tal (18 a 24 anos). Esse percentual é bem superior ao dos homens, que somam 25% que estudam. Essa situação se inverte, quando a se remete à conciliação com o trabalho, uma vez que 74% dos jogadores homens que já possuem outra ocupação além de atleta, enquanto apenas 38% das atletas mulheres passam por essa condição.

A questão da escolarização dos/as atletas ainda pode ser observada à luz do quadro familiar do qual eles/as são originários/as. Os pais desses/as atletas, em geral, não tiveram acesso à graduação de nível superior. As/os atletas representam, em sua maioria, a primeira geração do núcleo familiar direto a cursar o nível superior. Apenas 12,5% das mulheres e 7,5% dos homens destoam desse panorama. Ou seja, aproximadamente 90% dos/as atletas não têm pais ou mães com ensino superior. Em geral, as profissões ocupadas pelos pais são trabalhos manuais como: pedreiro, ajudante geral, motorista, segurança, vigilante, ajudante geral e etc. Entre as mães, grande parte são donas de casa, vendedoras, ajudante geral, domésticas, costureiras e etc. Esse quadro pode caracterizar o baixo poder aquisitivo familiar, justificado pela baixa escolaridade e pelas profissões exercidas.

Do ponto de vista da contrapartida oferecida pelo clube ao tempo de dedicação aos treinamentos, os atletas relatam benefícios como moradia, convênio médico, alimentação e salário. No caso masculino, 33,6% dos atletas declararam receber alguma remuneração por parte do clube em que joga, 18,8% não declararam se recebem ou não alguma remuneração e, 47,6% não recebem para jogar futsal. Destes atletas, 76% deles não vivem exclusivamente do que recebe com o futsal. Já no caso do futsal feminino, 88,5% delas recebem algum tipo de remuneração na equipe em que jogam, 11,5% não revelaram se recebem ou não alguma remuneração. Das mulheres, apenas 38% depende de outra renda além do futsal. No Gráfico 3, apresentamos as remunerações declaradas em salários mínimos, que em 2016 correspondia a R$ 881,00.

Gráfico 3
Distribuição da remuneração mensal obtida com o futsal por gênero

Do ponto de vista do perfil esportivo, estes/as atletas tiveram seu primeiro contato com a modalidade na rua, na escola ou no clube, majoritariamente, conforme Gráfico 4. Escola e clube vão ganhando importância para esses/as atletas conforme o avançar da carreira esportiva, na medida em que eles começam a treinar formalmente a modalidade e que constituem seu vínculo federativo, cuja distribuição da faixa etária desses dois momentos da carreira está demonstrada na Figura 1.

Gráfico 4
Distribuição de frequência do local de primeiro contato com o futsal/futebol por gênero

Figura 1
Distribuição de frequência da idade de início de treinamento de futsal e de constituição do vínculo federativo dos atletas por gênero

No âmbito profissional, 53% dos homens se consideram atletas profissionais, enquanto 46% não se consideram. Já no contexto feminino, 85% declararam ser profissionais, 14% não se consideram profissionais, sendo que de ambos, 1% não respondeu à questão. De forma geral, a maioria dos jogadores e jogadoras se julgam profissionais, em função das exigências de treinamento (30% dos homens e 40,2% das mulheres) como cumprir horários, treinar várias vezes durante a semana, pelo volume de treinamento e pela amplitude dos campeonatos ou por serem federados. Dos atletas homens que não se intitularam profissionais, apenas 2% entendem que a estrutura do futsal no Brasil ainda não é profissional, 7% relacionaram ao fato de não serem remunerados, 4% deles consideram a modalidade como uma vivência apenas de lazer e diversão, 2% afirmaram ter outro emprego ou possuir outro projeto de carreira. No contexto das mulheres, aquelas que não se consideravam profissionais, (5%) versaram sobre a falta de valorização do futsal feminino (12% dos homens e 10% das mulheres não responderam essa questão).

Discussão

Embora a discussão sobre dupla carreira no Brasil tenha avançado bastante nos últimos anos1414 Martins MZ, Reis HHB, Castellani RM, Santana WC, Altmann H. Entre o amadorismo, a profissionalização e a carreira dupla: o futsal feminino de elite sul-americano. Rev Bras Ciênc Mov2018; 26:143-155. Doi: http://dx.doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
https://doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667...
),(1515 Souza ACF de, Martins MZ. O paradoxo da profissionalização do futsal feminino no Brasil: entre o esporte e outra carreira. Pensar Prát 2018;21(1):26-39. Doi: https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075
https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075...
),(1616 Klein LB. Profissionalização e escolarização de jovens atletas de futsal em Santa Catarina. [Dissertação de mestrado em educação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2014[acesso em 02 Mar 2020]. Disponível em:Disponível em:https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129350
https://repositorio.ufsc.br/handle/12345...
),(1717 Mascarin RB, Vicentini L, Marques RFR, Mascarin RB, Vicentini L, Marques RFR. Brazilian women elite futsal players’ career development: diversified experiences and late sport specialization. Motriz2019;25:e101968. Doi: https://doi.org/10.1590/s1980-6574201900010014
https://doi.org/10.1590/s1980-6574201900...
),(1818 Altmann H, Reis HH. Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamentos e de conquistas. Movimento2013; 19:211-32. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077
https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077...
), em geral, esses trabalhos apontaram para perspectivas de conciliação com o estudo e dificuldades na profissionalização. Todavia, algumas questões permanecem pouco exploradas, do ponto de vista comparativo e das distintas formas que a carreira pode ser assumida para mulheres e homens.

A carreira esportiva no futsal, para ambos os gêneros, tem início com jogos na rua, na escola ou no clube1414 Martins MZ, Reis HHB, Castellani RM, Santana WC, Altmann H. Entre o amadorismo, a profissionalização e a carreira dupla: o futsal feminino de elite sul-americano. Rev Bras Ciênc Mov2018; 26:143-155. Doi: http://dx.doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
https://doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667...
),(1515 Souza ACF de, Martins MZ. O paradoxo da profissionalização do futsal feminino no Brasil: entre o esporte e outra carreira. Pensar Prát 2018;21(1):26-39. Doi: https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075
https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075...
),(1818 Altmann H, Reis HH. Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamentos e de conquistas. Movimento2013; 19:211-32. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077
https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077...
),(1919 Santana WC, Reis HHB. Futsal feminino: perfil e implicações padagógicas. Rev Bras Ciênc Mov 2003; 11: 45-50. Doi: http://dx.doi.org/10.18511/rbcm.v11i4.525
https://doi.org/10.18511/rbcm.v11i4.525...
. A valorização do papel da educação física escolar como iniciação ao futsal é marcante para mulheres e homens, contrariando algumas pesquisas anteriores que a caracterizavam apenas paras as primeiras1616 Klein LB. Profissionalização e escolarização de jovens atletas de futsal em Santa Catarina. [Dissertação de mestrado em educação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2014[acesso em 02 Mar 2020]. Disponível em:Disponível em:https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129350
https://repositorio.ufsc.br/handle/12345...
),(1818 Altmann H, Reis HH. Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamentos e de conquistas. Movimento2013; 19:211-32. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077
https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077...
. O que contrasta, nesse quesito, refere-se à presença dos clubes, algo que é praticamente inexistente no caso feminino, conforme outros diagnósticos já apontavam1414 Martins MZ, Reis HHB, Castellani RM, Santana WC, Altmann H. Entre o amadorismo, a profissionalização e a carreira dupla: o futsal feminino de elite sul-americano. Rev Bras Ciênc Mov2018; 26:143-155. Doi: http://dx.doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
https://doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667...
),(1515 Souza ACF de, Martins MZ. O paradoxo da profissionalização do futsal feminino no Brasil: entre o esporte e outra carreira. Pensar Prát 2018;21(1):26-39. Doi: https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075
https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075...
.

O maior peso da “rua” como local de iniciação está relacionado à ausência de clubes/escolas de futsal feminino e resulta na menor disponibilidade de competições de categorias de base. Consequentemente, a faixa etária de constituição do vínculo federativo é contrastante, visto que homens costumam iniciar a dedicação ao treinamento e a constituição do vínculo federativo desde a infância. Por outro lado, as mulheres começam a treinar mais próximas a adolescência, idade na qual costumam ser federadas. Portanto, as condições iniciais de constituição da carreira esportiva são bastante distintas, tendo em vista que as meninas não têm espaços onde possam treinar e competir desde cedo. Do ponto de vista cultural, isso pode contribuir para que as meninas não vislumbrem a possibilidade de carreira esportiva enquanto um projeto de vida. Paralelamente, essa pode ser uma razão para que o esporte concorra menos com os objetivos vinculados à carreira educacional, já que a dupla carreira delas começará apenas na adolescência2323 Aunola K, Sorkkila M, Viljaranta J, Tolvanen A, Ryba TV. The role of parental affection and psychological control in adolescent athletes’ symptoms of school and sport burnout during the transition to upper secondary school. J Adolesc 2018; 69:140-49. Doi: https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2018.10.001
https://doi.org/10.1016/j.adolescence.20...
.

O caso masculino parece constituir uma especialização precoce. Esta refere-se a um processo no qual a criança é inserida em contextos de treinamento sistemático numa modalidade única e específica focando performance, antes mesmo de construir uma bagagem a partir de anos de experimentações com jogos deliberados e diversificados22 Côté J. The influence of the family in the development of talent in sport. Sport Psychol 1999;4:395-417. Doi: https://doi.org/10.1123/tsp.13.4.395
https://doi.org/10.1123/tsp.13.4.395...
. Esses anos seriam importantes não só para a formação esportiva mais generalista e para a escolha da modalidade esportiva com a qual vão se especializar, como também para que ele não seja colocado em contextos de exigência de uma maturidade cognitiva e afetiva para qual ele não está preparado, o que poderia contribuir para o abandono precoce da modalidade, dropout2424 Côté J, Lidor R, Hackfort D. ISSP position stand: To sample or to specialize? Seven postulates about youth sport activities that lead to continued participation and elite performance. J Sport Exerc Psychol 2011;1:07-17. Doi: https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671889
https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.96...
. A especialização precoce pode estar relacionada à existência de campeonatos de menores vinculados a federações2525 Arena SS, Böhme MTS. Federações esportivas e organização de competições para jovens. Rev Bras Ci E Mov 2004; 12:45-50. Doi: http://dx.doi.org//10.18511/rbcm.v12i4.585
https://doi.org/10.18511/rbcm.v12i4.585...
. Se por um lado a existência desses campeonatos contribui tem essa consequência, por outro lado, eles contribuem para o desenvolvimento de uma experiência esportiva, algo que parece ser mais escasso no caso feminino.

Embora a tendência aponte para um quadro de não especialização precoce das mulheres, não temos dados suficientes para avaliar elas tiveram uma infância de diversificação de jogos e de práticas, o que seria o recomendado para a formação esportiva2626 Côté J, Baker J, Abernethy B. Practice and play in the development of sport expertise. 3a ed.Hoboken: John Wiley & Sons; 2007 [acesso em 02 Mar 2020] Disponível em :Disponível em :https://espace.library.uq.edu.au/view/UQ:135217
https://espace.library.uq.edu.au/view/UQ...
. Devido às interdições que as mulheres são submetidas em relação aos esportes, é possível que elas não tenham tido essa gama de oportunidades durante à infância, seja pela influência de uma série de discursos culturais que afirmam que a corpo feminino não é adequado a essas práticas, ou mesmo pela inexistência de espaços formais que as incentive, como os clubes2727 Goellner SV. A educação dos corpos, dos gêneros e das sexualidades e o reconhecimento da diversidade. Cad Form RBCE 2010 [acesso em 11 Jul 2016];1(2):71-83. Disponível em; 1.Disponível em; 1.http://revista.cbce.org.br/index.php/cadernos/article/view/984
http://revista.cbce.org.br/index.php/cad...
. Nesse sentido, a primeira marca das relações de gênero se faz presente na formação dessas atletas, já que para as mulheres atletas, pareceram menos escassas as possibilidades de engajamento no esporte e com a prática competitiva até a adolescência.

Quando nos referimos à carreira na idade adulta, as diferenças entre homens e mulheres também existem. Via-de-regra, a carreira das mulheres é mais homogênea que a dos homens. A maioria delas concentra-se na mesma faixa etária, entre 19 e 23 anos e está cursando nível superior. Com relação aos homens, a idade é mais distribuída. A diferença da média de idade é de quase dois anos entre homens e mulheres, o que pode indicar que a categoria masculina permite uma permanência maior para homens e um pico de performance mais tardio. Esse pico tardio pode possibilitar maior desenvolvimento das habilidades técnico-táticas ao longo do tempo de dedicação à carreira esportiva adulta2828 Barreira J. Age of peak performance of elite women’s soccer players. Int J Sports Sci 2016;06: 121-124. Doi: http://dx.doi.org//10.5923/j.sports.20160603.09
https://doi.org/10.5923/j.sports.2016060...
.

No que se refere à carreira dupla, há homens que cursam ensino superior, outros que possuem outra ocupação profissional além do futsal, como também, aqueles que se dedicam exclusivamente aos treinamentos. Ainda assim, é possível afirmar que é predominante a existência da carreira dupla, tanto para homens quanto para mulheres. Embora a dupla carreira seja predominante para homens e mulheres, cerca de 34% dos homens declararam viver exclusivamente da dedicação ao futsal, o que para as mulheres é inexistente. Ainda que um percentual maior de mulheres declare receber remuneração em relação aos homens, todas possuem outra ocupação, seja como estudante ou trabalhadora. Esses dados reafirmam que a carreira é mais homogênea para mulheres do que para homens, indicando uma predominância maior da dupla carreira de estudante para elas.

Por um lado, isso aponta para a não existência de um vínculo formal exclusivo com o futsal, ou seja, uma carência no processo de profissionalização dessas atletas. Esse fator foi interpretado por elas como uma não valorização do esporte feminino em relação ao masculino, diagnóstico presente em todo o contexto sul-americano de futsal feminino1414 Martins MZ, Reis HHB, Castellani RM, Santana WC, Altmann H. Entre o amadorismo, a profissionalização e a carreira dupla: o futsal feminino de elite sul-americano. Rev Bras Ciênc Mov2018; 26:143-155. Doi: http://dx.doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
https://doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667...
. Por outro lado, isso não anula o reconhecimento da carreira esportiva enquanto atleta de alto nível, fator correlacionado ao recebimento de remuneração.

O que parece se diferenciar, nesse contexto, é que, mesmo sem o reconhecimento como “profissional” e sem remuneração, os homens persistem na carreira no futsal, algo que não acontece entre as mulheres. A existência de um número reduzido de atletas mais velhas, nos faz crer que são as próprias mulheres que tomam outros rumos de vida após a formação universitária, como acontece no futebol feminino2939 Souza Júnior OM. Futebol como projeto profissional de mulheres: interpretações da busca pela legitimidade. [Tese de doutorado em educação física] Campinas: Unicamp; 2013[acesso em 11 Jul 2016] Disponível emDisponível emhttp://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000902247&opt=4
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/...
. Para os homens, o futsal permanece sendo um sonho de carreira ou uma perspectiva de lazer sério3030 Stebbins RA. Serious leisure: a perspective for our time. New Jersey: Transaction Publication; 2007., ou seja, uma prática para qual eles perseveram ao longo do tempo a fim de adquirir conhecimento, experiência e desempenho, mesmo não sendo sua atividade remunerada/trabalho. Esse cenário do lazer sério não parece persistir para mulheres, o que poderia ser fruto de uma falta de tempo disponível para dedicação às atividades de lazer, em função da pressão exercida por outros contextos e agentes não relacionados ao futsal, ou mesmo de uma falta de confiança nas habilidades para continuar persistindo numa carreira3131 Gledhill A, Harwood C. A holistic perspective on career development in UK female soccer players: A negative case analysis. Psychol Sport Exerc 2015; 21:65-77. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2015.04.003
https://doi.org/10.1016/j.psychsport.201...
. Tais perspectivas são diretamente atravessadas pelo marcador de gênero, uma vez que os motivos mais comuns que levam ao dropout esportivo para garotas estão relacionados à falta de confiança nas habilidades esportivas e a falta de vislumbrar oportunidades ou possibilidades de uma carreira profissional3232 Cooky C. “Girls just aren’t interested”: the social construction of interest in girls’ sport. Sociol Perspect 2009; 52: 259-283. Doi: https://doi.org/10.1525%2Fsop.2009.52.2.259
https://doi.org/10.1525%2Fsop.2009.52.2....
),(3333 Craike MJ, Symons C, Zimmermann JAM. Why do young women drop out of sport and physical activity? A social ecological approach. Ann Leis Res 2009; 12:148-172. Doi: https://doi.org/10.1080/11745398.2009.9686816
https://doi.org/10.1080/11745398.2009.96...
),(3434 Clark C, Burnett C. Upward social mobility through women’s soccer. Afr J Phys Health Educ Recreat Dance 2011; 16. Doi: http://dx.doi.org/10.4314/ajpherd.v16i4.64266
https://doi.org/10.4314/ajpherd.v16i4.64...
.

O dropout das mulheres também pode estar relacionado à constituição de outra possibilidade profissional, via conclusão do ensino superior, algo que não é presente para os homens. Notamos que, para ambos os gêneros, a formação profissional de nível superior não era uma realidade presente no seu seio familiar mais direto. Para as mulheres, entretanto, essa possibilidade se expandiu via esporte. Isso corrobora com alguns prognósticos de organismos internacionais, como a UNESCO, que sugere que o acesso ao esporte pode possibilitar a permanência educacional continuada e alguma perspectiva de mobilidade social para meninas3434 Clark C, Burnett C. Upward social mobility through women’s soccer. Afr J Phys Health Educ Recreat Dance 2011; 16. Doi: http://dx.doi.org/10.4314/ajpherd.v16i4.64266
https://doi.org/10.4314/ajpherd.v16i4.64...
),(3535 Kirk D. Advocacy brief: empowering girls and women through physical education and sport. UNESCO: Bangkok; 2012 [acesso em 17 Mar 2020] Disponível em :Disponível em :http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.370.6407&rep=rep1&type=pdf
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/dow...
. Cabe destacar que esse discurso pode ter implicada uma visão instrumental do esporte, que minimiza seu fim de participação esportiva democrática e/ou de lazer.

Essa noção de participação esportiva vinculada à mobilidade social é distinta para os homens. Para eles, quando há o discurso da mobilidade social, ela não está relacionada a uma carreira profissional universitária, cujo acesso foi garantido pelo esporte. Pelo contrário, sua crença está relacionada à própria carreira esportiva em si, o que pode trazer uma “confluência perversa”. Se por um lado, significa que esses atletas persistem no esporte, por outro, os faz não investir em outras possibilidades por essa crença. A perversidade se encontra então no fato de que as chances de mobilidade via esporte são baixas, e comumente estão relacionadas a outras condições que devem ser cultivadas fora da esfera da carreira esportiva3636 Agergaard S, Sorensen J. The dream of social mobility: Ethnic minority players in Danish football clubs. Soccer Soc 2009; 10:766-780. Doi: https://doi.org/10.1080/14660970903239966
https://doi.org/10.1080/1466097090323996...
.

Portanto, quando colocamos em contraste a carreira de homens e mulheres, percebe-se que no caso das últimas, mais do que o desenvolvimento do esporte feminino, o que tem acontecido é o desenvolvimento humano das mulheres por meio do esporte3737 Schulenkorf N, Sherry E, Rowe K. Sport for develompent: An integrated literature review. J Sport Manag 2016; 30:22-39. Doi: http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2014-0263
https://doi.org/10.1123/jsm.2014-0263...
. Considerando desenvolvimento esportivo a confluência de melhores índices de participação e de resultado3838 Shilbury D, Sotiriadou KP, Green BC. Sport development. systems, policies and pathways: An introduction to the special issue. Sport Manag Rev 2008; 11:217-223. Doi: https://doi.org/10.1016/S1441-3523(08)70110-4
https://doi.org/10.1016/S1441-3523(08)70...
, argumentamos que isso não tem sido promovido plenamente no caso do futsal feminino, porque essas mulheres não têm muita chance de persistir na carreira, abandonando-a antes da idade de pico de performance2828 Barreira J. Age of peak performance of elite women’s soccer players. Int J Sports Sci 2016;06: 121-124. Doi: http://dx.doi.org//10.5923/j.sports.20160603.09
https://doi.org/10.5923/j.sports.2016060...
.

A dupla carreira é uma realidade para homens e mulheres. No entanto, as formas, meios e fins da conciliação entre o esporte e a outra carreira são distintas. Do ponto de vista da consolidação da carreira esportiva, notamos que as condições culturais e institucionais de iniciação e de permanência são bastante distintas entre homens e mulheres, o que de fato pode contribuir para o não desenvolvimento do futsal feminino. No entanto, a carreira esportiva pode ter importantes impactos no desenvolvimento humano dessas mulheres, que alcançam alguma possibilidade de mobilidade social, como a formação universitária.

Conclusões

Este artigo apresentou um panorama da carreira esportiva de homens e mulheres no futsal do estado de São Paulo, enfocando nos aspectos sociais e culturais. Dentre as tendências, a dupla carreira é predominante, começando na infância, para os homens, com o engajamento com a prática sistemática. Nesse momento de início dos treinamentos sistemáticos, aparecem os primeiros pontos de corte que separam a carreira esportiva de homens e mulheres, como a falta de clubes e de espaços onde as meninas possam desenvolver a prática sistemática, o que se correlaciona à idade avançada na qual elas constituem o vínculo federativo. Às mulheres, faltam oportunidades de engajamento mais precoces, o que as leva a começar a treinar e constituir vínculo federativo mais tardiamente que os homens. Isso implica que a concorrência entre treinamento e formação escolar é mais tardia no caso das mulheres, a dupla carreira, contribuindo para uma adesão a um projeto de vida vinculado a uma formação escolar. Ademais, a dupla carreira para elas está relacionada ao estudo universitário, enquanto, para os homens, a uma outra ocupação profissional.

Além desse fator, o início tardio da prática sistemática das meninas poderia ser positivo, se promovesse, em vez da iniciação precoce, uma prática diversificada na infância, algo que sugerimos que seja aprofundado em pesquisas futuras. Considerando ainda que a média de idade dessas mulheres é menor que a dos homens, e que elas são federadas com uma idade mais avançada, podemos falar de um cenário no qual as mulheres possuem um menor espaço dentro da modalidade para desenvolver uma experiência competitiva e uma expertise técnico-tática. Nesse sentido, o pouco tempo de investimento em uma carreira de alto nível no futsal para que essas mulheres possam atingir um pico de performance pareceu contribuir para um abandono precoce da modalidade e para um engajamento com um projeto de vida diverso, como o promovido pela formação escolar.

O fato de os homens terem persistido mais na carreira no futsal não significa que eles tenham melhores condições para tal. Pelo contrário, as mulheres possuem melhores condições de carreira, ao serem remuneradas e conseguirem bolsas de estudo. Portanto, a discrepância da permanência como atletas parece ser mais fruto de uma desigualdade cultural nos incentivos e possibilidades para as mulheres investirem numa carreira esportiva, do que dos recursos disponíveis para tal.

Por fim, se para os homens, a possibilidade de uma carreira exclusiva de dedicação ao futsal é presente, ainda que de forma escassa; para as mulheres, o futsal tem proporcionado chances de mobilidade social fora do esporte. Atletas homens e mulheres vêm de um cenário de ausência de formação superior entre seus pais. No entanto, por meio das bolsas conseguidas com o futsal, as mulheres ascendem à formação universitária e, ao final do ciclo do ensino superior, abandonam o futsal, possuindo uma outra carreira para se dedicar. Nesse sentido, conformam a chance de alguma mobilidade social, algo que é ausente no cenário masculino, tendo em vista que o futsal não parece promover esse tipo de mudança no cenário das vidas dos homens. Ou seja, entre as carreiras de homens e mulheres se conformam diferenças e desigualdades, cujo resultado é ambíguo. Ao mesmo tempo em que promove o não reconhecimento do esporte feminino enquanto uma possibilidade profissional perene, pode ocasionar transformação na constituição social das famílias dessas atletas. Por isso, estes contextos, mais que desenvolvimento do esporte feminino, têm mostrado como possibilidade o desenvolvimento dessas mulheres por meio do esporte. Nesse sentido, argumentamos que há um desenvolvimento esportivo distinto entre gêneros na modalidade.

Agradecimentos:

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFSULDEMINAS) e a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nìvel Superior (CAPES)

Referências

  • 1
    Bloom B. Developing talent in young people. Ballantine Books: Nova Iorque; 1985.
  • 2
    Côté J. The influence of the family in the development of talent in sport. Sport Psychol 1999;4:395-417. Doi: https://doi.org/10.1123/tsp.13.4.395
    » https://doi.org/10.1123/tsp.13.4.395
  • 3
    Ericsson KA, Lehmann AC. Expert and exceptional performance: evidence of maximal adaptation to task constraints. Annu Rev Psychol 1996; 47:273-305. Doi: https://doi.org/10.1146/annurev.psych.47.1.273
    » https://doi.org/10.1146/annurev.psych.47.1.273
  • 4
    Stambulova N, Stephan Y, Jäphag U. Athletic retirement: a cross-national comparison of elite French and Swedish athletes. Psychol Sport Exerc 2007; 8:101-118. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2006.05.002
    » https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2006.05.002
  • 5
    Côté J, Barker J, Abernethy AB. From play to practice: a developmental framework for the acquisition of expertise in team sports. In: Starkes J, Ericsson KA, editors. Expert Performance in Sports: Advances in Research on Sport Expertise. Champaign: Human Kinetics; 2003, p.89-113.
  • 6
    Stambulova N, Alfermann D, Statler TA, Côté J. ISSP Position stand: career development and transitions of athletes. J Sport Exerc Psychol 2009; 07:395-412. Doi: https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671916
    » https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671916
  • 7
    Papaioannou AG, Hackfort D. Routledge Companion to Sport and Exercise Psychology: Global Perspectives and Fundamental Concepts. London: Routledge; 2014.
  • 8
    Stambulova N, Ryba T. Setting the bar: Towards cultural praxis of athletes’ careers. In: Stambulova N, Ryba T, editors. Athletes’careers across cultures. London: Routledge; 2013.
  • 9
    Aquilina D. A study of the relationship between elite athletes’ educational development and sporting performance. Int J Hist Sport 2013;30;374-92. Doi: https://doi.org10.1080/09523367.2013.765723
    » https://doi.org/10.1080/09523367.2013.765723
  • 10
    Ryba TV, Stambulova NB, Ronkainen NJ, Bundgaard J, Selänne H. Dual career pathways of transnational athletes. Psychol Sport Exerc 2015; 21: 125-134. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2014.06.002
    » https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2014.06.002
  • 11
    Azevedo MF, Santos W, Costa FR, Soares AJG. Formação escolar e formação esportiva: caminhos apresentados pela produção acadêmica. Movimento2017; 23:185-200. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.61300
    » https://doi.org/10.22456/1982-8918.61300
  • 12
    Cosh S, Tully PJ. “All I have to do is pass”: A discursive analysis of student athletes’ talk about prioritising sport to the detriment of education to overcome stressors encountered in combining elite sport and tertiary education. Psychol Sport Exerc2014; 15:180-189. Doi: https://doi.org//10.1016/j.psychsport.2013.10.015
    » https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2013.10.015
  • 13
    Stambulova NB, Wylleman P. Psychology of athletes’ dual careers: a state-of-the-art critical review of the European discourse. Psychol Sport Exerc2019; 42:74-88. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2018.11.013
    » https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2018.11.013
  • 14
    Martins MZ, Reis HHB, Castellani RM, Santana WC, Altmann H. Entre o amadorismo, a profissionalização e a carreira dupla: o futsal feminino de elite sul-americano. Rev Bras Ciênc Mov2018; 26:143-155. Doi: http://dx.doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
    » https://doi.org/10.31501/rbcm.v26i1.7667
  • 15
    Souza ACF de, Martins MZ. O paradoxo da profissionalização do futsal feminino no Brasil: entre o esporte e outra carreira. Pensar Prát 2018;21(1):26-39. Doi: https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075
    » https://doi.org/10.5216/rpp.v21i1.45075
  • 16
    Klein LB. Profissionalização e escolarização de jovens atletas de futsal em Santa Catarina. [Dissertação de mestrado em educação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2014[acesso em 02 Mar 2020]. Disponível em:Disponível em:https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129350
    » https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129350
  • 17
    Mascarin RB, Vicentini L, Marques RFR, Mascarin RB, Vicentini L, Marques RFR. Brazilian women elite futsal players’ career development: diversified experiences and late sport specialization. Motriz2019;25:e101968. Doi: https://doi.org/10.1590/s1980-6574201900010014
    » https://doi.org/10.1590/s1980-6574201900010014
  • 18
    Altmann H, Reis HH. Futsal feminino na América do Sul: trajetórias de enfrentamentos e de conquistas. Movimento2013; 19:211-32. Doi: https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077
    » https://doi.org/10.22456/1982-8918.35077
  • 19
    Santana WC, Reis HHB. Futsal feminino: perfil e implicações padagógicas. Rev Bras Ciênc Mov 2003; 11: 45-50. Doi: http://dx.doi.org/10.18511/rbcm.v11i4.525
    » https://doi.org/10.18511/rbcm.v11i4.525
  • 20
    Morettin PA, Bussab WO. Estatística básica. 5th ed. São Paulo: Saraiva; 2004.
  • 21
    Babbie E. Métodos de pesquisa de Survey. Belo Horizonte: Editora da UFMG; 1999.
  • 22
    Marques MP, Samulski DM. Análise da carreira esportiva de jovens atletas de futebol na transição da fase amadora para a fase profissional: escolaridade, iniciação, contexto sócio-familiar e planejamento da carreira. Rev Bras Educ Fís Esporte 2009; 23:103-119. Doi: https://doi.org/10.1590/S1807-55092009000200002
    » https://doi.org/10.1590/S1807-55092009000200002
  • 23
    Aunola K, Sorkkila M, Viljaranta J, Tolvanen A, Ryba TV. The role of parental affection and psychological control in adolescent athletes’ symptoms of school and sport burnout during the transition to upper secondary school. J Adolesc 2018; 69:140-49. Doi: https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2018.10.001
    » https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2018.10.001
  • 24
    Côté J, Lidor R, Hackfort D. ISSP position stand: To sample or to specialize? Seven postulates about youth sport activities that lead to continued participation and elite performance. J Sport Exerc Psychol 2011;1:07-17. Doi: https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671889
    » https://doi.org/10.1080/1612197X.2009.9671889
  • 25
    Arena SS, Böhme MTS. Federações esportivas e organização de competições para jovens. Rev Bras Ci E Mov 2004; 12:45-50. Doi: http://dx.doi.org//10.18511/rbcm.v12i4.585
    » https://doi.org/10.18511/rbcm.v12i4.585
  • 26
    Côté J, Baker J, Abernethy B. Practice and play in the development of sport expertise. 3a ed.Hoboken: John Wiley & Sons; 2007 [acesso em 02 Mar 2020] Disponível em :Disponível em :https://espace.library.uq.edu.au/view/UQ:135217
    » https://espace.library.uq.edu.au/view/UQ:135217
  • 27
    Goellner SV. A educação dos corpos, dos gêneros e das sexualidades e o reconhecimento da diversidade. Cad Form RBCE 2010 [acesso em 11 Jul 2016];1(2):71-83. Disponível em; 1.Disponível em; 1.http://revista.cbce.org.br/index.php/cadernos/article/view/984
    » http://revista.cbce.org.br/index.php/cadernos/article/view/984
  • 28
    Barreira J. Age of peak performance of elite women’s soccer players. Int J Sports Sci 2016;06: 121-124. Doi: http://dx.doi.org//10.5923/j.sports.20160603.09
    » https://doi.org/10.5923/j.sports.20160603.09
  • 39
    Souza Júnior OM. Futebol como projeto profissional de mulheres: interpretações da busca pela legitimidade. [Tese de doutorado em educação física] Campinas: Unicamp; 2013[acesso em 11 Jul 2016] Disponível emDisponível emhttp://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000902247&opt=4
    » http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000902247&opt=4
  • 30
    Stebbins RA. Serious leisure: a perspective for our time. New Jersey: Transaction Publication; 2007.
  • 31
    Gledhill A, Harwood C. A holistic perspective on career development in UK female soccer players: A negative case analysis. Psychol Sport Exerc 2015; 21:65-77. Doi: https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2015.04.003
    » https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2015.04.003
  • 32
    Cooky C. “Girls just aren’t interested”: the social construction of interest in girls’ sport. Sociol Perspect 2009; 52: 259-283. Doi: https://doi.org/10.1525%2Fsop.2009.52.2.259
    » https://doi.org/10.1525%2Fsop.2009.52.2.259
  • 33
    Craike MJ, Symons C, Zimmermann JAM. Why do young women drop out of sport and physical activity? A social ecological approach. Ann Leis Res 2009; 12:148-172. Doi: https://doi.org/10.1080/11745398.2009.9686816
    » https://doi.org/10.1080/11745398.2009.9686816
  • 34
    Clark C, Burnett C. Upward social mobility through women’s soccer. Afr J Phys Health Educ Recreat Dance 2011; 16. Doi: http://dx.doi.org/10.4314/ajpherd.v16i4.64266
    » https://doi.org/10.4314/ajpherd.v16i4.64266
  • 35
    Kirk D. Advocacy brief: empowering girls and women through physical education and sport. UNESCO: Bangkok; 2012 [acesso em 17 Mar 2020] Disponível em :Disponível em :http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.370.6407&rep=rep1&type=pdf
    » http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.370.6407&rep=rep1&type=pdf
  • 36
    Agergaard S, Sorensen J. The dream of social mobility: Ethnic minority players in Danish football clubs. Soccer Soc 2009; 10:766-780. Doi: https://doi.org/10.1080/14660970903239966
    » https://doi.org/10.1080/14660970903239966
  • 37
    Schulenkorf N, Sherry E, Rowe K. Sport for develompent: An integrated literature review. J Sport Manag 2016; 30:22-39. Doi: http://dx.doi.org/10.1123/jsm.2014-0263
    » https://doi.org/10.1123/jsm.2014-0263
  • 38
    Shilbury D, Sotiriadou KP, Green BC. Sport development. systems, policies and pathways: An introduction to the special issue. Sport Manag Rev 2008; 11:217-223. Doi: https://doi.org/10.1016/S1441-3523(08)70110-4
    » https://doi.org/10.1016/S1441-3523(08)70110-4

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    19 Mar 2020
  • Revisado
    17 Ago 2020
  • Aceito
    06 Out 2020
Universidade Estadual de Maringá Avenida Colombo, 5790 - cep: 87020-900 - tel: 44 3011 4315 - Maringá - PR - Brazil
E-mail: revdef@uem.br