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Acidentes múltiplos como sintoma neurótico

Assinalando o grande desenvolvimento atual da Medicina psicossomática, o A. chama a atenção para os casos em que a ação psicopatógena é indireta: do comportamento do doente resulta um dano qualquer ao seu organismo. Após recordar alguns casos na literatura cita o trabalho de Marbe que estabeleceu claramente, por meios estatísticos, que há pessoas mais sujeitas a acidentes do que outras. Para o A., de acordo com a gênese, os acidentes podem ser: 1) puramente casuais; 2) dependentes de falta de habilidade do indivíduo, ou de defeitos neurológicos; 3) constituir verdadeiros "atos falhados", comparáveis a lapsos da memória ou da linguagem, e causados por um conflito intrapsíquico de tendências conscientes ou inconscientes. Quando muito numerosos, os atos do último tipo constituem verdadeiro sintoma neurótico e evidentemente, só poderão ser afastados pela psicoterapia. O A. refere o caso de um operário que, em pouco mais de um ano de observação, sofreu 17 acidentes, de gravidade geralmente pequena. A tendência a se ferir era notada desde a adolescência. O exame mental revelou indivíduo com traços neuróticos acentuados: irritabilidade, dúvidas, inveja, ansiedade, fobias. O psico-diagnóstico de Rorschach confirmou tratar-se de um neurótico; em particular, todas as respostas são determinadas pela forma, sendo O: O o tipo de vivência; há 91% de F+; o tipo de percepção é G: (D): Dd; a seqüência é rígida; o choque de cores evidente no cartão II. Procurando dar uma explicação psicanalítica para o caso, e diante dos dados relativos à familia do paciente e à sua vida anterior, admite o A. que os acidentes indicam: 1) no plano mais profundo, uma agressividade pré-edipiana introjetada contra a mãe; 2) mais superficialmente, autocastração para se castigar dos desejos contidos no complexo de Édipo e evitar que se realizem; 3) mais superficialmente ainda, há a considerar o lucro secundário do sintoma, relativamente pouco importante.


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