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Aplicação da genética humana à higiene mental: revisão de 300 matrículas do Centro de Saúde de Santana

Human genetic approach to mental health: data on 300 counselees at the Public Health Clinic of Santana, São Paulo City

Nos últimos 25 anos a genética humana tem assumido importância crescente na medicina geral e particularmente em psiquiatria. E, a nosso ver, a higiene mental só se torna eficiente quando norteada por aquela disciplina. Por ela orientamos nosso Serviço de Higiene Mental no Centro de Saúde de Santana, cujos dados clínicos apresentamos em resumo. Correspondem eles às primeiras 300 matrículas no Serviço, dentre as 317 efetuadas de fevereiro a 15 de julho de 1952¹. Frisamos que, embora tais dados sejam coligidos com critério clínico rigoroso, não foram ainda avaliados estatisticamente quanto ao aspecto heredobiológico; portanto, nossas conclusões devem ser encaradas com as devidas reservas. Todavia, merecem menção algumas ocorrências clínicas aí anotadas. Analisamos hoje apenas o ciclo epileptóide, que se revelou como predominante na linhagem dos consulentes, quer adultos, quer menores. Para os demais ciclos heredológicos ainda não dispomos de dados suficientes. Como indica a tabela 1, as condições clínicas mais freqüentes foram "ausências" psíquicas (32%), irritabilidade (20,6%), enxaqueca (20%), equivalentes comiciais diversos, atípicos (12,6%), hiperemotividade (11%); o diagnóstico de neurose ocorreu 15 vêzes, ou seja em 6,9% dos adultos. Os índices relativos são, porém, mais expressivos: entre as 115 consulentes que ultrapassaram a primeira gravidez anotamos abôrto espontâneo em 27,8%, parto de natimorto em 13%, parto operatório e eclâmpsia, cada qual, em 3,5%. Duas outras condições merecem relêvo neste grupo especial: parto de prematuro em 9,6% e parto de gêmeos também em 9,6%. O total de 11 pares de gêmeos se reporta a uma série de 325 gestações terminadas ², o que perfaz o índice de 3,4%, quando na população média este é de 1,2%. A tabela 2 reúne as manifestações mais freqüentes nos 84 menores, 42 de cada sexo: terror noturno, "ausências" psíquicas, convulsões, hiperatividade, irritabilidade aí predominam. Mas as tabelas 3 e 4 mostram que, no grupo cronológico de 1 ano a 3,5 (22 menores), dominam o terror noturno (71,3%), a hiperatividade (54,5%), as crises de "birra" (54,5%), as convulsões (36,3%); ao passo que, no de 7 a 14 anos, com 39 consulentes, prevalecem as "ausências" psíquicas (43,5%), a irritabilidade (33,37c), a enxaqueca (30,8%), a hiperemotividade (30,8%). A compreensão heredobiológica desses vários elementos clínicos nos tem permitido orientar melhor a psicoterapia e o reajustamento familial, bem como recorrer simultâneamente à medicação necessária. A revisão de 64 menores matriculados até fim de junho de 1952 revelou: 1) a psicoagogia foi eficiente quanto à rebeldia, à timidez, ao desajustamento, em parte à enurese noturna; 2) foi mister associar-lhe a medicação nas crises de "birra", no retardo escolar, na agressividade; 3) a simples medicação foi eficaz nas "ausências", no terror noturno, nas reações de pânico, nas convulsões, na perda de fôlego, nos distúrbios durante o sono.


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