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A sedação e analgesia de crianças submetidas à ventilação mecânica estariam sendo superestimadas?

Sedation and analgesia in children submitted to mechanical ventilation could be overestimated?

OBJETIVO: descrever o perfil de uso de analgésicos e sedativos em crianças submetidas à ventilação mecânica, internadas em uma UTI pediátrica de referência, em um período de 12 meses, avaliando o tempo de uso dessas drogas, as doses diárias utilizadas e a incidência de síndrome de abstinência. MÉTODOS: estudo de coorte prospectivo (abril de 2001 a março de 2002), envolvendo crianças em ventilação mecânica (via tubo traqueal) por um período superior a 12 horas, com idade entre 30 dias e 15 anos, que tivessem sucesso no processo de extubação (excluídos os óbitos ou aqueles que necessitassem reintubação). Uma equipe não envolvida com a assistência coletava os dados diariamente, até o 28º dia de ventilação mecânica (tempo máximo de seguimento para aqueles que eventualmente permanecessem um tempo superior a 28 dias em ventilação artificial), sendo o principal desfecho a dose, infundida às 12h da manhã, de morfina, fentanil, quetamina e midazolam (assumindo esta como a dose média naquele dia para cada uma destas drogas). O diagnóstico de síndrome de abstinência foi definido através de pesquisa no prontuário (registro do diagnóstico ou tomada de medidas terapêuticas neste sentido) e por entrevista com o médico assistente de cada paciente, realizada nos dias subseqüentes à extubação. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HSL-PUCRS. RESULTADOS: dos 127 pacientes elegíveis para este estudo, obtivemos dados de 124 pacientes (16,0+29,5 meses, 58% meninos; 92 definidos como clínicos e 32 como cirúrgicos). Cada criança utilizou uma média de 1,7 sedativos-analgésicos em infusão por dia (sem diferença entre pacientes clínicos e cirúrgicos). Os opióides (morfina e fentanil) foram as drogas mais utilizadas em ambos grupos (fentanil o preferido entre os clínicos, e a morfina entre os cirúrgicos, p<0,001). O tempo médio de uso diferiu significativamente (p<0,01) entre os clínicos e cirúrgicos (6,8 contra 3,9 dias), observando-se também que, a partir de 7 dias de uso, houve um aumento significativo (p<0,01) nas doses de fentanil e midazolam; assim como uma maior prevalência de abstinência (42%) no grupo de pacientes clínicos (p<0,01). CONCLUSÕES: neste estudo que avaliou a prática diária de uma UTI brasileira de referência, pode-se constatar que a infusão contínua de sedativos e analgésicos em crianças submetidas a ventilação mecânica é utilizada de forma liberal (média de 1,7 drogas por paciente por dia) e, principalmente, que os pacientes clínicos utilizam estas drogas por um período maior, o que pode explicar a elevada prevalência de síndrome de abstinência neste grupo.

ventilação mecânica; sedativos; analgésicos; morfina; UTI pediátrica


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