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Na bagagem dos peruleros: mercadoria de contrabando e o caminho proibido de São Paulo ao Paraguai na primeira metade do século XVII1 1 Este texto faz parte da pesquisa Fluxos, intercâmbios e circulação na região platina – séculos XVI e XVII, desenvolvida com financiamento do CNPq/Universal (2014).

RESUMO

A proposta do presente artigo é analisar alguns bens inventariados em Assunção e no Guairá, na Província do Paraguai, nas primeiras décadas do século XVII, de personagens que saíram de São Paulo rumo aos interiores da América espanhola em demanda de comércio e das riquezas do “espaço peruano”, nas partes do Peru. O caminho, que alternava trechos fluviais - Tietê e Paraná - com percursos terrestres, era proibido por Real Cédula desde fins do século XVI, e sua utilização resultou na prisão e no confisco de bens de diversos sujeitos que o utilizaram nas duas direções. Dentre eles, Manoel Pinheiro, mineiro-mor do Brasil, que partiu de São Paulo rumo ao Paraguai, em 1606, e foi preso em Assunção; Manoel Rodrigues, preso em 1620 com vários outros companheiros, todos sem licença; e Miguel Moxica Maldonado, canarino que teve todos os seus bens confiscados no “sertão” do Guairá em 1621. O rol de mercadorias revela o predomínio de tecidos - de variados tipos -, mas também de objetos como facas, tesouras, pentes e contaria, e algumas peças de ouro. Pretendemos compreender esses objetos da cultura material - aqui vistos como mercadorias em processo de circulação - como elementos constitutivos de uma espacialidade conectada luso-castelhana na América Meridional, como articuladores de relações sociais e hierarquias, e parte das redes de intercâmbio estabelecidas entre a Capitania de São Vicente e a Província do Paraguai em tempos de União das Coroas Ibéricas.

PALAVRAS-CHAVE:
História conectada; Mercadoria; Cultura material; América Colonial; Caminho de São Paulo

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