Este trabalho propõe uma reflexão sobre os fundamentos epistemológicos da ciência tradicional, a partir de algumas questões que são consideradas importantes para a análise crítica do discurso psiquiátrico, entre as quais a reificação dos constructos teóricos, a existência de proposições auto-corroborativas e os processos de disjunção e redução do conhecimento. Tomando como premissas (a) a construção social do conhecimento e (b) o caráter fragmentário da ciência tradicional, são explicitadas as bases de um novo paradigma, "sistêmico" ou "complexo", em direção ao qual caminha a ciência contemporânea. Entre as implicações de tal paradigma para a psiquiatria estão a superação das tendências reducionistas e disjuntivas nela presentes; a compreensão da contingência de que o ser humano é, por natureza, cultural e de que nenhuma abordagem pode, isoladamente, abarcar toda a complexidade da condição humana; e um entendimento do diagnóstico psiquiátrico como um ato semiótico, o qual participa recursivamente da construção da doença. Conclui-se apontando a necessidade de diálogo interdisciplinar entre os vários discursos sobre a condição humana (neurobiológicos, psicodinâmicos, antropológicos, etc.) e apresentando alguns exemplos de investigações que vão neste sentido.
Epistemologia; pensamento sistêmico; pensamento complexo; interdisciplinaridade