O charque (carne-seca) constituiu alimento fundamental na dieta dos escravos das plantations açucareiras e cafeeiras e das populações pobres das cidades litorâneas do Brasil. O artigo analisa a inserção do charque fabricado em Pelotas (Rio Grande do Sul) no mercado atlântico, assim como a concorrência com os produtores uruguaios e argentinos e como as guerras travadas na região da fronteira sul afetaram o comércio da mercadoria. Durante a segunda metade do século XIX, a carne-seca rio-grandense foi perdendo espaço no comércio atlântico para o produto platino, mais saboroso e de preço mais acessível. Na busca de novos mercados consumidores para além do Brasil e de Cuba, tanto os rio-grandenses quanto os produtores do Rio da Prata não conseguiram penetrar no mercado britânico, em que o paladar era mais exigente e se associava o charque à comida de escravos. Com o tempo, os argentinos conseguiram modernizar sua indústria com remessa de carne congelada para a Europa, ao passo que os rio-grandenses sucumbiram diante dessa nova concorrência e das exigências dos consumidores, não resistindo à derradeira crise que afetou o setor na década de 1880.
charque; comércio internacional; Rio Grande do Sul; Rio da Prata