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Reconhecimento sem ética?

Recognition without ethics?

Ao longo dos últimos 30 anos, as teorias feministas de gênero passaram de concepções parcialmente marxistas, centradas no trabalho, para concepções putativamente "pós-marxistas", tendo como base a cultura e a identidade. Refletindo um movimento político mais amplo da redistribuição para o reconhecimento, essa mudança adquiriu dois sentidos. Por um lado, ela alargou a política feminista para abranger temas legítimos de representação, identidade e diferença. Entretanto, no contexto de um neoliberalismo ascendente, as lutas feministas por reconhecimento podem estar servindo menos para enriquecer as lutas por redistribuição do que para substituí-las. Assim, em vez de alcançarem um paradigma mais amplo e rico, que poderia abranger tanto redistribuição quanto reconhecimento, as feministas parecem ter trocado um paradigma truncado por outro - um economicismo truncado por um culturalismo truncado. Este artigo procura resistir a essa tendência. Nele se propõe uma análise de gênero ampla o bastante para abrigar toda a variedade de preocupações feministas, tanto as fundamentais para o antigo feminismo socialista quanto as enraizadas na virada cultural. Propõe-se uma correspondente concepção ampla de justiça, capaz de abranger tanto distribuição quanto reconhecimento, e uma abordagem não-identitária do reconhecimento, capaz de operar junto com a redistribuição. Conclui-se, com o exame de alguns problemas práticos que surgem quando se tenta vislumbrar reformas institucionais que poderiam corrigir, simultaneamente, má distribuição e não reconhecimento, na perspectiva de gênero.

Identidade; Multiculturalismo; Paridade; Participação; Redistribuição; Status


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