Este artigo analisa o samba "Saudosa maloca", de Adoniran Barbosa, a partir de dois ângulos: primeira versão (de 1951), com arranjo de Nelson Miranda, e a versão arranjada pelo grupo Demônios da Garoa (de 1955), que transformou o samba num sucesso. A letra da canção narra um encontro dramático entre um sem-teto e o establishment imobiliário na São Paulo dos 1950, caracterizados pelo ufanismo econômico, pela reinvenção da paulistanidade e pelas comemorações do IV Centenário da cidade. O primeiro arranjo é marcado por um sentimento de tristeza e dor, com uma musicalidade que remete à lamentação e à resignação. O segundo, ao contrário, é marcado por certa jocosidade e desdém, com uma musicalidade que se reporta ao escárnio. O estudo busca reconstituir os modelos nativos de compreensão da canção, com especial atenção às problemáticas do arranjo e das maneiras de cantar e tocar.
Adoniran Barbosa; Antropologia da música; Arranjo; Versão; Interpretação