Neste artigo, discutem-se as epígrafes dos dois primeiros periódicos a circularem no Brasil como metonímias da postura ética assumida por cada projeto discursivo editorial. de um ponto de vista dialógico bakhtiniano de linguagem, distinguem-se memória subjetiva e memória objetiva e identifica-se, no jogo de epígrafes, um processo interacional a partir do resgate de diferentes memórias objetivas. o diálogo entre instituições atualizado pelas epígrafes revela a tensão ética e discursiva fundadora da esfera da imprensa brasileira e contribui para a construção de possibilidades identitárias nacionais. as memórias recuperadas pela Gazeta do Rio de Janeiro, jornal áulico, sustentam uma organização interacional orientada por um senso de individualidade que alimenta hierarquia entre sujeitos e opera com o princípio de exclusão no fundamento de identidades sociais. diferentemente, a memória recuperada pelo Correio Braziliense, jornal independente, opera com um senso de coletividade que problematiza a noção de povo, traz para discussão o caráter de brasilidade e, assim, sustenta o princípio de participação na construção identitária nacional. este trabalho contribui para o amadurecimento teórico-metodológico de pesquisas sócio-históricas porque demonstra, a partir do conceito de memória do objeto, como a pesquisa que lida com a historicidade do objeto é orientada também pelo que o objeto diz do fenômeno investigado.
memória; ética; dialogismo