Os estudos de relações raciais realizados no Brasil entre 1937 e 1956 são muitas vezes invocados para respaldar a opinião de que existem diferenças regionais na situação racial brasileira ou de que diferentes escolas regionais interpretaram diferentemente uma mesma situação nacional. Nesta comunicação, examino a rationale destas versões. Argumento que as divergências teóricas, metodológicas e interpretativas a que chegaram tais estudos giraram, de fato, em torno da avaliação crítica das obras seminais de Gilberto Freyre e de Donald Pierson. O mais importante, todavia, é que tais estudos chegaram a uma interpretação da 'situação racial' brasileira politicamente afastada da problemática norte-americana de assimilação cultural e integração do negro à democracia; e voltada, ao contrário, para o ideal nacionalista e desenvolvimentista de redefinição do "povo brasileiro". Graças a esta geração de estudiosos, acabou por se estabelecer uma agenda de pesquisa que levava em consideração, tanto as reivindicações dos intelectuais negros, quanto as dos intelectuais nacionalistas; tanto a aspiração por igualdade social, quanto o desejo de desenvolvimento. Tal agenda acabou por congregar praticamente todos os sociólogos e antropólogos brasileiros no Brasil nos anos 50 e 60.
relações raciais; regionalismo; pensamento social