Neste ensaio analiso a reflexão filosófica heideggeriana acerca da relação entre o ser humano e o animal, tal como esta se apresenta particularmente em obras como Carta sobre o humanismo, A caminho da linguagem ou Os conceitos fundamentais da metafísica. Nosso objetivo é demonstrar a importância dessa contribuição para entendermos o modo como Giorgio Agamben interpreta o conceito foucaultiano de biopoder. Assim, para Agamben, a animalização da política não é um fenômeno moderno, mas diz respeito àquilo que permanece impensado na metafísica como um todo. De fato, sua crítica mais ampla à cultura política ocidental, e que não se atém apenas a formas modernas de administração da vida, passa pela reflexão heideggeriana sobre o niilismo, sobre a metafísica e sobre a incômoda figura do animal. Nosso propósito final é discutir, com Agamben, mas também com Derrida, em que medida Heidegger consegue oferecer um quadro teórico capaz de pensar o biopoder contemporâneo num terreno radicalmente diferente daquele que nos foi legado pela metafísica.
Heidegger; Agamben; Animal; Humanismo; Niilismo