Acessibilidade / Reportar erro

O social entre o céu e o inferno: a antropologia filosófica de Pierre Bourdieu

The social between heaven and hell: Pierre Bourdieu's philosophical anthropology

Diversos autores têm chamado a atenção para o fato de que quaisquer estudos sociocientíficos de modalidades específicas de ação e experiência humana em sociedade dependem de alguma espécie de "antropologia filosófica", isto é, de um conjunto de pressupostos gerais acerca "do que é ser um agente humano" (Taylor), sem os quais o próprio diagnóstico da variabilidade histórica e cultural das práticas de atores concretos tornar-se-ia impossível. Bourdieu mostrou-se sensível a esta tese e, sobretudo na fase mais tardia de sua carreira, dedicou-se a explicitar o modo como suas investigações histórico-sociológicas pressupunham e, ao mesmo tempo, contribuíam para a formulação de "uma ideia de 'homem'". O artigo retraça o percurso bourdieusiano em direção a essa antropologia filosófica, partindo de sua sociologia genética do poder simbólico, pensada aqui como uma forma de teoria crítica (latu sensu), para desembocar em um retrato da condição humana em que o reconhecimento ("capital simbólico") aparece como meta existencial fundamental pela qual os indivíduos buscam dar sentido às suas vidas e como fonte da infindável competição simbólica que mantém em movimento a vida social. A visão agonística do universo societário que alimenta seus estudos sociológicos retorna em sua antropologia filosófica sob a forma de uma síntese singular entre a ideia durkheimiana de que "a sociedade é Deus" e a tese sartriana de que "o inferno são os outros".

Pierre Bourdieu; Antropologia filosófica; Capital simbólico; Campo; Reconhecimento; Sentido da existência


Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, 05508-010, São Paulo - SP, Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: temposoc@edu.usp.br