Título |
Epígrafes (grafia atualizada) |
Prólogo / Prótase |
Embora um vate canhoto / Dos loucos aumente a lista, / Seja Cisne ou gafanhoto, / Não encontra quem resista / Dos seus versos à leitura / Que diverte, inda que é dura! (“Pretensões”, Novas Poesias, [1858], 1881, p. 20)
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Lá vai verso! |
Quero também ser poeta, / Bem pouco, ou nada me importa, / Se a minha veia é discreta, / Se a via que sigo é torta. (idem, p.17) |
Sortimento de gorras para gente de grande tom |
Seja um sábio o fabricante, / Seja a fábrica mui rica, / Quem carapuças fabrica / Sofre um dissabor constante; / Obra pronta, voa errante, / Feita avulso, e sem medida; / Mas no vôo suspendida, / Por qualquer que lhe apareça / Lá lhe fica na cabeça, / Té as orelhas metida. (“As carapuças”, idem, p.49) |
O velho namorado |
Pobre velho! Estás perdido / Se nesse couro tão duro, / Pôde ainda fazer-te um furo / Uma seta de Cupido! / Desse mal acometido, / Remédio te não darão; / Que nessa idade a paixão, / Bem que assim te não pareça, / É moléstia da cabeça, / Que não sente o coração. (“A um velho namorado”, Poesias, 1856, p.169)
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No álbum do meu amigo J. A. Silva Sobral |
Amigo ......../ Pedes um canto na lira, / A quem apenas lhe tira / Sons de viola chuleira ? / Insistes dessa maneira ? / Não sabes que, por desgraça, / Por mais esforços que faça / Por ser vate é sempre em vão ? / Não vês que mente o rifão : / Quem porfia mata caça ? (“No álbum do meu íntimo amigo Carlos Nogueira Pinto Gandra”, idem, p.28) |
A guarda nacional (1859) |
Desgraçado d’aquele .../ Que em galardão só tem o desabafo./ De talhar sem medida, carapuças. /Mandal-as por ahi buscar cabeças!/Se alguma te servir, ou aos amigos/ Que lá, de longe a longe te aparecem,/ Podes d’elas dispor, que imensas ficam/ Na fábrica onde tem muitas nascido,/ Que dispersas voando, ao som do vento, / Nenhuma sem cabeça tem ficado. (“Epístola”, Poesias, p.168)
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A um vate enciclopédico |
Quis um jovem marchar, só por mania, / Das letras pela senda trabalhosa; / Diz-se Vate - mas prenda tão famosa / Ninguém nos versos seus a descobria. / Começa a dar patada, e tão bravia, / Que logo (alçando a voz imperiosa) / Lhe brada a natureza : Chega à prosa ! / E o maldito a encostar-se à poesia ! (“A um aspirante a poeta”, idem, p.89) |
No álbum do Sr Capitão João Soares |
Escrever num Álbum ! ... Credo ! / Expor-me à crítica austera! / E se um douto me impusera / Pena de longe degrêdo ! / Nada ... nada tenho mêdo / De ir a alguém desagradar: / Não ponha o meu nome a par / Dos que têm estro e ciência: / Amigo tem paciência : / Quem não tem não pode dar. (“No álbum do meu íntimo amigo Carlos Nogueira Pinto Gandra”, idem, p.28) |
O Barão da Borracheira
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Quando pilho um desses nobres, / Ricos só d’áureo metal / Mas d’espírito tão pobres / Que não possuem real, / Não lhes saio do costado / - Sei que é trabalho badalo, / Porque a pele dura tem; / Mas eu fico satisfeita, / Que o meu ferrão só respeita / A virtude, e mais ninguém! (“A vespa”, Novas Poesias, p.96-7).
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Novo sortimento de gorras para gente de grande tom |
De repente, magoado / Da carapuça maldita, / Qual possesso, o pobre grita / Contra o fabricante ousado ! / Debalde o artista, coitado, / Já de receio convulso / Quer provar que nobre impulso / O move, quando trabalha ! / _ A carapuça que talha / Ninguém crê ser feita avulso ! (“As carapuças”, idem, p.49-50) |