Através da convivência com um grupo de 14 crianças entre 3 e 9 anos, em um bairro da periferia de São Paulo, procurou-se verificar a tese de que essas crianças são portadoras de "deficiência de linguagem" devido à pobreza de seu ambiente verbal, da precariedade da linguagem dos adultos e de sua relação verbal com os filhos. O contato com as crianças, com seus pais e com o bairro revelou a complexidade com que elas se utilizam da linguagem verbal; é através dela que elas conquistam seu lugar no mundo dos adultos e sobretudo expressam constantemente suas vivências em seu ambiente próximo. É através de interações verbais muito ricas, do recurso a músicas folclóricas e metáforas, da narrativa dos acontecimentos do bairro e da expressão verbal de suas fantasias e temores que elas se constituem como porta-vozes e como memória viva e coletiva de um bairro no qual a luta não só pela sobrevivência, mas pela vida digna é a principal tarefa que organiza a vida cotidiana.
Fracasso escolar; Pobreza; Linguagem oral; Socialização; Crianças