Resumo
O artigo pretende discutir os efeitos transformadores dos contextos militantes e artísticos no cotidiano de usuários de saúde mental. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, cuja metodologia envolveu observação participante e realização de entrevistas. A análise dos dados pautou-se na hermenêutica crítica e reflexiva e na perspectiva fenomenológica. Pudemos verificar que o engajamento em grupos artísticos e militantes repercute contundentemente nos mundos da vida dessas pessoas, bem como na elaboração de seu cotidiano. Nesses locais, dá-se a construção de relações empáticas e de alteridade, cujo desenrolar se acentua no momento em que o grupo se encontra reunido, mas também possui repercussões que ultrapassam esse intervalo espaço-temporal. Elementos performáticos e simbólicos contribuem para a reelaboração de um ser-no-mundo desses sujeitos e exigem dos envolvidos a construção de uma cena coletiva na qual são negociados papéis, funções, expectativas e afecções; e esse processo lhes permite acessar de novas posições toda uma diversidade de dramas sociais. É possível, assim, considerar esses espaços sob o viés terapêutico, porém, vimos que é justamente da negação desse estatuto que advém sua eficácia. Dessa forma, reforçamos a importância de espaços abertos ao protagonismo dos sujeitos para uma reforma psiquiátrica pensada enquanto processo social complexo.
Palavras-chave:
atenção psicossocial; clínica ampliada; saúde mental; arte; militância; Antropologia da Experiência