O longo poema narrativo Song for Anninho (1981), da escritora negra Gayl Jones (Estados Unidos), interfere na narrativa da história colonial brasileira ao resgatar a figura feminina na República de Palmares, reescrever a saga de resistência dos palmaristas do ponto de vista imaginário de uma mulher negra do século XVII e, através dela, reinventar o cotidiano, os amores, as disputas e os sonhos das pessoas comuns que integravam o quilombo. O texto reflete sobre a verdade histórica, o aspecto construído de documentos, as seleções e exclusões da linguagem, e a importância do relato oral para o conhecimento de vivências e identidades à margem da história oficial. Nessa versão especial, o relato dramático do sonho, da luta e da destruição do mais famoso quilombo brasileiro usa a imaginação literária para expandir a memória e os arquivos de um dos fatos mais importantes da história das Américas, contribuindo para estimular o diálogo interamericano e iluminar a diáspora africana no Brasil e no continente.
literatura e história; Palmares; mulher; Américas