Resumo:
Nesse artigo, em interlocução com autores dos estudos da ciência assim como das teorias feministas de cuidado, reflito sobre dilemas éticos associados à participação do cientista social na arena multidisciplinar das políticas públicas. Construo meu objeto de análise a partir de uma imagem que surge com frequência nos debates sobre políticas de proteção à infância que justapõe dois cérebros infantis -- um etiquetado “normal”, o outro, “negligência extrema”. Ao rastrear, através de atores e situações concretos, a trajetória pouco ortodoxa desse artefato das neurociências, proponho reforçar uma visão crítica sobre os usos populares da ciência que tendem a ofuscar os juízes de valor implícitos em qualquer fato científico. Por outro lado, num exercício autorreflexivo, procuro entender como o “importar-se” da pesquisadora, nas suas diversas manifestações, tem implicações para o devir ético e político dos mundos sob consideração.
Palavras-chave:
ética feminista de pesquisa; cuidado; desenvolvimento infantil; virada neurocientífica