Rita |
Tem 18 anos e dois filhos (uma menina de dois anos e outra
de 11 meses, ambas HIV-). É dona de casa e estudou até a quarta série do
primeiro grau. Descobriu o HIV durante a primeira gravidez, no quinto mês
de gestação. Seu companheiro é HIV- e ela supõe ter se infectado em
relacionamento anterior. O casal faz uso esporádico de preservativo
masculino, sem preocupar-se com o risco de infecção do parceiro. Não
adotam qualquer método de contracepção. Se ela engravidar novamente,
acredita que vai ser mais forte que o HIV. |
Ângela |
Tem 33 anos, vive em união estável há um ano e meio e o
parceiro não fez exame para infecção pelo HIV. Ela conhece sua situação
sorológica há cinco anos. Sua profissão é bancária, concluiu o segundo
grau. Teve trigêmeas que agora estão com três meses de idade. Logo após o
parto teve hemorragia e precisou fazer uma histerectomia. Com três bebês
pequenos e por ter ficado à beira da morte, Ângela aponta que ser
soropositiva é um problema menor comparado a outras preocupações, pois
ela se sente solitária e sobrecarregada, dependente da ajuda de
familiares. |
Ana Carolina |
Tem 30 anos e é separada. Descobriu o HIV no 6º mês de
gestação. Seu companheiro não tem HIV. Após a descoberta do HIV o casal
separou-se de forma conturbada. Ela tem um filho de três anos, HIV-, que
mora na casa dos avós paternos. Ela afirma que não quer mais ter filhos
em função de ser soropositiva. |
Flávia |
Tem 24 anos e está grávida. É cabeleireira e concluiu o
segundo grau. Seu companheiro também é soropositivo e ambos sabem sua
situação sorológica há quatro anos. A gravidez não foi planejada e o
casal faz uso esporádico de preservativo masculino. O casal teme que a
situação da gravidez revele o HIV para sua família, que é um segredo.
Quando soube que estava grávida, pensou em abortar, pois acreditava que
seu filho nasceria soropositivo. O médico informou que havia baixo risco
de infecção para o bebê caso ela fizesse tratamento adequado e, em função
disso, o casal decidiu levar a gravidez adiante. Se o risco de TMI fosse
alto, ela revelou que optaria pelo aborto. Para ela, ter um filho
soronegativo é uma verdadeira missão a ser cumprida. |
Mariana |
Tem 23 anos. Engravidou em 1998 e não houve teste para HIV.
Após o parto, seu filho adoeceu e a família foi testada, descobrindo que
todos eram soropositivos. O bebê faleceu aos quatro meses de vida. O
companheiro (usuário de drogas injetáveis) faleceu seis meses após o
nascimento do bebê. Relata dificuldade de formar novos laços afetivos por
tem medo de perder novamente a pessoa querida, além disso, fala de
sentimento de culpa em relação ao filho que faleceu e, além disso,
considera que a morte de seu filho por causa do HIV foi um fracasso
pessoal. |
Miriam |
Ela tem 33 anos, é separada e mora em uma casa de apoio. É
ex-profissional do sexo e trabalha atualmente na casa de apoio. Teve uma
filha do primeiro casamento (que agora tem 10 anos e é HIV-). Após a
separação voltou a trabalhar como profissional do sexo e engravidou de um
cliente. Sabia-se portadora do HIV há cinco anos (descobriu após um
aborto anterior) e não havia procurado nenhum tratamento. Em função da
gravidez, procurou tratamento e decidiu ficar com a criança (um menino de
dois anos, HIV-). Ressaltou a importância do apoio institucional e afirma
que se não fosse pelo filho estaria morta, pois não me cuidava e usava
drogas. |
Bianca |
Tem 33 anos, mora em casa de apoio e deixou de se
prostituir. Tem dois filhos de um relacionamento anterior que moram com
sua mãe (um rapaz de 18 anos e uma menina de 13 anos, ambos HIV-).
Engravidou de um cliente e pretendia dar o bebê para adoção. Dois anos
após o nascimento da filha, Bianca adoeceu e já suspeitava que tivesse
HIV. Descobriu que era soropositiva e o teste de sua filha foi negativo.
Bianca afirma procurar não se apegar à filha, pois está esperando a
própria morte por causa da Aids. Ela relatou que sente-se deprimida e
angustiada, embora o único aspecto positivo de sua vida tenha sido o fato
de que sua filha não tem o HIV. |
Dia |
Ela tem 29 anos e é artesã. Teve uma menina (agora com
cinco anos, HIV-) e durante a segunda gravidez seu marido adoeceu e foi
internado, descobrindo o HIV. Ele faleceu durante a gravidez. O segundo
filho tem três anos e é soronegativo. Dia mudou-se para São Paulo e mora
na casa de seus avós. Foi atendida em grupo de gestantes e reconhece a
importância do trabalho psicológico grupal e individual. Após a segunda
gravidez, fez laqueadura. Ela havia planejado ter quatro filhos e, em
função do HIV, decidiu optar pela laqueadura, pois teme ter um filho
soropositivo, considerando isso algo inaceitável ou um fracasso. |
Sílvia |
Tem 22 anos e mora com sua mãe. Teve uma menina (que agora
tem nove meses e é HIV-). Descobriu o HIV aos 16 anos e, embora achasse
que não poderia ter filhos em função do HIV, teve vários relacionamentos.
Engravidou de seu namorado, pois o preservativo estourou. Ele não sabia
que ela era HIV+ e agora ele está ameaçando-a. Antes de engravidar,
Silvia usava drogas e não se cuidava. Hoje ela trabalha, não usa drogas,
cuida de si e de sua filha, sendo grata por todo apoio institucional que
recebe (da ONG e da equipe de saúde especializada). |
Débora |
Tem 30 anos, é recepcionista e tem um filho de um ano e
dois meses (HIV-). Descobriu o HIV há 10 anos quando seu noivo adoeceu e
faleceu. Há seis anos iniciou um relacionamento com o pai de seu filho
(também HIV+) e ele decidiu que teriam um filho. Ela engravidou e
acreditava que seu filho seria HIV+. Após receber orientação médica
sentiu-se menos angustiada e confiante, mas ela tem grande expectativa de
que seu filho seja salvo de ter HIV. Separou-se do pai de seu filho e há
seis meses iniciou outro relacionamento. |
Eliana |
Tem 30 anos e é casada há 16 anos. Teve três filhos: a
primeira filha tem 13 anos (HIV-); a segunda tem cinco anos (HIV+) e a
última filha tem dois anos (HIV-). Ela descobriu o HIV quando sua segunda
filha ficou doente e foi internada. O hospital verificou que já tinham
constatado HIV (no prontuário da criança) e não haviam notificado à
família. O casal foi testado e ambos são soropositivos. Ela engravidou
pela terceira vez, pois o preservativo estourou, e fez o tratamento de
prevenção à TMI. O casal vive em pacto de silêncio e possui dificuldades
na relação. Eliana relata culpa e preocupação em relação à filha
soropositiva. |
Cátia |
Tem 33 anos, é dona de casa e tem cinco filhos: uma menina
de 12 anos (HIV-), um menino de 7 anos (HIV-), um menino de 6 anos (HIV+)
e um casal de gêmeos de 5 meses (HIV-). Ela descobriu o HIV quando seu
terceiro filho adoeceu aos três meses de vida e foi detectado o HIV. O
seu companheiro não é soropositivo e eles supõem que ela tenha sido
infectada em uma transfusão sanguínea durante a segunda gravidez. A
última gravidez não foi planejada (o casal não adota qualquer método
contraceptivo) e ela relata que a relação com o atual companheiro é
marcada por conflitos e violência. Ela diz quando estou grávida ele não
me machuca. |
Celina |
Aos 28 anos tem dois filhos: o primeiro filho tem 11 anos
(seu pai faleceu assassinado quando ele tinha seis meses de vida) e o
segundo filho tem sete meses. Ela descobriu o HIV durante a gravidez do
segundo filho, quando seu companheiro estava preso e ela estava no 3º mês
de gestação. Ele foi libertado quando ela estava no final da gravidez. Há
um pacto de silêncio entre o casal, o companheiro (soropositivo para HIV
e Hepatite C) não se trata e eles fazem uso esporádico de preservativo
masculino. |
Márcia |
Ela tem 26 anos e dois filhos (uma menina de 10 anos, HIV-,
e uma menina de seis meses, HIV-). Trabalha como atendente em um bar.
Recebeu a notícia do HIV quando estava grávida de cinco meses e fazia 15
dias que seu primeiro companheiro havia falecido. Teve três companheiros:
dois faleceram e um a abandonou enquanto estava grávida. Relatou
vivências repetidas de perdas de companheiros e familiares e associação
de morte concomitante a nascimentos. Relatou uso abusivo de bebida
alcoólica. Ela não quer se envolver afetivamente com outros homens por
medo de novas perdas. |
Maria |
Maria tem um filho de 11 meses (HIV-) e está grávida. Ela
tem 26 anos e vive em união estável com um companheiro soronegativo.
Declarou-se ex-usuária de drogas (crack e álcool) e relatou violência
doméstica, mas ela refere que quando ela está grávida seu companheiro não
a agride fisicamente. A atitude de Maria causa constrangimentos ao grupo
que frequenta (houve denúncias de que ela vendia o leite que recebia da
ONG). A ONG pretendia desligá-la do serviço quando ela comunicou que
estava grávida novamente. Seu relato traz o significante "fome" inúmeras
vezes. Maria mostra-se triunfante por estar grávida novamente e afirma
gargalhando vou ter quantos filhos eu quiser. Podem falar o que
quiserem. |