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Maria, paciente feminina, 59 anos, possui quatro filhos (dois foram assassinados e um saiu da prisão por tráfico de drogas em 2013) e quatro netos de sua única filha, sendo de pais diferentes. Também, em 2013, ficou viúva e perdeu a mãe. Não trabalha. Sua casa encontra-se interditada pela defesa civil após desabamento no Morro. Recebe aluguel social. |
Chega ao posto queixando-se de tristeza, ansiedade e insônia. Chora durante o atendimento e diz: “é muita preocupação na minha cabeça, não consigo dormir e acho que estou com problema de memória na mente, queria não pensar em nada, queria não ter preocupação.” Fala de sua irritação com a filha que deixa os filhos “muito soltos” e ela tem medo que eles “larguem os estudos” e se “envolvam com coisa errada”; fala do falecimento da mãe e do esposo - “era o meu suporte” - e que não consegue dormir, preocupada com os intensos tiroteios perto de sua casa. Queixa-se, também, de fortes dores abdominais, tenesmo (vontade de evacuar, porém sem sucesso) e sangramento retal. Diagnóstico prévio de litíase renal. Suspeita diagnóstica de tumor anorretal. |
Solicita medicação para ficar com a mente vazia e passe livre.
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✓ Como você receberia tal demanda? Que encaminhamento daria?
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João, paciente masculino, dezenove anos, estudante, comparece ao atendimento agendado por seus pais, que estão percebendo alteração no comportamento do filho. De uns tempos para cá, João tem ficado mais isolado em casa, sem querer atender os amigos, faltando a aulas na universidade e ficando inquieto. Não possui história pregressa de transtorno mental, nega uso de drogas e sem queixas clínicas. |
Iniciou curso de direito há alguns meses após muita dedicação de estudo. |
O paciente não reconhece essa sua mudança de comportamento. Diz apenas que o curso “embaralha sua mente, mas que isso é pela enorme quantidade de matéria”. |
O profissional que recebeu João, depois de realizado o atendimento, informa que irá encaminhá-lo para seguir tratamento em serviço especializado de saúde mental para ajudá-lo a passar por esse momento. Ao que o paciente reage e diz que não é maluco e não precisa de tratamento. |
✓ O que você faria se fosse o profissional que recebeu João nesse primeiro atendimento. |
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Rafael, paciente masculino, quarenta anos, sem vínculos familiares nem de trabalho, mora sozinho em um quarto alugado em uma pensão. Vive com a renda do Benefício de Prestação Continuada que recebe no valor de um salário-mínimo. |
Realiza acompanhamento regular em serviço da rede de saúde mental e também realiza acompanhamento clínico com regularidade. Paciente com diagnóstico de psicose e hipertensão arterial sistêmica. Segue o esquema medicamentoso prescrito por seus médicos assistentes, como também segue acompanhamento semanal com sua psicóloga. |
É um paciente que, quando está em um momento mais agudo de quadro psicótico, sente-se ameaçado pelo olhar das pessoas na rua, e logo passa em sua cabeça reagir como forma de se proteger ou procurar o Serviço de Emergência Psiquiátrica, solicitando internação, alegando não poder viver em sociedade, pois querem lhe fazer mal. |
Nesses momentos, é frequente que Rafael percorra diversos serviços de saúde em seu município pedindo “mais atendimento” para ficar “mais protegido”. |
✓ Pense que Rafael chegou ao serviço em que você trabalha e solicita atendimento para se sentir mais protegido. O que você faria? O que diria a ele? |
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Ivete, paciente feminina, 37 anos, solteira, reside com a mãe. É usuária de drogas e psicótica. Tem três filhos que ficam soltos, contando com o cuidado de vizinhos e familiares. |
Chega ao serviço de saúde pedindo orientação, pois seu filho está com diarreia e ela não sabe o que fazer para cuidar disso. No atendimento, o profissional que a recebe é sensível ao perceber que a situação é mais complexa que a diarreia apresentada inicialmente, identificando a sintomatologia de Ivete. |
No acolhimento, foi possível que Ivete falasse do uso de drogas, para ela uma curtição, apesar de reconhecer que traz consequências negativas para sua vida e de seus filhos, inclusive financeiras, já que abandonou o trabalho de caixa de supermercado e, desde então, não possui renda e nem passe livre. A partir do vínculo estabelecido, diz ao profissional que, pela primeira vez, conseguiu falar disso sem medo de ser recriminada. Logo, o profissional a orienta quanto ao cuidado do filho, solicita que retorne com o menino para reavaliação no dia seguinte e a encaminha para o Caps AD. Ela diz que já foi encaminhada para esse lugar e nunca foi. O profissional explica a necessidade do encaminhamento e insiste que ela vá. Ivete não retorna com o filho e não segue a orientação do profissional. |
✓ Você faria algo diferente? Fale dessa situação e das ações de que o profissional lançou mão como projeto de cuidado de Ivete. |