Codo (1999CODO, W. (Org.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999.) |
Livro |
Pesquisa nacional: 52.000 professores e trabalhadores da educação |
Destaca, dentre as questões de saúde, os transtornos mentais e comportamentais (ansiedade, estresse, depressão, exaustão emocional, burnout), os distúrbios da voz e as doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo. A pesquisa aponta que 48% dos educadores têm algum sintoma de burnout, e que um a cada quatro deles apresenta exaustão emocional, sendo que a maior insatisfação e falta de comprometimento é encontrada em professores nos primeiros anos de trabalho. Porém, 90% dos trabalhadores estão satisfeitos com seu trabalho. Aspectos que merecem atenção: (1) importância das relações sociais no trabalho, da socialização, da rede de apoio e suporte social, na docência, para a subjetividade e melhoria na relação com o trabalho e a satisfação, da ampliação das possibilidades de ajustamentos e das condições de lidar com conflitos e situações estressantes, bem como da qualidade de trabalho e da promoção da saúde e do bem-estar no trabalho; e (2) o trabalho do professor, que é desenvolvido nas tensões entre prazer e sofrimento. Como origem do sofrimento no trabalho docente, o estudo aponta as relações sociais e o conflito afeto/razão, encalacrado entre a liberdade de controle do seu meio e a imposição cruel desse mesmo controle (três eixos produtores de burnout). A obra tece ainda uma comparação entre o trabalho docente e o fabril, distinguindo-os especialmente no que se refere à não alienação do professor em relação ao seu trabalho, com relativa autonomia e controle sobre as atividades. |
CNTE (2003)CNTE - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO. Retrato da escola: relatório de pesquisa sobre a situação dos trabalhadores(as) da educação básica. Brasília, DF, 2003. v. 3. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2VsLVx9
>. Acesso em: 12 mar. 2017. https://bit.ly/2VsLVx9...
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Relatório de pesquisa |
Pesquisa: professores da educação básica de vários estados |
Constatou a ocorrência de problemas de saúde em 30,4% dos professores, de cirurgias em 43,7% e de licenças médicas em 22,6%. Além disso, registrou 83% da categoria como composta por mulheres. |
Lüdke; Boing (2007LÜDKE, M.; BOING, L. A. O trabalho docente nas páginas de Educação e Sociedade em seus (quase) 100 números. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1179-1201, 2007.) |
Artigo em periódico |
Revisão: periódico Educação & Sociedade (100 números) |
O estudo aponta para as complexidades, os enigmas, as ambivalências e as contradições da profissão. A questão do mal-estar docente é indireta e rapidamente mencionada. As autoras referem que a compreensão do mal-estar docente demanda atenção para o funcionamento das organizações e para os discursos e representações sobre o trabalho que emerge do individualismo contemporâneo. Porém, encontra-se velada ou implícita, na quase totalidade dos artigos, a questão da especificidade da função do magistério, deixando em aberto a discussão da identidade profissional e da tensão entre as dimensões individual e coletiva da profissão docente. A revisão não identificou artigos sobre a relação do trabalho com o corpo e os processos de sofrimento e adoecimento de professores. |
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Educação |
Zambon; Behlau (2009ZAMBON, F.; BEHLAU, M. A voz do professor: aspectos do sofrimento vocal profissional. São Paulo: Sindicato dos Professores de São Paulo, 2009.) |
Livro (e-book) |
Pesquisa epidemiológica: professores da rede básica (27 estados brasileiros) |
O estudo constatou a presença elevada de cinco ou mais sintomas vocais em 35% dos professores, ressaltando a severidade dessa condição, e identificou sintomas de problemas vocais relacionados ao trabalho em 80% deles: mostraram-se os males de cansaço vocal (92,8%), desconforto para falar (90,4%), esforço para falar (89,2%), garganta seca (83,4%), dificuldade para projetar a voz (82,8%) e rouquidão (82,2%). A gravidade da situação é distorcida na interpretação dos professores, já que muitos deles percebem esses sinais e sintomas vocais como parte integrante da caracterização profissional. Os professores relataram a presença de problemas de voz (63%), sendo 39,9% em situação crônica; no entanto, a procura por ajuda profissional especializada se deu em 34,5% dos casos. O estudo evidenciou uma demanda por ações de promoção da saúde vocal. |
Pereira et al. (2009PEREIRA, E. F. et al. Qualidade de vida e saúde dos professores de educação básica: discussão do tema e revisão de investigações. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Taguatinga, v. 17, n. 2, p. 100-107, 2009.) |
Artigo em periódico |
Revisão: Bases: SciELO, PubMed, Medline e Lilacs
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O estudo associa as condições de trabalho do professor às altas taxas de morbidade (envolvendo nervosismo, ansiedade, burnout, distúrbios da voz e problemas osteomioarticulares), apontando lacunas: há concentração de estudos em alguns estados (Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul), deixando muitas realidades sem cobertura. Faltam pesquisas, políticas públicas e intervenções com ênfase na organização do trabalho na escola. |
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Educação física |
Souza; Leite (2011SOUZA, A. M.; LEITE, M. P. Condições de trabalho e repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil. Educação e Sociedade , Campinas, v. 32, n. 117, p. 1105-1121, 2011.) |
Artigo em periódico |
Revisão: Teses, dissertações, livros e coletâneas baseados em pesquisas sobre condições de trabalho e saúde de professores da educação básica no Brasil (1997-2006) |
O estudo identificou que a saúde mental foi o aspecto mais estudado em pesquisas da psicologia e das ciências médicas e biológicas. A análise da organização do trabalho docente emerge como questão central para o tema, assim como a relevância das análises das novas exigências profissionais que recaem sobre os professores, dos novos desafios sociais que a eles se apresentam e das defesas criadas pelos professores, com seus limites e possibilidades de protegê-los(as) das situações mórbidas que os rodeiam, como disfunções vocais, estresse, depressões e outras. O estudo também mostrou que as pesquisas buscam embasamento e dialogam com as importantes contribuições do referencial teórico metodológico da psicopatologia do trabalho (de Christophe Dejours) e estudos sobre o mal-estar docente (de José Maria Esteve) - com exceção das pesquisas das ciências biológicas, que continuam apoiando-se em bases da epidemiologia e da saúde ocupacional de maneira desvinculada do entorno social. Destaca, ainda, que os estudos da área de humanas (com exceção da psicologia social) se mostram com pouca habilidade para trabalhar os problemas relacionados à saúde. Por outro lado, as pesquisas da área biológica têm dificuldade em tratar o problema a partir de suas características sociais. Assim, as pesquisas continuam entendendo os problemas relacionados à saúde do professor muito mais como um processo biopsíquico do que como um processo social. Há dificuldade em trabalhar o problema a partir de uma perspectiva interdisciplinar. O estudo apresenta diversos trabalhos centrados nas questões de estresse e burnout. Identifica que a discussão sobre trabalho e saúde do professor avançou significativamente no período investigado, e que as pesquisas realizadas contribuem com o tema em inúmeros aspectos. |
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Educação |
Bezerra; Moreira (2013BEZERRA, F. L.; MOREIRA, W. W. Corpo e educação: o estado da arte sobre o corpo no processo de ensino aprendizagem. Revista Encontro de Pesquisa em Educação, Uberaba, v. 1, n. 1, p. 61-75, 2013.) |
Artigo em periódico |
Revisão: Base: SciELO Artigos sobre corpo e educação (2008-2012) |
O estudo mostrou que as pesquisas que tratam da relação entre corpo e educação não focalizaram professores: estão centradas no processo de ensino e aprendizagem do alunado de educação física, psicologia, língua portuguesa e arte. Os professores estão apartados dos estudos sobre corpo e saúde. As publicações confluem na referência ao corpo como linguagem e na preocupação com visões fragmentadas, reducionistas e dicotomizadas sobre ele. Os professores necessitam de formação que lhes possibilite uma compreensão de corpo em sua integralidade. |
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Educação |
Silveira et al. (2014SILVEIRA, K. A. et al. Estresse e enfrentamento em professores: uma análise da literatura. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 30, n. 4, p. 15-36, 2014.) |
Artigo em periódico |
Revisão: publicações do portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, 2006-2011) |
Identifica que os professores constituem uma classe profissional bastante exposta ao estresse e aponta a necessidade de práticas avaliativas e interventivas que ajudem a compreender os processos que favorecem o bem-estar docente, a partir de técnicas direcionadas às mudanças no ambiente de trabalho, à reorganização institucional, ao desenvolvimento de habilidades individuais e à manifestação de recursos de coping adequados às diferentes demandas e realidades de trabalho. |
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Educação |
Pioli; Silva; Heloani (2015PIOLI, E.; SILVA, E. P.; HELOANI, J. R. M. Plano Nacional deEducação, autonomia controlada e adoecimento do professor. Cadernos Cedes, Campinas, v. 35, n. 97, p. 589-607, 2015.) |
Artigo em periódico |
Revisão: pesquisas sobre efeitos no trabalho e na saúde docente gerados pelas reformas educacionais e políticas gerencialistas centradas em metas e indicadores |
O estudo identificou aspectos contextuais e ideológicos que envolvem a transposição de conceitos do setor privado-empresarial para as instituições educacionais (autonomia, qualidade, metas e produtividade), bem como algumas metas do Plano Nacional de Educação (PNE, 2014-2024), explicitando alinhamentos às medidas gerenciais e aos modelos de avaliação heterônoma, prevalecendo uma lógica institucional baseada em sociabilidade produtiva. Segundo os autores, o discurso da qualidade e da eficiência oculta processos de controle e manipulação da subjetividade docente. Além disso, a gestão heterônoma e quantofrênica produz fragilização política e gera estresse e adoecimento. A regulação avaliativa punitiva incita o individualismo e instaura a competitividade mórbida. As relações de trabalho tendem a se atrelar à racionalidade heterônoma, ao passo que as metas idealizadas e abstratas se afastam do cotidiano e se configuram como algo inatingível a não ser pela geração de fadiga, sofrimento, estresse e conflitos nas relações de trabalho. Os autores entendem que a aproximação das instituições educacionais à racionalidade instrumental é geradora de conflitos, frustrações, sofrimento, estresse e/ou adoecimento docente - e concluem pela necessidade de se problematizar o contexto político atual das reformas educacionais, o qual não se mostra favorável para a concretização dos avanços necessários e acarreta prejuízos à saúde e ao bem-estar docente. |
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Educação |
Sanches; Gama (2016SANCHES, A. P. R.; GAMA, R. P. O mal-estar docente no contexto escolar: um olhar para as produções acadêmicas brasileiras. Laplage em Revista, Sorocaba, v. 2, n. 3, p. 149-162, 2016.) |
Artigo em periódico |
Revisão: portal da Capes e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) Teses, dissertações e artigos |
O estudo apresenta um panorama do mal-estar docente que aponta o problema como traço da profissão, reunindo diversos fatores geradores de frustração, desencanto, desmotivação, insatisfação e mal-estar, desencadeando processos de desinvestimento profissional, desejo e abandono da docência, adoecimentos e estratégias de enfrentamento, como distanciamento físico ou psicológico do trabalho. São eles: relações com os alunos, intensificação do trabalho (ampliação do papel profissional com novas tarefas e desafios), precarização do trabalho, falta de apoio e partilha com os colegas, pressões e cobranças do entorno escolar, organização da escola e do trabalho que dificulta vínculos necessários, pouca participação nas decisões de ensino, excesso de burocracia, controle externo do trabalho, falta de apoio pedagógico e reconhecimento do trabalho pelas instâncias superiores, escassez de recursos materiais, falta de incentivo ao aprimoramento e dificuldade para admitir aos colegas os problemas com a profissão. Outros aspectos são ainda referidos como geradores do mal-estar docente: as exigências da escolarização e inserção profissional numa sociedade competitiva e de evolução acelerada afetam a escola com um conjunto cada vez mais alargado de funções, que exigem do professor resposta às aspirações educativas, além das pressões e cobranças por indicadores e índices aferidos por um modelo empresarial marcado pela busca da eficácia e eficiência. Esses e outros aspectos demandam repensar a formação de professores na interação com instâncias sociais, culturais e políticas. |
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Educação |
Cortez et al. (2017CORTEZ, P. A. et al. A saúde docente no trabalho: apontamentos a partir da literatura recente. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 113-22, 2017.) |
Artigo em periódico |
Revisão: Base: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS, Psicologia) -publicações sobre a saúde no trabalho docente (2003-2016) |
O estudo retrata um ciclo de sofrimento, desestruturação psíquica, problemas vocais e outras formas de adoecimento físico e mental que acomete professores no trabalho docente, e mostra o predomínio de publicações nas áreas de fonoaudiologia e psicologia. Nas pesquisas, de caráter qualitativo, há maior ocorrência da perspectiva sociointeracionista e de uma compreensão da saúde do professor como um processo biopsicossocial. Já a presença da psicodinâmica do trabalho indica a preocupação com a implicação da subjetividade na constituição do processo saúde-doença dos professores. Outras articulações permitem inferir que o trabalho é compreendido nas investigações como um dos determinantes sociais do processo de saúde-doença. Em geral as pesquisas evidenciam o adoecimento docente na atualidade e apontam a necessidade de desenvolvimento de ações referentes à reorganização do trabalho docente e a promoção de saúde do professor. Nessa linha, o estudo constata a importância de privilegiar a multideterminação do processo de saúde-doença no trabalho docente, as compreensões interdisciplinares sobre o tema e a articulação entre as pesquisas e a realidade de trabalho dos professores, para que se possam desenvolver metodologias e políticas públicas voltadas ao aprimoramento da saúde docente. Os estudos que se propuseram a análises das legislações trabalhistas mostraram que poucos documentos explicitam fatores relacionados às condições e organização do trabalho docente sendo referidos apenas agentes ambientais como ruído, poeira, temperatura e iluminação inadequada. Por fim, indica que faltam pesquisas que substanciem estratégias para a promoção da saúde coletiva dos professores, e que há necessidade de estudos sobre a saúde no trabalho docente na educação infantil, no ensino privado, nos espaços de educação não formais e na EAD que considerem o impacto de elementos contextuais políticos e econômicos em ações, políticas e legislações que fomentem a promoção de saúde no trabalho docente. |
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Saúde coletiva |
Santana; Neves (2017SANTANA, F. A.; NEVES, I. L. Saúde do trabalhador em educação: gestão da saúde de professores de escolas públicas. Saúde e Sociedade , São Paulo, v. 26, n. 3, p. 786-797, 2017.) |
Artigo em periódico |
Revisão: BVS -publicações sobre gestão em saúde coletiva (1990-2014) |
O estudo identificou apenas quatro produções que apontam alguma assistência por meio da gestão em saúde coletiva, evidenciando que há um discurso e uma realidade silenciados na quase totalidade dos trabalhos. Esse silêncio, apesar de paradoxal, pode sussurrar ideias e indagações, sendo importante levantar a discussão sobre os interesses envolvidos no falar ou no calar sobre o tema. Desse modo, são formuladas estas hipóteses: (1) os programas voltados para professores estão sendo realizados, porém não são divulgados; (2) eles não têm despertado interesse das instituições de pesquisa; e (3) não existem programas que trabalhem com os sofrimentos e adoecimentos de professores no âmbito das políticas públicas. Indicam, assim, a necessidade de ações e políticas que não silenciem a realidade, além de investigações sobre a ausência de gestão da saúde pública e da educação em relação à problemática dos sofrimentos e adoecimentos de professores no trabalho docente. A gestão da saúde do professorado, sob a perspectiva da integralidade, demanda ação conjunta de uma reestruturação educacional. Há necessidade de políticas públicas que contemplem a questão da saúde dos professores. |
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Saúde coletiva |