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“O problema é a enorme produção de espermatozoides”: concepções de corpo no campo da contracepção masculina1 1 Este texto desenvolve e amplia reflexões que atravessam a dissertação de mestrado de Georgia Martins Carvalho Pereira, defendida em março de 2017 com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sob orientação de Rogerio Lopes Azize. Um primeiro esboço das ideias aqui desenvolvidas foi apresentado no 13º Congresso Mundo das Mulheres/Seminário Internacional Fazendo Gênero 11, em junho de 2017.

Resumo

Desde o final dos anos 1960, há tentativas de produção de um contraceptivo masculino reversível com eficácia equivalente à da pílula anticoncepcional. Até hoje, esse produto não foi lançado, e as justificativas para tal baseiam-se em entraves de ordem política, econômica, cultural e biológica. O argumento do obstáculo fisiológico tem bastante proeminência nessas explicações e será o nosso foco neste artigo. Com base nos estudos de gênero e ciência, buscamos compreender como esse raciocínio aparece no trabalho de viabilização dessa tecnologia por um ator de destaque no campo, a organização não governamental (ONG) estadunidense Male Contraception Initiative. Por meio da técnica de análise de documentos e com base na metodologia de análise do discurso, buscamos compreender como o corpo masculino é representado e, consequentemente, materializado nesse processo de viabilização de uma “pílula masculina”, e debater o caráter generificado das concepções e intervenções biomédicas. Observa-se que a função reprodutiva dos homens cisgêneros é construída como complexa e, em certo sentido, resistente a intervenções farmacológicas. Tal caracterização se dá em comparação com o corpo feminino cisgênero, que é configurado como mais acessível para a realização da contracepção. A tradicional associação entre mulheres e reprodução e homens e sexo é facilmente reconhecida nessas perspectivas.

Palavras-chave:
Anticoncepção; Dispositivos Anticoncepcionais Masculinos; Gênero; Corpo; Tecnologia

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