Este artigo tem como objetivo explicar por que um duplo procedimento de desnaturalização e temporalização oferece um primeiro passo rumo a uma teorização que aponte para a dissolução das noções de autoridade e identidade do conceito de Estado e a redefinição do problema da ordem política internacional, bem como identificar, nos debates recentes da teoria política e da teoria de Relações Internacionais, abordagens alternativas que sigam na direção desse duplo procedimento. A hipótese central cuja correção pretende-se verificar é a de que o duplo procedimento de desnaturalização e temporalização permite a desestabilização simultânea das segmentações internas que fortalecem o Estado e que o diferenciam como locus de autoridade contraposto a forças apolíticas da sociedade doméstica, e das divisões externas, que o distinguem de entidades internacionais similares. A partir dessa desestabilização, problematizam-se interpretações estatistas de autoridade, e redefinem-se discussões sobre a ordem política internacional, gerando-se novas matrizes e renovando-se o entendimento do político: organizações alternativas do espaço podem ser pensadas a partir da apreciação da diferença como meio de auto-reflexão e crítica social, bem como se pode chegar a perspectivas que considerem incoerências e ambivalências das práticas estatais e questionem o controle do Estado sobre espaços e corpos na busca de preservação de seu status ontológico e prático.
Teoria Política; Teoria de Relações Internacionais; teoria pós-moderna; Estado; desnaturalização; temporalização