O presente artigo analisa certas idéias científicas que os médicos brasileiros, particularmente os especialistas em sífilis, ou sifilógrafos, desenvolveram a respeito da doença. Eles construíram, sobretudo ao longo da década de 1920, uma sífilis singularmente brasileira, discutindo com seus colegas estrangeiros a respeito da origem, das manifestações e da incidência da doença no país. Em suas formulações, a sífilis transformou-se em uma espécie de símbolo natural, através do qual expressavam-se simultaneamente suas pretensões a uma posição de destaque na comunidade científica internacional e seu esforço em re-situar o país na hierarquia das nações, retirando-lhe o fado de, por ser quente e miscigenado, estar condenado para sempre ao atraso e à barbárie.
antropologia médica; história da medicina; sexualidade; nacionalismo; sífilis