O objetivo deste artigo é abordar o contexto político-científico que levou o Brasil à condição de paradigma da Unesco em matéria racial. Parto da hipótese de que logo após o Holocausto a imagem positiva das relações raciais no Brasil adquiriu maior visibilidade transformando-se numa espécie de anti-Alemanha nazista. Nesta ocasião, ocorreram esforços não antecipados no sentido de uma associação entre a busca de inteligibilidade do fenômeno totalitário alemão, a crítica radical do estatuto científico do conceito de raça, a explicitação de demandas sócio-econômicas de países subdesenvolvidos e a escolha do Brasil como laboratório sócio-antropológico. Esta conjunção de propósitos só se viabilizou a partir de uma conexão político-acadêmica transnacional de caráter universalista.
história da ciência; raça e racismo; relações internacionais; Arthur Ramos; Unesco