O artigo considera os motivos do sucesso de Os sertões como relato consagrado sobre a guerra de Canudos e os destinos da nação brasileira. Sua originalidade não consiste nos fatos referidos nem nas reflexões científicas e antropológicas sobre eles, mas no modo plástico, sugestivo e emocionante pelo qual os eventos são evocados e presentificados. A história é descrita mediante o uso da retórica e imagens de caráter bíblico e mitológico. O livro configura-se como encenação pictórica e teatral. A solidariedade do espectador-narrador vacila entre a inevitável civilização e a utópica comunidade de Canudos, entre a condenação e a apoteose do sertanejo insubmisso, entre a aceitação da sua morte e sua imortalização no plano simbólico, resultando numa visão trágica da história.
Euclides da Cunha; Os sertões; ciência e literatura; pictorização e teatralização; encenação da história; visão trágica